sexta-feira, 16 de agosto de 2019

São Fócio o Grande, o Concílio Fociano e as relações com a Igreja Católica Romana (Dr. David Ford)

Introdução


Há uma discussão considerável hoje dentro da Igreja Ortodoxa sobre o status do chamado "Concílio Fociano", realizado em Constantinopla em 879-880. Este é um concílio extremamente importante na história da Igreja Ortodoxa e, portanto, merece ser amplamente conhecido entre os fiéis ortodoxos. E este Concílio é de especial relevância para nossa Igreja Ortodoxa vis-à-vis a Igreja Católica Romana, pois ele 1), oficialmente proibiu qualquer adição ao Credo de Nicéia, rejeitando assim a cláusula Filioque, que estava em uso em muitas igrejas em Europa Ocidental naquela época (embora não em Roma até 1014); e 2), implicitamente rejeitou o princípio da Supremacia Papal, ou autoridade jurisdicional sobre as Igrejas Orientais, na medida em que este Concílio anulou o Concílio Inaciano pró-papal realizado em Constantinopla dez anos antes. Mas em uma das maiores ironias da história cristã, o Concílio Fociano foi reconhecido como legítimo pelo papado por quase 200 anos até o período da Reforma Gregoriana, quando os canonistas do papa Gregório VII (1073-1085) rejeitaram o Concílio Fociano e ressuscitaram o Concílo Inaciano para tomar o seu lugar.


Minha opinião pessoal é que essa substituição, 200 anos após o fato, foi facilitada pela Igreja Romana devido à circunstância de que a Igreja Oriental não havia proclamado o Concílio Fociano como o Oitavo Concílio Ecumênico. Há razões compreensíveis para essa circunstância, que discutirei no final deste artigo. Por ora, observarei simplesmente que essa substituição tornou a reconciliação entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa tremendamente mais difícil ao longo dos séculos - já que o Filioque e a Supremacia Papal tem sido os dois maiores obstáculos que impedem a reconciliação até hoje.

O contexto básico da história desses dois concílios 

São Fócio o Grande (815 - c. 891) tem sido chamado de "o pensador mais ilustre, o político mais destacado, e o mais hábil diplomata a ocupar o cargo de Patriarca de Constantinopla". [1]

Ele era da alta nobreza de Constantinopla. Seus pais, Sergios Georgios e Irene, sofreram como confessores da fé, pois defenderam a veneração dos ícones sagrados durante a segunda onda da heresia do Iconoclasmo e são santos em nossa Igreja. Eles foram exilados e separados de seu filho quando ele tinha cerca de nove anos de idade; eles aparentemente nunca mais o viram. A festa deles é 13 de maio. E o tio de Fócio era São Tarásio, o Patriarca de Constantinopla que presidiu o Sétimo Concílio Ecumênico, realizado em Nicéia em 787, que oficialmente defendeu os ícones contra os iconoclastas.

O jovem Fócio recebeu uma excelente educação clássica sob a supervisão de parentes. Logo no início mostrou interesse pelo monasticismo, mas decidiu seguir carreira de estadista, tendo excelentes conexões na corte imperial. No início, ele serviu como secretário imperial e depois como embaixador em Bagdá. Mais tarde, tornou-se professor da recém-revigorada Universidade de Constantinopla, que desempenhou um papel fundamental no grande renascimento da cultura e da aprendizagem que ocorreu em Bizâncio após o Triunfo da Ortodoxia em 843, que restaurou de uma vez por todas a veneração dos ícones sagrados.

Em 23 de outubro de 858, o patriarca Inácio de Constantinopla renunciou ao cargo, sob pressão do imperador Miguel III (filho da Imperatriz Santa Teodora), a pedido de César Bardas, irmão de Teodora e praticamente primeiro-ministro do governo, cuja relação com sua nora o Patriarca Inácio havia condenado como incestuosa - embora isso possa ter sido uma acusação infundada. De acordo com o proeminente historiador católico romano Francis Dvornik,  Inácio também renunciou “por conselho dos bispos que estavam desejosos em evitar um conflito entre a Igreja e o governo”. [2] Dvornik imediatamente diz que Inácio
pediu a seus partidários que selecionassem um novo patriarca. Em um sínodo local, os bispos de ambos os partidos [os rigoristas apoiando Inácio e os moderados apoiando Fócio] recomendaram ao imperador o leigo Fócio [cujo brilhante talento era conhecido], evitando a eleição de um bispo de cada partido rival. Fócio foi reconhecido como o legítimo patriarca por todos os bispos, até mesmo pelos cinco mais fiéis partidários de Inácio, depois que Fócio lhes deu certas garantias quanto à posição de Inácio após sua abdicação [3].
858: Consagração dos Fócio como Patriarca

Muito relutantemente, Fócio aceitou esta convocação completamente inesperada pela Igreja e pelo Imperador para ser o novo patriarca. E uma vez que a Natividade do Senhor estava se aproximando em breve, e um patriarca seria necessário para liderar os serviços, Fócio foi elevado à posição de Patriarca através de cerimônias de tonsura, ordenação diaconal e sacerdotal, e consagração como bispo em cinco dias consecutivos (Santo Ambrósio de Milão foi elevado de leigo para bispo da mesma forma rápida em 386, assim como São Tarasios em 784). Sua consagração como patriarca foi realizada pelo Bispo "Gregório Asbestos, líder dos liberais, e por dois bispos inacianos." [4]

