quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

A Encíclica Patriarcal de 1895: Uma resposta à Encíclica Papal do Papa Leão XIII





Comentário

Em 20 de junho de 1895, por ocasião do seu jubileu episcopal, o Papa Leão XIII publicou a sua encíclica "Praeclara gratulationis", dirigida aos chefes de estado e aos povos do mundo. A Igreja Ortodoxa foi convidada a unir-se ao trono papal e a reconhecer o Papa como a Cabeça Suprema da Igreja, no sentido definido pelo dogma do Concílio Vaticano I, mantendo os ortodoxos, bem entendido, as suas próprias línguas e ritos litúrgicos, bem como os seus costumes e tradições diversas.

Ao mesmo tempo, a encíclica recomendava a extensão, no Oriente ortodoxo, do Uniatismo, o envio partindo de Roma de um grande número de agentes que, sob vestes ortodoxas, converteriam, por todos os meios, os ortodoxos.

Diante desta ameaça, e para prevenir e proteger os fiéis da propaganda latina, o Patriarca de Constantinopla publicou a encíclica a seguir.

Dez são os pontos abordados:

1. O Filioque
2. A Primazia e infalibilidade papal
3. O Batismo por aspersão
4. O Pão ázimo para a Eucaristia
5. A consagração dos santos dons pelas palavras do Senhor, e não pela epiclese.
6. A Comunhão dos fiéis sem o Sangue de Cristo.
7. O Purgatório.
8. Os méritos superabundantes dos santos.
9. As indulgências
10. A retribuição e a bem-aventurança plena dos justos e dos santos imediatamente após a morte e antes da Ressurreição universal.


Encíclica 

Aos Santíssimos e Divinamente Amados Irmãos em Cristo Metropolitas e Bispos, ao seu santo e venerável Clero e a todos os leigos piedosos e ortodoxos do Santíssimo Trono Apostólico e Patriarcal de Constantinopla.
"Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a palavra de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre. Não se deixem levar pelos diversos ensinos estranhos." (Hebreus 13:7-8)
I. Toda alma piedosa e ortodoxa, que tem um zelo sincero pela glória de Deus, fica profundamente triste e abatida com grande dor ao ver que o inimigo do bem, que é um homicida desde o princípio, impelido pela inveja da salvação do homem, nunca deixa de semear continuamente o joio no campo do Senhor, a fim de pisotear o bom grão. Desta fonte, de fato, mesmo desde os primeiros tempos, brotou na Igreja de Deus os joios heréticos, que de muitas maneiras tem feito estragos, e ainda fazem estragos, na salvação da humanidade por Cristo; que, além disso, como más sementes e membros corruptos, são justamente cortados do corpo sadio da Igreja católica ortodoxa de Cristo. Mas nestes últimos tempos o maligno arrancou da Igreja ortodoxa de Cristo até mesmo nações inteiras no Ocidente, tendo inflado os bispos de Roma com pensamentos de arrogância excessiva, o que deu origem a diversas inovações ilegítimas e anti-evangélicas. E não só isso, como também os Papas de Roma, de tempos em tempos, buscando absolutamente e sem examinação modos de união de acordo com sua própria fantasia, esforçam-se por todos os meios para reduzir a seus próprios erros a Igreja católica de Cristo, que em todo o mundo caminha inabalável na ortodoxia da fé transmitida a ela pelos Padres.

II. Assim o Papa de Roma, Leão XIII, por ocasião do seu jubileu episcopal, publicou no mês de junho do ano da graça de 1895 uma carta encíclica, dirigida aos líderes e aos povos do mundo, pela qual convida ao mesmo tempo a nossa Igreja Católica e Apostólica ortodoxa de Cristo a unir-se ao trono papal, pensando que tal união só pode ser obtida reconhecendo-o como o supremo pontífice e o mais elevado governante espiritual e temporal da Igreja universal, como o único representante de Cristo na Terra e dispensador de toda a graça.

III. Sem dúvida, todo coração cristão deve estar preenchido com o desejo da união das Igrejas, e especialmente todo o mundo ortodoxo, sendo inspirado por um verdadeiro espírito de piedade, de acordo com o propósito divino do estabelecimento da Igreja pelo Deus-homem nosso Cristo Salvador, ardentemente deseja a unidade das Igrejas na única regra da fé, e sobre o fundamento da doutrina apostólica que nos foi transmitida através dos Padres, "sendo o próprio Jesus Cristo a principal pedra angular". Por isso também ela, todos os dias, em suas orações públicas ao Senhor, ora pela reunião dos dispersos e pelo retorno para o caminho reto da verdade daqueles que se desviaram, que só ele conduz à Vida de todos, ao Filho unigênito e Verbo de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo. [2] De acordo, portanto, com este santo desejo, a nossa Igreja ortodoxa de Cristo está sempre pronta a aceitar qualquer proposta de união, com a condição expressa de que o bispo de Roma abandone definitiva e totalmente todas as numerosas e diversas inovações contrárias ao Evangelho que foram introduzidas na sua Igreja e que provocaram a triste divisão das Igrejas do Oriente e do Ocidente, e retornasse à base dos sete santos Concílios Ecumênicos, que, reunidos no Espírito Santo, com representantes de todas as Igrejas santas de Deus, para a determinação do justo ensinamento da fé contra os hereges, têm na Igreja de Cristo uma supremacia universal e perpétua. E isto, tanto pelos seus escritos como pelas suas cartas encíclicas, a Igreja Ortodoxa nunca deixou de pedir à Igreja Papal, dando-lhe a entender clara e firmemente que qualquer discussão de união seria vã e vazia, enquanto esta Igreja perseverar em suas inovações e enquanto a Igreja Ortodoxa permanecer fiel às tradições divinas e apostólicas do Cristianismo, que o Ocidente também seguiu em uma época em que estava unido em um mesmo espírito com as Igrejas Ortodoxas do Oriente. Por isso, até agora, temos permanecido em silêncio e recusamos levar em consideração a encíclica papal em questão, estimando que não é proveitoso falar aos ouvidos daqueles que não ouvem. Desde certo período, porém, a Igreja Papal, tendo abandonado o método de persuasão e discussão, começou, para nosso espanto geral e perplexidade, a montar armadilhas para a consciência dos cristãos ortodoxos mais simples por meio de trabalhadores dissimulados transformados em apóstolos de Cristo [3], enviando para o Oriente clérigos com vestes e hábitos de sacerdotes ortodoxos, inventando também diversos e outros meios ardilosos para obter seus objetivos proselitistas; por esta razão, acreditamos ser o nosso santo dever, publicar esta encíclica patriarcal e sinodal, para defesa da fé e piedade ortodoxas, sabendo "que a observância dos cânones verdadeiros é um dever para todo homem de bem, e muito mais para aqueles que foram considerados dignos, pela Providência, de governar os assuntos dos outros.' [4]

