Mostrando postagens com marcador Socialismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Socialismo. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Cristianismo e Comunismo (Metropolita Filareto Voznesensky)

Metropolita Filareto (1903 - 1985) Bispo e Primaz da Igreja Ortodoxa Russa no Exterior
e Metropolita de Nova York e leste americano.

Examinemos agora mais precisamente a questão da relação do cristianismo com o comunismo, àquela forma particular de comunismo que surgiu agora como uma tentativa de realizar as idéias do socialismo. Esta forma de comunismo emergiu na história como um inimigo declarado e feroz do cristianismo. Por sua vez, o cristianismo o reconhece como completamente estranho e hostil a si mesmo.

A história da Igreja nos tempos apostólicos revela que, naquela época, ela tinha seu próprio comunismo cristão e os fiéis tinham tudo em comum, como dizem os Atos dos Apóstolos. Mesmo agora, este comunismo cristão existe sob a forma de monaquismo coenobítico. Tanto o conceito quanto a realidade da propriedade comunal é um tipo brilhante e idealisticamente elevada de inter-relação cristã, de que sempre existiram exemplos na Igreja Ortodoxa.

Como é grande a diferença entre esse comunismo cristão e o comunismo soviético! Um está tão longe do outro quanto os céus estão da terra. O comunismo cristão não é um objetivo independente e auto-motivado para o qual o cristianismo pode se empenhar. Ao contrário, ele é uma herança do espírito de amor pelo qual a Igreja respirou desde o início. Além disso, o comunismo cristão é totalmente voluntário. Ninguém diz: "Dê-nos o que é seu, isso nos pertence", ao contrário, os próprios cristãos se sacrificaram de tal forma que "nenhum deles considerava seus bens como sendo seus".

O comunalismo de propriedade no comunismo soviético é um objetivo auto-motivado que deve ser alcançado não importando quais sejam as consequências e independentemente de quaisquer considerações. Os construtores deste tipo de comunismo estão alcançando-o por meios puramente violentos, não hesitando em tomar qualquer medida, mesmo com o massacre de todos aqueles que não estão de acordo... As bases deste comunismo não são a liberdade, como no comunismo cristão, mas a força; não o amor sacrificial, mas a inveja e o ódio.

Em sua luta contra a religião, o comunismo soviético chega a tais excessos que exclui até mesmo aquela justiça mais elementar que é reconhecida por todos. Em sua ideologia de classe, o comunismo soviético pisoteia toda a justiça. O objeto de sua obra não é o bem comum de todos os cidadãos do Estado, mas apenas os interesses de uma única classe. Todos os demais grupos estatais e sociais de cidadãos são "jogados para fora", fora dos cuidados e da proteção do governo comunista. A classe dominante não tem nenhuma preocupação com eles.

Ao falar de sua nova ordem, de seu estado "livre", o comunismo promete constantemente uma "ditadura do proletariado". No entanto, há muito tempo ficou claro que não há sinais desta prometida ditadura do proletariado, mas, em vez disso, existe uma ditadura burocrática sobre o proletariado. Além disso, não há manifestação de liberdade política ordinária sob este sistema: nem a liberdade de imprensa, nem a liberdade para se reunir, nem a inviolabilidade do lar. Somente aqueles que viveram na União Soviética conhecem o peso e a intensidade da opressão que reina ali. Sobre tudo isso, reina um terror político como nunca antes experimentado: execuções e assassinatos, exílios e prisões em condições incrivelmente duras. Isto é o que o comunismo deu ao povo russo ao invés da liberdade prometida.

Em sua propaganda política, o comunismo afirma que está alcançando a realização da liberdade, igualdade (ou seja, justiça) e fraternidade [irmandade]. Já falamos do primeiro e do segundo. A idéia de "fraternidade" foi tomada emprestada dos cristãos que se chamam uns aos outros de "irmão". O apóstolo Pedro disse: "Honrai a todos. Amai a fraternidade" (1 Pedro 2: 17). Na prática, o comunismo trocou a palavra "irmão" pela palavra "camarada". Isto é muito indicativo, já que os camaradas podem ser co-participantes (mas não irmãos) em qualquer atividade, mas não se pode realmente falar de "fraternidade" de qualquer maneira, lá onde se prega a luta de classe, a inveja e o ódio.

