"Não podemos re-cristianizar a Europa somente por meio de resoluções conjuntas"
Um Padre Ortodoxo Inglês sobre o Reino Unido, o Anglicanismo e a Ortodoxia
A julgar pela minha experiência de comunicação com o clero Ortodoxo no Reino Unido durante vários anos de minha vida neste país, suas atitudes em relação ao trabalho missionário Ortodoxo nas Ilhas Britânicas variam. Alguns padres acreditam que os Católicos Romanos e Anglicanos são "nossos irmãos e irmãs em Cristo" e não precisam realmente compreender a Verdade da fé Ortodoxa. Alguns representantes do clero estão focados na missão entre os emigrantes de suas próprias nacionalidades (russos, gregos, romenos, etc.) apenas. Por fim, há sacerdotes orientados à missões que vêem a Grã-Bretanha como uma vinha com uma colheita abundante que necessita de colhedores - competentes, ativos e amorosos.
Como regra, os sacerdotes que fazem trabalho missionário entre os moradores locais são eles próprios convertidos à Ortodoxia vindos de outras denominações cristãs. Para eles, as diferenças entre Ortodoxia e heterodoxia (Catolicismo e Protestantismo) são muito sérias. Eles tendem a ser céticos quanto ao ecumenismo e não concordam que "todas as religiões levam a Deus", pois sua conversão à Ortodoxia foi uma decisão altamente motivada e bem pensada, alcançada através de muito sofrimento.
Uma decisão de princípio ajudou-os a abandonar suas denominações (mesmo que fossem Católicos de berço ou Protestantes de berço), a fim de superar todos os obstáculos e se unir à Igreja Ortodoxa.
Ao longo dos anos que passei em Manchester, conheci muito bem um desses padres - Pe. Gregory Hallam, reitor da Igreja de Santo Edano de Lindisfarne, naquela cidade. O Pe. Gregory anteriormente tinha servido como padre anglicano, mas em 1992 ele se decepcionou com o Anglicanismo e abraçou a Ortodoxia. Três anos depois foi ordenado e desde então tem servido numa paróquia do Patriarcado Ortodoxo de Antioquia em Manchester - uma das maiores cidades inglesas - por mais de vinte anos.
"A ordenação das mulheres não é o único motivo"
Aqueles que conhecem pelo menos uns poucos fatos sobre a história religiosa moderna da Grã-Bretanha lembram-se que no início dos anos 90 alguns padres e leigos Anglicanos deixaram a Igreja da Inglaterra. O principal motivo foi a decisão do Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra de permitir a ordenação das mulheres. A maioria dos dissidentes então se refugiou na Igreja Católica Romana, enquanto alguns deles optaram por ingressar na Igreja Ortodoxa. No entanto, como me explicou o Padre Gregory, para ele a admissão de mulheres no ministério da Igreja da Inglaterra não foi o único motivo (e nem mesmo um motivo principal) pelo qual ele deixou o Anglicanismo. A escolha a favor da Ortodoxia e não do Catolicismo tinha um sólido fundamento teológico. Ele me falou sobre isso durante nossa conversa na Igreja de Santo Edano em Manchester.
-Pe. Gregory, por que você se converteu à Ortodoxia?
-Há vários motivos pelos quais escolhi a Ortodoxia e não o Catolicismo Romano. Primeiro de tudo, não pude aceitar a total obediência ao Papa. Em segundo lugar, tinha cada vez mais dúvidas sobre a verdade da teologia latina ocidental, sobretudo sobre o seu conceito de salvação e a Paixão de Cristo. Mais do que isso, vi que o Catolicismo era uma fé desligada dos Padres da Igreja e da nossa tradição inglesa.
-Mas o que o senhor quer dizer com o termo "tradição inglesa" neste contexto?