IV. Como já proclamamos, a Igreja Ortodoxa de Cristo, Una, Santa, Católica e Apostólica, deseja vivamente a santa união, numa só fé, com as Igrejas que se separaram dela, mas sem esta unidade na fé, a união das Igrejas é algo completamente impossível. Assim sendo, perguntamo-nos verdadeiramente como é que o Papa Leão XIII, embora ele próprio também reconheça esta verdade, cai numa simples auto-contradição, declarando, por um lado, que a verdadeira união reside na unidade da fé e, por outro lado, que cada Igreja, mesmo depois da união, pode ter as suas próprias definições dogmáticas e canônicas, mesmo quando diferem das da Igreja Papal, como o Papa declara numa encíclica anterior, datada de 30 de Novembro de 1894. Pois há uma contradição evidente quando em uma mesma Igreja alguém crê que o Espírito Santo procede do Pai, e outro crê que Ele procede do Pai e do Filho; quando um asperge, e outro batiza (mergulha) três vezes na água; um usa pão fermentado no sacramento da Santa Eucaristia, e outro pão ázimo; um distribui ao povo tanto o cálice como o pão, e o outro somente o pão sagrado; e outras coisas como estas. Mas o que esta contradição significa, se o respeito pelas verdades evangélicas da santa Igreja de Cristo e uma concessão indireta e reconhecimento das mesmas, ou algo mais, não sabemos dizer.

V. Mas seja o que for, para a realização prática do desejo piedoso da união das Igrejas, um princípio e uma base comum devem ser estabelecidos em primeiro lugar; e não pode haver um princípio e uma base comum segura a não ser o ensinamento do Evangelho e dos sete santos Concílios Ecumênicos. Voltando ao ensinamento que era comum às Igrejas do Oriente e do Ocidente até ao cisma, é necessário procurar com sincero desejo de verdade, qual era a fé da Una, Santa Igreja Católica e Apostólica, que formava então, no Oriente e no Ocidente, um só corpo, a fim de manter esta fé intacta e inalterada. Mas o que quer que tenha sido acrescentado ou removido em tempos posteriores, cada um tem um dever santo e indispensável, se ele busca sinceramente a glória de Deus mais do que a sua própria glória, que num espírito de piedade corrija isto, considerando que, continuando arrogantemente na perversão da verdade, ele está sujeito a uma pesada acusação perante o tribunal imparcial de Cristo. Ao dizer isto, não nos referimos de modo algum às diferenças em relação ao rito dos santos ofícios, aos hinos, ou às vestimentas sagradas, e afins, coisas que sempre existiram e que não prejudicam minimamente a substância e a unidade da fé; mas referimo-nos às diferenças essenciais que se referem às doutrinas divinamente transmitidas da fé, e à constituição canônica divinamente instituída do governo das Igrejas. "Nos casos em que a coisa desconsiderada não é a fé" - diz também o santo Fócio [5]  - "e não há afastamento de nenhum decreto geral e católico, diferentes ritos e costumes sendo seguidos entre diferentes povos, um homem que sabe julgar corretamente decidiria que nem os que os seguem agem erroneamente, nem os que não os receberam violam a lei". [6]

VI. Nesta perspectiva, pela santa causa de união, a Igreja de Cristo Ortodoxa e Católica no Oriente está disposta a aceitar de todo o coração tudo o que as Igrejas do Oriente e do Ocidente confessaram unanimemente antes do século IX, se ela por acaso modificou ou abandonou algo. Se os ocidentais conseguirem provar, com base nos ensinamentos dos Santos Padres e dos Concílios divinamente reunidos antes do século IX, que a então Igreja Ortodoxa de Roma, que tinha jurisdição sobre o Ocidente, antes desta data, lia o credo com a adição do Filioque, e usava o pão ázimo, aceitava a doutrina do fogo do purgatório, aspergia em vez de batizar, acreditava na concepção imaculada da sempre-virgem Maria, no poder temporal, na infalibilidade e no absolutismo do bispo de Roma, então não temos mais nada a dizer. Mas se, pelo contrário, for provado, como reconhecem certos latinos que amam a verdade, que a Igreja de Cristo Ortodoxa e Católica no Oriente guarda as doutrinas transmitidas e confessadas desde o início, que na época eram professadas em comum tanto no Oriente como no Ocidente, e que a Igreja Ocidental as perverteu por diversas inovações, então torna-se claro, mesmo para uma criança, que o meio mais simples de realizar a união é o retorno da Igreja Ocidental à sua situação doutrinal e canônica anterior, pois a fé não muda de acordo com o tempo e as circunstâncias, mas permanece sempre a mesma e em toda a parte, como escreve o apóstolo: Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. [7]

