Quanto ao Antigo Testamento, a Igreja Ortodoxa utiliza a Septuaginta (LXX). É o mesmo texto que foi utilizado pelos Apóstolos e todos os Padres da Igreja do Oriente (e do Ocidente antes de São Jerônimo). Pode-se resumir, de forma geral, que: a Igreja Ortodoxa utiliza a Septuaginta (LXX), a Igreja Católica Romana tradicionalmente utiliza a vulgata* (traduzida a partir de textos hebraicos pré-massoréticos por São Jerônimo**) e os Protestantes utilizam uma tradução a partir dos textos massoréticos.
* Uso o termo 'tradicionalmente' porque as traduções modernas das Bíblias Católicas são de dois tipos: ou seguem diretamente a nova vulgata, raras; ou então são traduzidas direto do hebraico (Texto Massorético), aramaico e grego (no caso dos deuterocanônicos).
** Para traduzir os "deuterocanônicos" São Jerônimo usou a LXX.
Para facilitar, nesta primeira parte do post, utilizarei o formato de pergunta e resposta.
P. Existe a Bíblia Ortodoxa em português?
Não existe Bíblia Ortodoxa (isto é, a Septuaginta) em português.
P. Uma vez que não existe Bíblia Ortodoxa em português, qual a Bíblia mais recomendada para um Ortodoxo no Brasil, a Católica Romana ou a Protestante (e qual melhor tradução)?
Comparadas com a Bíblia Ortodoxa, ambas são incompletas, pois elas possuem menos livros no Antigo Testamento. No entanto, as Bíblias Protestantes são bem mais incompletas por conta do cânon judaico (massorético) adotado por eles. Nesse aspeto, as Bíblias Católicas Romanas são melhores. Agora no que tange a melhor tradução, eu indico do lado Católico a tradução de Antônio Pereira de Figueiredo e a do Mattos Soares, já do lado protestante para nós Ortodoxos só é interessante o Novo Testamento na versão Almeida (Corrigida e Fiel / Revista e Corrigida) — pois a tradução é muito bonita. As pessoas frequentemente têm uma certa obsessão com a Bíblia perfeita. Não há traduções perfeitas, há traduções sérias (com alguns problemas ao adotarem traduções parciais, seja em favor das doutrinas romanas, seja das protestantes); e há falsificações como as das Testemunhas de Jeová. Há ainda uma categoria intermédia, as "traduções parafraseadas" para a linguagem moderna, que tudo interpretam em favor desta ou daquela doutrina - mas tendem a estar muito próximas da segunda categoria. Dito isto, o essencial para qualquer um interessado na Ortodoxia, no Brasil, não é uma Bíblia Ortodoxa, mas simplesmente ler a Bíblia junto com os comentários dos Santos Padres: João Crisóstomo, Teofiláctio, Cirilo o Grande, Basílio o Grande, Beda o Venerável, etc...Se assim fizer, mesmo que a tradução da Bíblia não seja a ideal, está a salvo de erros. A súmula é: antes de tudo, aprenda a ler as Escrituras com os Padres. Ponto.
P. E a recente tradução para o português da Septuaginta por Frederico Lourenço?
Essa tradução da Septuaginta saiu anos atrás (e ainda está incompleta). É boa apenas pra acadêmicos, mas péssima para uso litúrgico e estudo devocional — pois o tradutor clama traduzir os textos sagrados livre da interferência teológica. É horrível. Espírito Santo em minúsculas, e não só. Pretende ser uma tradução literal do texto, arrancado do contexto da tradição da Igreja. O estilo é abominável, e evita em tudo vocabulário eclesiástico. Por exemplo, a pregação de São João Batista que é "Convertei-vos! Arrependei-vos!" é traduzida para "Mudai o modo de pensar" ou "Mudai de mentalidade". O verbo grego é metanoite, da mesma raiz de metanoia (mudança do nous, mudança de espírito, mudança interior, referindo ao arrependimento).
P. A Bíblia Protestante tem menos livros no Antigo Testamento porque seguem o cânone massorético mas porque a Bíblia Católica Romana tem menos livros que a Ortodoxa?
Porque a Bíblia Ortodoxa basicamente manteve tudo quanto estava na Septuaginta LXX, enquanto os Católicos Romanos não adotaram tudo. Talvez (não estou certo) uma das razões tenha sido se limitarem aos livros que São Jerônimo traduziu na Vulgata, e alguns manuscritos ele não teria acesso ou não dava credibilidade.
P. A vulgata, de tradução de São Jerônimo, foi traduzida a partir do texto da Septuaginta (i.e. texto grego) ou a partir do texto do Antigo Testamento em hebraico?
Em geral, do hebraico, embora não fosse idêntico ao Texto Massorético seguido pelos Protestantes. O texto hebraico seguido por São Jerônimo seriam certamente manuscritos muito anteriores à revisão e homogeneização massorética. Sendo manuscritos, havia inevitavelmente variantes, e famílias textuais - isto é, famílias de manuscritos que remontavam a uma fonte comum e que partilhavam variantes em comum. Além disso, não existiam edições com todo o Velho Testamento isolado. Existiam rolos de papiro, cada um contendo um livro, e por vezes meio livro (se fossem mais longos). É por isso que temos Samuel 1 e 2, Reis 1 e 2, Crônicas 1 e 2. É porque não cabiam num único rolo. Assim, é evidente que cada manuscrito que São Jerônimo obtinha não provinha certamente do mesmo copista e poderia pertencer a uma família textual diferente. Em todo o caso, o texto seguido por São Jerônimo é chamado, de forma genérica, pré-massorético. E não concorda em tudo com o massorético ou as traduções provindas do massorético. É difícil identificar as fontes exatas da Vulgata porque por vezes concorda com o massorético, outras vezes com a LXX. Mas faz muito mais sentido compreendermos que ele usou textos hebraicos pré-massoréticos (no plural, porque eram rolos independentes) e nalgumas partes o hebraico seria da família que originou a LXX.
