- O texto a seguir faz parte do livreto "Prayer and Departed Saints"-
Este livreto foi escrito pelo professor do Seminário St. Tikhon (EUA), David C. Ford, e é dedicado a discutir e apontar as bases bíblicas da oração pelos mortos. Além de grande clareza, o texto traz um forte caráter catequético.
A Oração Pelos que Partiram
“Papai, o que acontece quando alguém morre?”
Não é uma pergunta fácil de responder - especialmente quando está pergunta foi feita em decorrência da perda de um membro da família, ou de um amigo próximo. Para muitos, não há resposta. A morte é o grande desconhecido, o destruidor, o inimigo invencível, cuja aparência inoportuna, para muitos, assinala apenas a cessação da vida. A Bíblia ensina que a resposta para o mistério da morte é encontrada na vida de Jesus Cristo, o Filho de Deus, e Um da Santíssima Trindade. Através do Seu nascimento, vida, morte e ressurreição, a própria morte foi vencida e o poder da sepultura foi vencido. A morte foi “tragada na vitória” (1 Coríntios 15:54), diz São Paulo. A alegria da vida eterna é oferecida àqueles que vivem n'Ele. Todos os cristãos concordam com essa faceta central da fé. No entanto, existem muitas opiniões divergentes sobre a natureza da vida além do véu. Embora os cristãos não olhem para a morte com a mesma sensação de desesperança e pavor que os “que não têm esperança” (1 Tessalonicenses 4:13), ainda há muitas questões que surgem. Sabemos que em Cristo a morte não é invencível. Mas ainda pode aparecer como um inimigo poderoso e temeroso, cuja presença é cercada pelo mistério e pelo desconhecido. Os cristãos podem perguntar: O que acontece quando um crente morre? Seu espírito vai imediatamente para o céu? As almas dos mortos são conscientes? Eles estão ativamente envolvidos no que está acontecendo ao seu redor? ou permanecem dormindo até o dia da ressurreição? Será que nossos amigos e entes queridos em Cristo se lembram de nós? Eles estão cientes do que está acontecendo aqui na terra? Eles ainda estão envolvidos de alguma forma no nosso dia-a-dia? Os santos do passado - aqueles que viveram vidas especialmente dedicadas ao serviço de Deus - ainda desempenham um papel ativo na Igreja hoje em dia? É possível pedir-lhes que orem por nós e intercedam em nosso favor? Para a Igreja Ortodoxa, questões como as acima não são aspectos periféricos da Fé. As respostas da Igreja a essas perguntas formam a base para elementos importantes de sua adoração e espiritualidade. A preocupação que a Igreja tem por aqueles que partiram em Cristo, flui do amor todo-abrangente e sem fim que ela tem para todos os seus membros, aqueles que ainda estão vivos nesta terra, e aqueles que nos precederam no mundo além. Eu gostaria de abordar dois aspectos dessa importante questão da vida após a morte, de um ponto de vista ortodoxo. Na primeira parte, desejo abordar questões relativas ao estado da alma após a morte e à vida daqueles que morreram em Cristo. Na Parte Dois, vou me concentrar em questões relativas ao nosso relacionamento com os santos no céu e, em particular, a intercessão dos santos. Todas essas questões são aspectos importantes da doutrina frequentemente referida como “a comunhão dos santos”. As práticas Ortodoxas nessa área são frequentemente mal interpretadas. Os protestantes frequentemente temem sua semelhança com as práticas católicas romanas, contra as quais os reformadores reagiram tão fortemente. E os católicos romanos muitas vezes ficam perplexos com as semelhanças e as diferenças que as práticas Ortodoxas parecem ter em comparação com as suas próprias. Vamos dar uma olhada em algumas dessas questões críticas de uma perspectiva Ortodoxa.
Parte I
O ESTADO DA ALMA APÓS A MORTE
A alma, uma vez que deixou o corpo no momento da morte física, permanece atenta e consciente do que está acontecendo ao seu redor?
Quando nos voltamos para as Escrituras, o fato da consciência contínua da alma após a morte é repetidamente confirmada. Tomemos, por exemplo, Hebreus 12: 22-24: “Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel”. As palavras que eu coloquei em itálico nesta passagem, se referem àquelas almas que amam a Deus e passaram desta vida para estarem com Cristo na próxima. Eles fazem parte da Igreja no céu (o que alguns chamariam de “Igreja Triunfante”), vivendo conscientemente com Cristo, embora ainda aguardando Sua Segunda Vinda, quando serão revestidos com seus corpos glorificados na ressurreição dos mortos. Certamente, esta passagem não diria que na adoração da Igreja estamos na presença de anjos, Deus Pai, Jesus e “os espíritos dos justos aperfeiçoados”, se esses espíritos estivessem, de alguma forma, inativos e inconscientes! Esta passagem dos Hebreus não é isolada. Encontramos muitas outras indicações nas Escrituras, de que os espíritos daqueles que morreram estão em alerta e conscientes do que está acontecendo, tanto no céu quanto na terra. Considere, por exemplo, o seguinte:
* As palavras de Jesus em Lucas 20:37, 38, onde Ele declara: “também o mostrou Moisés junto da sarça, quando chama ao Senhor Deus de Abraão, e Deus de Isaque, e Deus de Jacó. - Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele vivem todos."