VII. Assim, a Igreja una, santa, católica e apostólica dos sete Concílios Ecumênicos, confessa e ensina, fiel ao Evangelho, que o Espírito Santo procede do Pai. Mas no Ocidente, a partir do século IX, o santo credo composto e aprovado pelos Concílios Ecumênicos foi falsificado e a idéia de que o Espírito Santo procedia também do Filho (Filioque) foi arbitrariamente difundida. E certamente, o Papa Leão XIII sabe que seu predecessor e homônimo, o Papa ortodoxo Leão III, confessor da ortodoxia, condenou sinodicamente, no ano 809, a adição do Filioque como sendo contrária ao Evangelho e totalmente ilegítima, e que em seguida mandou gravar em duas placas de prata, em grego e latim, o santo Credo Niceno-Constantinopolitano, completo e sem qualquer adição; tendo, além disso, escrito: "Eu, Leão, preparei estas placas por amor e para a salvaguarda da fé ortodoxa." (Haec Leo posui amore et cautela fidei orthodoxa). [8]

O Papa não pode ignorar que, ao longo do século X e no início do século XI, esta adição ilegítima, contrária ao Evangelho, foi inserida no credo em Roma e que, a Igreja Romana, persistindo em inovações e recusando-se a voltar ao dogma dos Concílios Ecumênicos, é necessariamente a única responsável pelo cisma aos olhos da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Cristo, que guarda o que recebeu dos Padres e conserva intacto em todas as coisas o depósito da fé que lhe foi entregue, em obediência à ordem Apostólica: Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós; Guarda o depósito que te foi confiado. Evite as conversas inúteis e profanas e as ideias contraditórias do que é falsamente chamado conhecimento Professando-o, alguns desviaram-se da fé. [9] 

VIII. A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica dos primeiros Concílios Ecumênicos batizados por tripla imersão, e o Papa Pelágio disse que a tripla imersão é um "mandamento do Senhor". No século XIII, o batismo por imersão ainda prevalecia no Ocidente, e as santas fontes batismais que foram preservadas nas igrejas mais antigas da Itália são um testemunho convincente disso. Mas, em tempos posteriores, a aspersão ou efusão, sendo introduzida, veio a ser aceita pela Igreja Papal, que ainda mantém a inovação, aumentando assim também o abismo que ela cavou;  mas nós, Ortodoxos, fiéis à Tradição Apostólica e à prática da Igreja dos Sete Concílios Ecumênicos, "conservamos bem", segundo as palavras de São Basílio, "e lutamos pela confissão comum, guardando preciosamente o tesouro da fé correta legada pelos nossos Padres".[10]

IX. A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica dos Sete Concílios Ecumênicos, seguindo o próprio exemplo do nosso Salvador, celebrou a santa e divina liturgia durante quase mil anos, tanto no Ocidente como no Oriente, com pão fermentado, como testemunham os teólogos ocidentais que amam a verdade. Mas o Papado, desde o século XI, também fez uma inovação no santo e divino sacramento da Eucaristia ao introduzir o pão ázimo.

X. A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica dos Sete Concílios Ecumênicos sempre afirmou que os santos dons são consagrados após a oração de invocação ao Espírito Santo pela bênção do sacerdote, como podem testemunhar os antigos rituais de Roma e da Gália. Entretanto, o papado inovou nisto também, ao aceitar arbitrariamente a consagração dos dons preciosos como ocorrendo junto com a pronunciação das palavras do Senhor: "Tomai, comei, isto é o meu corpo" e "Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue." [11]

XI. A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica dos Sete Concílios Ecumênicos, fiel ao mandamento do Senhor "Bebei dele todos", [12] concedeu também o Santo Cálice a todos fiéis. Mas, o Papado, desde o século XI, inovou ao privar os leigos do Santo Cálice. Também transgrediu a ordem do Senhor e contrariou a prática universal da Igreja e as numerosas proibições formais dos antigos bispos ortodoxos de Roma.

XII. A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica dos Sete Concílios Ecumênicos, seguindo os passos dos Apóstolos, da Tradição e da Sagrada Escritura, ora e invoca a misericórdia de Deus pelo perdão e descanso daqueles 'que adormeceram no Senhor.' [13] Mas a Igreja Papal, a partir do século XII, inventou e concedeu como privilégio particular ao Papa uma multidão de inovações, o fogo do purgatório, a superabundância das virtudes dos santos e sua distribuição para aqueles que necessitam delas, entre outras, até mesmo afirmando que há uma recompensa plena para os justos antes da Ressurreição e do Juízo universal.

