sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Experiências "Fora do Corpo" na Literatura Ocultista (Pe. Seraphim Rose) - Parte 2/2

5. "Viagem Astral" 

       Quase todas as experiências "pós morte" recentes foram extremamente breves; se tivessem sido mais longas, a morte real teria ocorrido. Mas no estado "fora do corpo" que não está ligado a condições de quase-morte, é possível uma experiência mais longa. Se esta experiência for de duração suficiente, pode-se deixar o ambiente imediato para trás e entrar em uma paisagem completamente nova, não apenas para um breve vislumbre de um "jardim" ou de um "lugar luminoso" ou de uma "cidade celestial", mas para para uma "aventura" prolongada no reino aéreo. O "plano astral" é, evidentemente, bastante próximo de cada homem, e certas experiências críticas (ou técnicas mediúnicas) podem "projetar"  o homem, fazendo-o entrar em contato com esse reino. Em um de seus livros, Dr. Carl Jung descreve a experiência de um de seus pacientes, uma mulher que teve uma experiência "fora do corpo" enquanto sofria um parto difícil. Ela enxergava os médicos e as enfermeiras ao redor dela, mas estava ciente de que atrás dela havia uma paisagem gloriosa que parecia ser a fronteira de outra dimensão; sentia que se ela se fosse naquela direção, deixaria essa vida - mas ela voltou para o corpo.

       O Dr. Moody registrou várias dessas experiências, as quais chama de experiências de "fronteira" ou "limite" (Life after Life, pp. 54-57).

       Aqueles que induzem deliberadamente a experiência de "projeção astral" são muitas vezes capazes de entrar nesta "outra dimensão". Recentemente, as descrições de certo homem sobre suas "jornadas" nesta dimensão alcançaram certa fama, o que lhe permitiu estabelecer um instituto dedicado as experiências no estado "fora do corpo". Um dos alunos deste instituto foi a Dra. Elizabeth Kubler-Ross, que concorda com as conclusões de Monroe no que diz respeito a semelhança das experiências "fora do corpo" e do estado "pós-morte". Resumiremos aqui as descobertas deste experimentador.

       Robert Monroe é um executivo americano bem-sucedido de negócios (presidente do conselho de administração de uma corporação multimilionária) e agnóstico quanto a religião. Suas experiências "fora do corpo" começaram em 1958, antes de ter algum interesse na literatura ocultista, quando estava realizando seus próprios experimentos de  técnicas de aprendizagem de dados durante o sono; isso envolvia exercícios de concentração e relaxamento semelhantes a algumas técnicas de meditação. Depois de iniciar esses experimentos, ele teve a experiência incomum na qual parecia ter sido atingido por um feixe de luz, que lhe causou uma paralisia temporária. Após essa sensação ter sido repetida várias vezes, ele começou a "flutuar" fora do corpo, e então começou a experimentar, induzindo e desenvolvendo essa experiência. No começo de suas "viagens" ocultas, ele revela as mesmas características básicas - uma meditação passiva, uma experiência de "luz", uma atitude de confiança e abertura para experiências novas e estranhas, tudo em conjunto com uma visão prática da vida e ausência de consciência profunda ou experiência do cristianismo - o que abriu para Swedenborg suas aventuras no mundo dos espíritos.

       No início, as "viagens" de Monroe eram para locais reconhecíveis na terra - lugares próximos da terra, no começo, e depois para lugares mais distantes - com algumas tentativas bem-sucedidas de trazer evidências reais das experiências. Então ele começou a entrar em contato com figuras semelhantes a fantasmas, o primeiro contato sendo parte de um experimento mediúnico (o "guia indiano" enviado pelo médium realmente veio até ele!, p.52). Finalmente, ele começou a entrar em contato com paisagens estranhas aparentemente não mais terrestres.

       Tomando notas detalhadas sobre suas experiências (que registrava assim que voltava para o corpo), ele classificou todas essas como pertencendo a três "locais": "local I" é o "aqui-agora", o normal - o ambiente mundano. "local II" é um ambiente "não-material", aparentemente imenso, com características idênticas às do "plano astral". Esse local é o "ambiente natural" do "Segundo Corpo", como Monroe chama a entidade que viaja neste reino; tal reino "interpenetra" o mundo físico, e suas leis são as do pensamento: "assim como você pensa, assim você é", "semelhante atrai semelhante", para viajar é necessário apenas pensar em seu destino. Monroe visitou vários "lugares" neste reino, onde viu coisas como um grupo de pessoas vestindo longas vestes em um vale estreito (p. 81) e uma série de pessoas uniformizadas que se chamavam "exército alvo" que esperavam por tarefas (p. 82). O "local III" é uma realidade aparentemente terrestre que, no entanto, é diferente de qualquer coisa conhecida nesta terra, com características estranhamente anacrônicas; os teosofistas provavelmente compreenderiam como apenas uma parte mais "sólida" do "plano astral".