Agora a situação complica! De acordo com Dvornik,
Cerca de dois meses após a ordenação de Fócio, os seguidores extremos de Inácio, reunidos na igreja de Santa Irene, recusaram a obediência ao novo patriarca e exigiram o restabelecimento de Inácio. A razão para essa ação pode ter sido interpretações divergentes da natureza das garantias dadas por Fócio aos cinco líderes do partido inaciano. Fócio convocou um sínodo na igreja dos Santos Apóstolos (859). A parte contrária impediu a condenação deles provocando uma rebelião (Zonnaras, PG 137: 1004f), que tinha um fundo político e que foi suprimida com derramamento de sangue pela polícia imperial. Fócio protestou contra a crueldade da polícia e ameaçou Bardas com sua abdicação [Dr. David Ford: certamente isso é uma clara indicação de sua falta de cobiça pela posição, como os críticos ocidentais tantas vezes o acusaram por séculos]. 
Depois que a paz foi estabelecida, o sínodo foi convocado novamente na igreja do palácio Blachernae. A fim de privar a oposição de qualquer alegação sobre a legitimidade do patriarcado de Inácio, o sínodo declarou, a pedido de Bardas, que todo o patriarcado de Inácio foi ilegítimo porque ele não havia sido eleito por um sínodo, mas foi simplesmente nomeado pela Imperatriz [Santa] Theodora [em 847]. Durante os tumultos, Inácio e alguns de seus seguidores foram presos. Inácio foi detido em vários lugares, por fim em um mosteiro na ilha de Terebinthus. Bardas, no entanto, deve ter se convencido de que Inácio não havia sido responsável pelos tumultos, porque permitiu que ele ficasse no palácio de Posis em Constantinopla, construído pela mãe de Inácio. 
Por causa desses problemas, somente em 860 Fócio foi capaz de enviar a carta [habitual] ao papa Nicolau I [e aos outros patriarcas - de Alexandria, Antioquia e Jerusalém] a respeito de sua entronização. Nessa comunicação, ele anunciou que aceitara sua eleição a contragosto após Inácio ter abdicado. [5]
Nesta carta, segundo Despina White, “Fócio, depois de confessar sua dedicação à Ortodoxia, afirmou que preferiria ficar com seus livros e seus dedicados alunos, mas concordou em tornar-se patriarca em 'obediência à vontade de Deus, que assim o puniu por suas transgressões.'"[6] Despina White continua a contar: “Em outra epístola, para Bardas, Fócio reclamou mais uma vez que ele foi forçado por Bardas a assumir a sé contra sua vontade.” [7]

Algum tempo depois, Fócio escreveu uma carta mais pessoal ao Papa Nicolau, na qual declarou:
Deixei uma vida tranquila, deixei uma doce calma… deixei minha tranquilidade favorita. Quando ficava em casa, mergulhava no mais doce dos prazeres, observando a diligência daqueles que estavam aprendendo, a seriedade daqueles que faziam perguntas e o entusiasmo dos que respondiam… E quando eu tinha que ir para minhas tarefas no palácio imperial, eles se despediam calorosamente e me pediam para não demorar muito ... E quando voltava, esse grupo estudioso estava me esperando na frente da minha porta; ... e tudo isso era feito com franqueza e sem malícia, sem intrigas, sem ciúmes. E quem, depois de ter conhecido tal vida, toleraria vê-la terminada e não lamentaria? É tudo isto que eu perdi, por tudo isso que choro... uma privação que me fez derramar lágrimas e me envolve numa névoa de tristeza. [8]
Certamente, essas cartas contradizem fortemente a típica acusação ocidental que Fócio cobiçava pelo cargo patriarcal e que ele, de alguma forma, havia usurpado-o.

Continuando com o relato de Dvornik: “O imperador Miguel e o Fócio também pediram ao papa que enviasse legados para um novo concílio em Constantinopla, que mais uma vez condenaria o iconoclasmo e confirmaria a decisão tomada por Theodora em 843 em relação ao restabelecimento do culto das imagens.”[9]

São Fócio, Patriarca de Constantinopla 


861: O Concílio em Constantinopla

O papa Nicolau, que se mostraria um dos papas mais fortes da história do papado romano, e um dos mais empenhados em ampliar a autoridade papal, já estava ocupado tentando consolidar e estender o poder do papado sobre as igrejas do Ocidente, que estava longe de ser consolidado naquele tempo. [10] Nicolau estava especialmente empenhado nisso, uma vez que esta era uma época em que o prestígio e a autoridade papal estavam particularmente em baixa, e ele era um ardente proponente e promotor da idéia e prática da Supremacia Papal sobre todas as Igrejas de Cristo. É bastante evidente a partir do modo como os acontecimentos se desenrolaram que ele percebeu essa controvérsia em Constantinopla como uma excelente oportunidade para tentar estender o poder papal sobre a Igreja Oriental também. Assim, em 861, ele aceitou avidamente o convite de Fócio para enviar legados papais a Constantinopla para participar do próximo concílio da Igreja, mas com a idéia de fazer disso uma ocasião para investigar e reconsiderar toda a questão da elevação de Fócio ao cargo de patriarca.

Em Constantinopla, indicando ainda mais seu interesse em manter boas relações com Roma, Fócio recebeu os legados papais com “grande respeito”, [11] convidando-os até mesmo a presidir o concílio. E como podemos ver nas cartas dele, o mais provável é que Fócio ficaria muito feliz em permitir Inácio voltar como patriarca.

Este Concílio, realizado em 861, foi de fato presidido pelos legados papais. Após uma investigação completa, o concílio determinou que Fócio era de fato o patriarca legítimo - e essa decisão foi mantida pelos legados papais. Mas quando os legados relataram o veredicto a Nicolau, ele se recusou a aceitar a decisão, uma vez que ele não forçou a Igreja Oriental a submeter-se à sua vontade de restabelecer Inácio.

863: O Concílio em Roma

Assim, papa Nicolau declarou que seus legados "haviam excedido os poderes". [12] Ele rejeitou a decisão deles e a do concílio de aceitar Fócio como o legítimo patriarca, e prosseguiu tentando julgar novamente o caso em um concílio realizado sob sua presidência em Roma em 863. Esse concílio proclamou de maneira bastante previsível que Inácio era o patriarca, declarando que “Fócio deve ser destituído de toda dignidade sacerdotal”. [13] Nicolau também afirmou que todo o clero ordenado por Fócio durante os cinco anos anteriores deveria ser destituído! “Esta afirmação da autoridade papal naturalmente foi uma grande ofensa a Constantinopla.” [14]

A prova de que o patriarcado de Constantinopla de modo algum aceitou as pretensões papais de ter autoridade jurisdicional sobre ele é o fato de que esses pronunciamentos do papa Nicolau e do Concílio de Roma de 863 foram completamente ignorados pela Igreja em Constantinopla; nenhuma resposta foi enviada a Nicolau! Uma brecha aberta agora existia entre Constantinopla e Roma - uma brecha que obviamente foi criada por Nicolau e seu concílio, e não por Fócio! Mas porque, do ponto de vista papal, Fócio estava desafiando a autoridade papal, esse cisma foi atribuído a ele. Portanto, desde então, no Ocidente, esse cisma é conhecido como o “Cisma Fociano”.