XIII. A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica dos Sete Concílios Ecumênicos ensina que apenas a encarnação sobrenatural do Filho Unigênito e Verbo de Deus, Sua Encarnação do Espírito Santo e de Maria, é pura e imaculada; mas a Igreja Papal, há quase quarenta anos atrás, inovou mais uma vez ao estabelecer um novo dogma relativo à concepção imaculada da Mãe de Deus e sempre-Virgem Maria, que era desconhecido pela antiga Igreja (e fortemente combatido em diferentes épocas até pelos mais distintos entre os teólogos papais).

XIV. Desconsiderando, portanto, estas sérias e substanciais diferenças entre as duas igrejas no que diz respeito à fé, diferenças que, como já foi dito, foram criadas no Ocidente, o Papa, na sua encíclica, apresenta a questão da primazia do Romano Pontífice como a principal e, por assim dizer, a única causa da dissensão, e encaminha-nos para as fontes, para que possamos fazer uma busca cuidadosa sobre o que os nossos antepassados acreditavam e sobre o que a primeira era do cristianismo nos legou. Mas tendo consultado os Padres e os Concílios Ecumênicos da Igreja dos primeiros nove séculos, estamos plenamente convencidos de que o Bispo de Roma nunca foi considerado como a suprema autoridade e a cabeça infalível da Igreja, e que cada Bispo é a cabeça e o líder da sua Igreja particular, sujeito apenas às ordenanças sinodais e às decisões da Igreja universal, a única que é infalível. O Bispo de Roma não estava de modo algum isento desta regra, como demonstra a história da Igreja. Só Nosso Senhor Jesus Cristo é o Príncipe eterno e Cabeça imortal da Igreja, pois 'Ele é a Cabeça do corpo, a Igreja' [14], que disse também aos Seus divinos discípulos e apóstolos na Sua ascensão aos céus: 'eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos' [15]. Na Sagrada Escritura, o Apóstolo Pedro, a quem os papistas, apoiando-se nos livros apócrifos do segundo século, os pseudo-Clementinos, imaginam com um propósito ser o fundador da Igreja Romana e seu primeiro bispo, discute os assuntos como um igual entre iguais no sínodo apostólico de Jerusalém, e em outro momento é severamente repreendido pelo Apóstolo Paulo, como é evidente na Epístola aos Gálatas [16]. Além disso, os próprios papistas sabem bem que a passagem do Evangelho a que o Pontífice se refere, "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" [17], é nos primeiros séculos da Igreja interpretada de forma totalmente diferente, num espírito de ortodoxia, tanto pela tradição como por todos os Padres divinos e santos sem excepção; a pedra fundamental e inabalável sobre a qual o Senhor edificou a Sua própria Igreja, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão, é metaforicamente entendida como sendo a verdadeira confissão de Pedro a respeito do Senhor, de que 'Ele é Cristo, o Filho do Deus vivo.' [18] Sobre esta confissão e fé, a pregação salvífica do Evangelho por todos os apóstolos e seus sucessores repousa inabalável. Daí também o apóstolo Paulo, que foi arrebatado ao céu, evidentemente interpretando esta passagem divina, declara a inspiração divina, dizendo:  "Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo." [19] Mas é num outro sentido que Paulo chama todos os apóstolos e profetas juntos o fundamento da edificação dos fiéis em Cristo; isto é, os membros do corpo de Cristo, que é a Igreja, [20] quando escreve aos Efésios: "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra angular." [21] Assim, sendo tal o ensinamento divinamente inspirado dos apóstolos a respeito da fundação e Príncipe da Igreja de Deus, é claro que os santos Padres, que mantiveram firmemente as tradições apostólicas, não podiam ter ou conceber qualquer idéia de uma primazia absoluta do Apóstolo Pedro e dos bispos de Roma; nem podiam dar qualquer outra interpretação, totalmente desconhecida para a Igreja, a essa passagem do Evangelho, senão a que era verdadeira e correta; nem poderiam, arbitrariamente e por si mesmos, inventar uma nova doutrina a respeito dos privilégios excessivos do Bispo de Roma como sucessor, supostamente, de Pedro; especialmente considerando que a Igreja de Roma foi fundada, não por Pedro, cuja ação apostólica em Roma é totalmente desconhecida para a história, mas pelo apóstolo dos gentios, Paulo, que foi arrebatado ao céu, através dos seus discípulos, cujo ministério apostólico em Roma é bem conhecido por todos. [22]

XV. Os divinos Padres, honrando o Bispo de Roma apenas como bispo da capital do Império, deram-lhe a prerrogativa honorária de presidência, considerando-o simplesmente como o bispo primeiro na ordem, ou seja, primeiro entre iguais; prerrogativa que também atribuíram posteriormente ao Bispo de Constantinopla, quando esta cidade se tornou a capital do Império Romano, como testemunha o XXVIII Cânon do IV Concílio Ecumênico de Calcedônia, dizendo, entre outras coisas, o seguinte "Nós também determinamos e decretamos as mesmas coisas a respeito das prerrogativas da Igreja Santíssima de Constantinopla, que é a Nova Roma. Pois os Padres deram justificadamente a prerrogativa ao trono da velha Roma, porque ela era a cidade imperial. E os cento e cinquenta bispos muito devotos, movidos pela mesma consideração, atribuíram uma prerrogativa igual ao trono santíssimo da Nova Roma". A partir deste cânon é muito evidente que o Bispo de Roma é igual em honra do Bispo da Igreja de Constantinopla e aos das outras Igrejas, e não há nenhuma alusão feita em qualquer cânon ou por qualquer dos Padres de que somente o Bispo de Roma tenha sido príncipe da Igreja universal e juiz infalível dos Bispos das outras Igrejas independentes e autogovernadas, ou sucessor do Apóstolo Pedro e vigário de Jesus Cristo na terra.