* A parábola do homem rico e Lázaro (Lucas 16: 19-31), na qual Jesus relata a conversa de Abraão, no Paraíso, com o homem rico falecido cuja alma desceu ao Hades.
* A promessa de Jesus ao ladrão na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:43).
* O Livro do Apocalipse, que nos mostra os santos no céu, antes da Grande Tribulação, sendo muito ativos - caindo sobre seus rostos em adoração diante do trono de Deus, lançando suas coroas ao Rei da Glória, cantando Seus louvores e falando Dele (Apocalipse 4: 4, 10, 11; 5: 8-10, 13; 6: 9-11; 7: 9-12).
* O testemunho pessoal de São Paulo. Quando escreveu aos Filipenses, São Paulo expressou a fé de que estaria vivo com Cristo após a sua morte: “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne”(Filipenses 1:23, 24). Escreveu aos Coríntios da mesma forma: “Estamos confiantes, sim, bem mais satisfeitos em ausentar-nos do corpo e estar presentes com o Senhor” (2 Coríntios 5: 8).
* Os relatos evangélicos da Transfiguração (Mateus 17: 1-9; Marcos 9: 2-10; Lucas 9: 28-36), que demonstram claramente que os fiéis que partiram continuam a viver, pelo fato de que Moisés e Elias lá apareceram e falaram com Jesus!
* Hebreus 12: 1, que nos exorta: “Portanto, nós também, visto que estamos cercados por tão grande nuvem de testemunhas [incluindo os heróis da fé do Antigo Testamento listados no capítulo 11], deixemos de lado todo peso, e o pecado que tão facilmente nos enlaça”. Essas “testemunhas” são os santos de todas as idades, conhecidos e desconhecidos, canonizados e não canonizados. Certamente eles não teriam sido chamados de “testemunhas” se eles estivessem inconscientes de seus arredores.
Os Adventistas do Sétimo Dia e alguns outros grupos protestantes mantêm uma doutrina chamada “sono de alma” - que afirma que após a morte a alma está adormecida, ou de alguma outra forma inconsciente, que não deve ser despertada até que a trombeta anuncie a Segunda Vinda de Cristo. O que dizer sobre isso?
Esse ensinamento é estranho à Ortodoxia cristã histórica e não apareceu até a época da Reforma Protestante. A passagem bíblica chave usada para apoiar esta visão é 1 Tessalonicenses 4: 13-18, onde São Paulo diz que aqueles que "dormem em Jesus" precederão aqueles que ainda estão vivos na terra na ressurreição dos mortos, quando Cristo retornar. Em seu contexto apropriado, no entanto, essa passagem deve ser vista como descrevendo a morte do ponto de vista daqueles deixados para trás, não do ponto de vista dos que partiram. Como diz São Paulo no início destes versos: “Não quero, irmãos, que ignoreis os que dormiram, para que não sofrais como os que não têm esperança” (versículo 13). Para aqueles de nós que permanecem, a morte é um mistério. Para nós, os mortos “dormem”; eles estão em silêncio, imóveis, sem vida. Mas, como já vimos claramente nas Escrituras, eles estão longe de “adormecer” em termos de sua própria consciência e atividade. A essência da questão é esta: Jesus Cristo conquistou a morte. Todos os que vivem n'Ele compartilham desta vitória. Como Ele disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, embora possa morrer, viverá. E quem vive e crê em mim nunca morrerá ”(João 11:25, 26). Assim, para aqueles que estão em Cristo, a morte física causa apenas uma separação física e temporária entre os que já estão com Ele na próxima vida (a Igreja no céu) e os que restam na terra. A morte, no entanto, não causa uma separação espiritual entre os mortos e os vivos, pois Jesus ainda é o Senhor dos dois grupos. Juntos, estes dois grupos, a Igreja no céu e a Igreja na terra (às vezes chamada de “a Igreja militante”), constituem a única Igreja inteira, indivisível, que São Paulo chama de “Seu corpo [de Cristo]” (Efésios 1:22). 23). O amor que une em perfeita unidade esses dois aspectos do Corpo de Cristo prevalece para sempre, pois “o amor nunca falha” (1 Coríntios 13: 8). Como também diz São Paulo: “Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem anjos, nem principados nem poderes, nem o presente, nem o porvir, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa criada poderão nos separar do amor de Deus, que está em Nosso Senhor Jesus Cristo ”(Romanos 8:38, 39).
Que outras evidências existem para apoiar a afirmação de que aqueles que partiram estão conscientes e envolvidos com os assuntos do céu e da terra?