Presunções papais de Nicolau 

O papa Nicolau tentou alegar que um cânon do Concílio de Sardica (em 343) justificava suas ações no concílio em Roma em 863. Este cânon (cânon 3) permitia que apelos referentes a qualquer bispo sob condenação fossem feitos a Roma; mas Roma só está autorizada por este cânon a conceder um novo julgamento - se houvesse uma causa justa - contanto que esse fosse realizado na região adjacente à do bispo condenado. Ao exigir um novo julgamento após o Concílio de Constantinopla de 861, e sediando-o em Roma, o papa Nicolau excedeu em muito os limites deste cânon do Concílio de Sardica. [15]

Nicolau deixou suas intenções muito claras em 865 em uma carta que escreveu ao imperador Miguel, na qual declarou que a Igreja Romana tem autoridade “sobre toda a terra, isto é, sobre toda a Igreja”. [16] Como historiador católico-romano David Knowles escreveu,
para o imperador, foram feitas reivindicações a poderes até então nunca exercidos no Oriente, como o direito de Roma de convocar as partes para Roma para o exame do caso, embora nenhum apelo tivesse sido apresentado por elas. Nicolau usa uma linguagem sobre o papado que não foi excedida em força nem mesmo por Gregório VII [1073-1085]. Estabelecidos como príncipes em toda a terra, os papas são o epítome de toda a Igreja; todos os cristãos estão sujeitos ao governo papal; sem a Igreja de Roma não há cristianismo; o papa é o mestre dos bispos… O papa é mediador entre Cristo e o homem, e é através dele que os poderes dos imperadores e dos bispos fluem. [17]
O impasse foi intensificado pelo conflito em relação à obra missionária franco-alemã e grega entre os eslavos na Europa Oriental, onde uma obra missionária em paralelo estava sendo feita pelos alemães de língua latina e pelos bizantinos de língua grega (realizada de acordo com princípios muito diferentes). O confronto ocorreu na Bulgária, onde Khan Boris inicialmente se inclinou para os alemães, mas quando ameaçado por uma invasão militar bizantina, ele mudou de idéia e aceitou o batismo do clero grego (tomando Miguel como seu nome batismal, seguindo o imperador bizantino) em 865. Pouco tempo depois, o Patriarca Fócio escreveu a Khan Boris uma longa carta descrevendo todos os deveres de um príncipe e governante cristão; nesta carta ele incluiu uma história detalhada sobre os sete Concílios Ecumênicos. [18]

Mas Khan Boris queria que a nova Igreja em sua terra da Bulgária fosse tão independente quanto possível, então ele olhou para o Ocidente na esperança de melhores condições. Ele permitiu que os missionários latinos tivessem liberdade, e eles criticaram duramente o clero grego por ser casado, por ter diferentes regras de jejum, por permitir que os sacerdotes administrassem a Crisma (somente bispos estavam faziam isso no Ocidente, onde era conhecido como “confirmação”), e acima de tudo, por não usar o Filioque! Embora o Filioque ainda não fosse usado oficialmente em Roma (onde continuaria a ser resistido até 1014, quando foi usado pela primeira vez no culto público), o papa Nicolau não tentou impedir os alemães de usá-lo - aparentemente ele tinha menos reservas a respeito do Filioque que seu predecessor, o papa Leão III, que, embora tivesse permitido que Carlos e os francos o usassem, em 808 gravou o Credo Niceno original em placas de prata, exibidas com destaque na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

 867: O Concílio de Constantinopla

Por volta de 867, quatro anos depois que o papa Nicolau e o Concílio de Roma de 863 tentaram depô-lo e anatematizá-lo, Fócio sentiu que não poderia mais se calar. Em uma carta encíclica a todos os patriarcas orientais, ele denunciou a presença de missionários latinos na Bulgária e suas várias práticas e crenças não-ortodoxas - especialmente o Filioque - e anunciou um sínodo vindouro que seria realizado em Constantinopla para tratar dessas questões. Aqui está um trecho desta carta sobre o Filioque: “No entanto, mesmo se não citarmos todas essas e outras inovações da Igreja de Roma, a simples citação da adição do Filioque ao Credo Niceno seria suficiente para submetê-los a mil anátemas. Esta inovação blasfema o Espírito Santo, ou mais corretamente, toda a Santíssima Trindade.”[19]

Podemos acrescentar aqui que São Fócio mais tarde escreveu um extenso ensaio criticando o Filioque, que ele dirigiu aos teólogos ocidentais, intitulado A Mistagogia do Espírito Santo [20]. Nesta obra, Fócio chama o Filioque de “embriaguez enganosa de impiedade!” E de “tagarelice blasfema que transforma a monarquia [dentro da Divindade] em muitos princípios e causas… em uma espécie de 'semi-sabelianismo' monstruoso” [21]. De acordo com o Dicionário Oxford da Igreja Cristã, a crítica do Filioque feita por Fócio “forneceu a todos os teólogos gregos subseqüentes suas objeções ao dogma ocidental” [22].

Foi assim que Fócio descreveu na mesma carta a todos os patriarcas os missionários alemães que entraram na Bulgária:
Pois os búlgaros não haviam sido batizados nem mesmo dois anos antes quando homens desonrosos emergiram das trevas [isto é, o Ocidente], e caíram como granizo - ou melhor, atacaram como javalis selvagens a recém plantada vinha do Senhor. Eles a destruíram com cascos e dentes, isto é, por suas vidas vergonhosas e dogmas corrompidos. Os missionários papais e o clero queriam que esses cristãos ortodoxos se afastassem dos dogmas corretos e puros de nossa fé irrepreensível. [23]
Em 1948, o escolar católico romano Francis Dvornik publicou um livro meticulosamente pesquisado intitulado The Photian Schism: History and Legend [24]. Esta obra corajosamente pioneira fez muito para amenizar a hostilidade e rancor que o Ocidente mantém contra o Fócio por mais de mil anos. Mas ainda assim, neste livro, Dvornik chama essa carta do Patriarca Fócio de “um ataque fútil”, “um lapso imprudente, apressado e grande, com consequências fatais”. [25] Mas, como observa o Bispo Kallistos Ware, foi o Ocidente que foi o agressor a respeito do Filioque, com Roma permitindo seu uso pelos Francos. Como Fócio estava convencido de que era heresia, ele teve que agir. [26]

Assim, neste importante ano de 867, um grande concílio se reuniu em Constantinopla. Em torno de 1000 bispos, sacerdotes e monges estavam presentes. O concílio declarou o papa Nicolau deposto, anátema e excomungado; ele foi chamado de “um herege que destrói a vinha do Senhor”. [27] E de acordo com Dvornik, “Nicolau foi condenado e pediu-se que o Imperador [Romano-Germânico] Luís II depusesse-o”, [28] o Filioque foi condenado como heresia, e a interferência romana nos assuntos internos da Igreja Oriental foi denunciada como ilegal.

