sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Ortodoxia e Heterodoxia (Pe. Victor Potapov) [Parte 3/3]



Protestantismo

Tendo-se declarado o líder infalível da Igreja Universal, o papa exigiu de todos os cristãos submissão inquestionável a ele como o vigário de Cristo e único transmissor da graça de Cristo. Infelizmente, a luta dos protestantes para restaurar a verdade eclesiástica no Ocidente não os devolveu à Ortodoxia, mas os levou a erros às vezes mais graves do que os presentes na igreja romana. Na questão da Igreja, como em outras questões também, os protestantes caíram no extremo oposto.

A UNIVERSALIDADE DO SACERDÓCIO. Justificadamente negando ao bispo romano o significado de infalível vigário de Cristo e líder imediato de todos os cristãos, muitos protestantes simplesmente rejeitaram a hierarquia e proclamaram o ensinamento do sacerdócio universal. Interpretando incorretamente certas passagens da Sagrada Escritura, eles começaram a afirmar que todos os cristãos são iguais perante Deus, que todos desfrutam do mesmo direito de se voltarem para Ele diretamente, pessoalmente, sem qualquer mediação hierárquica. A Igreja é a sociedade invisível de corações crentes iluminados pela graça através da fé em Jesus Cristo. A Igreja é santa e infalível porque é governada pelo Espírito da graça, que a purifica da mácula e invisivelmente corta os membros indignos. O apóstolo Pedro escreve aos cristãos: “Somos uma geração escolhida, um sacerdócio real” [73]. O apóstolo João diz que Cristo “nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai” [74]. Mas aqui o sacerdócio é falado não no sentido hierárquico, mas no sentido de que os cristãos, como regenerados e santificados pelo Espírito Santo, devem estar entre os outros - incrédulos - como se fossem a herança sagrada especial de Deus. Que a hierarquia é uma instituição divina, é uma verdade tão claramente confirmada por numerosas passagens da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição que não poderia ser contestada, e os próprios protestantes subsequentemente introduziram entre si um tipo de hierarquia. A negação da hierarquia pelos primeiros protestantes é explicada - além de seu ódio pelo clero católico romano - também pelo fato de que nenhum bispo foi para o lado de Lutero, e por essa razão os protestantes não podiam ter um sacerdócio legalmente ordenado.

Neste contexto, deve-se notar que os protestantes não podem ter um sacerdócio legítimo desde que a sucessão apostólica cessou entre eles já no início da Reforma.

A negação da hierarquia trouxe também outras negações, incluindo a negação de todos os sacramentos, com a exceção do batismo. Para algumas confissões protestantes, a Eucaristia também é apenas um rito instituído em memória da Mística Ceia e da Paixão do Senhor. Mas outras, acreditando que o pão e o vinho eucarístico sempre permanecem apenas pão e vinho, afirmam que os comunicantes, em virtude de sua fé, comungam ainda assim do Corpo e Sangue do Senhor. 

O ensino da justificação somente pela fé

Como um contrapeso a importância exagerada no catolicismo dos méritos pessoais de um homem diante de Deus, os seguidores de Lutero ensinam que as boas obras não constituem uma condição essencial para a salvação do homem, que podem ser até mesmo prejudiciais, pois desenvolvem a presunção e orgulho farisaico. A graça de Deus, agindo sobre um homem, instila nele a fé em Jesus Cristo, e essa fé, que coloca o homem em um relacionamento imediato com o Redentor, também proporciona uma salvação ao homem e o torna justo.

Os luteranos, como prova de seu ensino sobre a justificação pela fé somente, citam as palavras do apóstolo Paulo: "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei" [75], e mais: "... o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo” [76]. Mas nestas e em expressões similares, o apóstolo Paulo não nega de modo algum o significado de boas obras para a salvação, mas apenas rejeita a falsa visão dos judeus, que em orgulhosa autoconfiança esperavam alcançar a salvação por um cumprimento exato e formal das prescrições exteriores da lei, à parte da fé sincera em Jesus Cristo. Esta fé, segundo o apóstolo Paulo, deve ser viva e ativa, isto é, unida às boas obras. Deve ser aquela que “opera pelo amor” [77;] “e ainda que”, diz ele, “tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria." [78]. O próprio Salvador diz: “Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” [79]. Mas a idéia da necessidade de boas obras para a salvação é especialmente clara na Epístola do Apóstolo Tiago, que os protestantes detestam tanto que até rejeitam sua autenticidade: "De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? ... Assim como o corpo sem espírito está morto, também a fé sem obras está morta."[80]