       Depois de superar em grande parte o seu sentimento inicial de medo ao encontrar-se nesses reinos desconhecidos, Monroe começou a explorá-los e descrever os muitos seres inteligentes que lá encontrou. Em algumas "jornadas", encontrou amigos "mortos" e conversou com eles, mas, mais frequentemente, ele encontrou seres impessoais estranhos que, às vezes, o "ajudaram", mas que muitas vezes não respondiam o seu chamado; seres que davam vagas mensagens "místicas" que soavam como as comunicações dos médiuns, que podiam apertar a sua mão, mas que provavelmente desejavam cravar um gancho na mão oferecida (p. 89). Alguns desses seres ele reconheceu como "defensores": criaturas semelhantes a animais com corpos de borracha que facilmente mudavam para formas de cães, morcegos ou seus próprios filhos (p. 137-140), e outros que provocavam e atormentavam ele e simplesmente riam quando chamava (não pela fé, é verdade, mas apenas como outro "experimento") o nome de Jesus Cristo (p. 119).

       Não tendo fé própria, Monroe abriu-se às sugestões "religiosas" dos seres desse reino. Ele recebeu visões "proféticas" de eventos futuros, que às vezes, de fato, aconteceram como ele viu (p. 145). Certa vez, quando um raio de luz branco lhe apareceu nos limites do estado fora-do-corpo, ele o pediu por algumas respostas às suas questões sobre este reino. Uma voz vindo do raio respondeu: Peça ao seu pai para lhe contar o grande segredo". Na próxima oportunidade, Monroe rezou: "Pai, guia-me. Pai, diga-me o grande segredo" (p. 131-2). A partir de tudo isso é óbvio que Monroe, apesar de permanecer "secular" e "agnóstico" em sua própria perspectiva religiosa, entregou-se livremente para ser usado pelos seres do reino oculto (que, é claro, são demônios). 

       Tal como o Dr. Moody e outros investigadores neste reino, Monroe escreve que "em doze anos de atividades não-físicas, não encontro nenhuma evidência para sustentar as noções bíblicas de Deus e a vida após a morte num lugar chamado céu" (p. 116). No entanto, assim como Swedenborg, os teosofistas e os investigadores como o Dr. Crookall, ele encontra no ambiente "não-material" que explorou "todos os aspectos que atribuímos ao céu e ao inferno, que são apenas parte do local II" (p. 73). Na área aparentemente "mais próxima" do mundo material, ele encontrou uma área cinza-negra povoada por "seres roedores atormentantes"; isto, ele pensa, pode ser a "fronteira do inferno" (p. 120-121), ao invés da região "Hades" identificada por Dr. Crookall.

       O mais revelador, no entanto, é a experiência de Monroe do "céu". Três vezes ele viajou para um lugar de "paz pura", flutuando em nuvens mornas e suaves que eram dispersas por raios coloridos de luz que mudavam constantemente, vibrando em harmonia com a música de coros sem palavras; havia seres sem nome ao redor no mesmo estado, com os quais ele não tinha contato pessoal. Ele sentiu este lugar como seu "Lar" final, e ficou sozinho por alguns dias após o fim da experiência (p. 123-5). Este "céu astral", é claro, é a fonte suprema do ensinamento teosofista sobre a "agradabilidade" do outro mundo; mas quão longe está do verdadeiro ensinamento cristão do Reino dos Céus, muito além desse reino aéreo, que em sua plenitude de amor, personalidade e presença consciente de Deus tornou-se completamente distante dos incrédulos do nosso tempo, que não pedem nada mais do que um "nirvana" de nuvens suaves e luzes coloridas! Os espíritos caídos podem facilmente fornecer essa experiência de "céu"; mas somente a luta cristã e a graça de Deus podem elevar ao verdadeiro céu de Deus.

       Em várias ocasiões, Monroe encontrou o "Deus" de seu paraíso. Este evento, diz ele, pode ocorrer em qualquer lugar no "local II". "No meio da atividade normal, onde quer que esteja, há um Sinal distante, quase como trombetas heráldicas. Todo mundo entende o Sinal calmamente, e com isso, todos param de falar ou o que quer que se esteja fazendo. É o Sinal de que Ele (ou Eles) está vindo através de Seu reino.

       "Não há nenhuma prostração aterradora ou seres caindo de joelhos. Em vez disso, a atitude é mais importante. É uma ocorrência à qual todos estão acostumados e cumpri-la tem prioridade absoluta sobre tudo. Não há exceções".

       No Sinal, cada ser humano se deita ... com a cabeça virada para um lado para que não o vejamos enquanto Ele passa. O propósito parece ser formar uma estrada viva sobre a qual Ele possa percorrer... Não há movimento, nem mesmo pensamento, enquanto Ele passa...

       "Nas diversas ocasiões em que presenciei isso, deitei-me junto com os outros. Na hora, o pensamento de agir contrariamente era inconcebível. À medida que Ele passa, ouve-se um trovejante som musical e uma sensação de radiante e irresistível força de extremo poder, que chega ao ápice nas nossas cabeças e desaparece à distância... É uma ação tão habitual como o parar do semáforo em um cruzamento ocupado, ou esperar no cruzamento ferroviário quando o sinal indica que o trem está chegando; você não está preocupado E ainda sinto o respeito tácito pelo poder representado no trem de passagem. O evento também é impessoal.

"Será isso Deus? Ou o filho Dele? Ou Seu representante?" (p. 122-3).