XVI. Cada Igreja particular autogovernada, tanto no Oriente como no Ocidente, era totalmente independente e autoadministrada na época dos Sete Concílios Ecumênicos. E assim como os bispos das Igrejas autogovernadas do Oriente, assim também os bispos da África, Espanha, Gália, Alemanha e Grã-Bretanha administravam os assuntos das suas próprias Igrejas, cada um através dos seus sínodos locais, não tendo o bispo de Roma o direito de interferir, e sendo ele mesmo igualmente sujeito e obediente aos decretos dos sínodos. Mas a respeito de questões importantes, que precisavam da sanção da Igreja universal, um apelo era feito a um Concílio Ecumênico, que era e é o único tribunal supremo da Igreja universal. Tal era a antiga constituição da Igreja; mas os bispos eram independentes uns dos outros e cada um totalmente livre dentro dos seus próprios limites, obedecendo apenas aos decretos sinodais, e sentavam-se como iguais uns aos outros nos sínodos. Além disso, nenhum deles jamais reivindicou direitos monárquicos sobre a Igreja universal; e se algumas vezes certos bispos ambiciosos de Roma apresentaram reivindicações excessivas a um absolutismo desconhecido para a Igreja, tais foram devidamente reprovados e censurados. Portanto, a afirmação de Leão XIII, quando diz na sua Encíclica que antes do período do grande Fócio o nome do trono romano era santo entre todos os povos do mundo cristão, e que o Oriente, assim como o Ocidente, em um só acordo e sem oposição, estava sujeito ao pontífice romano como sucessor legítimo, por assim dizer, do Apóstolo Pedro, e consequentemente vigário de Jesus Cristo na terra, revela-se imprecisa e um erro manifesto.

XVII. Durante os nove séculos dos Concílios Ecumênicos, a Igreja Ortodoxa Oriental nunca reconheceu as pretensões excessivas de primazia por parte dos bispos de Roma, nem, consequentemente, se submeteu a elas, como a história da Igreja claramente testemunha. A relação independente do Oriente com o Ocidente é demonstrada clara e manifestamente também por aquelas poucas e muito significativas palavras de Basílio o Grande, que ele escreveu numa carta ao santo Eusébio, bispo de Samosata: "Porque quando se cortejam personagens soberbos, é da sua natureza tornar-se ainda mais desdenhosos. Pois se o Senhor tem misericórdia de nós, de que outro auxílio precisamos? Mas se a ira de Deus cai repousa sobre nós, que auxílio há para nós vindo da arrogância ocidental? Homens que não conhecem a verdade nem podem suportar aprendê-la, mas prejudicados por falsas suspeitas, agem agora como faziam antes no caso de Marcellus". [23]  A celebrado Fócio, o santo Prelado e luminar de Constantinopla, portanto, defendendo esta independência da Igreja de Constantinopla depois de meados do século IX, e prevendo a iminente perversão da constituição eclesiástica no Ocidente, e a sua defecção do Oriente ortodoxo, a princípio se esforçou de forma pacífica para evitar o perigo; mas o Bispo de Roma, Nicolau I, com a sua interferência não-canônica no Oriente, para além dos limites da sua diocese, e com a tentativa que fez para subjugar a si mesmo a Igreja de Constantinopla, levou ao limiar do cisma doloroso das Igrejas. As primeiras sementes dessas pretensões de absolutismo papal foram disseminadas por torda parte nas pseudo-Clementinas, e foram cultivadas, exatamente na época desse Nicolau, nos chamados decretos pseudo-Isidorianos, que são um emaranhado de decretos reais e cartas de antigos bispos de Roma, falsificados e forjados, através dos quais, contrariamente à verdade da história e à constituição estabelecida da Igreja, foi propositadamente promulgado que, conforme eles dizem, a antiguidade cristã atribuía aos bispos de Roma uma autoridade ilimitada sobre a Igreja universal.

XVIII. Estes fatos recordamos com tristeza, na medida em que a Igreja Papal, embora agora reconheça o caráter espúrio e forjado destes decretos nos quais baseiam suas pretensões excessivas, não só se recusa obstinadamente a voltar aos cânones e decretos dos Concílios Ecumênicos, mas mesmo nos últimos anos do século XIX ampliou o abismo existente, proclamando oficialmente, para o espanto do mundo cristão, que o Bispo de Roma é até mesmo infalível. A Igreja ortodoxa oriental e católica de Cristo, com exceção do Filho e Verbo de Deus, que inefavelmente se fez homem, não conhece ninguém infalível na terra. Até o próprio apóstolo Pedro, cujo sucessor o Papa considera ser, negou três vezes o Senhor, e foi repreendido duas vezes pelo apóstolo Paulo, como não andando de acordo com a verdade do Evangelho. [24] Mais tarde o Papa Libério, no século IV, subscreveu uma confissão ariana; e igualmente Zósimo, no século V, aprovou uma confissão herética, negando o pecado original. Virgílio, no século VI, foi condenado por ter opiniões erradas pelo quinto Concílio; e Honório, tendo caído na heresia monotelita, foi condenado no século VII pelo sexto Concílio Ecumênico como um herege, e os papas que o sucederam reconheceram e aceitaram a sua condenação.