O ensinamento sobre a predestinação e a veneração dos santos

Lutero e seus seguidores não conseguiram extrair as conclusões extremas que logicamente fluíam de seus falsos ensinamentos sobre a salvação do homem. Calvino e Zwingli e seus seguidores reformadores mostraram-se mais consistentes. Se as boas obras não têm significado algum em matéria de salvação, se o homem através do pecado perdeu toda a capacidade para o bem, e se até mesmo a fé - a única condição para a salvação - é dom de Deus, surge naturalmente a questão: por que então não são todos os homens salvos, por que alguns recebem graça, enquanto outros acreditam e perecem? Pode haver apenas uma resposta para essa pergunta, e os reformadores a dão: “Desde a eternidade, Deus predestinou alguns para a salvação, outros para a perdição, e essa predestinação não depende de forma alguma da liberdade e da vida pessoal do homem”.

O erro do ensinamento dos reformadores é óbvio. Ele perverte a verdadeira compreensão cristã da justiça e misericórdia de Deus, do valor e propósito do homem como um ser livre e racional. Deus aparece aqui não como um Pai amoroso e misericordioso: “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” [81], mas como um déspota cruel e injusto, que salva alguns sem qualquer mérito e condena os outros sem culpa à perdição.

A Igreja Ortodoxa também reconhece a predestinação, mas não a considera incondicional, isto é, independente do livre arbítrio dos homens e baseada em uma decisão infundada da vontade divina. De acordo com o ensinamento ortodoxo, Deus, como onisciente, sabe, prevê o estado moral dos homens e, com base nessa previsão, preordena, predetermina para eles um certo destino.

Mas Ele não preordena para alguém um estado moral definido; Ele não preordena uma vida virtuosa ou pecaminosa e não inibe de modo algum nossa liberdade. Portanto, até mesmo o apóstolo Paulo, a quem os reformadores citam, liga de forma próxima o ensinamento da predestinação com o ensino da previsão de Deus. Na Epístola aos Romanos, ele explica esse pensamento em detalhes e, incidentalmente, diz sobre a predestinação: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou." [82] Desta forma, Deus predestina a glória não de acordo com Sua arbitrariedade infundada, como pensam os reformadores, mas segundo sua presciência dos méritos do homem realizados por seu livre-arbítrio.

Os protestantes não reconhecem a veneração dos santos, pois, na opinião deles, ela rebaixa o valor do Salvador, como “o único mediador entre Deus e os homens”, e contradiz aquelas passagens da Sagrada Escritura onde diz que se deve adorar somente a Deus. Os protestantes consideram a veneração dos santos como inútil, uma vez que os santos não podem ouvir nossas orações.

No ensinamento ortodoxo sobre a veneração dos santos não há depreciação do sacrifício redentor do Senhor, já que pedimos aos santos não aquilo que não está ao alcance deles - o perdão dos pecados, a concessão da graça e a futura vida abençoada - mas nós oramos aos santos, como membros da Igreja que foram resgatados pelo sangue mais puro de Jesus Cristo e estão mais próximos de Deus do que nós, que eles intercedam por nós diante do único Mediador, o Senhor Jesus Cristo.

Nas passagens da Sagrada Escritura citadas pelos protestantes [83], fala-se de prestar honra divina somente a Deus; mas não prestamos tal honra aos santos. Nós veneramos a graça de Deus, que reside neles; nós veneramos a Deus, que é, de acordo com as palavras do salmista, “maravilhoso em Seus santos”.

Quanto aos santos ouvir nossas orações, para isso não há necessidade de possuir onisciência, o que realmente é próprio de Deus. É suficiente ter aquele dom de clarividência que o Senhor considerou muitos de seus santos dignos enquanto ainda estavam na terra, e que eles, supõe-se, possuem em um grau mais elevado no céu.

Os protestantes se opõem também à veneração de relíquias, dizendo que, ao adorá-las, nós ortodoxos estamos venerando a matéria morta. Mas nas relíquias nós veneramos não a matéria em si, mas o poder vivo e gerador de vida do Espírito Santo, que as torna não apenas incorruptas, mas também com poder de cura. Da Sagrada Escritura, sabe-se que, a partir do toque nos ossos do profeta Elisseus, um homem morto ressuscitou [84]; uma mulher com um problema de sangue recebeu cura ao tocar na borda da vestimenta do Salvador [85]; os enfermos e os possuídos foram curados, colocando sobre eles os lenços e aventais do apóstolo Paulo [86]. O mesmo poder divino que era particular aos ossos do Profeta Elisseus, a vestimenta do Salvador e aos lenços do apóstolo Paulo também confere incorrupção e poder milagroso aos corpos dos santos para fortalecer a fé dos cristãos.

