sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Cada um de nós é potencialmente Judas (Pe. Seraphim Rose)




"E, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, Aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com ungüento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa. E os seus discípulos, vendo isto, indignaram-se, dizendo: Por que é este desperdício? Pois este ungüento podia vender-se por grande preço, e dar-se o dinheiro aos pobres. Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: Por que afligis esta mulher? pois praticou uma boa ação para comigo. Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Ora, derramando ela este ungüento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento. Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua. Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes, E disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E eles lhe pesaram trinta moedas de prata, E desde então buscava oportunidade para o entregar." (Mateus 26:6-16) 


Nesta passagem da Escritura, lemos como nosso Senhor se preparou para a Sua paixão: veio uma mulher e o ungiu com unguento precioso; e é muito emocionante como nosso Senhor aceitou tal amor de pessoas simples. Mas, ao mesmo tempo, Judas - um dos doze que estavam com ele - olhou para este ato, e algo em seu coração mudou. Era aparentemente a "última gota", porque Judas era o responsável pelo dinheiro e achava que isso era um desperdício de dinheiro. Podemos até ver os processos lógicos acontecendo em sua mente. Podemos ouvi-lo pensar em Cristo: "Eu pensei que este homem era alguém importante. Ele gasta dinheiro, ele não faz as coisas bem, ele acha que ele é tão importante ... "e todos os tipos de pequenas ideias semelhantes, que o diabo coloca em sua mente. E pela sua paixão (sua principal paixão era amor ao dinheiro), ele foi apanhado pelo demônio levado a trair a Cristo. Ele não quis trair a ele; ele simplesmente queria dinheiro. Ele não vigiou a si mesmo e crucificou suas paixões. 

Qualquer um de nós pode estar exatamente nessa posição. Nós temos que olhar para os nossos corações e ver qual das nossas paixões o demônio nos fisgará e nos levará a trair Cristo. Se pensarmos que somos algo superior a Judas - que ele era algum tipo de "pária" e nós não somos - estamos bastante enganados. Como Judas, todos nós temos paixões em nosso coração. Vamos, portanto, vigia-las. Podemos ser apanhados pelo amor a limpeza, pelo amor a correção, pelo amor por um senso de estética: qualquer uma das nossas pequenas falhas a que nos apegamospode ser uma coisa pela qual o diabo pode nos atrapalhar. Sendo capturados, podemos começar a justificar esta condição "logicamente" - com base na nossa paixão. E, a partir desse processo de pensamento "lógico", podemos trair a Cristo, a não ser que nos contemplemos e comecemos a perceber que estamos cheios de paixões, que cada um de nós é potencialmente um Judas. Portanto, quando a oportunidade vem - quando a paixão começa a operar em nós e, logicamente, começa a se desenvolver em traição - devemos parar ali e dizer: "Senhor, tenha piedade de mim, um pecador!" 

Não devemos olhar a vida através dos óculos de nossas paixões, nem ver como podemos "encaixar" a vida do modo que gostaríamos que ela fosse seja esta, uma vida onde há paz e silêncio, ou onde haja muito ruído e excitação. Se tentarmos tornar a vida "adequada" assim, resultará num desastre total. Ao olhar para a vida, devemos aceitar todas as coisas que nos chegam como providência de Deus, sabendo que elas são destinadas a nos despertar de nossas paixões. Devemos pedir a Deus que nos mostre algo que podemos fazer e que seja agradável a Ele. Quando aceitamos o que vem a nós, começamos a ser como a mulher simples no Evangelho, que ouviu o chamado de Deus e assim foi capaz de servi-Lo. Ela foi proclamada até os confins do mundo, como nosso Senhor diz, por causa da simples coisa que ela fez, derramando o unguento sobre ele. Deixe-nos ser como ela: sensíveis, a observar os sinais de Deus ao nosso redor. Esses sinais vêm de toda parte: da natureza, de nossos semelhantes, chances que aparecem em alguns eventos ... Sempre há, todos os dias, algo que nos indica a vontade de Deus. Devemos estar abertos a isso. 

Uma vez que nos tornamos mais conscientes de nossas próprias paixões e começamos a lutar contra elas, não deixaremos que elas comecem um processo que foi visto em Judas. Judas começou de uma coisa muito pequena: estar preocupado com o uso correto do dinheiro. E por coisas tão pequenas, nós traímos a Deus, o Salvador. Devemos estar sóbrios, não observando o cumprimento de nossas paixões ao nosso redor, mas sim a indicação da vontade de Deus: como podemos neste momento despertar e começar a seguir a Cristo em Sua paixão e salvar nossas almas. 

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