Em 23 de setembro de 867, Basílio, o Macedônio, o co-imperador, ao ouvir um boato de que o imperador Miguel estava planejando matá-lo, assassinou o imperador (que era conhecido, não sem motivo, como Miguel, o Bêbado) e assassinou Caesar Bardas também, e usurpou o trono, estabelecendo uma nova dinastia - a dinastia macedônia. A fim de ganhar o favor e apoio de Roma, especialmente porque ele literalmente tinha "sangue em suas mãos" devido a sua usurpação assassina do trono, ele depôs Fócio e restabeleceu Inácio como Patriarca de Constantinopla. A comunhão com Roma foi restaurada, com tanto Basílio como Inácio escrevendo cartas extremamente respeitosas ao papa Nicolau - cartas que pareciam reconhecer a supremacia papal até mesmo sobre a Igreja do Oriente. [29]

Em 13 de novembro, no mesmo ano, o papa Nicolau morreu, antes de ouvir sobre sua  excomunhão pelo Concílio de Constantinopla, realizada no início daquele ano. Ele foi sucedido pelo papa Adriano II (867-872), que provou ser um papa relativamente forte, mas não tão forte quanto Nicolau. Ainda assim, ele supervisionou um concílio em Roma, realizado em 869, com a participação de delegados gregos, que condenaram o Concílio de Constantinopla de 867 e queimaram seus atos publicamente!

O "Concílio Inaciano" em Constantinopla em 869-870

Em 869-870, outro concílio foi realizado em Constantinopla, desta vez sob Patriarca Inácio. Foi convocado pelo imperador Basílio e submetido à pressão imperial por ele. Este concílio abriu com apenas doze bispos (mais tarde aumentando para 103). Seu pequeno número foi devido ao fato de que “a grande maioria da hierarquia e do clero permaneceu fiel a Fócio”. [30] Conhecido como o “Concílio Inaciano”, este encontro condenou e anatematizou Fócio. Ele foi então enviado para o exílio, mesmo sem seus livros. [31] No todo, este concílio foi o concílio mais pró-Roma já realizado dentro da Igreja Ortodoxa. Afirmava que “na Sé Apostólica [isto é, em Roma], a religião católica sempre foi mantida imaculada e seu ensinamento mantido santo. Desejosos de não sermos separados desta fé e doutrina ... esperamos poder estar associados a vós na Comunhão única que a Sé Apostólica proclama, na qual reside toda a verdade e perfeita segurança da religião cristã." É fácil entender por que esse concílio foi citado no Vaticano I, que declarou que a infalibilidade papal é um dogma em 1870. [32]

Alguém poderia pensar que este concílio bastante pró-Roma teria satisfeito o papado. Mas este concílio também pediu ao imperador Basílio que resolvesse o status da recém-formada Igreja búlgara e, não surpreendentemente, ele atribuiu [a Igreja búlgara] à autoridade do Patriarcado de Constantinopla. O patriarca Inácio desafiou protestos católicos romanos sobre isso, e nomeou um arcebispo e bispos para os búlgaros, expulsando todo o clero latino. Os búlgaros aceitaram esse desenvolvimento, pois finalmente perceberam que sua Igreja teria mais independência sob Constantinopla do que sob Roma. Mas Roma ameaçou Inácio com ex-comunicação, e as relações entre as duas Igrejas se tornaram tensas novamente.

Conciliação de Fócio com o Imperador Basílio e o Patriarca Inácio 

Em 873, Fócio foi retirado do exílio pelo imperador Basil, que a essa altura já havia transferido sua lealdade dos conservadores radicais da Igreja para o partido mais moderado que ainda apoiava Fócio. A essa altura Basílio estava firmemente instalado no poder e não precisava mais do apoio do partido Inaciano ou de Roma. Chegou a fazer de Fócio o tutor de seus filhos Leão (o futuro imperador) e Alexandre, e Fócio retomou suas aulas na Universidade.

Nos anos seguintes, Inácio e Fócio se reconciliaram; e quando Inácio estava próximo da morte, ele estabeleceu que queria que Fócio o sucedesse como patriarca. Isso de fato aconteceu, pois depois da morte de Inácio, em 23 de outubro de 877, Fócio retornou ao trono patriarcal. E logo depois, Fócio trabalhou para a canonização oficial de Inácio como santo - seu dia de festa é 23 de outubro.

O "Concílio Fociano" de Constantinopla em 879-880

Em 879-880, outro concílio foi realizado em Constantinopla, com 383 bispos presentes, que anulou as decisões do menor e mais politicamente motivado Concílio Inaciano de 869-870, que havia afirmado que Inácio, e não Fócio, era o legítimo patriarca de Constantinopla. Os legados papais presentes neste concílio, conhecido como Concílio Fociano, aparentemente estavam em plena aprovação. De fato, eles se juntaram nesta declaração da última sessão do Concílio: “Se alguém se recusa a reconhecer Fócio como o santo patriarca e recusa estar em comunhão com ele, seu destino será junto com Judas, e ele não será incluído entre os cristãos!”[33]

