quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Supremacia Papal? 5 exemplos históricos dos primeiros séculos da Igreja que a refutam



Os primeiros cinco séculos do Papado

Existem alguns Bispos, especificamente Papas, que afirmaram a Supremacia Papal ou coisas que podem ser inferidas como tais? Claro que sim. No entanto, o que vemos é que as reivindicações deles foram constantemente, e muitas vezes definitivamente, rejeitadas. Se mais Ortodoxos soubessem disso, ficaríamos menos intimidados com as reivindicações do Papado.

Século II: Papa São Víctor I excomungou as igrejas na Ásia Menor por causa da data da Páscoa.

Eusébio relata que isto foi rejeitado por todos e mais tarde a questão foi decidida em Nicéia I, mostrando que a Igreja reconhecia que o concílio era o árbitro final em relação a estas questões.

Século III: Papa Santo Estêvão I excomungou os Santos Cipriano e Firmiliano por causa da doutrina deles sobre o Batismo.

O concílio Norte Africano rejeita Estevão, São Dionísio de Alexandria rejeita Estevão, e Firmiliano afirma que as "igrejas orientais" rejeitaram Estevão. O próximo Papa (Papa São Sixto II) levantou as excomunhões mesmo diante de um desafio aberto, alegando (inexplicavelmente) vitória que todos concordavam com ele.

Século IV: São Melécio não foi reconhecido pelo Papa de Roma e pelo Papa de Alexandria.

O segundo concílio ecumênico afirma Melécio e nomeia seu sucessor, rejeita explicitamente a autoridade do papado a respeito da decisão deles, reconcilia-se com Alexandria, e diz a Roma que tiveram o consentimento de todos e que eles não pertencem a ela. (Isto é literalmente verdade, leia a carta sinodal do concílio).

Século V: Papa São Celestino e São Cirilo de Alexandria excomungam Nestório. Nestório recorre da excomunhão a um concílio ecumênico.

O concílio decide a favor de Cirilo e só é totalmente recebido por Antioquia dois anos depois, depois que as concessões são feitas por Cirilo. O episódio corrobora a afirmação de Santo Agostinho de que o Papa e os concílios ocidentais podem ser submetidos a apelação e anulados pelos concílios ecumênicos. Existe uma carta entre Celestino e seus legados e outra entre ele e Cirilo, onde ele reconhece que sua excomunhão de Nestório está sujeita à revisão conciliar.

Duas décadas mais tarde, o Papa São Leão Magno não exige a realização de nenhum concílio sobre a heresia de Eutiques e afirma que seu Tomo resolve a controvérsia cristológica. Leão é rejeitado em ambos os pontos. Um concílio é realizado, seu Tomo foi submetido à revisão, e então ele é forçado a rejeitar o Cânon 28, embora imediatamente antes do concílio ele tenha aceitado o Cânon 3 de Constantinopla I. Isto é verificado por aliados romanos, legados e santos ocidentais que afirmam a existência deste cânon e a aceitação de Leão, bem como a corroboração em cada cópia de direito canônico em latim que o tem - incluindo uma coleção contemporânea do século V.

Século VI: O Papa Vigílio se recusa a participar do quinto concílio ecumênico, escrevendo enfaticamente que é impossível para a Igreja anatematizar alguém após a morte, mas afirmando de outra forma todas as outras conclusões doutrinárias que o concílio fez.

O quinto concílio ecumênico destitui o Papa Vigílio e declara-se ecumênico. Vigílio retrata-se duas vezes.

Conclusão. Posso continuar dando mais exemplos dos séculos anteriores e posteriores, mas creio que estes exemplos são suficientes. É bastante claro que a "narrativa" Católica Romana de que a última palavra era do Papado e que a única vez que o resto da Igreja "seguiu seu próprio caminho" foi quando eles estavam em heresias é falsa. Há exemplos óbvios de igrejas e concílios que rejeitaram Roma quando ela estava afirmando doutrinas e práticas falsas, e repudiando as afirmações amplas de poder papal.

Quando as pessoas realmente olham para as evidências em vez de se concentrarem em algumas palavras floridas sem ações ou consenso em torno de lisonjas e afins, é possível depreender que a doutrina do Papado é literalmente um edifício de aparência sólida e impressionante sobre uma fundação histórica de areia.

É por isso que toda a abordagem histórica do Catolicismo Romano é uma falsificação. Eles têm uma abordagem variável do que é fé e moral, visando defender qualquer ataque contra a suposta infalibilidade de Roma. Mas isto não é o mesmo que atirar a flecha e depois pintar o alvo após o fato? A capacidade da Igreja de condenar as pessoas após a morte não é uma questão de eclesiologia e de fé? O Papa Vigílio não estaria em erro ao rejeitar isto enfaticamente? O que a Igreja pode fazer não é uma questão de fé?

É por isso que tudo com os Católicos Romanos se torna um jogo de artimanhas de tecnicidades e argumentos sobre o significado das palavras, uma disputa inútil sobre palavras a respeito da qual as Escrituras nos advertem contra.

Se alguém respira fundo e olha para a história como um ser humano normal, ele percebe que a apresentação "Rad Trad" da História da Igreja Católica Romana é absurda - e é por isso que quase todos os estudiosos Católicos Romanos que são publicados através de revisão por pares a rejeitam e apenas os apologistas de internet fingem que é verdade.


Escrito por Craig Truglia (https://orthodoxchristiantheology.com/2020/10/13/the-first-five-centuries-of-the-papacy/

Nota do tradutor: Para textos mais aprofundados sobre o tópico veja: 
 
[1] Uma refutação das pretensões Católicas Romanas de Superioridade e Infalibilidade do Papa (John C. Pontrello) http://skemmata.blogspot.com/2019/11/uma-refutacao-das-pretensoes-catolicas.html
[2] Os Cânones dos Concílios Ecumênicos Refutam o Papado pós-Cisma: http://skemmata.blogspot.com/2020/05/os-canones-dos-concilios-ecumenicos.html

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