Todas estas diferenças citadas entre cristianismo e comunismo ainda não esgotam nem mesmo a própria essência da contradição entre eles. A diferença fundamental entre comunismo e cristianismo encontra-se ainda mais profunda, na ideologia religiosa de ambos. Não admira, portanto, que os comunistas lutem tão maliciosa e obstinadamente contra nossa fé.

O comunismo é supostamente um sistema ateísta que renuncia a toda religião. Na realidade, é uma religião - uma religião fanática, obscura e intolerante. O cristianismo é uma religião do céu; o comunismo, uma religião da terra. O cristianismo prega o amor por todos; o comunismo prega o ódio de classe e guerra e é baseado no egoísmo. O cristianismo é uma religião de idealismo, fundada na fé da vitória da verdade e do amor de Deus. O comunismo é uma religião de pragmatismo seco e racional, perseguindo o objetivo de criar um paraíso terrestre (um paraíso de saciedade animalista e de reprovação espiritual). É significativo que, ao passo que uma cruz é colocada sobre o túmulo de um cristão, o túmulo de um comunista é marcado por uma estaca vermelha. Que indicativo e simbólico para ambos. Um deles - a fé na vitória da vida sobre a morte e do bem sobre o mal. O outro - trevas ignorantes, desânimo e vazio, sem alegria, conforto ou esperança para o futuro. Enquanto as relíquias sagradas dos santos ascetas da fé de Cristo florescem com incorruptibilidade e fragrância, o cadáver apodrecido de Lênin, frequentemente embalsamado, é o melhor símbolo do comunismo.

Do livro "On the Law of God," por Metropolita Filareto (Voskresensky). 

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Sobre o "neo-milenarismo": uma heresia de nossos tempos (Arcebispo Averky)

Sobre o "neo-milenarismo"
O Senhor disse: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me" (Mc. 8:34).

O Grande Jejum é uma época de arrependimento; e o arrependimento é aquela luta contra as paixões e desejos pecaminosos que é tão difícil para o homem que o próprio Senhor, o próprio Juiz do competição, comparou-a com o carregar de uma cruz. Isso nos é lembrado vividamente bem no meio do Grande Jejum, no domingo da Adoração da Cruz. Assim como o Senhor carregou a Cruz para nossa salvação, assim também cada um de nós deve "carregar sua cruz" para alcançar a salvação preparada para nós pelo Senhor.

Sem a cruz, sem luta, não pode haver salvação! Isto é o que o verdadeiro cristianismo ensina. O ensinamento sobre a luta, sobre o carregar da cruz, percorre como um fio escarlate todas as Sagradas Escrituras e toda a história da Igreja; e a vida dos santos que agradaram a Deus, os atletas espirituais da piedade cristã, testemunham isso claramente. O Grande Jejum é meramente um exercício repetido anualmente do carregar nossa própria cruz nesta vida, um exercício de luta espiritual inseparavelmente conectado com toda a vida do verdadeiro cristão.

Mas agora, no século XX da era cristã, apareceram "sábios" - "neo-cristãos", como alguns deles se referem a si mesmos - que não desejam ouvir falar disso. Eles pregam um novo tipo de neo-cristianismo açucarado, sentimental, cor-de-rosa, desprovido de todo labor e luta, um amor imaginário pseudocristão abrangente e o gozo irrestrito de todas os prazeres desta vida terrena transitória.