Quanto ao Saltério (os Salmos) São Jerônimo fez três versões: na primeira, só retocou a velha versão Ítala, a partir da LXX. A segunda versão, foi uma nova tradução, feita a partir da LXX. Foi a versão que prevaleceu, na prática, e é chamada o Saltério Galicano (foi muito disseminada inicialmente na Gália). A terceira versão foi feita a partir do hebraico, mas não vingou.
Para a Ortodoxia, uma uniformidade absoluta no texto das Escrituras não é essencial, uma vez que todos os textos, com todas as variantes, transmitem a mesma mensagem, doutrina, história, &c.
Quanto ao Novo Testamento, não há nenhuma variante que comprometa um ponto essencial de doutrina. A não ser que se considere o Texto Crítico, que omite algumas cláusulas, como o único correto, e se considerem as cláusulas do Texto Bizantino como adições espúrias. É o que os modernistas tendem a fazer com algumas cláusulas que falam da necessidade do jejum, por exemplo. Um equívoco da abordagem protestante é a aspiração a encontrar um texto mais próximo do manuscrito original - o que nunca se irá alcançar. Assim, como o Texto Crítico é mais conciso, ou enxuto, tudo o resto é considerado como acreções, excrescências, que corrompem a mensagem das Escrituras e são de origem meramente humana.
P. Existe a Bíblia Septuaginta em espanhol?
Há uma boa tradução da LXX em espanhol, disponível num programinha de dowload gratuito, do padre Guillermo Jünemann. Está disponível na net. https://juanstraubinger.blogspot.com/2014/03/la-biblia-del-p-guillermo-junemann.html Ela segue um critério de equivalência formal e, parece-me, num espanhol idiomático. Mas como já dito, é antes a interpretação patrística que faz a diferença. Um Ortodoxo pode sobreviver a traduções imperfeitas (e todas o são, nalguma medida) desde que recorra aos Santos Padres. E já vi muitíssimos gregos que presumiam ter a chave para o entendimento das Escrituras por lerem-nas na linguagem original, mas erravam por desconhecer os Padres da Igreja.
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Nota do skemmata: O texto abaixo é um pequeno comentário sobre a Septuaginta retirado da Ortodoxwiki.
Septuaginta
A "Tradução dos Setenta" (do grego Ἡ μετάφρασις τῶν Ἑβδομήκοντα), mais conhecida como Septuaginta (do latim septuaginta ou "setenta", também conhecida pelo número romano por setenta, LXX), refere-se a tradução do século III a.C. do Pentateuco para o grego koiné. É a base do Antigo Testamento canônico da Igreja Ortodoxa. Quando os apóstolos citam as Escrituras Judaicas em seus próprios escritos, a fonte predominantemente dominante para suas palavras vem diretamente da Septuaginta (LXX). Dado que a propagação do Evangelho foi mais bem-sucedida entre os gentios e judeus helenísticos, fazia sentido que a LXX fosse a Bíblia para a Igreja primitiva. Seguindo os passos dessas primeiras gerações de cristãos, a Igreja Ortodoxa continua a considerar o LXX como seu único texto canônico do Antigo Testamento. Existem várias diferenças entre o cânone da LXX e o da Igreja Católica Romana e os cristãos protestantes, com base nas diferenças na tradição ou doutrina da tradução.
Diferenças com outros cânones cristãos
As diferenças com Roma são relativamente pequenas e nunca foram objeto de muita disputa entre os Ortodoxos e essa comunhão [Romana]. As listas canônicas são essencialmente as mesmas em conteúdo (alguns dos nomes são diferentes), exceto os seguintes itens: O cânone latino não inclui I Esdras (embora use esse nome para o que os Ortodoxos chamam II Esdras); existem apenas 150 salmos no cânon latino, enquanto a LXX tem 151 (e os salmos são numerados e divididos de maneira diferente entre os dois cânones, porque o cânon latino moderno se baseia no Texto Massorético hebraico, embora a Vulgata tenha usado a numeração do salmo Septuaginta); a Epístola de Jeremias é um livro separado na LXX, enquanto está incluído como parte de Baruc para os latinos; e os latinos não incluem Macabeus III ou IV. Tradicionalmente, os Católicos Romanos usavam a numeração da Vulgata Latina, que segue a Septuaginta. Contudo, desde o Concílio Vaticano II, as publicações Católicas Romanas, incluindo Bíblias católicas e textos litúrgicos, têm usado a numeração encontrada no Texto Massorético.
As diferenças com o cânone protestante são baseadas nas opiniões de Martinho Lutero sobre o Antigo Testamento. Seu argumento era que São Jerônimo distinguiu o Antigo Testamento Hebraico do Antigo Testamento Grego e que apenas os textos em Hebraico deveriam ser considerados canônicos, enquanto os outros poderiam ser bons de ser lidos. Ao traduzir o Antigo Testamento para o alemão, ele usou o texto hebraico comum disponível na época, o Texto Massorético (TM), que contém um cânone menor e é baseado em outra tradição manuscrita do LXX. [...] Existem várias diferenças entre o LXX e o TM. O TM carece dos seguintes textos: I Esdras, a parte de II Esdras (que o TM simplesmente chama de "Esdras") chamada "Oração de Manassés", Tobias, Judite, porções de Ester, Sabedoria de Salomão, Sabedoria de Sirach (Ecclesiasticus), Baruc, a Epístola de Jeremias, as chamadas "adições a Daniel" (A canção dos três jovens, Susana, Bel e o Dragão), o 151º Salmo e todos os quatro livros de Macabeus. Os Salmos também são numerados e divididos de maneira diferente.
