sexta-feira, 20 de julho de 2018

A Energia de Deus no Mundo (Pe. John Romanides)

Em seus supostos esforços para proteger a simplicidade da natureza divina filosoficamente e preservar inalterada a distinção entre Deus e o mundo, os escolásticos e muitos protestantes identificam a energia de Deus com Sua essência e, portanto, necessariamente compreendem a energia presciente de Deus e graça salvífica de Deus no mundo como coisas criadas. Como para eles a essência e a energia de Deus são o mesmo, Ele não age no tempo através de sua própria energia incriada, porque isso significaria que Deus tem relações com as criaturas através Sua essência. E, por conseqüência, ou o mundo compartilha a essência divina e é em si mesmo sem começo ou Deus está sujeito a mudanças em Sua essência.

"Se, de acordo com os tagarelas opositores e aqueles que acreditam como eles, a energia divina não difere da essência divina, então nem a criação das coisas, que pertence à energia, difere da geração e da processão, que pertencem à essência. E se a criação das coisas não diferisse da geração e da processão, então as coisas criadas não difeririam de qualquer maneira do que é gerado e procede. Se é assim que as coisas fossem, então o próprio Filho de Deus e o Espírito Santo não seriam diferentes das criaturas. E todas as criaturas de Deus seriam geradas pelo Pai e procederiam dEle. A criação, então, seria deificada, e Deus seria contado entre as criaturas ". São Gregório Palamas

Para evitar essas conclusões, os teólogos ocidentais são forçados a subscrever um ensinamento sobre Deus que é muito semelhante à filosofia grega e argumentar que Deus não tem relações verdadeiras com o mundo através de Sua energia e graça incriadas. Conseqüentemente, quaisquer energias incriadas de Deus que são direcionadas para algo têm a ver apenas com as relações dentro da essência divina, que, de acordo com o Ocidente, são chamadas de "Pessoas". O sistema escolástico é tão contrário ao Evangelho que chega perto de refutar a existência dentro do tempo do verdadeiro amor divino pelo mundo. Além disso, a palavra amor na passagem apostólica "O amor de Deus é derramado em nossos corações" é entendido como graça criada. Em outras palavras, o amor de Deus para com os cristãos é considerado uma coisa criada. Tudo isso decorre da insistência dos escolásticos em identificar a essência divina com a energia incriada, apesar de seus esforços para evitar o panteísmo descarado.

Uma vez que, como ensina Tomás de Aquino, a presciência ou providência criadora e não-gerada está na essência divina e o poder operativo da presciência é criado, segue-se que Deus age no mundo por meios criados. Este mundo, então, é governado por causas secundárias que participam da primeira causa, como uma imagem participa do objeto representado e como ocorre na lei natural. Consequentemente, Deus não governa no mundo e no tempo diretamente através de Sua energia incriada em si,  mas indiretamente, já que todas as coisas foram ordenadas desde a eternidade em Sua essência e presciência, até mesmo os próprios milagres.

Dentro do contexto das pressuposições escolásticas sobre a natureza e energia divinas, não há lugar para as narrativas bíblicas sobre as múltiplas, reais e diretas energias de Deus no mundo e na Igreja. As energias infinitamente numeradas, diretas e incriadas, do Espírito Santo na Sagrada Eucaristia não apenas não têm lugar no esquema escolástico de idéias descritas acima, mas de acordo com as pressuposições escolásticas sobre Deus, essas energias são completamente impossíveis. É por isso que Tomás de Aquino explica que o Espírito Santo habita nos fiéis porque todo homem é por natureza um templo de Deus, já que "a criatura racional pela sua operação de conhecimento e amor alcança o próprio Deus". Em outras palavras, o homem é o templo de Deus porque ele tem uma mente, e o Espírito Santo habita nos fiéis apenas de uma maneira especial através da graça criada.

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O ensinamento católico romano da graça salvífica criada surge não apenas de uma idéia errônea da redenção, mas também de ensinamentos heréticos sobre Deus. Os Padres Gregos ensinam que há uma distinção ... entre a essência divina incriada e as energias divinas incriadas, e eles acreditam que os dignos participam apenas da energia incriada de Deus porque a essência divina é incomunicável. No Ocidente, por outro lado, eles geralmente identificam a essência incriada com a energia incriada de Deus, afirmando que Deus é actus purus. Por essa razão, os católicos romanos não acreditam na verdadeira comunhão das energias divinas incriadas, porque isso significaria que a essência divina é comunicável às criaturas. Portanto, a fim de evitar o panteísmo, ou seja, a verdadeira comunhão da essência divina pelas criaturas, eles ensinam que a graça divina, comunicável e salvífica - no mundo - é criada. Não obstante, os latinos ensinam que há também uma comunhão relativa da essência divina pelos salvos e que os santos gozam de eudaemonia em uma visão da essência divina, um ensinamento inaceitável para os Padres Gregos. Uma vez que os católicos romanos acreditam que nos sacramentos eles comungam as graças criadas para a sua salvação, a rejeição de tais conceitos pelos protestantes não deve parecer estranha, já que para eles a gentileza de Deus é suficiente para a salvação.






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