Eles ignoram totalmente as inúmeras passagens da Sagrada Escritura que vigorosa e expressamente falam de lutas espirituais, de imitar Cristo Salvador na crucificação de si mesmo, das muitas tribulações que esperam o cristão nesta vida, começando com as palavras que o próprio Cristo Salvador dirigiu a Seus discípulos na Ceia Mística: No mundo tereis tribulação (João 16:33). E isto porque, como o próprio Senhor explicou, os verdadeiros cristãos não são do mundo (João 15:19), já que todo o mundo jaz sob o maligno (I João 5:19).

É por isso que os cristãos não devem amar este mundo e as coisas que há no mundo (I João 2:15); a amizade do mundo é inimizade contra Deus e, portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus (Tiago 4:4).

Estes "homens sábios" modernos de alguma forma não conseguem perceber que a Palavra de Deus em nenhum lugar promete definitivamente aos cristãos satisfação espiritual plena e bem-aventurança paradisíaca nesta vida terrena, mas, muito pelo contrário, enfatiza que a vida na Terra se afastará cada vez mais da Lei de Deus; que, com respeito à moralidade, os homens descerão cada vez mais (veja II Tm. 3:1-5); que os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições. Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados (II Tm. 3:1213); e que, finalmente, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão (2 Pedro 3:10).

Mas surgirão novos céus e uma nova terra, em que habita a justiça (II Pedro 3:13) - uma nova Jerusalém, que de Deus descia do céu (Apocalipse 21:2), que foi mostrada a João, o contemplador dos mistérios, durante a revelação que lhe foi concedida.

Tudo isso não agrada aos "neo-cristãos". Eles querem a bem-aventurança aqui neste mundo, carregado com sua multidão de pecados e iniquidades; e eles esperam esta bem-aventurança com impaciência. Eles consideram que uma das formas mais seguras de alcançá-la é o "movimento ecumênico", a união e unificação de todos os povos em uma nova "igreja" que incluirá não apenas Católicos Romanos e Protestantes, mas também Judeus, Muçulmanos e pagãos, cada um mantendo suas próprias convicções e erros. Este amor "cristão" imaginário, em nome da futura bem-aventurança dos homens na terra, não pode senão pisotear a Verdade.

A destruição desta Terra com tudo o que nela existe, embora claramente predita pela Palavra de Deus, é considerada por eles como algo indescritivelmente horrível, como se isso não fosse consistente com a onipotência de Deus e, aparentemente, algo bastante indesejável. Eles com relutância admitem a destruição da Terra (pois como não aceitar algo profetizado na Palavra de Deus?), mas com a condição de que isso ocorrerá num futuro distante, muito distante, encoberto de névoa; não séculos, mas milhões de anos a partir de agora.

Qual a razão para isto? Poder-se-ia dizer, porque eles são fracos de fé, ou carentes inteiramente de fé na ressurreição dos mortos, e na vida da era por vir. Para eles tudo está nesta vida terrena, e quando ela termina para eles, tudo se vai.

Em alguns de seus pontos - especialmente na expectativa da vida bem-aventurada neste mundo - tal estado de espírito se assemelha muito à heresia bastante difundida dos primeiros séculos do cristianismo chamada milenarismo [quiliasmo] [1]. Trata-se da expectativa de um reinado milenar de Cristo na terra; portanto, a manifestação moderna desta heresia pode ser chamada de "neo-milenarismo".

Deve-se ter em mente e estar ciente de que o milenarismo foi condenado pelo Segundo Concílio Ecumênico no ano 381; e portanto, acreditar nele agora no século XX, mesmo em parte, é totalmente imperdoável. Além disso, este "neo-milenarismo" contemporâneo é muito pior do que a antiga heresia milenarista, pois em sua base está indubitavelmente uma descrença na vida da era por vir e o desejo apaixonado de alcançar a bem-aventurança aqui na Terra, usando todas as benesses e conquistas do progresso material de nossos tempos. 