* * *
Nota do skemmata: O texto abaixo é do Pe. John Whiteford.
Septuaginta vs Texto Massorético
Na "Encíclica dos Patriarcas Orientais" de 1848, que foi uma resposta à epístola do Papa Pio IX, "Aos Orientais", os Patriarcas de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, juntamente com os outros bispos reunidos, declararam: "Nossa Igreja possui o depósito infalível e genuíno das Sagradas Escrituras: do Antigo Testamento uma versão verdadeira e perfeita, do Novo, o original divino em si". E, portanto, sempre consideramos que a Septuaginta é a versão autoritativa do Antigo Testamento.
O Metropolitan Hilarion (Alfeyev) observa:
... a base do texto do Antigo Testamento na tradição Ortodoxa é a Septuaginta, uma tradução grega dos "setenta intérpretes" realizada do terceiro ao segundo século a.C. para os hebreus alexandrinos e a diáspora judaica. A autoridade da Septuaginta é baseada em três fatores. Primeiro de tudo, embora o texto grego não seja o idioma original dos livros do Antigo Testamento, a Septuaginta reflete o estado do texto original, como teria sido encontrado no terceiro/segundo século aC, ao passo que o texto hebraico atual que é chamado de "Massorético" foi editado até o século VIII d.C. Segundo, algumas das citações retiradas do Antigo Testamento e encontradas no Novo usam principalmente o texto da Septuaginta. Terceiro, a Septuaginta foi usada pelos Padres Gregos da Igreja e pelos serviços litúrgicos Ortodoxos (em outras palavras, esse texto se tornou parte da Tradição da Igreja Ortodoxa). Levando em consideração os três fatores enumerados acima, São Filareto de Moscou considera possível sustentar que "no ensino Ortodoxo das Sagradas Escrituras é necessário atribuir um mérito dogmático à Tradução dos Setenta, em alguns casos colocando-a em igual nível com o original e até elevando-a acima do texto hebraico, como geralmente é aceito nas edições mais recentes. (Orthodox Christianity, Volume II: Doctrine and Teaching of the Orthodox Church, (New York: St. Vladimir Seminary Press, 2012) p. 34).
E na citação acima, acho que pode haver um problema de tradução, embora eu não tenha o texto em russo, e meu russo provavelmente seria muito limitado para ter certeza por mim mesmo - mas quando diz "algumas das citações retiradas do Antigo Testamento e encontradas no Novo usam principalmente o texto da Septuaginta", o texto é redigido de forma estranha o suficiente para eu supor que o Metropolita Hilarion pretendia dizer que a maioria (e não apenas "algumas") das citações do Antigo Testamento no Novo Testamento é baseado na Septuaginta ... porque, de fato, isso é verdade.
Pe. Seraphim Slobodskoy, em seu clássico texto catequético, escreveu:
"... está claro por que a Igreja prefere as traduções da Septuaginta e Peshitta para o texto oficial do Antigo Testamento, e principalmente a primeira, pois o texto da Septuaginta foi produzido sob a inspiração do Espírito Santo pelo esforço conjunto da Igreja do Antigo Testamento." (The Law of God: For Study at Home and School (Jordanville, NY: Holy Trinity Monastery, 1994) p. 440).
Houve um tempo em que muitos estudiosos Protestantes assumiram que a Septuaginta era uma tradução pouco precisa do texto hebraico e que, quando diferia do Texto Massorético, era devido a alterações feitas pelos tradutores. No entanto, desde a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, sabemos agora que a Septuaginta é baseada em um texto hebraico diferente e mais antigo que o Texto Massorético.
O texto hebraico que serviu de base para a maioria das traduções do Antigo Testamento para o inglês baseia-se quase inteiramente no Codex de Leningrado, que data de 1008 d.C. Em comparação com a evidência textual que temos para o texto grego do Novo Testamento, este [Codex de Leningrado] é a um manuscrito muito tardio. É um exemplo da recensão massorética, que geralmente é datada de ter sido formada entre os séculos VI e X d.C. Isso ocorre bem depois que a Septuaginta foi traduzida (século III antes de Cristo), a Peshitta (séculos 1 e 2 d.C.) ou a Vulgata Latina (século 4 d.C). Segundo a tradição cristã, os judeus não-cristãos começaram a fazer alterações no texto do Antigo Testamento para prejudicar o uso cristão das profecias do Antigo Testamento a respeito da vinda de Cristo. De qualquer forma, o texto hebraico que temos agora foi preservado fora da Igreja. Os textos da Septuaginta e Peshitta foram preservados dentro da Igreja e, portanto, a Igreja acredita que o texto do Antigo Testamento foi preservado autoritativamente nessas tradições textuais.
Além disso, fica claro que o texto que Cristo e os apóstolos usaram se aproxima mais da Septuaginta do que do Texto Massorético. Por exemplo, em Atos 7:43, o protomártir Estevão cita o livro de Amós da seguinte maneira:
Sim, tomastes o tabernáculo de Moloque, e a estrela do vosso deus Renfã, figuras que vós fizestes para as adorar.