Através dos séculos, uma maneira pela qual a Igreja experimentou essa grande verdade cristã é que, às vezes, pessoas especialmente semelhantes a Cristo, após suas mortes, apareceram para as pessoas que vivem na Terra. Já nos referimos à ocasião em que Pedro, Tiago e João viram e ouviram Moisés e Elias, quando apareceram e conversaram com Cristo no Monte da Transfiguração (Mateus 17: 1-8). Talvez o primeiro testemunho sobre tal acontecimento depois da era apostólica esteja registrado em “O Martírio de Inácio”. Este é um relato de testemunha ocular sobre Santo Inácio, o terceiro bispo de Antioquia, que foi lançado aos leões pelos romanos por volta de 110 dC [1].Os escritores dessa narrativa relatam: “Nós mesmos fomos testemunhas oculares dessas coisas [seu martírio]. . . passamos a noite inteira chorando em casa e tendo suplicado ao Senhor, com os joelhos dobrados e muita oração. . . aconteceu que, ao cairmos em um breve sono, alguns de nós viram o abençoado Inácio, de repente, nos observando e abraçando-nos, enquanto outros o viram rezando por nós, e outros ainda o viram caindo de suor, como se ele tinha acabado de vir de seu grande trabalho, estando junto ao Senhor. Quando, portanto, com grande alegria testemunhamos estas coisas e comparamos nossas diversas visões, cantamos louvores a Deus ”. [2] Um exemplo muito mais contemporâneo desse tipo de evento vem do século XX. São Nektarios, amado bispo de Pentápolis, Egito, e fundador do Convento da Santíssima Trindade, na ilha grega de Egina, morreu em 9 de novembro de 1920, em um hospital de Atenas. Desde então, ele apareceu muitas vezes, seja em sonhos ou visões, enquanto continua seu ministério em seu rebanho terrestre, dando conselhos espirituais e sendo um instrumento do poder de cura de Deus. Como o biógrafo de São Nektarios relata: “Ficou bem conhecido que muitos cristãos Ortodoxos gregos que estavam incuráveis, doentes, sofrendo e próximos da morte, viram um velho monge vivo, de touca, aparecer para eles. Não importa quem eles são, ou de onde eles são, muitas vezes ele foi visto em países distantes, que não a Grécia. Ele sempre sorri suavemente e os consola assegurando-lhes que recuperarão a saúde e não temam, porque Deus não os abandonará. Ele simplesmente os lembra de ter paciência e fé. "E quem é você, meu velho?" muitos perguntam em um momento de espanto. "Eu sou o ex-bispo de Pentápolis, Nektarios de Aegina", o monge responde e depois desaparece.[3]
Por que a Igreja Ortodoxa encoraja seus membros a orarem pelos mortos? Alguns diriam que tal prática é, na melhor das hipóteses, supersticiosa e talvez até herética.
As Escrituras proíbem estritamente qualquer tentativa de convocar os espíritos dos mortos, ou tentar envolvê-los em conversações (ver, por exemplo, Levítico 19:31 e 20: 6, bem como 1 Samuel 28). Mas, sabendo que nossos pais, avós, filhos, irmãos, irmãs e amigos cristãos vivem com Cristo depois que morrem, e lembrando-se da grande união que ainda temos com eles, como membros do Corpo de Cristo, a Igreja nada encontra nas Escrituras que proíba os cristãos de expressar amor e manter um senso de comunhão com aqueles que morreram. E que maneira melhor temos de expressar nosso amor, do que orar por eles? [4] Alguém pode objetar: “Se eles já estão no céu, como podem precisar de nossas orações? Seu destino eterno já está estabelecido!”. Verdade! O destino eterno - se alguém passa a eternidade no céu ou no inferno - é determinado pela forma como alguém acredita e vive nesta vida. A Igreja Ortodoxa não afirma que as orações por alguém que morreu, em oposição a Deus, pode salvar essa alma do inferno, já que as Escrituras ensinam claramente que não há chance de arrependimento após a morte (Lucas 16: 19-31, Hebreus 9:27, etc). Embora, acreditando firmemente nisso, a Igreja ainda ensina que a oração pelos mortos em Cristo é útil para eles. Por quê? Porque, na visão Ortodoxa, a santificação é vista não como uma ocorrência pontual, mas como um processo que nunca termina. Como diz São Paulo: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”(2 Coríntios 3:18). E em 1 Coríntios 1:18, que a versão King James traduz como “Porque a pregação da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.”, no grego original é sozomenois, que significa literalmente :“que está sendo salvo ”. Por essa razão, os cristãos Ortodoxos consideram a própria salvação como um processo dinâmico, um crescimento contínuo em santidade, pureza e proximidade com Deus, que continua até mesmo no céu. Já que somos seres criados, e somente Deus é Incriado, como podemos imaginar que homens e mulheres alguma vez compreenderão completamente a Deus, ou estarão totalmente cheios com Sua Santidade, Sua Vida Incriada? Ele é Amor infinito e Santidade infinita: aqueles com Ele no céu são abençoados para crescer neste Amor e Santidade, infinitamente. Há outro aspecto desse processo contínuo de santificação. Cristãos, de todas as épocas, têm percebido, em sua luta contra os impulsos pecaminosos da carne e as tentações do diabo, que quando cometemos pecados infligimos feridas em nós mesmos: “Porque o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). Naturalmente, a Ortodoxia também considera os pecados como a quebra dos mandamentos de Deus, o que requer arrependimento e perdão. Mas a Igreja percebe, a partir de uma longa experiência pastoral, que o pecado grave aleija e enfraquece nossa alma, distorcendo a imagem de Deus em nós. O pecado