XIX. Com estes e tais fatos em vista, os povos do Ocidente, civilizados gradualmente pela difusão das letras, começaram a protestar contra as inovações e a exigir (como foi feito no século XV nos Concílios de Constança e Basiléia) o retorno à constituição eclesiástica dos primeiros séculos, à qual, pela graça de Deus, as Igrejas ortodoxas do Oriente e do Norte, as únicas que formam agora a Igreja una, santa, católica e apostólica de Cristo, coluna e fundamento da verdade, permanecem e sempre permanecerão fiéis. O mesmo foi feito no século XVII pelos doutos teólogos galicanos, e no século XVIII pelos bispos da Alemanha; e neste século atual da ciência e da crítica, a consciência cristã ergueu-se num só corpo no ano de 1870, nas pessoas dos célebres clérigos e teólogos da Alemanha, devido ao novo dogma da infalibilidade dos Papas, proclamado pelo Concílio Vaticano, cuja consequência resultou na formação das comunidades religiosas separadas dos Velhos Católicos, que, tendo rejeitado o papado, são bem independentes dele.

XX. Em vão, portanto, o Bispo de Roma nos encaminha às fontes para que busquemos cuidadosamente o que nossos antepassados acreditavam e o que o primeiro período do cristianismo nos transmitiu. Nessas fontes nós, ortodoxos, encontramos as doutrinas antigas e divinamente transmitidas, às quais guardamos diligentemente até o tempo presente, e em nenhum lugar encontramos as inovações que o Ocidente introduziu mais tarde, em tempos de indigência espiritual, e que a Igreja Papal adotou e mantém até hoje. A Igreja ortodoxa oriental gloria-se, assim, justamente em Cristo como sendo a Igreja dos sete Concílios Ecumênicos e dos primeiros nove séculos do cristianismo e, portanto, a Igreja una, santa, católica e apostólica de Cristo, "coluna e fundamento da verdade"; [25] mas a Igreja romana atual é a Igreja das inovações, da falsificação dos escritos dos Padres da Igreja, da má interpretação da Sagrada Escritura e dos decretos dos santos Concílios, pelas quais ela foi razoável e justamente repudiada, e ainda é repudiada, na medida em que permanece em seu erro. "Porque melhor é uma guerra digna de louvor do que uma paz que nos separa de Deus", como diz também Gregório de Nazianzo.

XXI. Tais são, resumidamente, as inovações sérias e arbitrárias relativas à fé e à constituição administrativa da Igreja, que a Igreja Papal introduziu e que, é evidente, a Encíclica Papal propositadamente ignora em silêncio. Estas inovações, que se referem a pontos essenciais da fé e do sistema administrativo da Igreja, e que se opõem manifestamente à condição eclesiástica dos primeiros nove séculos, tornam impossível a tão desejada união das Igrejas: e todo coração piedoso e ortodoxo se enche de inexprimível tristeza ao ver a Igreja Papal persistir desdenhosamente nelas, e não contribuindo minimamente para o propósito santo da união através da rejeição dessas inovações heréticas e do retorno à antiga condição da Igreja una, santa, católica e apostólica de Cristo, da qual ela também fazia parte naquela época.

XXII. Mas o que dizer acerca de tudo o que o Romano Pontífice escreve quando se dirige às gloriosas nações eslavas? Ninguém, de fato, jamais negou que pela virtude e pelos esforços apostólicos de São Cirilo e Metódio a graça da salvação foi concedida a muitos dos povos eslavos: mas a história testemunha que no período do grande Fócio, esses apóstolos gregos dos eslavos e amigos íntimos desse Santo Padre, saindo de Tessalônica, foram enviados para converter as tribos eslavas, não a partir de Roma, mas a partir de Constantinopla, cidade onde foram formados, vivendo como monges no mosteiro de São Policrono. É portanto totalmente incoerente o que é proclamado na Encíclica do Pontífice Romano, que, como ele diz, houve uma relação de bondade e simpatia mútua entre as tribos eslavas e os pontífices da Igreja Romana; pois mesmo que o Papa não saiba, a história ensina-nos explicitamente que os santos apóstolos dos eslavos, de quem falamos, encontraram grandes dificuldades nas suas obras e mesmo excomunhões e oposição por parte dos bispos de Roma, e foram mais cruelmente perseguidos pelos bispos papais francos do que pelos habitantes pagãos daquelas regiões. Certamente o Papa sabe bem que o bem-aventurado Metódio, tendo partido para o Senhor, duzentos dos mais distintos dos seus discípulos depois de muitas lutas contra a oposição dos Pontífices Romanos, foram expulsos da Morávia e levados pela força militar para além das suas fronteiras, de onde posteriormente foram dispersos na Bulgária e noutros lugares. E ele sabe também que com a expulsão do clero eslavo mais erudito, o rito oriental, assim como a linguagem eslava então em uso, também foram suprimidos e, pouco a pouco, todos os vestígios da ortodoxia desapareceram daquelas províncias, e todas estas coisas foram feitas com a cooperação oficial dos bispos de Roma, de uma maneira nem um pouco honrosa em relação à santidade da dignidade episcopal. Mas apesar de todo esse tratamento arrogante, as Igrejas ortodoxas eslavas, as amadas filhas do Oriente ortodoxo, e especialmente a grande e gloriosa Igreja da Rússia divinamente preservada, tendo sido conservadas isentas de danos pela graça de Deus, guardaram, e guardarão até o fim dos tempos, a fé ortodoxa e testemunharão a liberdade encontrada em Cristo. Em vão, portanto, a Encíclica Papal promete às Igrejas Eslavas prosperidade e grandeza, porque pela boa vontade do Deus mais gracioso elas já possuem essas bênçãos e permanecem firmes na ortodoxia de seus Pais e se orgulham dela em Cristo.