       Seria difícil encontrar, na literatura ocultista, um relato mais vívido do culto de satã em seu próprio reino por seus escravos impessoais. Em outro lugar, Monroe escreve seu próprio relacionamento com o príncipe do reino em que ele penetrou. Certa noite, alguns anos após o início de suas jornadas "fora do corpo", sentiu-se banhado pelo mesmo tipo de luz que acompanhou o início dessas experiências, e sentiu a presença de uma força pessoal muito forte, inteligente, que o deixou impotente e sem vontade própria. "Eu tive a nítida impressão de que eu estava indissoluvelmente ligado a essa força-inteligência por lealdade, que sempre estivera, e que eu tinha missão a cumprir aqui na terra." (p. 260-261).  Em outra experiência semelhante com essa força ou "entidade" invisível várias semanas depois, aquilo (ou eles) parecia entrar e "buscar" em sua mente, e então, "eles pareciam se aproximar do céu, enquanto eu os chamava, implorando. Então eu tinha certeza de que sua mentalidade e inteligência estavam muito além do meu entendimento. É uma inteligência impessoal e fria, sem nenhuma das emoções de amor ou compaixão que respeitamos tanto ... Sentei-me e chorei, grandes soluços profundos, como nunca tinha chorado antes, porque então eu sabia sem qualificação ou futura esperança de mudança que o deus da minha infância, das igrejas, da religião em todo o mundo não era como adorávamos que ele fosse - que, pelo resto da minha vida, eu "sofrerei" a perda dessa ilusão" (p.226). Dificilmente alguém poderia imaginar uma melhor descrição do encontro com o diabo que tantos dos nossos contemporâneos ingênuos estão agora passando, incapazes de resistirem por causa de seu afastamento do verdadeiro Cristianismo.

       O valor do testemunho de Monroe sobre a natureza e os seres do "plano astral" é importante. Embora ele próprio tenha se envolvido profundamente e realmente tenha entregue e submetido sua alma aos espíritos caídos, ele descreveu suas experiências em uma linguagem direta, não oculta e de um ponto de vista humano relativamente normal que faz do seu livro uma advertência persuasiva contra "experimentos" neste reino. Aqueles que conhecem o ensinamento cristão ortodoxo do mundo aéreo, bem como do verdadeiro céu e inferno que estão fora dele, só poderão convencer-se ainda mais da realidade dos espíritos caídos e do seu reino, bem como do grande perigo de contactá-los, mesmo através de uma abordagem aparentemente "científica". Como observadores cristãos ortodoxos, não precisamos saber quanto dessa experiência foi "real" e quanto foi resultado de espetáculos e ilusões projetados para ele pelos espíritos caídos; o engano faz tanto parte do reino aéreo que não faz sentido nem tentar desvendar suas formas precisas. Mas o que ele encontrou, o domínio dos espíritos caídos, não se pode duvidar.

       O "plano astral" também pode ser contactado (mas não necessariamente em um estado "fora do corpo") através do uso de certas drogas. Experimentos recentes na administração de LSD em pessoas moribundas produziram experiências muito convincentes de "quase-morte", juntamente com uma "retrospectiva condensada" de toda a vida, visão de luz cegante, encontros com os "mortos" e com "seres espirituais" não-humanos e a comunicação de mensagens espirituais sobre as verdades da "religião cósmica", "reencarnação" e similares. Dra. Kubler-Ross também esteve envolvida nestas experiências.

       É sabido que os xamãs de tribos primitivas entram em contato com o mundo aéreo dos espíritos caídos em estados "fora do corpo", e uma vez "iniciados" nesta experiência podem visitar o "mundo dos espíritos" e comunicar com seus seres.

    A mesma experiência era comum entre os iniciados dos "mistérios" do antigo mundo pagão. Na vida de São Cipriano e Justina (2 de outubro), temos o testemunho de primeira mão de um ex-feiticeiro sobre suas experiências neste reino:

    "No Monte Olimpo Cipriano estudou todas as formas de artes diabólicas: dominou várias transformações demoníacas, aprendeu a mudar a natureza do ar ... Neste lugar, viu uma infinita legião de demônios, com o príncipe das trevas como líder; alguns ficaram diante dele, outros o serviram, outros clamavam louvores ao seu príncipe, e alguns eram enviados ao mundo para corromper as pessoas. Aqui, ele também viu em suas formas falsas os deuses e deusas pagãs, e também fantasmas e espectros diversos, cuja invocação ele aprendeu com um rigoroso jejum de quarenta dias....Assim, ele se tornou um feiticeiro, mago e destruidor de almas, um grande amigo e escravo fiel do príncipe do inferno, com quem ele conversou cara a cara, tendo recebido dele grande honra, como ele próprio testificou. 'Acredite-me', ele disse, 'eu vi o próprio príncipe das trevas... eu o cumprimentei e seus anciãos ... ele prometeu fazer-me um príncipe depois da minha partida do corpo e durante minha vida terrena me ajudar em tudo ... A aparência externa do príncipe das trevas era como uma flor. Sua cabeça estava coberta por uma coroa (não real, mas fantasmagórica) feita de ouro e pedras brilhantes, o que fazia o espaço inteiro iluminado ao seu redor; e sua roupa era surpreendente. Quando ele se voltava para um lado ou outro, todo aquele lugar tremia, uma multidão de espíritos malignos de vários graus obedientemente se posicionavam a este trono. Eu me entreguei inteiramente ao seu serviço naquele tempo, obedecendo a cada um de seus comandos" (The Orthodox Word 1976, n. ° 70, pp. 136-138).