pode deixar cicatrizes duradouras, mesmo depois que o perdão de Deus é concedido e aceito. Os efeitos do pecado mantido - o nosso próprio e o dos outros - não desaparecem simplesmente quando aceitamos o perdão de Deus, embora essa remissão da nossa culpa seja certamente o primeiro passo crucial para a cura total. Somente através de uma vida contínua de fé em Cristo, gradualmente nos purificamos e curamos, pela Graça do Espírito Santo, destas feridas do pecado. Isso acontece à medida que gradualmente nos tornamos mais e mais impregnados com a luz e o amor de Deus, assim participando, de maneira mais completa, da natureza divina (2 Pedro 1: 4). Assim como esse processo nunca é completado na vida de qualquer pessoa, enquanto ela estiver na terra - ninguém se torna sem pecado - o entendimento Ortodoxo é de que a santificação continua, de alguma forma, no mundo além - especialmente nos estágios iniciais da próxima vida. A Igreja acredita que nossas orações pelos que partiram podem ajudá-las nesse processo de cura e purificação. Há ainda outra dimensão para essa questão. Não somente nossas orações ajudam os que partiram, mas orar por elas também nos ajuda. Ela (oração) mantém sua lembrança viva em nós, ajudando nossos corações a permanecerem aquecidos e cheios de amor para com eles. Isso nos dá uma maneira de sentir a presença deles, já que a oração é muito mais do que simplesmente fazer pedidos. Ela (a oração) os mantém diante de nossos olhos, como exemplos vivos de fé cristã, que devemos imitar. A oração pelos que partiram, também nos oferece uma outra maneira de nos envolvermos em um incrível privilégio, participando da obra de salvação contínua de Deus, santificação e glorificação de toda alma que Ele atrai para Si (Efésios 6:19; Colossenses 1: 3-12; 1 Tessalonicenses 5:17, 2 Tessalonicenses 1: 11,12). E uma lembrança vívida daqueles que vivem com Cristo no céu, pode nos assegurar mais e mais profundamente que realmente existe vida após a morte, o que pode ajudar a diminuir qualquer medo da morte que possamos ter. Podemos ver, então, que nossas orações pelos que partiram ajudam a preservar e aumentar a unidade entre a Igreja na terra e a Igreja no céu - o que ajuda ambos os aspectos da Igreja. Como o teólogo Ortodoxo britânico, bispo Kallistos Ware, diz: “Assim como os cristãos ortodoxos aqui na Terra oram uns pelos outros e pedem as orações uns dos outros, eles oram também pelos fiéis que partiram e pedem aos fiéis que partiram que orem por eles. A morte não pode cortar o vínculo de amor mútuo que liga os membros da Igreja juntos”.[5]
A Igreja Ortodoxa ensina a doutrina do Purgatório?
Na verdade, os ortodoxos têm lutado fortemente contra essa doutrina católica romana. Esta inovação não foi oficialmente pronunciada até 1274, no Concílio de Lyon, sendo amplamente expandida no Concílio de Florença em 1439. Incluiu a ideia de que os mortos no Purgatório (entendidos como um lugar separado e específico) sofrem punições para expiar por todos os seus pecados cometidos na terra - até mesmo pecados confessados e arrependidos - pelos quais eles não tinham sofrido punição enquanto ainda viviam na terra. A Ortodoxia rejeita firmemente tais ideias. São Marcos, bispo Ortodoxo de Éfeso, declarou, em oposição às visões latinas propostas no Concílio de Florença, que as almas crentes que haviam cometido pecados enquanto estavam na terra “devem ser limpas deste tipo de pecados, mas não por meio de algum purgatório, fogo ou uma punição definida em algum lugar (pois isso, como já dissemos, não nos foi transmitido). [6] Essa purificação pode ser vista como uma espécie de “castigo do Senhor” (Hebreus 12: 5-11), uma experiência adicional do “fogo do ourives” do Senhor (Malaquias 3: 2, 3; 1 Pedro 1: 6, 7; Jó 23:10; Salmo 66:10) que todos os cristãos experimentam repetidamente durante esta vida. Essa depuração/purificação é parte da antecipação da glória e da paz do céu, que as almas justas já desfrutam, enquanto aguardam sua plena glorificação no Reino dos Céus, após o Juízo Final. Este processo de purificação não envolve, de modo algum, sofrer punições por pecados confessados e arrependidos. Para os Ortodoxos, o amor e a misericórdia ilimitados de Deus, tornam essa ideia bastante absurda. Por outro lado, para aqueles que morrem afastados de Deus, a morte física traz um antegozo do inferno, enquanto aguardam o julgamento final na volta de Cristo. Depois do Concílio de Florença, a Igreja latina desenvolveu a idéia ainda mais censurável de que as pessoas na terra poderiam comprar indulgências em favor dos mortos, o que aliviaria ou deteria completamente seu sofrimento expiatório no Purgatório. Foi explicado que as indulgências se baseavam no extra merits dos santos que já estavam no céu - aquelas pessoas excepcionalmente santas, que haviam merecido mérito suficiente para garantir sua própria salvação. Do ponto de vista Ortodoxo, os reformadores protestantes corretamente abominavam e denunciavam essa prática de comprar indulgências baseadas em um suposto “depósito de mérito” dos santos. Além da graça de Cristo, não há como "merecer" a própria salvação, seja pessoalmente, seja pelas boas obras de um santo. Mas, ao pôr fim a essa prática em suas próprias igrejas, os reformadores reagiram exageradamente e abandonaram as práticas antigas e universalmente mantidas de orar pelos que partiram e honrarem os santos. Em seu zelo para corrigir o erro, os reformadores foram longe demais.