-Deixe-me explicar. Antes da Conquista Normanda de 1066, milhares e milhares de santos que, como creio, pertencem ao mundo Ortodoxo, viviam nestas Ilhas. É claro que esta pergunta requer algum exame adicional, mas o que eu sei é que a Igreja Russa incluiu os nomes de alguns santos britânicos em seu calendário. Entretanto, entre 1066 (acho que esta data é mais importante para a Inglaterra do que 1054) e a época da Reforma, apenas treze indivíduos que viviam neste país foram canonizados [1]. Mas é verdade que durante esse período a Grã-Bretanha quase não produziu ascetas que dedicaram suas vidas ao serviço de Deus?... Infelizmente, nessa época o procedimento de canonização tornou-se extremamente caro e complicado por razões políticas e pela centralização administrativa em Roma, de modo que nosso povo foi privado de homens santos. Foi um verdadeiro problema para a Igreja inglesa no período medieval.
- Permita-nos agora voltar à discussão sobre as práticas liberais no Anglicanismo...
- Não é apenas uma questão de prática, é também uma questão de teoria...
- Mesmo assim, nos anos 90, a Igreja da Inglaterra não era tão liberal quanto é hoje. Mas hoje a Igreja da Inglaterra está considerando ordenações gays e reconhecendo "uniões homossexuais". As primeiras bispas femininas apareceram recentemente no Reino Unido, embora no início dos anos noventa apenas a ordenação de mulheres para o sacerdócio estava na agenda.
- Deixe-nos primeiro falar sobre a ordenação das mulheres. Sou de opinião que o ministério sacerdotal poderia ser conferido às mulheres apenas pela plenitude da Igreja e a nível conciliar. Acho totalmente inaceitável que uma estrutura de Igreja cismática que outrora se separou da estrutura da Igreja Católica cismática tenha a coragem de declarar que é possível mudar os aspectos fundamentais do ministério da Igreja antes de sua aprovação em qualquer Concílio Pan-Eclesial. Aliás, eu estava presente na reunião do Sínodo da Igreja da Inglaterra antes da votação da ordenação feminina e escutei um discurso do Patriarca Ecumênico de Constantinopla. Ele foi convidado para o Sínodo e disse que a decisão de ordenar mulheres teria um efeito consideravelmente negativo sobre o diálogo entre Anglicanos e Ortodoxos. Entretanto, a declaração do patriarca não foi comentada, e a Igreja da Inglaterra decidiu admitir mulheres para o ministério.
A Igreja Ortodoxa de Santo Edano em Manchester. |
Essa notória decisão também é controversa, pois causou uma divisão dentro da Igreja da Inglaterra e uma situação em que alguns cânones e a estrutura interna da Igreja Anglicana se tornaram conflitantes e ilógicos por natureza. A Igreja da Inglaterra tem seu próprio sistema de direito canônico; segundo o cânon A4, uma pessoa ordenada por um bispo Anglicano canônico deve ser reconhecida em seu ofício por todas as paróquias anglicanas. Em outras palavras, você não tem o direito de dizer que um ou outro sacerdote ordenado (ou uma mulher sacerdote) não é sacerdote e que você não aceita seu ministério ordenado (só porque você não gosta dele ou dela). Ao mesmo tempo, há alguns "bispos voadores" [título formal: visitante episcopal provincial - Trad.] na Igreja da Inglaterra que ministram às comunidades que se opõem aos sacerdotes mulheres. Surgiu o seguinte paradoxo: Por um lado, de acordo com o cânon A4, a plenitude da Igreja deve aceitar mulheres sacerdotes que foram ordenadas por bispos anglicanos canônicos, e, por outro lado, a Igreja tem permitido que alguns clérigos e leigos discordem do ministério ordenado de mulheres, algo que entra em conflito com o cânon A4.