A visão da vida além da morte

A confissão de fé ortodoxa é completada por uma viva expectativa da ressurreição dos mortos e da vida da era vindoura. Quem não acredita na vida futura, quem não acredita no futuro último julgamento justo de Deus, quem não acredita em uma recompensa para os justos e punição para o mal não é ortodoxo, não é um cristão.

Enquanto nós, ortodoxos, acreditamos no poder eficaz da oração pelos mortos, os sectários rejeitam as orações pelos mortos com o fundamento de que não há mandamento direto na Sagrada Escritura sobre a oração pelos mortos e porque o destino do homem além da morte supostamente depende exclusivamente do que ele mesmo foi pessoalmente durante sua vida terrena e, finalmente, porque os crentes têm um único Mediador - o próprio Salvador Jesus Cristo.

Mas, se a oração pelos mortos realmente não é mencionada diretamente na Palavra de Deus, este dever nosso em relação a eles segue da obrigação dos cristãos de manter a comunhão de amor entre si, que em relação aos mortos é expressa em orações por eles.

O apóstolo Tiago nos convence a orar uns pelos outros [87] e acrescenta que “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”; o apóstolo Paulo exorta a orar por todos os homens [88]; São João, o Teólogo - especialmente para os pecadores [89]. Não se deve pressupor que essas exortações se referissem apenas aos vivos, visto que os mortos são também membros da Igreja de Cristo, assim como somos, e a morte do homem, do ponto de vista cristão, não deve romper a comunhão entre ele e os restantes entre os vivos.

Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele vivem todos”, diz o Senhor Jesus Cristo [90]. “Quer vivamos ou morramos, somos do Senhor”, ensina o apóstolo Paulo [91].

Quanto à citação dos protestantes de passagens na Sagrada Escritura, onde o assunto diz respeito à recompensa para cada homem de acordo com suas obras [92], ou o fato de que os próprios mortos não podem mudar seu destino ou a condição dos mortos após o Terrível Julgamento é falado nestas passagens; mas o benefício das orações pelos mortos não é negado.

Por fim, é completamente verdade que nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, é o “único mediador entre Deus e os homens”. Assim, a Igreja Ortodoxa ensina, e assim é dito repetidamente na Sagrada Escritura, especialmente freqüentemente nas epístolas do Apóstolo Paulo. Mas, afinal de contas, nós Ortodoxos, em nossas orações de requiem, nos voltamos precisamente para Ele, nosso Salvador, como filhos de Sua Igreja.

Comemoração dos mortos e as orações da igreja para eles são uma tradição apostólica primordial da Igreja, preservada completamente por ela ao longo de todos os séculos. Já no século V, São Cirilo de Jerusalém, participante do Segundo Concílio Ecumênico, explicando a estrutura dos serviços e mistérios divinos aos catecúmenos que haviam entrado na Igreja em seu tempo, escreveu sobre a comemoração dos mortos na Liturgia: “Muito grande será o benefício para as almas para quem a súplica é oferecida no momento em que o sacrifício santo e terrível é estabelecido” [93]. Partículas retiradas da prosfora em comemoração dos vivos e dos mortos são colocadas nos discos aos pés do Cordeiro, onde permanecem até o momento em que são colocadas no cálice com as palavras: “Por Teu precioso Sangue, ó Senhor, lava os pecados daqueles que são comemorados aqui, através das orações dos Teus santos ”.

A fonte da fé

Todas as repudiações errôneas do protestantismo têm como base o não menos errôneo repúdio da Tradição Sagrada pelos protestantes. Eles se esforçam para se apoiar apenas na Sagrada Escritura, não percebendo em que medida ambos constituem um todo indiviso.

Os protestantes limitam arbitrariamente a ação do Espírito Santo na Igreja aos tempos apostólicos, e é por isso que eles consideram todos decretos da igreja que apareceram definitivamente após os Apóstolos como puramente humanos. Eles esquecem ao mesmo tempo que até mesmo a própria composição dos livros que compõem a Sagrada Escritura foi determinada consideravelmente após a morte dos Apóstolos. Os protestantes esquecem também, ou preferem não lembrar, que a pregação oral do cristianismo (isto é, a tradição oral) precedeu a inscrição dos livros sagrados do Novo Testamento.

Ou, reconhecendo a Sagrada Tradição até o tempo da composição definitiva dos livros do Novo Testamento no segundo século, os protestantes têm dificuldade em concordar que o Espírito Santo, permanecendo na Igreja como no Corpo de Cristo, não cessou de salvaguardar e vivificar o verdadeiro significado da Sagrada Escritura nos séculos seguintes também.