Parte II
A INTERCESSÃO DOS SANTOS
Por que a Igreja sustenta certos homens e mulheres como exemplos, e encoraja que honra e respeito especiais sejam dados a eles?
Quando cristãos, particularmente dedicados, demonstram consistentemente ao longo de suas vidas um grande amor por Cristo e seus semelhantes, e quando eles vivem e morrem em uma esperança e alegria extraordinariamente vibrantes nEle, são lembrados com especial fervor por seus companheiros cristãos deixados para trás na Terra. Relatos de suas boas ações, suas palavras sábias e, muitas vezes, eventos milagrosos associados a suas vidas, são espalhados de boca em boca. Milagres ocorrem frequentemente nas sepulturas de tais indivíduos. Um excelente relato bíblico de tal ocorrência pode ser encontrado em 2 Reis 13:20, 21. Aqui, um homem foi ressuscitado simplesmente entrando em contato com os ossos de Eliseu. Além disso, milagres ocorrem frequentemente em relação às posses terrenas dos santos. Nos é dito, no Novo Testamento, que até mesmo os lenços de São Paulo se tornaram instrumentos da cura de Deus (At 19: 11,12). Um exemplo de tal evento nos últimos tempos ocorreu com a morte de São Nektarios. Logo depois da morte de Nektarios, as enfermeiras, trocando as roupas de cama, jogaram sua camiseta de lã sobre o leito de um homem paralisado no mesmo quarto; o inválido foi curado, levantando-se imediatamente e andando pela primeira vez em muitos anos.[7] O conhecimento de tais eventos é ainda mais difundido quando seus relatos são registrados e divulgados. Isso encoraja mais pessoas a pedir por suas intercessões celestes. Assim, a devoção à pessoa se espalha de maneira muito orgânica e espontânea. Tais desenvolvimentos geralmente levam a Igreja a honrar formalmente tais pessoas particularmente santas através do processo de canonização (frequentemente chamado de “glorificação” pelos Ortodoxos). Ao contrário da Igreja Católica Romana, que tem um procedimento muito detalhado, passo a passo, para canonização, a Igreja Ortodoxa simplesmente reconhece oficialmente a devoção popular que espontaneamente rodeou a memória do homem santo, mulher ou criança. [8] Geralmente isso é feito em nível regional ou nacional, onde a consciência da vida do santo tende a ser maior, mas as outras Igrejas Ortodoxas também podem anunciar seu reconhecimento da canonização. Tudo isso é feito para que a piedade popular em torno do santo seja canalizada e protegida sob o manto protetor da Igreja, e para que aqueles que vivem além da área local onde o santo viveu, possam se tornar conscientes dele ou dela.
Que base existe para pedir aos santos que orem por nós?
Como vimos, a Igreja tem em alta estima a memória de cristãos excepcionalmente santos, que durante suas vidas terrenas, muito ajudaram seus irmãos crentes, tanto física como espiritualmente. Portanto, não deve ser surpresa que ela encoraje os fiéis a buscar a intercessão contínua de tais indivíduos após sua passagem para o próximo mundo. Um exemplo de tal apelo está em um hino a São Sérgio de Radonej, um monge muito querido e pai espiritual para muitos na Rússia do século XIV: “O Espírito Santo tomou morada em ti e operando lá te adornou com beleza. Ó, tu que tens ousadia de aproximar-te da Santíssima Trindade, lembra-te do teu rebanho recolhido pela tua sabedoria e nunca o esqueceis, visitando os teus filhos, segundo a tua promessa, ó santo padre Sérgio”. [9] Um apelo semelhante é feito a São Herman, evangelizador Ortodoxo do Alasca no início de 1800: “Tendo um desejo de trazer pessoas incrédulas ao Deus Único, tu fostes todas as coisas a todos os homens: ensinando a Sagrada Escritura e cultivando uma vida de acordo com ela, instruindo no trabalho manual e sendo um intercessor diante das autoridades, cuidando dos homens em tudo, como cuida-se de crianças, para que assim você possa levá-los a Deus; e não nos deixe a nós, que cantamos por ti ”. [10]. Desde que a morte foi derrotada por Cristo, por que tais pessoas não poderiam continuar seu ministério conosco, mesmo depois de terem se unido a Cristo no céu? Um padre Ortodoxo russo no início do século XX, certa vez repreendeu aqueles que não acreditam em uma verdadeira comunhão de oração com os que partiram: “Um punhado de terra e uma lápide tornaram-se obstáculos inconquistáveis para a comunhão com aqueles que partiram do mundo?" [11] Incontáveis cristãos, de todas as terras e idades, deram testemunho sobre receber ajuda de Deus através das orações e ministrações dos santos. Esta é uma forte indicação de que Deus está bem satisfeito com suas orações por nós e por nós para com eles. As Escrituras atestam a santidade de tais orações no livro do Apocalipse: “E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. ”(Apocalipse 5: 8).