Este ensinamento falso causa danos terríveis, adormecendo a vigilância espiritual dos fiéis e sugerindo-lhes que o fim do mundo está longe (se é que de fato [eles crêem que] haverá um fim), e por isso não há necessidade especial de vigiar e orar, ao que Cristo Salvador constantemente chamou Seus seguidores (cf Mt 26,41), uma vez que tudo neste mundo está gradualmente ficando cada vez melhor, progresso espiritual acompanhando o materialismo. 

E os terríveis fenômenos que observamos no momento atual são todos temporários; tudo já aconteceu antes, e tudo acabará por passar, e um extraordinário florescimento do cristianismo os substituirá, no qual, claro, os ecumenistas ocuparão os principais e mais honrados lugares.

Assim, tudo está ótimo! Não é necessário trabalhar sobre si mesmo, e nenhuma luta espiritual é necessária; os jejuns podem ser abolidos. Tudo melhorará por si só, até que o Reino de Deus seja finalmente estabelecido na Terra com satisfação e bem-aventurança terrena universal.

Irmãos! Não está claro onde se encontra a fonte última deste ensinamento falso e sedutor? Quem sugere todos esses pensamentos aos cristãos contemporâneos com o propósito de subverter todo o cristianismo? Como uma praga infecciosa, como fogo, devemos temer este "neo-milenarismo" que é tão profundamente contrário ao ensinamento da Palavra de Deus, ao ensinamento dos Santos Pais, e a todos os ensinamentos centenários de nossa Santa Igreja, através dos quais muitos, muitos milhares de justos foram salvos.

 Sem luta espiritual não há, e não pode haver, um verdadeiro cristianismo! Portanto, nosso caminho não se encontra entre todos os movimentos modernos, nem entre os ecumenistas, nem entre os "neo-milenaristas".

Nossa fé é a fé dos santos ascetas, a fé apostólica, a fé dos Pais, a fé Ortodoxa que sustentou o mundo inteiro. Esta fé e somente esta fé nós aderiremos firmemente nestes dias perversos em que vivemos agora.

Amém.



Retirado do livro The Apocalypse: In the Teachings of Ancient Christianity escrito pelo Arcebispo Averky (Taushev) 


Notas

[1] Nota do tradutor: o autor faz uso do termo chiliasm que em português pode ser traduzido como quiliasmo ou milenarismo. Optei utilizar a tradução milenarismo por ser um termo mais comum em nossa língua para referir-se a heresia em questão. 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

Jesus foi um revolucionário? (Sergei Khudiev)


Mito


Algumas pessoas dizem que Jesus foi um revolucionário e que por isso foi punido pelas autoridades.

Portanto, os seus verdadeiros herdeiros são os revolucionários de todos os tempos posteriores, não a Igreja conservadora. Um dos personagens do romance A Paixão Grega, ou Cristo Recrucificado por Nikos Kazantzakis, famoso escritor grego de meados do século 20, diz o seguinte: "Se Cristo descesse à Terra hoje em dia, o que ele carregaria em seus ombros? O que você acha? A cruz? Não! Um reservatório de querosene".

Realidade

Então, Jesus foi um revolucionário, um Che Guevara do mundo antigo? Não nos nossos conceitos habituais. Jesus não tentou tomar o poder por meios armados ou qualquer outro meio. Quando eles quiseram fazer dele rei, Ele recusou (João 6:15). No entanto, no Seu tempo, havia alguns Che Guevaras, ou seja, revolucionários em busca de uma reorganização radical da sociedade, conhecidos como Zelotes.

Eles procuravam destruir o sistema existente por considerá-lo manifestamente injusto e estabelecer um reino de justiça que agradasse a Deus. Foram inspirados pelo exemplo de uma revolta bem sucedida (hoje seria chamada de libertação nacional) que os Macabeus haviam alcançado dois séculos antes. Naquela época Israel também caiu sob o poder dos conquistadores pagãos, só que naquela época não foram os romanos, mas os herdeiros helenistas de Alexandre o Grande.