Yea, ye took up the tabernacle of Moloch, and the star of your god Remphan, figures which ye made to worship them (Atos 7:43 KJV).
Mas, quando você busca esta citação em Amós 5:26 na maioria das traduções, verá que a citação não corresponde:
Vocês carregaram o seu rei Sicute, e Quium, a estrela do vosso deus, que vocês fizeram para si mesmos.
You also carried Sikkuth your king and Chiun, your idols, the star of your gods, which you made for yourselves (NKJV).
Compare o acima com a Vulgata Latina:
Mas você carregou um tabernáculo para seu Moloch e a imagem de seus ídolos, a estrela de seu deus, que vocês fizeram para si mesmos (tradução de Douay-Rheims da Vulgata).
But you carried a tabernacle for your Moloch, and the image of your idols, the star of your god, which you made to yourselves (Douay-Rheims translation of the Vulgate).
E então com a Septuaginta:
Sim, tomastes o tabernáculo de Moloch, e a estrela de seu deus Renfã, as imagens deles que vós fizestes para si mesmos (tradução de Sir Lancelot Brenton da Septuaginta).
Yea, ye took up the tabernacle of Moloch, and the star of your god Raephan, the images of them which ye made for yourselves (Sir Lancelot Brenton translation of the Septuagint).
Além disso, existem várias seções do texto hebraico que são simplesmente ilegíveis sem manter um olho no texto hebraico e outro na Septuaginta. Por exemplo, se você olhar para as notas de rodapé do livro de Habacuque na NRSV, há 5 lugares em que afirma-se que o texto hebraico é incerto e 3 vezes em que afirma-se que estão simplesmente traduzindo da Septuaginta, Peshitta, e / ou da Vulgata, porque o texto hebraico é incerto.
Outro exemplo de uma redação claramente corrompida no Texto Massorético é 1 Samuel 14:41, onde há:
Falou, pois, Saul ao Senhor Deus de Israel: Dê Tumim. Então Jônatas e Saul foram levados, e o povo saiu livre.
Várias traduções modernas corrigem esse texto claramente errôneo, baseando-se na Septuaginta e na Vulgata, onde há:
Saul então exclamou: “Ó Senhor, Deus de Israel, por que não respondeste hoje ao teu servo? Se o pecado recai sobre mim ou sobre o meu filho Jônatas, ó SENHOR, Deus de Israel, dê Urim. Mas se este pecado recai sobre teu povo Israel, dê Tumim. Jônatas e Saulo foram levados, e o povo saiu livre.
O Texto Massorético simplesmente não faz sentido e, obviamente, em algum momento um escriba pulou uma linha inteira ou duas do texto. Isso é óbvio por causa da referência ao Urim e Tumim, que eram dois objetos usados pelo sacerdote do Antigo Testamento para discernir a vontade de Deus em questões como o descrito em 1 Samuel 14.
Outro exemplo é o texto citado em Hebreus 1: 6 (E que todos os anjos de Deus o adorem), que não pode ser encontrado em nenhum lugar no Texto Massorético, mas é encontrado tanto nos textos hebraicos da Septuaginta como nos Manuscritos do Mar Morto em Deuteronômio 32:43.
Deve-se ressaltar que o texto hebraico não deve ser totalmente ignorado. Particularmente quando a Septuaginta e o texto hebraico estiverem de acordo, entenderemos melhor a Septuaginta como uma tradução se a compararmos com o texto hebraico do qual é claramente uma tradução. É extremamente útil para entender o alcance do significado do texto hebraico original (quando o tivermos claramente). Por exemplo, é útil saber que o hebraico não tem um tempo passado ou futuro, mas apenas um tempo perfeito e imperfeito ... e, portanto, apenas porque uma tradução para o inglês [NT: ou português] está claramente no tempo passado, presente ou futuro, isso não significa necessariamente que é isso que está implícito no original hebraico. Muitas vezes, encontramos o uso do "perfeito profético", onde uma profecia de algo que ainda não aconteceu está no tempo perfeito e, portanto, é frequentemente traduzida para o inglês no passado, por exemplo: ... pelas suas feridas fomos curados (Isaías 53: 5), quando, na perspectiva do profeta, ele estava falando de algo no futuro.
O fato de a Septuaginta ser o texto de maior autoridade na Igreja Ortodoxa é algo confirmado em praticamente qualquer texto catequético Ortodoxo que você possa consultar. O texto da Septuaginta é o texto que a Igreja preservou. O Texto Massorético é um texto que não foi preservado pela Igreja e, portanto, embora seja digno de estudo e comparação, não é igualmente confiável. Temos a promessa de que o Espírito Santo nos guiará em toda a Verdade (João 16:13) e, portanto, podemos afirmar que "Nossa Igreja possui o depósito infalível e genuíno das Sagradas Escrituras" ("Encíclica dos Patriarcas Orientais" de 1848).
* * *
Nota do skemmata: O texto abaixo é do Pe. Joseph Gleason
Texto Massorético vs. Texto Hebraico Original
Eu costumava acreditar que o Texto Massorético era uma cópia perfeita do Antigo Testamento original. Eu costumava acreditar que o Texto Massorético era como Deus preservou divinamente as Escrituras Hebraicas ao longo dos tempos.
Eu estava errado.