XXIII. Sendo estas coisas assim, e sendo provadas inquestionavelmente pela história eclesiástica, nós, desejosos como é nosso dever, nos dirigimos aos povos do Ocidente que, com credulidade, por ignorância da história verdadeira e imparcial dos assuntos eclesiásticos, tendo se deixado levar, seguem as inovações anti-evangélicas e totalmente ilegítimas do papado, tendo sido separados e continuando longe da Igreja una, católica, apostólica e ortodoxa de Cristo, que é "a Igreja do Deus vivo, coluna e terra da verdade", [26] na qual também os seus graciosos antepassados brilharam pela sua piedade e ortodoxia de fé, tendo sido membros fiéis e preciosos dela durante nove séculos inteiros, seguindo obedientemente e andando segundo os decretos dos Concílios Ecumênicos divinamente reunidos.

XXIV. Povos que amam a Cristo dos países gloriosos do Ocidente! Regozijamo-nos, por um lado, vendo que tendes um zelo por Cristo, sendo guiados por esta reta convicção, 'de que sem fé em Cristo é impossível agradar a Deus'; [27] mas, por outro lado, é evidente para qualquer pessoa sensata que a fé salutar em Cristo deve, por todos os meios, ser reta em tudo, e de acordo com a Sagrada Escritura e as tradições apostólicas, nas quais se baseiam os ensinamentos dos Padres divinos e os sete Concílios Ecumênicos santos e divinamente reunidos. Além disso, é manifesto que a Igreja universal de Deus, que mantém em seu seio esta fé salutar e única, inalterada, integral, como um depósito divino, tal como outrora foi entregue e pregada pelos Padres teóforos guiados pelo Espírito, e formulada por eles durante os primeiros nove séculos, é uma e a mesma para sempre, e não múltipla e variável com o passar dos séculos: porque as verdades do evangelho nunca são suscetíveis de alteração ou progresso no decorrer do tempo, como os vários sistemas filosóficos; 'pois Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e para sempre'.' [28] Por isso também o santo Vicente, que foi alimentado com o leite da piedade recebido dos Padres no mosteiro de Lérins, na Gália, e floresceu em meados do século V, com grande sabedoria e ortodoxia caracteriza a verdadeira catolicidade da fé e da Igreja, dizendo: "Na Igreja Católica, devemos sobretudo preocupar-nos em guardar o que tem sido crido em toda a parte, em todos os tempos e por todos. Pois isso é verdadeira e propriamente católico, em toda a força e significado da palavra, que quer dizer 'compreende tudo universalmente.'  Esta regra observaremos se seguirmos a universalidade, a antiguidade e o consentimento." [29] Mas, como já foi dito antes, a Igreja Ocidental, do século X em diante, introduziu no seu interior, através do papado, várias estranhas e heréticas doutrinas e inovações, e assim ela foi separada e afastada da verdadeira e ortodoxa Igreja de Cristo. Quão necessário, pois, é que volteis e regresseis às antigas e inalteradas doutrinas da Igreja para alcançar a salvação em Cristo, que tanto desejais, se considerardes atentamente o mandamento do apóstolo Paulo, que foi arrebatado ao céu, aos tessalonicenses, que diz: "Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa." [30] e também o que o mesmo santo apóstolo escreve aos gálatas dizendo: "Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo." [31] Mas evita tais pervertedores da verdade evangélica: 'Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam os corações dos simples' [32] e volta agora para o seio da Igreja santa, católica e apostólica de Deus, que compreende todas as Igrejas plantadas por Deus como ricas videiras em todo o mundo ortodoxo, e que estão inseparavelmente unidas umas às outras pela fé salvífica em Cristo, na paz e no Espírito Santo, para que o venerável e magnífico Nome do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, que sofreu pela salvação do mundo, seja também glorificado entre vós.

XXV. Quanto a nós, que pela graça e vontade misericordiosa de Deus somos membros preciosos do Corpo de Cristo, isto é, da Sua Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, guardemos firmemente a piedade dos nossos Padres, tal como nos foi transmitida desde os tempos apostólicos. Cuidado com os falsos apóstolos, que, vindo até nós em pele de ovelha, tentam seduzir os mais simples entre nós com várias promessas enganosas, considerando todas as coisas como lícitas e permitindo-as em nome da união, com a única condição de que o Papa de Roma seja reconhecido como soberano supremo e infalível e soberano absoluto da Igreja universal, e único representante de Cristo na terra, e fonte de toda a graça. E especialmente nós, que pela graça e misericórdia de Deus fomos designados bispos, pastores e doutores das santas Igrejas de Deus, 'tenhamos cuidado de nós mesmos, e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo nos constituiu bispos, para apascentarmos a Igreja de Deus, que Ele resgatou com o Seu próprio sangue', [33] como aqueles que devem prestar contas.'Por isso, confortai-vos e edificai-vos uns aos outros'. [34] 'O Deus de toda a graça, que os chamou para a sua glória eterna em Cristo Jesus... os confirmará, lhes dará forças e os estabelecerá" [35] e que Ele faça com que todos aqueles que estão fora e afastados do rebanho uno, santo, católico e ortodoxo das Suas ovelhas razoáveis possam ser iluminados com a luz da Sua graça e com o reconhecimento da verdade. A Ele sejam a glória e o reino para todo o sempre.