       São Cipriano não afirma explicitamente que ele teve essas experiências fora do corpo; de fato, parece que feiticeiros e adeptos mais avançados não precisam deixar o corpo para conseguir contato pleno com o reino aéreo. Swedenborg, mesmo descrevendo suas próprias experiências "fora do corpo", afirmava que a maior parte de seu contato com espíritos se dava, pelo contrário, no corpo, mas com suas "portas de percepção" abertas (Heaven and Hell, seções 440-442). Ainda assim, as características desse reino, e as "aventuras" de alguém ali, são iguais, seja "dentro" ou "fora" do corpo.

       Um dos famosos feiticeiros pagãos da antiguidade (século II), ao descrever sua iniciação nos mistérios de Isis, nos dá um exemplo clássico de experiência "fora do corpo", o contato com o reino aéreo, que poderia ser usado para descrever algumas das experiências "fora do corpo" e "pós-morte" de hoje:

       "Eu vou registrar (de minha iniciação) tanto quanto eu possa registrar licitamente para os não iniciados, mas apenas na condição de que você acredite. Eu me aproximei dos próprios portões da morte e pus um pé no limiar de Prosérpina, ainda assim fui autorizado a retornar, extasiado por todos elementos. À meia-noite, o sol brilhava como se fosse o meio-dia. Eu entrei na presença dos deuses do submundo e dos deuses do mundo superior, chegando perto e adorei-os. Bem, agora você já ouviu o que aconteceu, mas temo que você ainda esteja confuso."


Conclusão sobre o Reino "Fora do Corpo"

       Tudo o que foi dito aqui sobre experiências "fora do corpo" é suficiente para colocar as experiências de "pós-morte" contemporâneas em sua perspectiva adequada. Deixe-nos resumir o que encontramos:

1. Essas são, pura e simplesmente, experiências "fora do corpo", algo bem conhecido, especialmente na literatura ocultista que tem ocorrido com crescente frequência nos últimos anos em pessoas comuns que não estão envolvidas no ocultismo. Essas experiências, no entanto, na verdade, não nos dizem quase nada do que acontece com a alma após a morte, exceto que você sobrevive e é consciente.

2. O reino em que a alma entra imediatamente quando sai do corpo e começa a perder contato com o que conhecemos como "realidade material" (seja após a morte ou em uma simples experiência "fora do corpo") não é nem o céu nem o inferno, mas um reino invisível próximo da terra, que é chamado de variadas formas  "plano pós-morte" ou "plano bardo" (livro tibetano dos mortos), o "mundo dos espíritos" (Swedenborg e no espiritismo), o "plano astral" (teosofia e a maior parte do ocultismo), "local II" (Monroe) - ou, na língua Ortodoxa, o mundo aéreo do sub-céu onde os espíritos caídos habitam e ativamente enganam os homens para sua danação. Este não é o "outro mundo" que espera o homem após a morte, mas apenas a parte invisível deste mundo que o homem deve passar para alcançar o verdadeiro "outro" mundo do céu ou do inferno. Para aqueles que realmente morreram e estão sendo conduzidos por anjos da vida terrena, este é o reino onde o Juízo Particular começa nos "telônios" aéreos, onde os espíritos do ar revelam sua natureza real e sua hostilidade para com a humanidade; para todos os outros, é um domínio de engano demoníaco nas mãos desses mesmos espíritos.

3. Os seres contatados neste reino são sempre (ou quase sempre) demônios, sejam eles invocados por mediunismo ou outras práticas ocultas, ou encontrados em experiências "fora do corpo". Não são anjos, pois estes habitam no céu e somente passam através deste reino como mensageiros de Deus. Não são as almas dos mortos, pois essas habitam no céu ou no inferno e só passam por esse reino imediatamente após a morte no caminho do julgamento por suas ações nesta vida. Mesmo os mais experientes nas experiências "fora do corpo" não podem permanecer nesse reino por muito tempo sem o risco de separação permanente do corpo (morte), e mesmo na literatura ocultista, raramente é descrito adeptos se encontrando.

4. Não deve-se confiar nas experiências neste reino, e certamente não devem ser tomadas como verdadeiras por aquilo que aparentam ser. Mesmo aqueles com uma base sólida no ensinamento Cristão Ortodoxo podem ser facilmente enganado pelos espíritos caídos do ar em relação a qualquer visão que possam ter; mas aqueles que entram neste reino sem conhecimento disso e aceitam suas "revelações" com confiança não são mais do que vítimas lamentáveis dos espíritos caídos. Pode ser questionado: o que dizer das sensações de "paz" e "agradabilidade" que parecem ser quase universais no estado "fora do corpo"? E a visão da "luz" que tantos enxergam? São enganos também?

    Em certo sentido, talvez, essas experiências são "naturais" para a alma quando separada do corpo. Nossos corpos físicos neste mundo caído são corpos de dor, corrupção e morte. Quando separada deste corpo, a alma imediatamente se encontra em um estado mais "natural", mais próxima do estado que Deus intenciona para ela; pois o "corpo espiritual" ressuscitado no qual o homem habitará no Reino dos Céus tem mais em comum com a alma do que com o corpo que conhecemos na terra. Até mesmo o corpo com o qual Adão foi criado no início tinha uma natureza diferente do corpo após a queda de Adão, sendo mais refinado e não sujeito a dores ou sofrimentos. 