O rei pagão Antíoco Epifânio quis introduzir uniformidade religiosa e cultural em seu império, e para isso forçou os judeus a adorarem os deuses pagãos. Eles responderam com feroz resistência, e os pagãos, por sua vez, reagiram com violenta repressão. Parecia que Israel, que enfrentava o vasto império, estava condenado. No entanto, um milagre aconteceu: Deus veio em auxílio do seu povo, e os judeus conquistaram uma vitória incrível! Israel conquistou a independência por um tempo.
No tempo de Jesus, o povo esperava por um Messias como os Macabeus, um poderoso guerreiro que pusesse fim ao odioso domínio romano e estabelecesse um reino ideal de paz e justiça.
Os homens corajosos desafiaram a invencível máquina de guerra de Roma e morreram com as espadas dos legionários ou em cruzes para aproximar esse tempo. Ou seja, existia definitivamente um movimento revolucionário na Judéia, na época de Jesus. O que Ele tinha a ver com esse movimento? Nada. Além disso, sua mensagem de amor aos inimigos e de oferecer a outra face era exatamente o oposto da imagem heróica da batalha sangrenta em nome de Deus, com que os Zelotas sonhavam.

Enquanto isso, havia injustiças gritantes na época, das quais o sangue fervia nas veias e as mãos estendiam-se às armas. Mas o governador romano, Pôncio Pilatos, era rápido quanto a subjugar toda a agitação através de matanças. Entre suas outras atrocidades, ele certa vez matou um grupo de judeus piedosos e misturou o sangue dos mesmos com o sangue de seus sacrifícios, que eles haviam oferecido a Deus (Lucas 13:1).
O povo veio a Jesus para que ele finalmente os conduzisse a uma "batalha sangrenta, santa e justa" contra os opressores. Mas eles ficaram desapontados - ao invés de se revoltar contra Pilatos junto com eles, Jesus lhes apontou os próprios pecados de que eles tinham que se arrepender.
Como o mito difere do Evangelho em espírito? Aceitar o Evangelho é adotar uma visão completamente diferente das coisas. Estamos todos inclinados a acreditar que nossos problemas estão lá fora, fora de nós - eles se encontram em pessoas más que nos tratam injustamente, nas circunstâncias de nossas vidas... O Evangelho afirma que meu principal problema não se encontra no exterior, mas no interior. Não são outras pessoas ou circunstâncias que me condenam ao infortúnio temporário e eterno, mas eu mesmo. Como diz o Evangelho, Cristo veio para salvar as pessoas dos pecados delas (Mateus 1:21) - não dos romanos ou de algum outro "povo mau", mas dos seus próprios pecados.
É extremamente difícil de aceitar, mas o Evangelho não é sobre coisas que precisam mudar ao meu redor, quer sejam pessoas, circunstâncias, estado ou sociedade, mas sobre as coisas que precisam mudar dentro de mim.
Deve ocorrer uma profunda transformação interior. Eu preciso olhar para Deus, para outras pessoas e para mim mesmo de uma maneira diferente. Tenho que reconhecer meus pecados, confessá-los a Cristo, aceitar Seu perdão e buscar a graça para que eu possa mudar profundamente. Esta revolução é muito mais importante que todos os golpes de Estado políticos: ela tem consequências eternas. O próprio Senhor fala dela como um "novo nascimento", e o mesmo é reafirmado pelos Apóstolos, assim como a imagem da "nova criação". 

A vida das pessoas que experimentaram esta revolução pode ser diretamente contrária à vida dos revolucionários. São Sérgio de Radonezh não lutou, não matou, não liderou as multidões furiosas. Pelo contrário, humilhou-se, cedeu aos outros; tentou viver segundo a vontade de Deus e evitou a fama mundana. Mas foi ele quem influenciou a vida e os valores da Rússia medieval da forma mais profunda. Ele foi um daquelas pessoas através das quais Deus operou neste mundo, mudando a vida de nações inteiras. É a esta revolução que Jesus Cristo nos conduz: devemos deixar que Ele nos mude para que Ele possa agir através de nós no mundo.