Eu estava pessoalmente presente em uma assembleia do clero que desaprovou a ordenação das mulheres. Então eu disse de forma muito direta que essas decisões - no contexto dos "bispos voadores" e das disposições do cânon A4 - eram um insulto às mulheres a quem diz respeito; um afastamento da eclesiologia católica (no sentido: "universal", "ortodoxa"); a criação de uma Igreja dentro da Igreja; e um desrespeito ao direito canônico. Se a Igreja da Inglaterra tivesse tido realmente certeza de que a ordenação das mulheres era a vontade de Deus ou a vontade da Igreja, teria sido melhor que tivesse agido de forma diferente, ou seja, começar com a ordenação das mulheres como bispas e não como sacerdotes. Afinal, um sacerdote recebe seu ofício e autoridade de um bispo. Mas no Protestantismo liberal o mecanismo de decisão é diferente: primeiro você promove os direitos das mulheres e as pessoas se acostumam; depois você começa a louvar uma ou outra mulher sacerdote e faz isso até as pessoas dizerem: "Oh sim! A Reverenda Sarah é maravilhosa! Ela é uma candidata brilhante para o episcopado"! Mas é uma abordagem completamente errada!
- Pe. Gregory, o senhor mencionou que havia outros motivos (além da ordenação de mulheres) para deixar a Igreja da Inglaterra.
-Sim, é isso mesmo. E embora a ordenação das mulheres tenha sido "a última gota que transbordou o copo", este "copo" foi sendo preenchido gradualmente com vários problemas. Os motivos fundamentais para deixar o Anglicanismo foram diferentes. A questão não é que os sacramentos e ordenações administrados por mulheres bispas e sacerdotes sejam "não naturais" (ou seja, um desvio em relação à Escritura, como afirmam os Protestantes conservadoras do Ocidente), mas que a relação entre a Escritura e a Tradição esteja sendo destruída.
Na verdade, a ordenação das mulheres decorre naturalmente do problema fundamental do Anglicanismo - a falta de compreensão da autoridade necessária da Igreja com poderes para tomar decisões importantes. Como podemos saber o que é certo e o que é errado na Igreja? Aqueles com a mentalidade liberal Protestante são incapazes de responder a essa pergunta. Mas para mim o seguinte ponto foi ainda mais crucial: o conceito geral de salvação no cristianismo ocidental. Com o passar dos anos, estou cada vez mais convencido de que o conceito de salvação na Ortodoxia Oriental difere drasticamente do conceito do Cristianismo Ocidental do Catolicismo Romano e do Protestantismo. Em essência, o Catolicismo e o Protestantismo são "dois lados da mesma moeda", e sua única diferença séria está na compreensão dos sacramentos na Igreja.
- Rev. Gregory, neste contexto gostaria de mencionar a obra do Arcebispo Sergius (Stragorodsky) A Doutrina Ortodoxa da Salvação. O hierarca (futuro Patriarca de Moscou e Toda a Rússia) explicou em detalhes as diferenças marcantes entre a soteriologia Ortodoxa e a Soteriologia Latina. A diferença entre o Cristianismo Ocidental (Catolicismo e Protestantismo) e o Cristianismo Ortodoxo não é pequena e superficial, mas fundamental. Ela está na compreensão e explicação do modo como o homem percorre o caminho da salvação e alcança o Reino dos Céus. E a salvação é a coisa mais essencial para cada cristão, por isso aqui não pode haver concessões.
Os problemas da Igreja da Inglaterra e a missão Ortodoxa
Arcipreste Gregory Hallam. |
Tendo discutido as diferenças fundamentais entre a Igreja Ortodoxa e as denominações cristãs ocidentais, Pe. Gregory e eu, aos poucos, entramos num assunto delicado - a situação atual da Igreja da Inglaterra. E não é uma questão de desacordo entre os sociólogos e teólogos modernos sobre a linha de desenvolvimento da Igreja da Inglaterra hoje. Quanto ao Pe. Gregory, ele tem uma opinião clara sobre este ponto, completa com uma visão do papel missionário da Ortodoxia.