       Nesse sentido, a "paz" e a "agradabilidade" da experiência fora do corpo podem ser consideradas reais e não um engano. O engano entra em jogo, no entanto, no instante em que se começa a interpretar essas sensações "naturais" como algo "espiritual" - como se essa paz fosse a verdadeira paz de reconciliação com Deus, e essa "agradabilidade" como se fosse o verdadeiro deleite espiritual do céu. Assim, de fato, é como as pessoas podem interpretar suas experiências de "fora do corpo" e "pós-morte", devido a falta de verdadeira experiência e consciência espiritual. Que isto é um erro pode ser visto pelo fato de que mesmo os mais rudes incrédulos têm a mesma experiência de agradabilidade quando "morrem". Nós já vimos isso em um capítulo anterior no caso dos hindus, de um ateu e de um suicídio. Outro exemplo impressionante é o do romancista britânico agnóstico, Somerset Maugham, que, quando teve uma breve experiência de "morte", antes da morte real aos 80 anos de idade, experimentou primeiramente uma luz cada vez maior e "então a sensação mais intensa de libertação", como descreveu em suas próprias palavras (veja Allen Spreggett, The Case for Immortality, 1974, página 73). Esta experiência não foi nem um pouco espiritual; foi mais uma experiência "natural" em uma vida que terminou em descrença.

    Como uma experiência sensível ou "natural", portanto, parece que a morte é de fato agradável. Essa agradabilidade pode ser experimentada igualmente por alguém cuja consciência está limpa diante de Deus, e por alguém que não acredita profundamente em Deus ou na vida eterna e, portanto, não tem consciência de como ele pode ter desagradado a Deus durante a vida. Uma "morte ruim" é vivida, como um escritor disse bem, apenas por "aqueles que sabem que Deus existe e, no entanto, viveram suas vidas como se não Ele não existisse" - ou seja, aqueles cujas consciências os atormentam e que contrapõem sua dor com o "prazer" natural da morte física. A distinção entre crentes e incrédulos ocorre, assim, não no momento da própria morte, mas depois, no Juízo Particular. A "agradabilidade" da morte pode ser real o suficiente, mas não tem conexão necessária com o destino eterno da alma, que pode muito bem ser um destino de tormento.

     Isso ainda mais é verdadeiro em relação à visão de "luz". Esta também pode ser algo simplesmente natural - um reflexo do verdadeiro estado de luz para o qual o homem foi criado. Se assim for, é um grave erro dar o significado "espiritual" que o espiritualmente inexperiente invariavelmente dá. A literatura ascética Ortodoxa é cheia de advertências quanto a confiança em qualquer tipo de "luz" que possa aparecer; e quando alguém começa a interpretar tal luz como um "anjo" ou mesmo como "Cristo", fica claro que esse já caiu em engano, tecendo uma "realidade" a partir da própria imaginação, mesmo antes dos espíritos caídos começarem seu próprio trabalho de engano.

       Também é "natural" para a alma, separada do corpo, ter uma consciência aumentada da realidade e exercer o que agora é chamado de "percepção extra-sensorial" (PES). É um fato óbvio, observado tanto na literatura Ortodoxa como nas investigações científicas modernas, de que a alma logo após a "morte" (e até antes da morte) vê coisas que aqueles que estão ali presentes não vêem; sabe quando alguém está morrendo à distância, etc. Um reflexo disso pode ser observado na experiência que o Dr. Moody chama de "visão do conhecimento", quando a alma parece ter uma "iluminação" e ver "todo o conhecimento" diante dela (Reflection on Life after Life, p. 9-14). São Bonifácio descreve a experiência imediata pós-morte do "monge de Wenlock", assim: "Ele sentiu-se como um homem que via e estava bem acordado, cujos olhos tinham sido velados por uma cobertura densa e, de repente, o véu foi removido e tudo aquilo que antes era invisível, velado e desconhecido ficou claro. Assim, com ele, quando o véu da carne foi posto de lado, todo o universo pareceu reunir-se diante de seus olhos de modo que viu todas as partes da terra, todos os mares e povos "(Emerton, Letters of St. Boniface , p. 25).

       Algumas almas parecem ser naturalmente sensíveis a experiências semelhantes, mesmo quando ainda estão no corpo. São Gregório, o Grande, observa que "às vezes é através de um poder sutil próprio que as almas podem prever o futuro", em contraste àqueles que preveem o futuro pela revelação de Deus (Dialogues, IV, 27, p.219). Mas tais "psíquicos" invariavelmente caem em engano quando começam a interpretar ou desenvolver esse talento, que pode ser usado corretamente apenas por pessoas de grande santidade e (claro) de crença Ortodoxa. O "psíquico" americano Edgar Cayce é um bom exemplo do perigo da "PES": uma vez que descobriu que ele possuía um talento em dar diagnóstico médico preciso em um estado de transe, ele começou a confiar em todas as mensagens recebidas neste estado e acabou considerando-se um profeta do futuro (às vezes com erros espetaculares, como em relação a um cataclismo da costa oeste que não ocorreu em 1969), oferecendo leituras astrológicas e rastreando as "vidas passadas" dos homens em "Atlântida", no Antigo Egito e em outros lugares.