As cópias mais antigas do Texto Massorético remontam apenas ao século X, quase 1000 anos após a época de Cristo. E esses textos diferem dos originais de muitas maneiras específicas. O Texto Massorético recebeu o nome dos massoretas, que eram escribas e estudiosos da Torá que trabalhavam no Oriente Médio entre os séculos VII e XI. Os textos que eles receberam e as edições que eles forneceram asseguraram que os textos judaicos modernos manifestassem um afastamento notável das Escrituras Hebraicas originais.
A pesquisa histórica revela cinco maneiras significativas pelas quais o Texto Massorético é diferente do Antigo Testamento original:
1. Os Massoretas admitiram que receberam textos corrompidos já desde o início.
2. O Texto Massorético é escrito com um alfabeto radicalmente diferente do original.
3. Os Massoretas acrescentaram pontos vocálicos que não existiam no original.
4. O Texto Massorético excluiu vários livros das escrituras do Antigo Testamento.
5. O Texto Massorético inclui alterações nas profecias e doutrinas.
Vamos considerar cada ponto por vez:
1. A recepção de textos corrompidos
Muitas pessoas acreditam que o antigo texto hebraico das Escrituras foi divinamente preservado por muitos séculos, e foi finalmente registrado no que chamamos agora de "Texto Massorético". Mas no que os próprios massoretas acreditavam? Eles acreditavam que estavam preservando perfeitamente o texto antigo? Eles pensavam que haviam recebido um texto perfeito já desde o início?
A história diz "não". . .
As primeiras fontes rabínicas, por volta de 200 EC (a.C.), mencionam várias passagens das Escrituras nas quais a conclusão é inevitável de que a redação antiga deve ter diferido da do texto presente. . . . O rabino Simon ben Pazzi (século III) chama essas redações de "emendas dos escribas" (tikkune Soferim; Midrash Genesis Rabbah xlix. 7), assumindo que os escribas realmente fizeram as alterações. Essa visão foi adotada pelo Midrash posterior e pela maioria dos Massoretas.
Em outras palavras, os próprios Massoretas sentiram que haviam recebido um texto parcialmente corrompido.
Um fluxo não pode subir mais alto que sua fonte. Se os textos com os quais eles começaram eram corrompidos, mesmo uma transmissão perfeita desses textos serviria apenas para preservar os erros. Mesmo se os Massoretas tenham demonstrado grande cuidado ao copiar os textos, sua diligência não provocaria a correção nem de um único erro.
Além dessas alterações intencionais dos escribas hebreus, também parece haver uma série de alterações acidentais que eles permitiram penetrar no texto hebraico. Por exemplo, considere o Salmo 145. . .
O salmo 145 é um poema acróstico. Cada linha do Salmo começa com uma letra sucessiva do alfabeto hebraico. No entanto, no Texto Massorético, uma das linhas está completamente ausente:
O salmo 145 é um salmo acróstico em que cada versículo começa com a próxima letra do alfabeto hebraico. No Códice de Alepo, o primeiro versículo começa com a letra aleph, o segundo com beyt, o terceiro com gimel e assim por diante. O versículo 13 começa com a letra מ (mem - letra destacada em cima), a 13ª letra do alfabeto hebraico; o próximo versículo começa com a letra ס (samech - letra destacada embaixo), a 15ª letra do alfabeto hebraico. Não há versículo começando com a 14ª letra נ (nun).
No entanto, a tradução grega da Septuaginta (LXX) do Antigo Testamento inclui o versículo que falta. E quando esse versículo é traduzido de volta para o hebraico, ele começa com a letra hebraica נ (nun) que estava faltando no Texto Massorético.
No início do século 20, os Manuscritos do Mar Morto foram descobertos em cavernas perto de Qumran. Eles revelaram uma antiga tradição textual hebraica que diferia da tradição preservada pelos massoretas. Escrito em hebraico, foram encontradas cópias do Salmo 145, que incluem o versículo que faltava:
Quando examinamos o Salmo 145 dos Manuscritos do Mar Morto, encontramos entre o versículo começando com מ (mem - em cima) e o versículo começando com ס (samech - em baixo), o versículo começando com a letra נ (nun - centro). Este versículo, que falta no códice de Alepo, e que falta em todas as Bíblias hebraicas modernas que são copiadas desse códice, mas encontrado nos Manuscritos do Mar Morto, diz נאמן אלוהים בדבריו וחסיד בכול מעשיו.
O versículo que falta diz: “O Senhor é fiel em Suas palavras e santo em todas as Suas obras.” Este versículo pode ser encontrado na Bíblia de Estudo Ortodoxo [Orthodox Study Bible], que se baseia na Septuaginta. Mas esse versículo está ausente na Versão King James (KJV), na Versão New King James (NKJV), na Bíblia Judaica Completa e de todas as outras traduções baseadas no Texto Massorético.
Nesse caso em particular, é fácil demonstrar que o Texto Massorético está errado, pois é óbvio que o Salmo 145 foi originalmente escrito como um Salmo acróstico. Mas o que devemos fazer dos milhares de outros locais onde o Texto Massorético diverge da Septuaginta? Se o Texto Massorético pôde apagar completamente um versículo inteiro de um dos Salmos, quantas outras passagens das Escrituras foram editadas? Quantos outros versículos foram apagados?
2. Um alfabeto radicalmente diferente
Se Moisés visse uma cópia do Texto Massorético, ele não seria capaz de lê-lo.
Conforme discutido neste post recente, as escrituras originais do Antigo Testamento foram escritas em paleo-hebraico, um texto intimamente relacionado ao antigo sistema de escrita foneciano.