Amém. 

No Palácio Patriarcal de Constantinopla, no mês de agosto do ano de graça MDCCCXCV (1895).

+ ANTIMOS de Constantinopla, amado irmão e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ NICODEMOS de Cizicos, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ FILOTEU de Nicomedia, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ JERÔNIMO de Nicéia, amado irmão e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ NATANAEL de Prusa, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ BASÍLIO de Esmirna, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ ESTEVÃO de Filadélfia, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ ATANÁSIO de Lemnos, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ BESSARIÃO de Dyrrachium, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ DOROTEU de Belgrado, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ NICODEMOS de Elasson, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ SOFRÔNIO de Cárpatos e Cassos, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

+ DIONÍSIO de Eleuterópolis, irmão amado e intercessor em Cristo nosso Deus.

Notas

1. Ef. 2:20.

2. João 14:6.

3. II Cor. 11:13.

4. Fócio Epístola. iii. 10.

5. Patriarca de Constantinopla; c. 800.

6. Fócio Epístola iii. 6.

7. Ef. 4.5-6.

8. Veja a vida de Leão III por Atanásio, presbítero e bibliotecário em Roma, em sua obra Vida dos Papas. Também o santo Fócio, fazendo menção a esta invectiva do Papa ortodoxo de Roma, Leão III, contra os detentores da doutrina errônea, em sua famosa carta ao Metropolita de Acquileia, se expressa da seguinte forma:  "Pois (sem mencionar aqueles que o antecederam) Leão mais velho, prelado de Roma, assim como Leão mais novo depois dele, mostram-se do mesmo espírito com a Igreja católica e apostólica, com os santos prelados seus predecessores, e com os mandamentos apostólicos; o primeiro tendo contribuído muito para a reunião do quarto santo Concílio Ecumênico, tanto pelos santos homens que foram enviados para representá-lo, como pela sua carta, pela qual tanto Nestório como o Eutiques foram derrotados; por essa carta ele, além disso, de acordo com os decretos sinodais anteriores, declarou que o Espírito Santo procedia do Pai, mas não também "do Filho". E da mesma forma Leão mais jovem, seu homólogo na fé, assim como no nome. Este último, de fato, que era ardentemente zeloso pela verdadeira piedade, a fim de que o padrão imaculado da verdadeira piedade não fosse de forma alguma falsificado por uma língua bárbara, publicou-o em grego, como já foi dito no início, para o povo do Ocidente, a fim de que assim glorificassem e pregassem corretamente a Santíssima Trindade. E não só por palavra e ordem, mas também, tendo-a inscrito e exposto à vista de todos em certas placas especialmente feitas, como em certos monumentos, fixou-as às portas da Igreja, para que cada pessoa aprendesse facilmente a fé incontaminada, e para que não fosse deixada qualquer possibilidade aos forjadores secretos e inovadores de adulterar a piedade de nós cristãos, e de apresentar o Filho juntamente com o Pai como uma segunda causa do Espírito Santo, que procede do Pai com honra igual à do Filho gerado. E não foram só estes dois santos homens, que brilharam intensamente no Ocidente, que preservaram a fé livre de inovações; pois a Igreja não está em tanta carência como a dos pregadores ocidentais; mas há também uma multidão deles que não pode ser facilmente contada e que agiu da mesma maneira." - Epist. v. 53.

9. III Tim. 1:14; 1 Tim. 6:20-21.

10. São Basílio, o Grande, Ep. 243, Aos Bispos da Itália e da Gália.

11. Mt. 26,26.28.

12. Mat. 26:28.

13. Mat. 26:31; Heb. 11:39-40; II Tim. 4:8; II Macc. 12:45.

14. Col. 1:18.

15. Mat. 28:20.

16. Gal. 2:11.

17. Mat. 16:18.

18. Mat. 16:16.

19. 1 Cor. 3:10, 11.

20. Cor. 1:24.

21. Ef. 2:19, 20. Cp. 1 Pd. 2:4; Apoc. 21:14.

22. Veja Atos dos Apóstolos 28.15, Rom. 15.15-16; Fil. 1:13.

23. Epístola. 239.

24. Gal. 2:11.

25. I Tim. 3:15.

26. I Tim. 3:15.

27. Heb. 11:6.

28. Heb. 13:8.

29. 'In ipsa item Catholica Ecclesia magnopere curandum est, ut teneamus, quod ubique quod semper ab omnibus creditum est. Hoc est enim vere proprieque Catholicum (quod ipsa vis nominis ratioque declarat), quod omnia fere universaliter comprehendit. Sed hoc fiet si sequimur universalitatem, antiquitatem, consensionem' (Vincentii Lirinensis Commonitorium pro Catholica fidei antiquitate et universalitate cap. iii, cf. cap. viii and xiv).

30. 1 Tess. 2:15.

31. Gal. 1:6-7.

32. Rom. 16:18.

33. Atos 20:28.

34. I Tess. 5:11.

35. I Pedro 5:10.

Nota do tradutor: A presente tradução foi baseada nas versões em inglês e espanhol da encíclica.

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