De acordo com um historiador ocidental do século XIX, geralmente antagônico em relação a Fócio, "este concílio foi, no todo, um evento verdadeiramente majestoso, como nunca visto desde o Concílio de Calcedônia." [34] Este concílio proibiu estritamente qualquer alteração do Credo Niceno, rejeitando assim o Filioque: "O Credo não pode ser subtraído, acrescentado, alterado ou distorcido de qualquer forma." [35] O texto verdadeiro do horos, ou proclamação, do concílio relativo ao Credo Niceno é como segue:
Assim pensamos; nesta Confissão de Fé fomos batizados; através desta palavra de verdade, toda heresia é despedaçada e cancelada. Registramos como irmãos e pais e co-herdeiros da cidade celestial aqueles que pensam assim. Se alguém, no entanto, ousar reescrever e chamar de Regra de Fé alguma outra exposição além daquela do Símbolo sagrado que foi propagada do alto por nossos abençoados e santos Padres até nós mesmos, e arrebatar a autoridade da Confissão daqueles homens divinos, e impor sobre ele suas próprias frases inventadas (ἰδίαις εὑρεσιολογίαις) e levar adiante essas como uma lição comum para os fiéis ou para aqueles que retornam de algum tipo de heresia, e exibir a audácia de falsificar completamente (κατακιβδηλεῦσαι ἀποθρασυνθείη) a antiguidade deste sagrado e venerável Horos (Regra) com palavras ilegítimas, ou acréscimos, ou subtrações, tal pessoa deve, de acordo com o voto dos Sínodos sagrados e Ecumênicos, que já foram aclamados antes de nós, ser submetido a completa excomunhão se ele for um dos clérigos, ou ser expulso com um anátema se ele for um dos leigos. [36]
Além disso, “este concílio também argumentou que o papa era um patriarca como todos os outros patriarcas, que ele não possuía autoridade sobre toda a Igreja e, portanto, não era necessário que o patriarca de Constantinopla recebesse a confirmação do pontífice romano”. [37] Nas palavras do Dicionário Oxford de Bizâncio sobre este concílio, “embora os 'privilégios' de Roma tivessem sido reconhecidos [como sendo o 'primeiro entre iguais'], a autoridade canônica e judicial do papa e do patriarca foi definida em termos de igualdade (cânon 1). A jurisdição papal sobre a Igreja Bizantina foi assim excluída.”[38]

O papa agora era João VIII (872-882), sucessor do papa Adriano II. De acordo com Vasiliev, “Muito irritado, João enviou um legado a Constantinopla para insistir na anulação de qualquer medida aprovada no concílio que fosse desagradável ao papa. O legado também deveria obter certas concessões em relação à Igreja búlgara. Basílio e Fócio se recusaram a ceder em qualquer um desses pontos, e chegaram ao ponto de prender o legado.” [39]

No fim, o papa João aceitou as decisões desse concílio, mesmo que com relutância, em parte por causa de seu antagonismo contra os alemães. Ele não pressionou pelo Filioque, não pressionou pelas reivindicações alemãs ou romanas na Bulgária e aceitou Fócio como o legítimo patriarca. Aparentemente, ele reconheceu que as políticas e a atitude agressiva de Nicolau foram destrutivas para a unidade cristã.

Este Concílio Fociano foi o concílio (e não o Concílio Inaciano que foi anulado) que trouxe a paz entre Roma e Constantinopla que durou até o Grande Cisma de 1054. Mas essa relação [entre as igrejas] foi severamente tensionada pela interferência do Papa Nicolau e de seus dois sucessores na vida interna da Igreja de Constantinopla. Pe. Schmemann reflete o ponto de vista ortodoxo a respeito dessa interferência quando escreveu: “Seria difícil imaginar mais incompreensão, intolerância e arrogância do que o que o papa Nicolau e seus sucessores demonstraram em sua intervenção nas dificuldades internas da Igreja bizantina”. [40]

Os últimos anos de Fócio

Fócio serviu como patriarca por mais seis anos, até que, em 886, o novo imperador Leão ( 886-912), filho de Basílio I, imediatamente o depôs, provavelmente por motivos pessoais. É sabido que Fócio se aliou a Basílio em uma disputa que o imperador teve com seu filho Leão pouco antes da morte de Basílio.

São Fócio morreu em relativa obscuridade, no mosteiro de Armeniakon [41] por volta do ano 891.

A aceitação e posterior rejeição do Concílio Fociano por Roma 

O Concílio Fociano e sua autoridade não foram questionados em Roma pelos próximos quase 200 anos. Uma forte evidência disso é dada pelo escritor católico romano Daniel J. Casellano quando afirmou: “No ocidente, os primeiros canonistas, mais notavelmente Santo Ivo de Chartres (final do século XI) e Graciano (século XII), consideraram que o Sínodo Fociano de  879-880 foi devidamente aprovado pelo Papa João VIII.”[42]

Mas durante o tempo do papa Gregório VII (1073-1085), no período conhecido como Reforma Gregoriana, como mencionei no começo deste artigo, os juristas canônicos papais voltaram às tempestuosas décadas das décadas de 860 e 870, e substituíram o Concílio Fociano pelo Concílio Inaciano de dez anos antes. Nas palavras do Dicionário de Oxford de Bizâncio, o Concílio Fociano tinha sido "reconhecido como ecumênico por Roma até a Reforma Gregoriana, quando a tradição romana oficial foi abandonada em favor do Concílio de 869" (p. 513).

O escolar ortodoxo Pe. George Dragas pergunta:
Como aconteceu que os Católicos Romanos passaram a ignorar esse fato conciliar? Seguindo Papadopoulos Kerameus, Johan Meijer - autor de um estudo aprofundado sobre o Concílio Constantinopolitano de 879/880 - apontou que os canonistas Católicos Romanos no início se referiam ao Oitavo Concílio Ecumênico (o Inaciano) no começo do século XII. Em consonância com Dvornik e outros, Meijer também explicou que isso foi feito deliberadamente porque esses canonistas precisavam naquela época do cânone 22 desse Concílio. [43] De fato, no entanto, eles negligenciaram o fato de que "este Concílio havia sido cancelado por outro, o Concílio Fociano de 879-880 - os atos dos quais também foram mantidos nos arquivos pontifícios". [44] 
Repercussões para as relações Ortodoxo-Católicas Romanas

Quão diferente teriam sido as relações nos séculos seguintes, e até o presente, entre a Ortodoxia e o Catolicismo Romano, se a Igreja Romana tivesse continuado a aceitar o Concílio Fociano como legítimo, e se ela tivesse cumprido plenamente seus decretos! Pois se a Igreja Romana reafirmasse a legitimidade do Concílio Fociano, rejeitando assim o Concílio Inaciano, os dois maiores obstáculos à reconciliação da Igreja Romana com a Ortodoxia seriam instantaneamente removidos: o Filioque, e as reivindicações da Igreja Romana de uma autoridade jurisdicional sobre as Igrejas Orientais.

