quarta-feira, 8 de março de 2017

A Oração Cristã e as Meditações Orientais (Arquimandrita Sofrônio de Essex)

O caminho de nossos Pais requer uma forte fé e longanimidade, ao passo que nossos contemporâneos tentam adquirir dons espirituais, incluindo até a contemplação direta do Deus Absoluto, através da força em um breve espaço de tempo.

Muitas vezes, pode-se notar neles uma disposição em traçar um paralelo entre a oração do Nome de Jesus e yoga ou "meditação transcendental" e semelhantes.

Penso que é necessário apontar os perigos desta ilusão, o perigo de encarar a oração como um meio "técnico" muito simples e fácil de conduzir à união direta com Deus.

Considero essencial enfatizar a diferença radical entre a Oração de Jesus e todas as outras teorias ascéticas.

São iludidos aqueles que se esforçam mentalmente para se despojar de tudo que é transitório, relativo, a fim de que assim possam atravessar algum limiar invisível, para realizar seu ser "sem começo", sua "identidade" com a Fonte de tudo que é; a fim de retornar a Ele, se imergir Nele, no Absoluto transpessoal sem nome; a fim de - na vasta extensão daquilo que está além do pensamento - unificar a própria individualidade com a forma individualizada da existência natural. Esforços deste tipo permitiram alguns daqueles que se esforçam a elevarem-se, até certo ponto, à contemplação metalógica do ser; a experimentar um certo temor; a conhecer o estado quando a mente é silenciada, quando se vai além dos limites do tempo e espaço. Em semelhantes estados, o homem pode sentir a paz ao livrar-se das manifestações em constante mutação do mundo visível: podem descobrir neles mesmos a liberdade de espírito e contemplar a beleza mental.

O desenvolvimento último desse ascetismo impessoal levou muitos ascetas a perceber a origem divina na própria natureza do homem; a uma tendência à auto-divinização que está na raiz da grande Queda; ao ver no homem uma certa "absolutidade" que, em essência, nada mais é do que o reflexo da Divina Absolutidade na criatura criada à Sua semelhança; a sentir-se atraído para retornar ao estado de paz que o homem conhecia antes de sua aparição neste mundo.

Em alguns casos depois de tais experiências algumas formas de anomalias mentais podem surgir na mente. Não estou me impondo a tarefa de listar todos os tipos de intuição mental, mas direi, por experiência própria, que o Verdadeiro Deus Vivo, o EU SOU, não se encontra aqui. Aqui está o gênio natural do espírito humano em seus impulsos sublimados em direção ao Absoluto.

Toda contemplação alcançada por tal meio é uma contemplação de si mesmo, não uma contemplação de Deus. Nessas circunstâncias, abrimos para nós mesmos a beleza criada, não o Ser Primeiro. E em tudo isso não há salvação para o homem.

A fonte da libertação verdadeira reside na inquestionável aceitação - de todo o coração - da Revelação, "Eu sou o que sou ... Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último." Deus é o Pessoal Absoluto, Trindade Una e Indivisível.

Toda a nossa vida cristã é baseada nesta Revelação. Este Deus nos chamou do não-ser para a vida. O conhecimento deste Deus Vivo e o discernimento da maneira de Sua criação nos liberta da obscuridade de nossas próprias ideias, vindas de baixo, sobre o Absoluto; resgata-nos da nossa atração inconsciente de tudo o que prejudicial para nós mesmos.

Somos criados a fim de ser comunicantes no Ser Divino daquele que realmente é. Cristo indicou este caminho prodigioso: "Porque estreita é a porta e difícil o caminho que conduz à vida."

Apreendendo as profundezas da sabedoria do Criador, embarcamos no sofrimento pelo qual a eternidade Divina é alcançada. E quando Sua Luz brilha para nós, unimos em nós a contemplação dos dois extremos do abismo: de um lado, a escuridão do inferno e, do outro, o triunfo da vitória. Estamos existencialmente introduzidos na província da Vida Divina Incriada.

E o inferno perde poder sobre nós. É-nos dada a graça de viver o estado do Logos encarnado Cristo, que desceu ao inferno como Conquistador. Assim, pelo poder de Seu amor, abraçaremos toda a criação na oração: "Ó Jesus, Gracioso Todo-Poderoso, tem piedade de nós e do Teu mundo".

A Revelação deste Deus Pessoal transmite um caráter maravilhoso a todas as coisas. O Ser não é um processo cósmico determinado, mas a Luz do amor indescritível entre as pessoas Divinas e as criadas. É o movimento livre de espíritos plenos de sabedoria de tudo o que existe, e a consciência de si mesmo.

Sem isso não há sentido em qualquer coisa, mas só morte. Mas nossa oração se torna um contato vivo de nossa pessoa criada e da Pessoa Divina, isto é, algo absoluto.

E isso é expresso quando nos dirigimos ao Verbo do Pai: "Ó Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus Pai, tem piedade de nós. Salva a nós e Teu mundo."

Do livro "On Prayer" pelo Arquimandrita Sofrônio (Sakharov) p.168-170

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