De acordo com o ensinamento ortodoxo, a Sagrada Escritura é o monumento fundamental da Sagrada Tradição e contém a plenitude da revelação divina. Mas o Espírito Santo, que inspirou os apóstolos e evangelistas em seu evangelismo oral e escrito, guia a Santa Igreja até agora, promovendo a compreensão e a assimilação da verdade de Cristo.

Ecumenismo

O movimento ecumênico toma a visão protestante da Igreja como seu princípio orientador. Os protestantes consideram que não há uma verdade e uma Igreja, mas que cada uma das numerosas denominações cristãs possui uma partícula de verdade, graças a qual é possível, por meio do diálogo, conduzir estas verdades relativas a uma verdade e a uma Igreja. Um dos métodos para alcançar essa unidade, na compreensão dos ideólogos do movimento ecumênico, é a realização de orações conjuntas e serviços divinos com vistas a alcançar a comunhão de um cálice (intercomunhão) com o tempo.

A Ortodoxia não pode de forma alguma aceitar tal eclesiologia, pois acredita e testifica que não precisa coletar partículas da verdade, pois a Igreja Ortodoxa é precisamente a guardiã da plenitude da Verdade que Lhe foi dada no dia do Santo Pentecostes.

No entanto, a Igreja Ortodoxa não proíbe a oração por aqueles que estão fora da comunhão com ela. Pelas orações do santo, justo João de Kronstadt e do bem-aventurado Arcebispo João (Maximovich), tanto católicos como protestantes, judeus e muçulmanos, e até pagãos receberam cura. Mas, agindo de acordo com sua fé e suas súplicas, estes e nossos outros justos os ensinaram ao mesmo tempo que a Verdade salvadora está somente na Ortodoxia.

Para os ortodoxos, a oração conjunta e a comunhão na Liturgia são a expressão de uma unidade já existente dentro dos limites da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. São Irineu de Lyon (segundo século), laconicamente formulou isto assim: "Nossa fé está em concordância com a Eucaristia, e a Eucaristia confirma nossa fé." Os Santos Padres da Igreja ensinam que os membros da Igreja edificam a Igreja - o Corpo de Cristo - pelo fato de que eles comungam do Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia. Fora da Eucaristia e Comunhão não há Igreja. A comunhão conjunta parece ser um reconhecimento de que todos os que estão se comunicando pertencem à Igreja Una Apostólica, em contraste as realidades da história cristã e de nosso tempo, infelizmente, apontam a profunda divisão doutrinal e eclesiológica do mundo cristão.

Os representantes do movimento ecumênico contemporâneo não só não promovem a unidade, mas agravam a divisão do mundo cristão. Eles fazem um chamado para não ir pelo caminho estreito da salvação na confissão da única verdade, mas pelo amplo caminho da unificação com aqueles que confessam vários erros, sobre os quais o santo Apóstolo Pedro disse que “por causa deles o caminho da verdade será blasfemado”.

Até recentemente, o Conselho Mundial de Igrejas, basicamente protestante, chamava os cristãos de todo o mundo à unidade. Agora esta organização os chama à unidade com os pagãos. Nesse sentido, o Conselho Mundial de Igrejas se aproxima cada vez mais das posições do sincretismo religioso. Esta posição leva a uma obliteração das distinções entre confissões religiosas com o objetivo de fundar uma religião mundial universal, que conteria em si algo de cada religião. Uma religião mundial universal implica também um governo mundial universal com uma ordem econômica e uma nação mundial - uma mistura de todas as nações existentes - com um líder.

Se isso ocorrer, o solo será preparado de forma realista para a entronização do Anticristo.

Lembremo-nos da tristemente notória assembléia ecumênica de oração, organizada há alguns anos em Assis pelo Papa de Roma, da qual participaram não-cristãos. A qual divindade as figuras religiosas que se reuniram naquele tempo oraram? Naquela assembléia, o Papa de Roma disse aos não-cristãos que “eles crêem no Deus verdadeiro”. O Verdadeiro Deus é o Senhor Jesus Cristo, adorado na Trindade Triuna. Os não-cristãos acreditam na Santíssima Trindade? Pode um cristão rezar para uma divindade indefinida? Segundo o ensinamento ortodoxo, tal oração é heresia. De acordo com a expressão do eminente teólogo ortodoxo, o arquimandrita Justino Popovich, ela é "pan-heresia".

Os participantes ortodoxos do movimento ecumênico afirmam que, por sua participação formal no Conselho Mundial de Igrejas, eles estão testemunhando a verdade que existe na Igreja Ortodoxa. Mas a violação aberta das regras canônicas não testemunha uma confissão da Verdade, mas um atropelo da Sagrada Tradição da Igreja.