- Realmente, a Igreja da Inglaterra está passando por problemas sérios. As paróquias estão sendo fechadas, ao passo que os fiéis estão diminuindo. Mas o que devemos nós, cristãos Ortodoxos, fazer nesta situação? Observaremos com indiferença a extinção do cristianismo em nosso país de origem até que ele seja substituído por outra religião, como o islamismo? No fundo, é uma questão de salvação das almas. Talvez nós, clero e leigos Ortodoxos, devêssemos nos orientar mais para missões e abandonar essa "mentalidade da diáspora"? A meu ver, a única Igreja Ortodoxa (entre as Igrejas cujas jurisdições abrangem aqueles que vivem no Reino Unido) a ter tal capacidade para o trabalho missionário é a Igreja Russa! E agora não posso evitar de lembrar São Nicolau (Kasatkin) que fundou a Igreja Ortodoxa no Japão junto com os missionários que pregaram o Evangelho na Sibéria e no Alasca. Estes pregadores tinham uma boa idéia de como levar as Boas Novas de Cristo a pessoas de nacionalidades e tradições culturais absolutamente diferentes.
Claro, eu entendo bem porque o Patriarcado de Moscou está se esforçando para cooperar com cristãos heterodoxos em uma série de questões e assuntos morais. Mas acho que não podemos re-cristianizar a Europa somente por meio de resoluções conjuntas sobre "casamentos entre pessoas do mesmo sexo" ou eutanásia. Realizamos assembleias e conferências regulares, adotamos várias resoluções, mas só o retorno ao cristianismo Ortodoxo pode salvar a Europa. Entretanto, isso pode acontecer desde que apareçam missionários na Europa - isto é, padres e bispos Ortodoxos que se preocuparão não só com a diáspora russa, mas também com os residentes nativos dos países europeus.
Interior da Igreja de Santo Edano. |
- Concordo com a sua opinião. Mas eu gostaria de prestar atenção a uma questão prática. Eu apoio de todo coração as missões Ortodoxas entre os não Ortodoxos - Católicos e Protestantes - e entre aqueles que não conhecem nada da fé de Cristo. Entretanto, em muitos lugares da Europa Ocidental a Igreja Russa é dependente de Católicos e Protestantes. Eles frequentemente alugam suas igrejas, capelas e salas de oração para as comunidades Ortodoxas para adoração. Talvez este fato explique a hesitação do Patriarcado de Moscou em seu trabalho missionário no Ocidente? Por exemplo, eles temem perder suas instalações alugadas (que eles não encontraram facilmente).
Ao ouvir estas palavras o Pe. Gregory olhou-me com uma certa ironia em seus olhos.
- Com o devido respeito, Sergei. Você sabe o que um inglês entende por estas palavras? Elas significam "bobagem". Assim, eu quis dizer que seus argumentos são "pura bobagem".
-Mas por quê?
- Porque se Moscou tivesse tal desejo, poderia investir na construção de igrejas no Ocidente. A realidade é tal que a maioria das comunidades Ortodoxas no Ocidente - russas, gregas, romenas e assim por diante - são financeiramente auto-suficientes. Por exemplo, nós adquirimos o prédio da igreja que usamos para a adoração - ele pertence a nós e não é alugado. No entanto, no início não tínhamos dinheiro e nossa comunidade consistia de apenas vinte pessoas. Um ano depois adquirimos nosso próprio prédio e mais de vinte anos a congregação cresceu de vinte para 200 pessoas. Além disso, recebo uma remuneração como padre. E não temos fontes externas de financiamento.
- Entretanto, sabe-se que a Igreja da Proteção da Mãe de Deus do Patriarcado de Moscou, em Manchester, foi construída com a ajuda de um famoso oligarca russo...