O Texto Massorético é escrito com um alfabeto que foi emprestado da Assíria (Pérsia) por volta do século VI-VII a.C. e é quase 1000 anos mais novo que a forma de escrita usada por Moisés, Davi e a maioria dos autores do Antigo Testamento.
3. A adição dos pontos vocálicos
Por milhares de anos, o hebraico antigo era escrito apenas com consoantes, sem vogais. Ao ler esses textos, eles tiveram que suprir todas as vogais da memória, com base na tradição oral.
Em hebraico, assim como as línguas modernas, as vogais podem fazer uma grande diferença. A mudança de uma única vogal pode mudar radicalmente o significado de uma palavra. Um exemplo em inglês é a diferença entre "SLAP" [Tapa] e "SLIP" [Escorregar]. Estas palavras têm definições muito diferentes. No entanto, se nossa linguagem fosse escrita sem vogais, ambas as palavras seriam "SLP". Portanto, as vogais são muito importantes.
A alteração mais extensa que os Massoretas trouxeram para o texto hebraico foi a adição de pontos vocálicos. Em uma tentativa de solidificar para sempre as redações “corretas” de todas as Escrituras Hebraicas, os Massoretas adicionaram uma série de pontos ao texto, identificando qual vogal usar em qualquer local dado.
Adam Clarke, um estudioso protestante do século XVIII, demonstra que o sistema de pontos vocálicos é, na verdade, um comentário contínuo que foi incorporado ao próprio texto.
No Prefácio Geral de seu comentário bíblico publicado em 1810, Clarke escreve:
Os Massoretas eram os maiores comentaristas judeus que essa nação poderia se vangloriar. O sistema de pontuação, provavelmente inventado por eles, é um brilho contínuo na Lei e nos Profetas; seus pontos vocálicos e acentos prosaicos e métricos, etc., dão a cada palavra à qual são afixados um tipo peculiar de significado, que, em seu estado simples, não suporta muitos significados. Os pontos vocálicos por si só adicionam conjugações inteiras ao idioma. Esse sistema é um dos comentários mais artificiais, particulares e extensos já escritos sobre a Palavra de Deus; pois não há uma palavra na Bíblia que não seja objeto de um brilho particular por causa de sua influência.
Outro estudioso que investigou esse assunto foi Louis Cappel, que escreveu durante o início do século XVII. Um artigo da edição de 1948 da Encyclopedia Britannica inclui as seguintes informações sobre sua pesquisa do Texto Massorético:
Como um estudioso de hebraico, ele concluiu que os pontos vocálicos e acentos não eram uma parte original do hebraico, mas foram inseridos pelos judeus massoretas de Tiberíades, não antes do século V d.C., e que os caracteres hebraicos primitivos são aramaicos e foram substituídos pelos mais antigos na época do cativeiro. . . As várias redações no texto do Antigo Testamento e as diferenças entre as versões antigas e o Texto Massorético convenceram-no de que a integridade do texto hebraico, como sustentada pelos protestantes, era insustentável.
Muitos Protestantes amam o Texto Massorético, acreditando ser uma representação confiável do texto hebraico original das Escrituras. No entanto, ao mesmo tempo, a maioria dos Protestantes rejeitam a Tradição da Igreja Ortodoxa como não confiável. Eles acreditam que a tradição oral da Igreja não poderia preservar a Verdade por um longo período de tempo.
Portanto, os pontos vocálicos do Texto Massorético colocam os Protestantes em uma posição precária. Se eles acreditam que as vogais massoréticas não são confiáveis, questionam o próprio Texto Massorético. Mas se eles acreditam que as vogais massoréticas são confiáveis, são forçados a acreditar que os judeus preservaram com sucesso as vogais das Escrituras por milhares de anos, somente através da tradição oral, até que os massoretas finalmente inventaram os pontos vocálicos centenas de anos depois de Cristo. Ambas conclusões estão em desacordo com o pensamento Protestante convencional.
Ambas tradições orais podem ser confiáveis ou não. Se é confiável, não há razão para rejeitar as Tradições da Igreja Ortodoxa, que foram preservadas por quase 2000 anos. Mas se as tradições são sempre não confiáveis, os pontos vocálicos massoréticos também são não confiáveis e devem ser rejeitados.
4. A exclusão de Livros das Escrituras do Antigo Testamento
O Texto Massorético promove um cânone do Antigo Testamento que é significativamente mais curto que o cânon representado pela Septuaginta. Enquanto isso, os Cristãos Ortodoxos e Católicos têm Bíblias que incorporam o cânon da Septuaginta. Os livros das Escrituras encontrados na Septuaginta, mas não encontrados no Texto Massorético, são comumente chamados de deuterocanônicos ou anagignoskomena. Embora esteja fora do escopo deste artigo realizar um estudo aprofundado do cânone das Escrituras, alguns pontos relevantes ao Texto Massorético devem ser levantados aqui:
- Com exceção de dois livros, o Deuterocânon foi originalmente escrito em hebraico.
- Em três lugares, o Talmud se refere explicitamente ao livro de Sirach [Eclesiástico] como "Escritura".
- Jesus celebrou o Hanukkah, uma festa que se origina no livro de 1 Macabeus, e em nenhum outro lugar do Antigo Testamento.
- O livro de Hebreus do Novo Testamento narra as histórias de vários santos do Antigo Testamento, incluindo uma referência a mártires do livro de 2 Macabeus.
- O livro da Sabedoria [de Salomão] inclui uma profecia impressionante de Cristo, e seu cumprimento é registrado em Mateus 27.