Como os pilares da Ortodoxia, os Santos Padres da Igreja, Santos Atanásio, o Grande, Basílio, o Grande, Gregório, o Teólogo, João Crisóstomo, Marcos de Éfeso e outros reagiriam à participação dos ortodoxos no movimento ecumênico contemporâneo?

Voltemo-nos para antiguidade, para a vida do Venerável Máximo, o Confessor. É mostrado como um cristão ortodoxo deve se comportar diante da apostasia - deserção em massa da verdade de Cristo.

"Não entrarás em comunhão com o Trono de Constantinopla?" perguntaram os patrícios Troilus e Sergius Euphrastes, o chefe da mesa imperial, ao Venerável Máximo, o Confessor.

"Não", respondeu o santo.

"Mas por quê?", Perguntaram.

"Porque", respondeu o santo, "os líderes desta igreja rejeitaram os decretos dos quatro Concílios ... eles mesmos se excomungaram da Igreja muitas vezes e se condenaram de pensamentos incorretos".

"Então só tu serás salvo", responderam-lhe, "enquanto todos os outros vão perecer?"
O Santo respondeu a isto:

"Quando todos os homens estavam adorando o ídolo de ouro na Babilônia, os três jovens santos não condenaram ninguém à perdição. Eles não estavam preocupados com o que os outros faziam, mas apenas com eles mesmos, para que não se afastassem da verdadeira piedade. E Daniel, quando lançado no covil, exatamente da mesma maneira, não condenou nenhum daqueles que, cumprindo a lei de Darius, não quiseram orar a Deus, mas ele manteve seu dever em mente e desejou mais morrer do que pecar e ser punido pela sua consciência por transgredir a lei de Deus. E que Deus não permita que eu condene ninguém ou diga que somente eu serei salvo. No entanto, eu preferiria antes morrer a, tendo de alguma maneira apostatado da fé correta, sofrer tormentos de consciência”.

“Mas o que farás”, disseram os emissários, “quando os romanos se unirem aos bizantinos? Afinal, dois apocrisiaries chegaram ontem de Roma, e amanhã, no dia do Senhor, eles comungarão os Mistérios Imaculados com o patriarca ”.

O Venerável respondeu:

“Mesmo se até todo o universo começar a comungar com o patriarca, eu não vou comungar com ele. Pois sei, pelos escritos do santo apóstolo Paulo, que o Espírito Santo anatemiza até mesmo os anjos, se eles começarem a pregar um evangelho diferente, introduzindo algo novo ”.

* * * 
Ao nos confessarmos ortodoxos, devemos lembrar que a Ortodoxia não é de modo algum um privilégio, um mérito pessoal e uma ocasião para a condenação orgulhosa dos outros. Nós devemos, de todas as formas, rejeitar tal caminho. Devemos estar abertos a todos, a fim de ajudar a multidão de heterodoxos, insatisfeitos com o estado espiritual de suas confissões, a encontrar o caminho para a verdade. Isso significa associar-se a eles, convidá-los, dar-lhes a oportunidade de ver a beleza sobrenatural da antiga Igreja que é preservada na Ortodoxia.

Confessar a Ortodoxia significa manifestar humildemente pela sua vida a plenitude da Verdade em amor e retidão. A Ortodoxia deve conquistar apenas por sua radiância, como o próprio Senhor, e de modo algum por argumentos e pela força. A Ortodoxia é obscurecida por quem se orgulha dela.

A verdade da Ortodoxia está aberta para a salvação dos homens e não para sua condenação e castigo. Ortodoxia é a luz do sol que cai sobre a terra. Ela brilha para todos que querem ser aquecidos por seus raios.
[Parte 1] - [Parte 2] - [Parte 3] 

Notas

[73] I Pedro 2: 9
[74] Apocalipse 1: 6
[75] Romanos 3:28
[76] Gálatas 2:16
[77] Gálatas 5: 6
[78] I Coríntios 13: 2
[79] Mateus 7:21
[80] Tiago 2:14, 26
[81] I Timóteo 2: 4
[82] Romanos 8: 29-30
8[3] Deuteronômio 6:13, I Timóteo 1:17
[84] IV Reis 13:21
[85] Mateus 9: 20-22
[86] Atos 19:12
[87] Tiago 5:16
[88] I Timóteo 2: 1
[89] I João 5:16
[90] Lucas 20:38
[91] Romanos 14: 8
[92] Salmo 6: 6, Gálatas 6: 7, II Coríntios 5:10 e outros
[93] Instrução Mistagógica 5, Capítulo 9




Nenhum comentário:

Postar um comentário