-No nosso caso, conseguimos fazer tudo sem fundos de fora. Mas a Rússia não é um país pobre. Acho que ela poderia custear a construção de seis grandes igrejas nas principais cidades da Grã-Bretanha e o envio de padres missionários para lá, que serviriam tanto em inglês como no eslavo eclesiástico. Este projeto é realizável desde que haja uma vontade.
- Então, em sua opinião, por que eles ainda estão indispostos para fazer isso?
- Creio que as razões por trás da relutância deles não têm nada a ver com a apreensão ou a indisposição em ofender os Protestantes cujos edifícios e instalações eles alugaram. Isto não é uma resposta satisfatória a esta pergunta. Posso perguntar-lhe sobre sua opinião em retorno?
- A meu ver, o problema está em certas mentalidades teológicas de alguns hierarcas e clero do Patriarcado Russo que não vêem nenhuma diferença fundamental entre os Ortodoxos e os heterodoxos. Se um Católico permanece Católico e um Protestante permanece Protestante, eles não vêem nada de errado nisso. Estes representantes da Igreja acreditam que o mais importante é ser cristão, independentemente da sua denominação.- Mas será que eles estão cientes de que apenas uma pequena minoria de cidadãos modernos de países ocidentais vai à igreja?
- Eu acho que sim.- Então como os europeus podem conhecer a Verdade se não há trabalhadores para colher a colheita abundante da vinha?
- Talvez alguns hierarcas Ortodoxos achem que isso é uma tarefa dos padres Católicos e dos pastores Protestantes no Ocidente.
- Mas os cristãos Ortodoxos não querem que os europeus cheguem ao conhecimento da Verdade em Cristo e encontrem o caminho da salvação? Nós não precisamos criar uma cultura Ortodoxa no Ocidente? Podemos realmente alcançar bons resultados, baseando-nos em nossa situação invejável dentro do espaço Católico e Protestante que vem declinando continuamente? Suponho que no Juízo Final os hierarcas Ortodoxos serão questionados não apenas como cuidaram de seu rebanho, mas também se eles buscaram "a ovelha perdida". Qualquer bom pastor, segundo o Evangelho, cuida não só das noventa e nove ovelhas que estão seguras no rebanho, mas também daquelas que se perderam. Infelizmente, ainda não vejo que essa ovelha perdida esteja sendo procurada.
Eu compreendo que as Igrejas Russa, Romena, Búlgara e outras Igrejas estão comprometidas com o cuidado de seu rebanho - russos, romenos, búlgaros, etc. É o dever e a obrigação delas - ninguém nega isso. Mas além dessa obrigação eles devem ter um anseio por um trabalho missionário entre o povo nativo - entre os quais vivem os emigrantes russos, romenos e búlgaros. É verdade que a Grã-Bretanha tem paróquias onde os cultos são celebrados quase exclusivamente no eslavo eclesiástico ou romeno, ao mesmo tempo em que há paróquias com grande número de convertidos britânicos onde os cultos são celebrados principalmente em inglês. No entanto, estas duas tendências existem, por assim dizer, em dois mundos paralelos. Precisamos desesperadamente de cooperação, uma espécie de meio de ouro [NT: uma posição moderada ideal entre dois extremos]. Gostaria de salientar mais uma vez que devemos livrar-nos desta "mentalidade da diáspora", da ideia de que as paróquias Ortodoxas no Ocidente são apenas uma continuação da Igreja Mãe. Ousaria dizer que isso leva à heresia do etno-filetismo.
Porém, as linguagens litúrgicas não são o único problema. Há outra dificuldade: o clero de várias jurisdições Ortodoxas nem sempre está inclinado ao contato e à cooperação.