Mas a Bíblia não diz: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o Cristo Homem Jesus” (1 Timóteo 2: 5)? Por que precisamos pedir aos santos que orem por nós?
Sim, Cristo Jesus, homem e Deus, é o único que reconciliou a humanidade caída com Deus, o Pai, pela Sua vida, morte e ressurreição reconciliadora e redentora. Mas isso não significa que nunca pediremos aos outros que rezem por nós! Pedimos aos santos que partiram suas orações, da mesma maneira que pedimos aos nossos companheiros cristãos na Terra, que intercedam por nós. Já que os que partiram permanecem vivos em Cristo, por que deixarão de expressar seu amor e preocupação por nós, através da oração? Livres das preocupações da sobrevivência cotidiana na terra, livres das tendências pecaminosas da carne, e muito mais intimamente unidos a Cristo do que nós, os que partiram são capazes de interceder por nós com muito mais frequência e poder, do que os nossos amigos na terra podem orar por nós. Aqueles no céu são capazes de fazer continuamente o que nós na terra tentamos fazer, mas geralmente só conseguimos fazer fracamente e esporadicamente. Não é de admirar, portanto, que os cristãos desde os primeiros dias tenham pedido às pessoas que partiram, que orassem por eles. Isso de modo algum significa que só podemos alcançar Cristo passando pelos santos, como se eles fossem intermediários absolutamente necessários entre nós e Deus. Tal ideia é completamente estranha à Ortodoxia. São Paulo afirma claramente: “Vendo então que temos um grande Sumo Sacerdote que passou pelos céus, Jesus, o Filho de Deus. . . Vamos, pois, corajosamente ao trono da graça, para que obtenhamos misericórdia e encontremos graça para nos ajudar em tempos de necessidade” (Hebreus 4: 14-16). Mas só porque oramos, por nossa conta, diretamente a Deus, não significa que nunca pedimos a outras pessoas por suas orações! De fato, somos mandados muitas vezes nas Escrituras para orar uns pelos outros. São Paulo diz a Timóteo "Portanto, antes de mais nada, exorto as súplicas, as orações, as intercessões e as graças de todos os homens" (1 Timóteo 2: 1; veja também Colossenses 4: 2-4; Efésios 6:18, etc.). E nós somos ensinados por nosso Senhor Jesus, que o poder da oração é maior quanto mais pessoas estão orando juntas: "Também lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céu”(Mateus 18:19). Assim, como nos sentimos confortados e fortalecidos quando pedimos a amigos, familiares e membros da Igreja aqui na Terra, para intercederem por nós em um momento de necessidade, quanto mais podemos nos sentir confortados e fortalecidos quando também pedimos à Igreja no céu por suas orações! (E não devemos deixar de pedir também aos anjos suas orações, pois eles são expressamente enviados para nós como “espíritos ministradores” [Hebreus 1:14; também Salmo 91:11 e Isaías 63: 9]). Pedindo aos santos, tanto os da terra, como os do céu,[12] por suas orações, e pedindo também aos anjos, tudo pode ser entendido simplesmente como reunir a maior quantidade de apoio de oração possível em um momento de necessidade!
Os santos podem responder nossas orações diretamente? Está ao seu alcance para conceder nossos pedidos?
As orações de nossos irmãos e irmãs em Cristo aqui na terra são eficazes apenas na medida em que Deus as responde. É o mesmo com as intercessões dos santos no céu. Eles nunca podem responder às orações por sua própria vontade ou em seu próprio poder; eles só podem suplicar a Cristo em nosso favor. Imaginar que a oração aos santos significa que eles podem conceder nossos pedidos separados de Cristo é uma ideia totalmente inaceitável de acordo com a teologia e prática Ortodoxa. Então, quando oramos aos santos, a compreensão é sempre clara de que estamos pedindo a eles que nos ajudem orando a Deus, e não pelo seu próprio poder ou ações à parte Dele. Por exemplo, um hino a Santa Nina (que, no início do século IV, trouxe a Fé Cristã para a Geórgia, no sul da Eurásia) conclui: “com os anjos tu louvais em canção o Redentor, orando constantemente por nós para que Cristo possa nos conceder a Sua graça e misericórdia ”. [13] Mas quanto à capacidade deles de ouvir nossos pedidos por suas orações, não devemos limitar os poderes da percepção espiritual daqueles que estão agora tão intimamente ligados a Deus. Se nós, na Terra, experimentamos a ajuda do Espírito Santo orando por nós e através de nós (Romanos 8:26, 27), quanto mais a ajuda do Espírito deve estar presente nos santos no céu? E devemos nos lembrar de que no céu, no reino espiritual, não há nenhuma das limitações de tempo, espaço ou mortalidade física, que tanto restringem a nós, que vivemos na terra.
O que significa venerar um santo, e como isso difere de adorar a criatura em vez do Criador - o que a Bíblia proíbe estritamente?