Como Pe. John Meyendorff observa, comentando sobre o levantamento mútuo dos anátemas de 1054 pelo Papa e pelo Patriarca de Constantinopla em 1965,
Quão imensamente mais significativo, por exemplo, seria a restauração na lista dos Concílios Ecumênicos reconhecidos por Roma do Concílio de Constantinopla de 879-880, a única tentativa realmente bem-sucedida de reunião entre o oriente e o ocidente. Pois um dos resultados mais empolgantes da pesquisa histórica contemporânea (especialmente os estudos de F. Dvornik) foi a descoberta de que esse concílio, apoiado e aprovado pelo Patriarca Fócio e pelo Papa João VIII, permaneceu nas listas ocidentais dos Concílios Ecumênicos até a século XI [ou pelo menos havia sido aceito como plenamente legítimo, substituindo o Concílio Inaciano], quando os canonistas latinos arbitrariamente o substituíram pelo Concílio de 869-870. Uma decisão desse tipo certamente mudaria fundamentalmente as relações entre a Ortodoxia e Roma. [45]
E se eu puder me aventurar numa especulação: se a Igreja Ortodoxa agora designasse oficialmente o Concílio Fociano como o Oitavo Concílio Ecumênico, talvez a Igreja Romana fosse pressionada a fazê-lo também ela mesma, no interesse de uma reunião com a Santa Ortodoxia. Mas mesmo que isso não aconteça, fazendo do Concílio Fociano o Oitavo Concílio Ecumênico e os Concílios Palamitas, o Nono Concílio Ecumênico; e tendo serviços litúrgicos em memória deles, junto com, claro, a veneração dos Pais destes concílio; a tremenda importância desses concílios ficaria impressa sobre os fiéis ortodoxos, que poderiam então se beneficiar espiritualmente aprendendo sobre suas decisões.

Além disso, através dessas ações, acredito que o atual diálogo entre nossa Igreja e a Igreja Romana seria bastante beneficiado, pois três das mais importantes questões seriam trabalhadas, colocadas em maior relevo, e os participantes seriam estimulados a lidar com elas mais decisivamente - as questões de 1), um credo niceno imutável; 2) independência jurisdicional para nossas várias Igrejas Ortodoxas - liberta da supervisão do papado, exceto em relação a restauração da antiga compreensão da primazia de honra do bispo romano como o “primeiro entre iguais”; e 3), a distinção dogmática crucial entre a Essência e as Energias de Deus, e a compreensão da salvação / santificação / deificação como consistindo na participação do homem nas Energias Divinas.

Avaliação de Fócio hoje

Estudiosos ocidentais, influenciados pela perspectiva papal veementemente anti-fociana, há muito afirmam que Fócio foi a principal figura culpada em causar o cisma temporário de 863 a 867 com a Igreja Romana, razão pela qual até hoje é chamado no Ocidente de “Cisma Fociano” - como mencionei anteriormente. Adrian Fortescue, autor do artigo sobre "Fócio" na Enciclopédia Católica de 1911, [46] até o acusa de ser a principal fonte e causa do Grande Cisma de 1054! Fortescue termina seu artigo com estas palavras:
Talvez se possa resumir sobre Fócio dizendo que ele foi um grande homem com uma mácula em seu caráter - sua ambição insaciável e inescrupulosa. Mas essa mácula cobre sua vida de tal forma que eclipsa tudo o mais e faz com que ele mereça nosso julgamento final como um dos piores inimigos que a Igreja de Cristo já teve, e a causa da maior calamidade que já aconteceu com ela.
Felizmente, com o grande estudo de Francis Dvornik de 1948 ao qual me referi anteriormente, hoje Fócio é  geralmente mais aceito no Ocidente como, nas palavras de Dvornik, “um grande homem da Igreja, um humanista instruído e um cristão genuíno, suficientemente generoso para perdoar seus inimigos, e dar os primeiros passos para a reconciliação.” [47] Ele ainda é visto sob uma luz negativa, por todos os defensores das reivindicações papais de governo sobre todas as Igrejas de Cristo, devido à sua resistência inflexível contra o que nós Ortodoxos entendemos ser o erro fundamental da Igreja Romana.

A posição de São Fócio na Ortodoxia dificilmente poderia ser maior, uma vez que ele é honrado, juntamente com São Marcos de Éfeso e São Gregório Palamas, como um dos Três Pilares da Ortodoxia. Essa designação parece ser intencionalmente paralela à veneração dada a São Basílio, o Grande, São Gregório, o Teólogo, e São João Crisóstomo, como os Três Santos Hierarcas.

O dia da festa de São Fócio é celebrado na Santa Igreja Ortodoxa em 6 de fevereiro.

Por que o Concílio Fociano não tem sido considerado ecumênico pela Igreja Ortodoxa?

Foi convocado pelo imperador; teve representação de todo o mundo Ortodoxo, incluindo legados de Roma; foi grande; seus atos foram assinados por todos os Patriarcados; e referiu a si mesmo como “este Sínodo santo e ecumênico”. E como o Dicionário Oxford de Bizâncio afirma: “As decisões do Concílio foram inseridas em toda coleção Ortodoxa de direito canônico subseqüente, e normalmente seguem as dos sete primeiros concílios ecumênicos. É referido como "ecumênico" por alguns autores bizantinos". [48]

No entanto, seu foco principal foi numa questão administrativa / jurisdicional - concernente à afirmação da legitimidade plena da eleição de um patriarca oriental - ao invés de uma questão cristológica urgente, que cada um dos sete Concílios Ecumênicos anteriores havia abordado - embora se possa afirmar que a Triadologia e, portanto, a Cristologia, foram de fato abordadas, na medida em que o Filioque foi proibido por este concílio.

Além disso, o próprio Fócio pode ter hesitado em proclamá-lo como o Oitavo Concílio por razões de humildade, já que esse o exonerou totalmente; e também porque ele ainda tinha a intenção de garantir que o Concílio de Nicéia de 787 fosse plenamente reconhecido como o Sétimo Concílio Ecumênico - o que também foi afirmado neste concílio.

Mas quaisquer que sejam as razões pelas quais a Igreja Ortodoxa ainda não designou o Concílio Fociano como o Oitavo Concílio até agora, por que esta questão não poderia ser reconsiderada em nosso tempo, com oração, estudo e coragem, o que poderia resultar no discernimento que talvez o Espírito Santo está tentando mover nossa Igreja nesta direção, por razões ecumênicas pastorais e evangelísticas sólidas?