Penso que em cada grande cidade com várias comunidades Ortodoxas, o clero deve se reunir regularmente para orar juntos, discutir a vida na Igreja e compartilhar suas refeições. Então os leigos certamente se juntarão a eles também. Devemos caminhar em direção à "Ortodoxia aberta". As Vésperas Pan-Ortodoxas anuais do Primeiro Domingo da Grande Quaresma são boas, não contesto isso; mas e todos os outros cinquenta e um domingos do ano? É importante que a Igreja Ortodoxa atue como uma só e evite a separação em grupos étnicos. Se queremos que a cooperação a nível local se torne uma realidade, precisamos de diretrizes especiais dos bispos regentes que estão encarregados das diversas jurisdições nas Ilhas Britânicas. A Assembléia Episcopal Pan-Ortodoxa da Grã-Bretanha e Irlanda não tem qualquer utilidade sem qualquer cooperação "a nível de base". Este tipo de cooperação é de vital importância.
Ortodoxia e o estado britânico
Como se sabe, algumas leis no Reino Unido estão em conflito com a ética e a moral cristã: por exemplo, a legalização dos chamados "casamentos entre pessoas do mesmo sexo" com o intuito de que os casais homossexuais possam ter os mesmos direitos das famílias tradicionais. Isto tem causado desconforto às comunidades cristãs que se esforçam para defender firmemente os valores baseados na Bíblia; estas estão muitas vezes sob pressão das autoridades (por exemplo, as agências Católicas de adoção no Reino Unido foram aconselhadas a não se recusarem a ajudar os casais gays a adotar crianças!)
-Sr. Gregory, as paróquias Ortodoxas sofrem a pressão das autoridades centrais ou locais?- Não há pressão. Mas é essencial entender que nós, cristãos Ortodoxos, não desempenhamos nenhum papel na vida da sociedade britânica. Somos como uma flor exótica em um jardim - é admirada e cuidada, e nada mais. Não estamos incomodando nosso Governo porque não temos influência e temos relutância em tomar parte em qualquer coisa. Embora algumas mudanças tenham ocorrido não há muito tempo, quando a Câmara dos Lordes debateu a Lei do Suicídio Assistido.
- A voz dos cristãos Ortodoxos foi ouvida pelos poderes em exercício?- A situação era a seguinte: o Parlamento questionou os cristãos da Grã-Bretanha sobre sua opinião sobre este projeto de lei, mas as cartas foram enviadas apenas para a Igreja da Inglaterra e para a Igreja Católica Romana. Então os cristãos Ortodoxos enviaram uma carta ao gabinete do Arcebispo de Cantuária perguntando por que ninguém havia pedido aos Ortodoxos que expressassem sua opinião - afinal de contas, somos a segunda maior comunhão cristã do mundo, totalizando 300.000 só no Reino Unido. Na carta de resposta foi-nos dito que nossas comunidades consistiam de emigrantes que não tinham sequer direito a voto. Depois disso, o Arcebispo Gregorios de Thyateira e Grã-Bretanha (do Patriarcado Ecumênico) enviou-lhes uma excelente carta em retorno afirmando que os cristãos Ortodoxos vivem na Grã-Bretanha há centenas de anos, que cerca de 95% dos nossos paroquianos têm direito de voto e assim por diante. Sim, nós recebemos desculpas oficiais do gabinete do Arcebispo de Cantuária. Mas isso mudou alguma coisa?
Arcipreste Gregory Hallam. |
- Tenho ouvido dizer muitas vezes que em geral os Anglicanos são acolhedores e simpáticos para com os Ortodoxos.- Nós somos exóticos para eles. Belos serviços e ícones, belo raciocínio teológico... Do ponto de vista Anglicano somos "interessantes e valiosos" porque somos... "Católicos", mas não Católicos Romanos! A única razão pela qual eles nos amam é que nós lhes damos algum "status", algum senso de auto-estima diante dos Católicos Romanos. Houve um tempo em que os Anglicanos tinham a esperança de que a Igreja Ortodoxa reconheceria suas ordenações como válidas juntamente com sua sucessão apostólica, mas isso nunca aconteceu. Enquanto isso, a Igreja da Inglaterra cede espaço à pressão do Governo em relação à moralidade, aceitando coisas que antes eram inaceitáveis. Acho que acabará por aprovar os "casamentos entre pessoas do mesmo sexo".