       As experiências "naturais" da alma quando é sensível (em especial) ou separada do corpo - sejam elas experiências de "paz" e agradabilidade, luz ou "PES" - são, portanto, apenas a "matéria-prima" da consciência aumentada da alma; tais experiências nos dão (devemos dizer novamente) poucas informações positivas sobre o estado da alma pós-morte, e muitas vezes conduzem a interpretações infundadas do "outro mundo", bem como ao contato direto com os espíritos caídos (cujo reino é este). Tais experiências são todas do mundo "astral" e não têm em si mesmas nada espiritual ou celestial; mesmo quando a experiência em si é real, as interpretações que lhe são dadas não são confiáveis.

5. Pela própria natureza das coisas, um conhecimento verdadeiro do reino aéreo dos espíritos e suas manifestações não pode ser adquirido apenas pela experiência. O ostentamento de todos os ramos do ocultismo de que seu conhecimento é certo porque se baseia na "experiência" é precisamente o defeito fatal de todo o "conhecimento" oculto. Em vez disso, as experiências deste reino, por ocorrerem no reino aéreo e por muitas vezes serem produzidas por demônios com a intenção de enganar e destruir as almas dos homens, são, por sua própria natureza, ligadas a delusão, além do fato de que o homem, não estando em casa neste reino, nunca pode se orientar completamente nele e ter certeza de sua realidade como pode ter do domínio material. A doutrina budista (expressa no livro tibetano dos mortos) é certamente correta quando fala da natureza ilusória das aparências do "plano bardo"; mas é incorreta quando conclui disto, com base apenas na experiência, que não há uma realidade objetiva por trás dessas aparências. A realidade deste reino invisível não pode ser conhecida por aquilo que realmente é, a menos que isso seja revelado por uma fonte superior e exterior a ela.

       A abordagem contemporânea deste reino por meio da experimentação pessoal e / ou "científica" está, pela mesma razão, sujeita a resultar em conclusões enganosas e ilusórias. Quase todos os pesquisadores contemporâneos aceitam ou, pelo menos, são bastante simpáticos ao ensinamento ocultista em relação a esse reino pela única razão de que este é baseado na experiência, que também é a base da ciência. Mas a "experiência" no mundo material é algo bastante diferente da "experiência" no reino aéreo. A matéria-prima que está sendo experimentada e estudada em um caso é moralmente "neutra", e pode ser estudada objetivamente e verificada por outros; mas, no outro caso, a "matéria-prima" é oculta, dificilmente compreensível e, em alguns casos, tem "vontade própria" - a vontade de enganar o observador. Por esse motivo, investigações sérias como essas do Dr. Moody, Dr. Crookall, Drs. Osis e Haraldsson, e da Dra. Kubler-Ross quase inevitavelmente acabam sendo usadas para espalhar idéias ocultas, que são as idéias "naturais" a serem extraídas de um estudo do reino oculto aéreo. Somente com a idéia (que se tornou rara hoje) de que existe uma verdade revelada que está acima de toda a experiência, esse reino oculto pode ser iluminado, sua verdadeira natureza reconhecida e ser feito um discernimento entre esse reino inferior e o reino superior do céu.

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       Foi necessário dedicar este longo capítulo às experiências "fora do corpo", a fim de definir com a maior precisão possível a natureza das experiências a que um grande número de pessoas comuns estão sendo submetidas, não apenas médiuns e ocultistas. (Na conclusão deste livro, tentaremos explicar por que essas experiências se tornaram tão comuns hoje). É bastante claro que essas experiências são reais e não podem ser descartadas como "alucinações". Mas é igualmente claro que essas experiências não são espirituais, e as tentativas - daqueles que se submeteram - de interpretá-las como "experiências espirituais" que revelam a verdadeira natureza da vida após a morte e o estado último da alma - apenas servem para aumentar a confusão espiritual da humanidade contemporânea e revelar quão distante encontra-se da compreensão do verdadeiro conhecimento e experiência espiritual.

       A fim de entender melhor, passamos agora a um exame de vários casos de experiências verdadeiras do outro mundo - o mundo eterno do céu que somente é aberto ao homem pela vontade de Deus, e que é bastante distinto do reino aéreo que estamos examinando aqui, que ainda faz parte deste mundo que terá um fim.


Uma nota sobre "reencarnação"

     Entre as idéias ocultistas que agora estão sendo amplamente debatidas e às vezes aceitas por aqueles que têm experiências "fora do corpo" e "pós-morte", e até mesmo por alguns cientistas, é a idéia da reencarnação: a alma após a morte não passa pelo Juízo Particular e então habita no céu ou no inferno esperando a ressurreição do corpo e o Juízo Final, mas (evidentemente após uma permanência mais longa ou mais curta no "plano astral") volta à terra e ocupa um novo corpo, seja de um animal ou de outro homem.

     Essa idéia era muito difundida na antiguidade pagã no ocidente, antes de ser substituída por idéias cristãs; mas a sua disseminação hoje se dá em grande parte devido à fluência do hinduísmo e do budismo, onde é comumente aceita. Hoje a idéia é geralmente "humanizada," na qual as pessoas assumem que eram homens em suas "vidas anteriores", ao passo que a idéia mais comum entre hindus e budistas e entre os antigos gregos e romanos é que era bastante raro conseguir "encarnar" como homem e que a maioria das "encarnações" de hoje aconteceriam em animais, insetos e até plantas.