- Numerosas descobertas entre os Manuscritos do Mar Morto sugerem a existência de comunidades judaicas do século I que aceitavam muitos dos livros deuterocanônicos como Escrituras autênticas.
- Muitos milhares de cristãos do século I eram convertidos do judaísmo. A Igreja primitiva aceitou a inspiração do Deuterocânon, e freqüentemente citava autoritativamente livros como Sabedoria, Sirach e Tobias. Essa prática cristã primitiva sugere que muitos judeus aceitavam esses livros, mesmo antes de sua conversão ao cristianismo.
- Os judeus etíopes preservaram a antiga aceitação judaica da Septuaginta, incluindo grande parte de seu cânon das Escrituras. Sirach, Judite, Baruc e Tobias estão entre os livros incluídos no cânon dos judeus etíopes.
Essas razões, entre outras, sugerem a existência de uma grande comunidade judaica do século I que aceitava o Deuterocânon como Escritura inspirada.
5. Alterações nas Profecias e Doutrinas
Ao compilar qualquer passagem das Escrituras, os Massoretas tiveram que escolher entre várias versões dos textos hebraicos antigos. Em alguns casos, as diferenças textuais eram relativamente irrelevantes. Por exemplo, dois textos podem diferir quanto à ortografia do nome de uma pessoa.
No entanto, em outros casos, eles foram apresentados com variantes textuais que causaram um impacto considerável na doutrina ou profecia. Em casos como esses, os Massoretas foram completamente objetivos? Ou seus preconceitos anticristãos influenciaram alguma de suas decisões de edição?
No século II dC, centenas de anos antes da época dos Massoretas, Justino Mártir investigou vários textos do Antigo Testamento em várias sinagogas judaicas. Ele por fim concluiu que os judeus que haviam rejeitado Cristo também haviam rejeitado a Septuaginta e agora estavam adulterando as próprias Escrituras Hebraicas:
Não me deixo persuadir por vossos mestres, que não admitem estar correta a tradução de vossos setenta anciãos que estiveram com Ptolomeu, rei do Egito, mas colocaram-se eles mesmos a traduzir outra. Além disso, quero que saibais que eles eliminaram completamente muitas passagens da versão dos setenta anciãos que estiveram com o rei Ptolomeu, nas quais se demonstra que esse mesmo Jesus crucificado foi claramente anunciado como Deus e homem, e que havia de ser crucificado e morrer. (~ 150 dC, Justino Mártir, Diálogo com Trifão, o Judeu, capítulo LXXI)
Se as descobertas de Justino Mártir estiverem corretas, é provável que os Massoretas tenham herdado uma tradição textual hebraica que já havia sido corrompida por um viés anticristão. E se olharmos para algumas das diferenças mais significativas entre a Septuaginta e o Texto Massorético, é exatamente isso que vemos. Por exemplo, considere as seguintes comparações:
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Essas não são diferenças aleatórias e irrelevantes entre os textos. Pelo contrário, esses parecem ser lugares onde os Massoretas (ou seus antepassados) tinham uma seleção variada de textos a considerar, e suas decisões foram influenciadas pelo viés anticristão. Simplesmente escolhendo um texto hebraico em detrimento de outro, eles conseguiram subverter a Encarnação, o nascimento virginal, a divindade de Cristo, Sua cura aos cegos, Sua crucificação e Sua salvação dos gentios. Os escribas judeus foram capazes de remover Jesus de muitas passagens importantes, simplesmente rejeitando um texto hebraico e selecionando (ou editando) outro texto.
Assim, o Texto Massorético não preservou perfeitamente o texto hebraico original das Escrituras. Os Massoretas receberam textos corrompidos já desde o início, usaram um alfabeto radicalmente diferente do hebraico original, acrescentaram incontáveis pontos vocálicos que não existiam no original, excluíram vários livros das escrituras do Antigo Testamento e incluíram várias alterações significativas nas profecias e doutrinas.
Parece então que a tradução da Septuaginta (LXX) não é apenas muito mais antiga que o Texto Massorético. . . a Septuaginta também é muito mais precisa. É uma representação mais fiel das Escrituras Hebraicas originais.
Talvez seja por isso que Jesus e os apóstolos frequentemente citaram a Septuaginta e concederam plena autoridade como a inspirada Palavra de Deus.
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Nota do skemmata: O texto abaixo é do reverendo Basílio, Bispo da Diocese de Wichita e mid-América, retirado do livro The Orthodox Study Bible.
O Antigo Testamento
Esta introdução é uma breve descrição de cada um dos quarenta e nove livros do Antigo Testamento. É útil ter em mente que, como a comunidade cristã mais antiga, a Igreja Ortodoxa de hoje continua usando a versão grega do Antigo Testamento conhecida como Septuaginta (LXX). A Septuaginta - o nome refere-se aos setenta sábios judeus, de todas as doze tribos judias, que fizeram a tradução do hebraico para o grego - tornou-se a versão universalmente aceita do Antigo Testamento desde o tempo de seu aparecimento, três séculos antes do nascimento de Cristo. Nosso Senhor Jesus Cristo, juntamente com Seus apóstolos e evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João, e também Pedro e Paulo, usaram essa versão grega ao citar o Antigo Testamento em seus evangelhos e epístolas. Esses livros inspirados do Antigo Testamento contam a história do relacionamento de Deus com a antiga Israel, de aproximadamente 2000 aC até a época de Jesus.