Quem precisa desse mito e por quê?

A luta política - ainda mais a luta revolucionária - pode facilmente ocupar o lugar na consciência humana que a fé deveria ocupar: aquele "propósito último", o mais importante ao qual o homem dedica sua vida, no qual encontra sentido e justificação, esperança e unidade com outras pessoas. Quando isto (lamentavelmente!) lhe acontece, ele procura submeter tudo - prudência, moralidade, religião - à sua luta por aquilo que considera correto.

Jesus não pode ser nosso aliado na luta, porque Ele veio a ser nosso Senhor e Salvador. Não adianta recrutá-Lo para as nossas fileiras e sob as nossas bandeiras. Ele não é uma celebridade que poderíamos trazer para apoiar a nossa causa. Ele é o Senhor, Deus e Salvador - e Ele espera que sejamos plena e incondicionalmente fiéis a Ele e não a qualquer causa política que consideramos grande e correta.

Fonte: https://blog.obitel-minsk.com/2020/06/was-jesus-a-revolutionary.html

domingo, 26 de abril de 2020

Metrpolita Hilarion (Alfeyev): Não devemos atribuir a vitória da Segunda Guerra Mundial a Stalin

O Metropolita Hilarion de Volokolamsk acha que não devemos atribuir a vitória da Segunda Guerra Mundial a Stalin



Em 11 de maio de 2019, como parte do programa "A Igreja e o Mundo" no canal de TV Rússia 24, Metropolita Hilarion de Volokolamsk, abordou, entre outras coisas, a questão da vitória na Segunda Guerra Mundial

Foi-lhe feita a seguinte pergunta: "Para muitas pessoas em nosso país, especialmente para as da geração mais velha, a vitória na Segunda Guerra Mundial é uma vitória pessoal de Stalin. De acordo com a última pesquisa do Levada-Centro, 51% dos russos vêem a pessoa de Stalin com admiração, respeito ou simpatia. E é o índice mais alto dos últimos 20 anos. Na sua opinião, existe algum perigo por trás dos resultados de tal pesquisa?"

O Metropolita Hilarion respondeu: "Pertenço à categoria das pessoas que olham para Stalin sem admiração nem simpatia. Este homem carrega a responsabilidade das repressões desencadeadas nos anos 20 e particularmente nos anos 30. A Igreja expressou claramente sua posição em relação a essas repressões, canonizando os novos mártires e confessores - aqueles que são conhecidos por nome e aqueles cujos nomes desconhecemos. Cada vez que este tema surge, lembro às pessoas que não muito longe de Moscou, existe o Campo de Disparo Butovo. Este é o lugar a ser visitado por aqueles que admiram Stalin, que adoram esta figura, para que possam ver as conseqüências que sua política levou.

A vitória na Segunda Guerra Mundial é o resultado da ação de toda a população. O povo inteiro se levantou para defender o país e venceu nesta guerra sangrenta. Qual foi o papel pessoal de Stalin nessa guerra? Esta questão é muito debatida, como por exemplo no que diz respeito às suas ações para enfraquecer o exército na década de 1930, quando muitos líderes militares proeminentes foram fuzilados, por serem suspeitos de traição. E o exército estava totalmente despreparado para a guerra.

Podemos lembrar também que Stalin tinha sido avisado do ataque iminente que estava prestes a acontecer, mas ele ignorou esses relatos, incluindo o do famoso agente Richard Sorge. Portanto, não podemos dizer que a vitória da União Soviética na Segunda Guerra Mundial é mérito de Stalin. Eu acho que é o mérito de todo o povo. Ela foi atribuída a Stalin por causa desse culto à personalidade. Eu não acho que agora, em nosso tempo, devemos reavivar esse culto à personalidade".

Fonte: https://orthodoxie.com/en/metropolitan-hilarion-of-volokolamsk-thinks-we-should-not-attribute-the-victory-of-world-war-ii-to-stalin/