    Aqueles que acreditam nessa idéia dizem que ela explica todas as "injustiças" da vida terrena, bem como as fobias aparentemente inexplicáveis: se alguém nascer cego ou em condições de pobreza, isso é como uma recompensa justa devido as próprias ações desse alguém numa "vida anterior" (ou, como dizem os hindus e os budistas, devido ao "mau karma"); se tem medo da água, é porque tal pessoa se afogou em uma "existência anterior".

     Os que acreditam na reencarnação não possuem uma filosofia muito profunda sobre a origem e o destino da alma, nem quaisquer provas convincentes para sustentar sua teoria; suas atrações principais são superficiais: aparentemente proporcionam "justiça" na terra, explicam alguns mistérios psíquicos e fornecem alguma aparência de "imortalidade" para aqueles que não aceitam isso por motivos cristãos.

    Em uma reflexão mais profunda, no entanto, a teoria da reencarnação não oferece nenhuma explicação real das injustiças: se alguém sofre nesta vida por pecados e erros de uma vida que não pode lembrar, e pela qual (se caso "anteriormente" tenha sido um animal) nem sequer pode ser considerado responsável e se (de acordo com o ensinamento budista) não há nem mesmo um "eu" que sobrevive de uma "encarnação" para a próxima, e os erros passados foram literalmente de outra pessoa - então não há uma justiça reconhecível, mas apenas um sofrimento cego de males cuja origem não deve ser traçada. O ensinamento cristão da queda de Adão, que é a origem de todos os males do mundo, oferece uma explicação bem melhor das injustiças no mundo; e a revelação cristã da perfeita justiça de Deus em Seu julgamento dos homens para uma vida eterna no céu ou no inferno torna desnecessária e banal a idéia de alcançar a "justiça" através de "encarnações" sucessivas neste mundo.

    Nas últimas décadas, a idéia de reencarnação alcançou uma notável popularidade no mundo ocidental, e houve numerosos casos que sugerem a "lembrança" de "vidas passadas"; muitas pessoas também retornam de experiências "fora do corpo" acreditando que essas experiências sugerem ou insinuam a idéia de reencarnação. O que devemos pensar nesses casos?

   Muito poucos desses casos, deve-se salientar, oferece uma "prova" que é mais do que vagamente circunstancial, e poderia ser facilmente ser o produto da simples imaginação: uma criança nasce com uma marca no pescoço e, posteriormente, "lembra" que foi enforcada como um ladrão de cavalos em uma "vida anterior"; uma pessoa tem medo de altura, e depois "lembra" de que morreu caindo em sua vida "passada"; e assim por diante. A tendência humana natural de fantasiar torna tais casos inúteis como "prova" da reencarnação.

   Em muitos casos, no entanto, tais "vidas anteriores" foram descobertas por uma técnica hipnótica conhecida como "hipnose regressiva", que em muitos casos mostrou resultados impressionantes de recordação de eventos há muito tempo esquecidos pela mente consciente, até mesmo da infância. O hipnotizador traz a pessoa "de volta" a infância, e depois pergunta: "E antes disso?" Muitas vezes, em tais casos, a pessoa "lembrará" de sua "morte" ou mesmo de uma vida inteira diferente; o que devemos pensar de tais memórias?

     Os próprios hipnotizadores bem treinados admitirão as armadilhas da "hipnose regressiva". Dr. Arthur C. Hastings, um especialista da Califórnia em psicologia da comunicação, observa que "a coisa mais óbvia que acontece sob a hipnose é que a pessoa é extremamente aberta para qualquer sugestão sutil, inconsciente, não verbal, bem como verbais do hipnotizador e são extremamente obedientes. Se você sugerir que viram um OVNI, eles dirão que viram um OVNI". Um hipnotizador de Chicago, Dr. Larry Garret, que fez por volta de 500 regressões hipnóticas, observa que essas regressões são muitas vezes imprecisas mesmo quando são apenas uma questão de lembrar de um evento passado nesta vida: "Muitas vezes as pessoas fabricam coisas, devido a desejos, fantasias, sonhos, coisas do tipo... Qualquer um que faça hipnose e qualquer tipo de regressão sabe que muitas vezes as pessoas têm uma imaginação tão vívida que se sentarão lá e criarão todos os tipos de coisas apenas para agradar o hipnotizador" (The Edge of Reality, p. 91 -92).

   Outro pesquisador sobre esta questão escreve: "Este método é repleto de perigos, cujo o principal é a tendência da mente inconsciente em direção à fantasia dramática. O que surge na hipnose pode ser, de fato, um sonho que diz respeito ao tipo de existência anterior que o sujeito gostaria ter vivido ou acreditado, corretamente ou incorretamente, que ele tivesse vivido... Um psicólogo instruiu uma série de sujeitos hipnotizados a se lembrarem de uma existência anterior, e eles fizeram, sem exceção. Alguns desses relatos estavam repletos de detalhes e pareciam convincentes... Entretanto, quando o psicólogo os re-hipnotizou, eles conseguiram, em trance, rastrear todos os elementos das existências anteriores para alguma fonte comum - uma pessoa que conheceram na infância, cenas de livros que leram ou filmes que haviam visto anos antes, e assim por diante".

      Mas o que dizer sobre esses casos, divulgados amplamente, onde há "prova objetiva" da "vida anterior" - quando uma pessoa "lembra" detalhes de tempo e lugares que ela não poderia ter conhecido por si mesma e os quais podem ser verificado por documentos históricos?