Esforços contemporâneos na Ortodoxia para que seja reconhecido como o Oitavo Concílio Ecumênico

Aqui está uma lista parcial de exemplos do fato de que muitos no mundo Ortodoxo estão defendendo que o Concílio Fociano seja oficialmente designado como Oitavo Concílio Ecumênico:

"Em uma entrevista com a Interfax-Religion, o chefe do Departamento Sinodal de Relações Igreja-Sociedade e Mídia de Massa, Vladimir Legoida, nos deu uma idéia do próximo concílio e sua preparação, e também falou de como ele difere de um Concílio Ecumênico e como a crítica deste fórum deve ser percebida:
Em primeiro lugar, é importante enfatizar que os concílios são a norma da vida da Igreja e não sua distorção. Os Sete Concílios Ecumênicos - as assembleias mais importantes de bispos no período do cristianismo antigo - tornaram-se firmemente incorporados em nossa consciência. No entanto, houve outros concílios extremamente importantes de hierarcas ortodoxos. Por exemplo, o Quarto Concílio de Constantinopla, também conhecido como o Concílio de Hagia Sofia, convocado em 879 sob a presidência do Patriarca de Constantinopla São Fócio. Este Concílio, entre outras coisas, incluiu o Segundo Concílio de Nicéia em 787 entre os Concílios Ecumênicos. As decisões do Concílio de 879 tornaram-se parte da lei canônica da Igreja Ortodoxa. Alguns santos consideraram este Concílio como o Oitavo Concílio Ecumênico. E embora não houve um concílio posterior na história da Igreja que afirmou que este concílio teve tal status elevado, a importância atribuída ao Concílio de Hagia Sofia deve ser levada em conta, especialmente quando observamos o fato de que as pessoas dizem que a vida conciliar da Igreja Ortodoxa terminou com os Sete Concílios Ecumênicos. Este não é o caso. [49]"
De “Reconhecimento Oficial do 8º e 9º Sínodo Ecumênico”:
Há alguns anos foi decidido pela Igreja da Grécia que iniciassem o processo de oficialização do Oitavo e do Nono Sínodo Ecumênico, mas desde então a questão foi deixada de lado. Sua Eminência Metropolita Serafim de Pireu, que defendeu esse reconhecimento e o apresentou ao Patriarcado Ecumênico, decidiu avançar com [a defesa] em sua própria metrópole em nível local. Abaixo está traduzida a Declaração de Sua Eminência, e abaixo estão as duas Encíclicas para cada um dos dois Sínodos Ecumênicos, estabelecendo a celebração da Santa Memória dos 383 Padres portadores-de-Deus do 8º Sínodo Ecumênico no Segundo Domingo de Fevereiro, e os Padres portadores-de-Deus do 9º Sínodo Ecumênico no Segundo Domingo da Grande Quaresma. [50]
O mesmo Metropolita Serafim de Pireu escreveu ao Patriarca da Sérvia a respeito da proposta do Patriarca Irineu aos primazes das Igrejas Ortodoxas Autocéfalas para oficialmente reconhecer o Concílio de 879-880 em Constantinopla como o Oitavo Concílio Ecumênico, e o Concílio Palamita de 1351 como o Nono Concílio Ecumênico: “Você fez a obra do Espírito Santo. Você realizou a obra do Deus Triúno vivo.”[51]

Pe. John Romanides defendeu enfaticamente o reconhecimento do Concílio Fociano como o Oitavo Concílio Ecumênico, e a série de Concílios Palamitas como o Nono Concílio Ecumênico. [52]

De "Metropolita Hierotheos Vlachos de Nafpaktos sobre o diálogo atual com Roma": [53]
Durante o primeiro milênio, a Igreja Ortodoxa enfrentou a questão do reconhecimento de honra do papa de Roma. Isto ocorreu durante o Concílio no tempo de Fócio o Grande (879-880), que é considerado por muitos Ortodoxos como o Oitavo Sínodo Ecumênico. Esses dois tipos de eclesiologia - isto é, do papismo e da Igreja Ortodoxa - foram apresentados durante este Concílio. O Patriarca Fócio reconheceu uma primazia de honra para o Papa, mas somente dentro da estrutura eclesiológica Ortodoxa - ou seja, o Papa tem uma primazia de honra dentro da Igreja, mas não pode ser colocado acima da Igreja. Portanto, na discussão relativa à primazia do Papa, a decisão deste Concílio deve ser seriamente levada em conta. 
Naturalmente, durante este Concílio, a questão do filioque também foi discutida, juntamente com a questão da primazia; portanto, quando discutimos a questão da primazia hoje, devemos examiná-la através do prisma da primazia de honra, como deveríamos no caso do filioque.
Além disso, veja o artigo do Metr. Hierotheos Vlachos, “Fócio o Grande e Oitavo Sínodo Ecumênico”, publicado no Mystagogia de 6 de fevereiro a 19 de fevereiro de 2016 (em sete partes).

Além disso, o prolífico escritor ortodoxo moderno Pe. George Metallinos afirma o Concílio Fociano como o Oitavo Concílio Ecumênico.

De acordo com o artigo da Orthodoxwiki intitulado “O Oitavo Concílio Ecumênico”,
Uma das primeiras referências como "Oitavo Concílio Ecumênico" foi feita no século XV por São Marcos de Éfeso, que expressa a visão teológica geral da época em Constantinopla durante o chamado "Concílio Ladrão" em Ferrara - Florença (sendo referenciado nos comentários do Pedalion como 879-880 "Sínodo reunido em Agia Sophia"). 
Além disso, a Encíclica dos Patriarcas Orientais de 1848 refere-se explicitamente ao “Oitavo Concílio Ecumênico” em relação ao sínodo de 879-880; e foi assinado pelos patriarcas de Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria, bem como pelos Santos Sínodos dos três primeiros.
Pe. George Dion. Dragas escreveu em seu “Oitavo Concílio Ecumênico: Constantinopla IV (879/880) e a Condenação da Adição e Doutrina do Filioque”, postado no Orthodox Outlet for Dogmatic Inquiries em 28 de dezembro de 2009:
Estes concílios [incluindo o de Constantinopla 879/880, o "Oitavo Ecumênico", como se chama no Tomos Charas (Τόμος Χαρᾶς) do Patriarca Dositheos, que publicou pela primeira vez seus procedimentos em 1754 e também pelo Metropolita Nilus Rhodi, cujo texto é citado na edição de Mansi não foram nomeados [como sendo "Ecumenicos"] no oriente por causa da antecipação Ortodoxa da possível cura do cisma de 1054, que foi buscada pelos Ortodoxos até a captura de Constantinopla pelos turcos em 1453. Existem outros motivos óbvios que impediram a nomeação, a maioria dos quais se relacionam com os anos difíceis que a Igreja Ortodoxa teve que enfrentar após a captura de Constantinopla e a dissolução do Império Romano que a apoiava. 
Michael Prokurat, Bispo Alexander (Golitzin) e Michael D. Peterson escrevem no Dicionário Histórico da Igreja Ortodoxa: “Por um acordo que parece estar em vigor no mundo Ortodoxo, possivelmente o concílio realizado em 879 que absolveu o Patriarca Fócio em alguma data futura será reconhecido como o oitavo concílio.”[54] E mais, “Dada a convocação de outro concílio ecumênico, a Igreja Ortodoxa certamente reconheceria o sínodo de 879 como o Oitavo Concílio Ecumênico. [55]