Quando alguém é oficialmente canonizado, a Igreja, em seus serviços de adoração, não ora mais pelo bem-estar de sua alma, mas pede publicamente as orações do santo. Os ícones do santo são feitos, hinos são escritos honrando e lembrando suas boas ações feitas, e pelo menos um dia do ano é designado como um dia de festa para aquele santo, quando seus ícones são exibidos, e hinos escritos para o santo são cantados. Um exemplo de tal hino é o seguinte, honrando a Santa Nina da Geórgia (chamada nos tempos antigos da Ibéria): “Ó, vem e canta a Nina, igual aos apóstolos, a iluminadora piedosa da Ibéria, pois ela baniu a sedução dos ídolos, levando-nos da escuridão para a luz, e nos ensinou a louvar a Trindade, Um em essência. Portanto, todos os fiéis celebram sua memória reverenciada e louvam o nosso Salvador ”.[14] Os hinos, os ícones, os dias de festa são todos aspectos importantes da veneração do santo, indicando profundo respeito e amor pela pessoa, mas de modo algum essas coisas significam que a pessoa está sendo adorada . Adoração, é claro, é devida somente a Deus. E, de fato, toda a veneração expressa a um santo é inteiramente baseada na proximidade dessa pessoa a Cristo. Todo santo tornou-se santo somente pela misericórdia e graça de Deus; é Ele quem é glorificado quando honramos Seus santos. Como o próprio Cristo orou no Jardim do Getsêmani: “E todos os meus são teus, e os teus são meus, e eu sou glorificado neles. . . e a glória que me deste eu lhes dei, para que sejam um, assim como nós somos um ”(João 17:10 e 22; minha ênfase). Outras indicações escriturísticas do amor transbordante de Deus por Seus santos, no qual Sua Igreja busca participar através de sua veneração e orações a elas, são dadas no Salmo 97:10 ("Ele preserva as almas de Seus santos"), Salmo 116: 15 (“Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos”), Salmo 149: 5, 9 (“Que os santos se alegrem com glória ... esta honra tem todos os Seus santos”), Provérbios 2: 8 (“Ele guarda os caminhos da justiça e preserva o caminho de Seus santos”), e Daniel 7:22 (“... até que veio o Ancião dos Dias, e um julgamento foi feito em favor dos santos do Altíssimo e chegou a hora de os santos possuírem o reino”). São Nicolau de Zicha, na Sérvia, que morreu na Pensilvânia em 1956, e que compilou curtos escritos sobre as vidas de santos para todos os dias do ano, descreve desta maneira este precioso relacionamento entre Cristo e Seus santos: “Os santos são um espelho polido, no qual se reflete a beleza, força e majestade de Cristo. Eles são o fruto naquela Árvore da Vida que é Cristo. . . Como o sol entre as estrelas e como um rei entre os seus nobres, assim é Cristo entre os seus santos. Isso funciona em ambas as direções - de Cristo para os santos e deles para Cristo: os santos recebem significado através de Cristo, e Cristo é revelado através dos santos”. [15] Embora pudéssemos dizer que a Igreja está mais plenamente segura da salvação das almas que ela oficialmente canoniza e venera, isso certamente não significa que a salvação e a santidade são limitadas apenas a elas! Assim, é perfeitamente aceitável pedir a outros, além dos santos canonizados, por suas intercessões. No entanto, isso não é feito publicamente nos serviços de adoração da Igreja, mas nas orações particulares de alguém. O bispo Kallistos (Ware) dá um exemplo: “Seria perfeitamente normal que uma criança Ortodoxa, se órfã, terminasse suas orações noturnas pedindo as intercessões não apenas da Mãe de Deus e dos santos, mas de sua própria mãe e pai". [16]
Conclusão
A COMUNHÃO DOS SANTOS
A Divina Liturgia da Igreja Ortodoxa (o culto regular da manhã de domingo e do dia santo, sempre centrado na Sagrada Comunhão) é sempre oferecido de alguma forma para todos os mortos em Cristo. Embora os Ortodoxos nunca ofereçam serviços de adoração em nome de pessoas ou causas específicas, há as seguintes palavras na Liturgia de São João Crisóstomo (o serviço prestado na maioria dos domingos na Igreja Ortodoxa): “E novamente nós oferecemos a Ti este serviço, para todos aqueles que na fé se foram antes de nós e para o seu descanso: patriarcas, profetas, apóstolos, pregadores, evangelistas, mártires, confessores, ascetas, e todo espírito justo aperfeiçoado na fé, e especialmente pela toda santa, imaculada, abençoada e gloriosa senhora nossa, Theotokos e sempre virgem Maria”. Estas palavras afirmam a inefável unidade, que une a Igreja na terra com a Igreja no céu. A Igreja celestial é, seguramente, incluída quando a Igreja na terra se reúne para adorar, como vimos anteriormente, quando citamos Hebreus 12: 22-24 (uma passagem à qual esta citação da Liturgia obviamente