     Tais casos parecem muito convincentes para aqueles que já estão inclinados a acreditar na reencarnação; mas esse tipo de "prova" não é diferente da informação padrão fornecida pelos "espíritos" nas sessões (que também pode ser muito impressionante), e não há motivo para supor que a fonte seja diferente. Se os "espíritos" nas sessões são claramente demônios, então a informação sobre as "vidas anteriores" de alguém também pode ser fornecida por demônios. O objetivo em ambos os casos é o mesmo: confundir os homens com uma exibição deslumbrante do conhecimento aparentemente "sobrenatural" e, assim, enganá-los sobre a verdadeira natureza da vida após a morte e deixá-los espiritualmente despreparados para isso.

      Mesmo os ocultistas que são favoráveis em geral à idéia de reencarnação admitem que a "prova" para a reencarnação pode ser interpretada de várias maneiras. Um popularizador americano de ideias ocultistas acredita que "a maioria dos casos de relatos que dão evidências de reencarnação poderiam ser casos de possessão". "Possessão", de acordo com tais ocultistas, ocorre quando uma pessoa "morta" toma posse de um corpo vivo e a personalidade e a identidade deste parece mudar, causando a impressão de que alguém está sendo dominado pelas características da "vida passada". Esses seres que "possuem" homens, claro, são demônios, não importa o quanto possam disfarçar como sendo as almas dos mortos. O recente famoso livro Twenty Cases Suggestive of Reincarnation do Dr. Ian Stevenson parece, de fato, ser uma coleção de casos de tais "possessões".

     A Igreja cristã primitiva lutou contra a idéia de reencarnação, que entrou no mundo cristão através de ensinamentos orientais, como os dos maniqueus. O ensinamento falso de Orígenes da "pré-existência das almas" estava intimamente relacionado com esses ensinamentos, e no Quinto Concílio Ecumênico em Constantinopla em 553 foi firmemente condenado e seus seguidores anatematizados. Muitos Pais da Igreja escreveram contra ele, nomeadamente São Ambrósio de Milão no ocidente (Sobre a Crença na Ressurreição, Livro II), São Gregório de Nissa no oriente (Sobre a Alma e a Ressurreição) e outros.

     Para cristão ortodoxo de hoje que é seduzido por essa idéia, ou que se pergunta sobre a suposta "prova", talvez seja suficiente refletir sobre três dogmas cristãos básicos que refutam conclusivamente a própria possibilidade de reencarnação.

1. A ressurreição do corpo. Cristo ressuscitou dentre os mortos no mesmo corpo no qual morreu a morte de todos os homens e tornou-se o primeiro de todos os homens, cujos corpos também serão ressuscitados no último dia e que serão reunidos com suas almas para viverem eternamente no céu ou inferno, de acordo com o juízo justo de Deus de suas vidas na terra. Este corpo ressuscitado, como o do próprio Cristo, será diferente de nossos corpos terrestres, porque será mais refinado e mais similar a natureza angélica, sem o qual não poderíamos habitar no Reino dos Céus, onde não há morte ou corrupção; mas ainda será o mesmo corpo, milagrosamente restaurado e criado por Deus para a vida eterna, como Ezequiel viu em sua visão dos "ossos secos" (Eze. 37: 1-14). No céu, os redimidos se reconhecerão mutuamente. O corpo é, portanto, uma parte inalienável de toda a pessoa que viverá para sempre, e a idéia de muitos corpos pertencentes à mesma pessoa nega a própria natureza do Reino dos Céus que Deus preparou para aqueles que o amam.

2. Nossa redenção por Jesus Cristo. Deus assumiu a carne e, por da Sua vida, sofrimento e a morte na Cruz redimiu-nos do domínio do pecado e da morte. Através de Sua Igreja, somos salvos e preparados para o Reino dos Céus, sem "penalidade" para pagar por nossas transgressões passadas. Mas de acordo com a idéia de reencarnação, se alguém é "salvo", é somente depois de muitas vidas lidando com as conseqüências de seus pecados. Isto é o legalismo frio e lúgubre das religiões pagãs que foi totalmente abolido pelo sacrifício de Cristo na Cruz; o ladrão ao seu lado recebeu a salvação em um instante por sua fé no Filho de Deus, o "mau karma" de suas más ações foi eliminado pela graça de Deus.

3. O Juízo. Está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo (Heb. 9:27). A vida humana é um período limitado único de provação, após o qual não há "segunda chance", mas apenas o julgamento de Deus (que é justo e misericordioso) do homem de acordo com o estado de sua alma quando esta vida chega ao fim.

       Nestas três doutrinas, a revelação cristã é bastante precisa e definida, em contraste com as religiões pagãs que não acreditam na ressurreição ou na redenção, e são vagas quanto ao julgamento e à vida futura. A única resposta a todas as supostas experiências ou lembranças de "vidas anteriores" é precisamente o ensinamento claro do cristianismo sobre a natureza da vida humana e o relacionamento de Deus com os homens.


Pe. Serafim Rose em seu livro The Soul After Death 

Nota do blog skemmata: para todos aqueles que nos citam ao republicar algum de nossos textos, muito obrigado, para aqueles que não citam, por favor, que façam, porque é o mínimo que se pode fazer para agradecer por aquilo que com tanto esforço e de forma gratuita foi traduzido e publicado em nosso nosso blog.

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