-Cedendo à pressão do Governo?- As especulações populares na imprensa de que "o Governo vai impor uniões entre pessoas do mesmo sexo à Igreja" são sem sentido. Neste caso teria de impor [a aceitação da] sodomia aos padres Católicos e aos imãs muçulmanos. Mas isso não vai acontecer. Eu deliberadamente não menciono os Ortodoxos - e não porque eu acho que a posição dos nossos padres sobre as relações familiares é diferente da dos nossos correspondentes Católicos (nossas opiniões quase sempre coincidem), mas porque ninguém está interessado em nossas posições. Então por que o Governo deveria se dar ao trabalho de perguntar aos Ortodoxos sobre qualquer coisa e nos impor qualquer coisa?
Dizendo adeus ao Padre Gregory, pensei que o problema dos colhedores e da vinha está se tornando cada vez mais relevante para o Reino Unido, já que as tendências seculares e até mesmo as tendências anti-cristãs estão crescendo. A propósito, o novo hierarca regente da Diocese de Sourozh (uma diocese do Patriarcado de Moscou que cobre o território do Reino Unido e da República Irlandesa), Bispo Matthew (Andreev), outrora chefiou o Departamento Missionário Diocesano e residia em Manchester, embora os objetos da missão fossem principalmente emigrantes de países tradicionalmente Ortodoxos. É verdade que existem muitos emigrantes no Reino Unido e suas necessidades espirituais devem necessariamente ser atendidas. Mas, ao mesmo tempo, como bem disse o Padre Gregory, não devemos esquecer "a ovelha perdida": afinal, qualquer bom pastor está disposto a (temporariamente) deixar as noventa e nove ovelhas restantes em seu rebanho para encontrar e resgatar aquela que se perdeu. "Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." (Lc. 15:7). Entretanto, sem uma missão ativa nas Ilhas Britânicas, seus habitantes nativos dificilmente poderão se arrepender e retornar a Cristo.
Sergei Mudrov
conversa com o Arcipreste Gregory Hallam
Pravoslavie.ru
31/1/2018
conversa com o Arcipreste Gregory Hallam
Pravoslavie.ru
31/1/2018
[1] Na realidade, houve cerca de quarenta a cinquenta santos que viveram entre a Conquista Normanda e a Reforma no que hoje é o Reino Unido e a República Irlandesa e que foram oficialmente venerados pela Igreja Católica. Mas mesmo assim, eles constituem menos de um por cento de todos os santos que brilharam nestas terras durante o período pré-normando! Eles poderiam ser divididos em vários grupos: Administradores da Igreja e outras figuras canonizadas por razões políticas; místicos (no sentido Católico desta palavra); mártires; ascetas devotos; santos que conservaram muito do espírito da tradição Ortodoxa original de Lindisfarne e outros grandes mosteiros. É digno de nota que a veneração dos santos da era Católica que em espírito estavam mais próximos da Ortodoxia era menos intensa na Igreja Católica e alguns deles nunca foram formalmente canonizados, embora fossem amados pelos fiéis comuns. Destes santos, mencionemos os Santos Magno e Rögnvald de Orkney; Godric de Finchale, Bartolomeu de Farne e Henrique de Coquet (bisnetos espirituais do grande São Cuthbert de Lindisfarne); William de Perth; Waltheof, Earl de Northampton e Huntingdon; Eskil, um missionário em Södermanland na Suécia; Wulfric de Haselbury; Christina de Markyate; e vários outros. Notavelmente, todos eles viveram relativamente pouco depois da Conquista Normanda, quando as tradições da antiga piedade ainda estavam muito vivas. - Trad [Dmitry Lapa].
Fonte: http://orthochristian.com/110300.html
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