se refere). Somos todos verdadeiramente um, em Cristo, através de quem e em quem a morte foi totalmente transcendida. Assim, quando Cristo oferece Seu Corpo e Sangue a nós na Sagrada Eucaristia, Ele o faz não somente para o benefício daqueles membros de Sua Igreja na terra, mas também para aqueles membros de Sua Igreja no céu. Já que nosso Senhor nos ama com muito mais amor do que podemos imaginar, certamente nossos irmãos e irmãs em Cristo, que estão sendo cada vez mais preenchidos do Seu amor, ao permanecer com Ele no céu, também nos amam mais do que imaginamos. Certamente, eles se regozijam em nossas contínuas expressões de amor por eles – em nossas várias lembranças e orações, por eles e para eles. Sem dúvida, no entanto, eles continuam a nos amar e a orar por nós, mesmo quando não nos lembramos deles. Eu, pessoalmente não tive uma visão de um santo ou um anjo (embora eu conheça pessoas que tiveram), mas, tenho certeza, pela experiência contínua, que eles estão sempre por perto. E sei que quanto mais tempo passamos em comunhão de oração com os santos, mais podemos sentir sua presença e sentir seu amor reconfortante. Ignorar a presença contínua, o amor fervoroso e as orações muito eficazes de nossos irmãos e irmãs cristãos, que se afastaram de nós, é uma perda trágica. Não só perdemos todos os benefícios da comunhão- e amizade- no Espírito com eles, mas diminuímos, em vez de aumentar, o grau de unidade que deveria ligar todos os que estão em Cristo, de ambos os lados da morte física. Minha fervorosa oração é que todos nós que cremos em Cristo, procuremos conhecer melhor os santos. E que uma crescente riqueza de comunhão com os Seus santos, nos ajude a aproximar-nos cada vez mais de nosso Senhor Jesus Cristo.
Notas:
1-Antioquia foi o primeiro grande centro cristão após a queda de Jerusalém, em 70 dC; foi aqui que os seguidores de Cristo foram primeiramente chamados de “cristãos” (Atos 11:26).
2-"O Martírio de Inácio", Padres Antenicenos (Grand Rapids, MI: Escrito 3-Eerdmans Publishing Company, 1981), vol. 1, p. 131
3-Sotos Chondropoulos, São Nektarios, um Santo para os nossos tempos (Brookline, MA: Holy Cross Orthodox Press, 1989), p. 277
4-Na verdade, há um claro precedente bíblico para orar pelos mortos. Este é o exemplo de Judas Macabeu, líder da revolta judaica contra o imperador Antíoco Epifânio em 167 aC, que orou e ofereceu uma oferta, pelo pecado de alguns de seus soldados que haviam caído em batalha. O texto diz: "Ao fazer isso, ele agiu muito bem e honrosamente, tendo em conta a ressurreição" (2 Macabeus 12: 39-45). Enquanto os dois livros dos Macabeus não estão na Bíblia Protestante, eles sempre fizeram parte das Escrituras Ortodoxa e Católica Romana. Isso porque eles foram incluídos na Septuaginta, a tradução grega das Escrituras Hebraicas que toda a Igreja primitiva usou.
5-Kallistos Ware, A Igreja Ortodoxa (New York, NY: Penguin Books, 1984), p. 258
6-Citado pelo Padre Serafim Rose em A Alma Após a Morte (Platina, CA: Saint Herman da Fraternidade do Alasca, 1980), p. 209
7-Chondropoulos, p. 265
8-É bom lembrar que os santos canonizados são de todas as idades e de todas as classes sociais, de soldado a monjas, de bispos a donas de casa.
9-Troparion para a festa de São Sérgio, 25 de setembro.
10-Hino de Stichera a Saint Herman do Alasca, das Grandes Vésperas, em 13 de dezembro.
11-Padre Kyril Zaits, registrado em Conversas Missionárias com Sectários Protestantes, compilado e traduzido por Diácono Lev Puhalo e Vasili Novakshonoff (Jordanville, NY: Mosteiro da Santíssima Trindade, 1973), p. 35
12- Só porque a Igreja Ortodoxa canoniza certas pessoas como “santos” (agioi) não significa que os seguidores de Cristo na terra também não possam ser, às vezes, referidos como santos (agioi), como por São Paulo em Efésios 6:18, Romanos 1: 7, etc. Na Divina Liturgia, o serviço prestado todos os domingos na Igreja Ortodoxa, pouco antes de os fiéis receberem a Sagrada Eucaristia (comunhão), o sacerdote proclama: “Os santos dons para os santos [agiois]. “
13-A Vida de Santa Nina, Igual aos Apóstolos e iluminadora da Georgia (Jordanville, NY: Mosteiro da Santíssima Trindade, 1988), p. 26. Este hino é do serviço das Matinas para 14 de janeiro.
14-A vida de Santa Nina, p. 26. Ela é considerada a santa patronal da Geórgia até hoje.
15- São Nicolau de Zicha, The Prologue de Ochrid (Birmingham, Inglaterra: Lazarica Press, 1985), vol. 1, p. 4. Este conjunto de quatro volumes é uma excelente fonte de conhecimento sobre centenas de santos Ortodoxos.
16- Ware, p. 260.
Fonte: David C. Ford, Ph.D, "Prayer and Departed Saints"
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