St. Photios the Great, The Photian Council, and Relations with the Roman Church por Dr. David Ford

Notas

[1] G. Ostrogorsky, History of the Byzantine State, p. 199; citado em Bp. Kallistos Ware, The Orthodox Church, ed. revisada [1993], p. 52.

[2] “Photios, Patriarch of Constantinople,” in the New Catholic Encyclopedia [1967], vol. 11, p. 327.

[3] Ibid.

[4] Ibid.

[5] Ibid.

[6] Despina S. White, Photios [Brookline, Mass.: Holy Cross Orthodox Press, 1981], p. 23; veja também pp. 72-73.

[7] Ibid.

[8] Ibid. pp. 72-73.


[9] Ibid.

[10] As igrejas na Alemanha (no Sacro Império Romano) foram especialmente resistentes a serem submetidas sob a autoridade do bispo romano, como é muito evidente a partir da história de São Metódio de Panônia e Morávia (com seu irmão São Cirilo, eles são conhecidos como os apóstolos dos eslavos).

[11] Ware, The Orthodox Church, p. 53.

[12] Ibid.

[13] Ibid.

[14] The Oxford Dictionary of the Christian Church, 2nd ed., p. 1087.

[15] Ware, p. 54.

[16] Ibid., p. 53.

[17] The Christian Centuries [New York: Paulist Press, 1969], vol. 2, pp. 78-79.

[18] PG 110.1048ff; Trad.para o inglês por Despina S. White e Joseph R. Berrigan, Jr., e entitulado The Patriarch and the Prince [Brookline, Mass.: Holy Cross Orthodox Press, 1982.]

[19] Holy Apostles Convent, The Lives of the Pillars of Orthodoxy [Buena Vista, Colo.: Holy Apostles Convent, 1990], p. 66.

[20] Trad.para o inglês por Holy Transfiguration Monastery, Brookline, Mass. (1983), e por Joseph P. Farrell (Holy Cross Orthodox Press, Brookline, Mass., 1987).

[21] Mystagogia, para. 9.

[22] Second ed., p. 1088.

[23] Holy Apostles Convent, p. 64; e outros trechos estão  na pp. 64-67.

[24] Cambridge: Cambridge Univ. Press, 1948.

[25] p. 433.

[26] Ware, p. 55.

[27] Ibid.

[28] Dvornik, p. 328.

[29] Veja A. A. Vasiliev, History of the Byzantine Empire [Madison: Univ. of Wisconsin Press, 1952], vol. 1, p. 330.

[30] Ibid.

[31] Veja sua Carta 17 no livro de Despina White, p. 161.

[32] Veja Neuner e Dupuis, The Christian Faith in the Doctrinal Documents of the Catholic Church (New York: Alba House, 1981), p. 232.

[33] Vasiliev, vol. 1, p. 331.

[34] Joseph Hergenrother; citado por Ibid.

[35] Mansi 17:516C; Oxford Dictionary of Byzantium, p. 786.

[36] Tradução por Pe. George Dragas, em “The Eighth Ecumenical Council: Constantinople IV (879/880) and the Condemnation of the Filioque, Addition and Doctrine,” postado em inglês Dec. 28, 2009, no Orthodox Outlet for Dogmatic Enquiries (oodegr.co).

[37] Vasiliev, vol. 1, p. 331.

[38] p. 513.

[39] Vasiliev, vol. 1, pp. 331-332.

[40] Historical Road of Eastern Orthodoxy (SVS Press, 1977), p. 246.

[41] De acordo com Dvornik, p. 329.

[42] “Comentário sobre o Quarto Concílio de Constantinopla”, arcane knowledge.org, 2013.

[43] Este cânone proibia o uso da "investidura leiga", pela qual leigos (nobres, duques ou reis) nomeavam padres ou bispos para suas capelas, igrejas, abadias e bispados, em vez de permitir que a Igreja fizesse tais tais nomeações. Esta foi a principal preocupação do papa Gregório VII durante o seu pontificado.

[44] “The Eighth Ecumenical Council: Constantinople IV (879/880) and the Condemnation of the Filioque, Addition and Doctrine”; no site Mystagogy. 

[45] Orthodoxy and Catholicity (New York: Sheed and Ward, 1966), pp. 168-169.

[46] Disponível de forma fácil na internet no site popular newadvent.org.

[47] The Photian Schism, p. 432.

[48] p. 513.

[49] Postado em mospat.ru., 6 de Janeiro, 2016, sob o título, “Councils are the Norm of Church Life and Not Its Distortion.”

[50] Postado no site de John Sanidopoulos, Mystagogy, 15 Jan, 2014 http://www.johnsanidopoulos.com/2014/01/an-official-recognition-of-8th-and-9th.html.

[51] Em um artigo de nome “Serbian Church Proposes for the Recognition of the 8th and 9th Ecumenical Synods,” postado no site de John Sanidopoulos, Mystagogy, 30 de Set., 2015.

[52] Veja seu “The Myth of Only Seven Ecumenical Councils” and “What are the Criteria for an Ecumenical Council?” no Mystagogy.

[53] Escrito em 2009; no Mystagogy.

[54] No artigo de nome “Ecumenical Councils; (Lanham, MD: Scarecrow Press, 1996), pp. 114-115.

[55] No artigo de nome “Photios;” Ibid., p. 263.






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