quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Por que é que um chinês budista se tornou um monge atonita?

       Na minha última visita ao Monte Atos eu visitei o mosteiro de Simonopetra. É um mosteiro magnificente e o céu estava completamente azul. Lá eu conheci um monge chinês noviço cheio de graça. Na verdade, ele surpreendeu-me pela sua presença. Eu nunca tinha visto isto de perto, apenas em imagens de missões. Um herdeiro de uma grande tradição cultural abraçara o Cristianismo? Os meus amigos e eu ficamos curiosos e decidimos perguntar-lhe sobre isto.

"Irmão, como é que você, um homem chinês, abraçou o monacato Cristão Ortodoxo vindo de uma tradição cultural tão grandiosa? Você era budista?"

"Sim, obviamente, eu era budista."

"O que te trouxe ao Cristianismo?"

"A companhia divina!"

"Perdão?"

"Sim, Padre, hahahaha!", ele riu-se, dado que a cada três palavras os chineses riem-se de duas.

"No Budismo, Padre, você está muito sozinho. Não há Deus. A sua luta inteira é consigo. Você está sozinho consigo mesmo, com o seu ego. Você está totalmente sozinho nesse caminho. Muita solidão, Padre. Mas aqui você tem um assistente, uma companhia, Alguém que vos ama, Alguém que se importa consigo. Ele importa-se mesmo que você não O compreenda. Você fala com Ele. Você diz-lhe como se sente, o que você almejava - existe esta relação. Você não está sozinho nas dificuldades da vida e na perfeição espiritual. Eu percebi algumas coisas nesses dias.


Uma gripe severa obrigou-me a ficar de cama. Nenhum médico conseguia encontrar algo errado comigo. A situação clínica não era clara, pelo menos os médicos não conseguiam encontrar nada errado. A dor era insuportável e não havia nenhum anestésico que conseguisse para-la. Eu mudei 3 vezes de anestésicos e nenhum fazia nada e a dor não era aliviada.

Nesta altura eu recebi as notícias de que o irmão do meu pai, cujo nome eu tenho, tinha uma forma de câncer avançado nas cordas vocais e laringe. Ele teve que sofrer uma laringectomia. Foi o resultado do consumo crônico de álcool e tabaco. Ele viveu uma má vida, sem qualidade.

Então eu senti algo que um antigo budista e agora monge cristão no Monte Atos me tinha dito, que tens Deus e podes falar com Ele, podes perceber e sentir Alguém além de ti que te ouve.

Eu não sei se isto é certo ou errado. Eu sei que é uma necessidade profunda do Homem. Isto é evidenciado pela vida. Até budistas, que são uma forma não-teísta de religião criaram várias deidades. Até na linguagem dos sonhos e mundos. Mas eles têm a necessidade de se referir a alguém, a algo, fora deles mesmos e além deles mesmos, ainda que seja sonhador. Ademais, a realidade e Verdade são coisas muito relevantes e que sempre o serão. É um enigma, é um mistério".

       Com isto em lembrei-me das palavras de São Gregório, o Teólogo, que tinha uma natureza sensível e melancólica, quando disse: "Quando não estás bem, ou não te sentes bem, fala. Fala, nem que seja para o vento."


Tradução: Domingo Tavares

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