Um estudo do Antigo Testamento à luz da autêntica tradição apostólica levará o leitor a Aquele que cumpriu a Lei e os Profetas, como Ele prometeu: Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo. Esta coleção de quarenta e nove livros do Antigo Testamento é tradicionalmente subdividida em quatro seções: 1) os cinco livros da Lei; 2) os livros de história; 3) os livros de sabedoria e; 4) os livros de profecia.
1. Os cinco Livros da Lei
Primeiro, há os livros da Lei: Gênesis, que significa "começo", uma vez que narra o início da criação de Deus; Êxodo, que significa "saída" ou "partida", referindo-se à jornada dos hebreus saindo da escravidão no Egito; Levítico, um livro que detalha a adoração dirigida pelos sacerdotes ordenados da tribo de Levi; Números, cujo título é derivado do relato de abertura do livro do censo ou contagem do povo de Israel; Deuteronômio, que significa "segunda lei", uma vez que fornece uma lista detalhada das leis adicionais dadas por Deus por meio de Moisés.
Esses cinco primeiros livros do Antigo Testamento, conhecidos em conjunto como o Pentateuco (penta significa "cinco" em grego), descrevem a criação do mundo por Deus, a rebelião de Adão e Eva e a queda do homem, e a história do povo de Deus desde os dias de Abraão, por volta de 2000 aC, até os dias de Moisés, datada por muitos estudiosos em aproximadamente 1250 aC.
2. Os Livros da História
A segunda seção do Antigo Testamento LXX é conhecida como livros históricos. Esse grupo começa com o livro de Josué, o líder dos filhos de Israel após a morte de Moisés, que leva o povo de Deus à terra prometida após seus quarenta anos de peregrinação no deserto. Juízes se refere às tradições das várias tribos hebraicas e às façanhas de seus próprios heróis particulares, os Juízes de quem fala o título, que governaram a nação. O livro de Rute é o relato encantador e heróico de uma mulher gentia que se colocou sob a proteção do único Deus verdadeiro e, nesse processo, tornou-se ancestral do rei Davi e de seu descendente, Jesus Cristo, o Messias de Israel.
Primeiro e Segundo Reinos (Primeiro e Segundo Samuel), cujos personagens principais são Samuel, o fiel profeta, Saul, o primeiro rei a governar o povo de Deus, e Davi, sucessor de Saul e o primeiro rei de Judá no sul da Palestina, e Israel para o norte. Os livros do Terceiro e Quarto Reinos (Primeiro e Segundo Reis) começam com a entronização do filho de Davi, Salomão, e terminam com a queda do reino, incluindo a destruição de sua capital, Jerusalém, e o exílio do povo de Deus da Palestina para a Babilônia.
Primeira e a Segunda Crônicas (Primeiro e Segundo Paraleipomenon) expandem a história registrada no Terceiro e Quarto Reinos. A palavra Paraleipomenon é transliterada do grego e significa "aquilo que é omitido" nos dois livros anteriores. Os livros Primeiro e Segundo Esdras e Neemias continuam essa crônica da história divina, concentrando-se na comunidade religiosa judaica após seu retorno a Jerusalém do exílio na Babilônia.
Os livros finais na seção histórica do Antigo Testamento revelam as histórias de pessoas que viveram vidas heróicas e dirigidas por Deus sob domínio estrangeiro e durante o exílio: Tobias, que foi levado ao cativeiro pelos assírios; Judite, a viúva piedosa e bela que salvou seu povo do massacre pelo general assírio invasor; Ester, a rainha judia da Pérsia que efetuou a revogação do decreto de Hamã que permitiria a perseguição e o assassinato em massa do povo de Deus; e os Macabeus, a família dos Hasmoneanos e seus seguidores, o povo fiel que iniciou a revolta e travou as guerras de independência contra exércitos estrangeiros que ocupavam suas terras.
3. Os Livros de Sabedoria
A terceira seção do Antigo Testamento é conhecida como os livros de Sabedoria. Os Salmos magníficos são os hinos da antiga Israel e da Igreja. O livro de Jó, que no grego canônico LXX se encontra entre Salmos e Provérbios, investiga as profundezas da fé inabalável de um homem diante da tragédia e do sofrimento inocente. Provérbios é uma coleção de instruções morais e religiosas ensinadas aos jovens após o retorno do exílio na Babilônia. Eclesiastes fala do pregador que filosoficamente procura entender o significado da existência humana que o bom homem pode encontrar nesta vida. O emocionante Cântico dos Cânticos de Salomão é uma coleção de poemas líricos, escritos na linguagem do amor humano e cortejo, que também fala profeticamente do amor de Deus por Sua amada Noiva, Sua Igreja. A Sabedoria de Salomão promete recompensa e imortalidade aos justos, louva a sabedoria e condena a loucura da idolatria. A Sabedoria de Sirach [Eclesiástico] consiste em palestras para jovens sobre temas éticos e religiosos.
Estes sete livros da literatura de Sabedoria - Salmos, Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria de Salomão e Sabedoria de Sirach [Eclesiástico] - proclamam que a felicidade (ou "bem-aventurança", na linguagem da Bíblia) é possível somente através da fé e obediência ao único Deus verdadeiro.
4. Os Livros de Profecia
A quarta e última seção do Antigo Testamento LXX inclui os livros de profecia, que aparecem em uma ordem diferente das coleções hebraica e da Vulgata.
Oséias transmite uma mensagem do próprio amor redentor de Deus pelo Seu povo escolhido, mesmo quando O rejeitam e se prostituem para deuses falsos. Amós é o simples pastor chamado por Deus para denunciar uma nação auto-satisfeita com sua grave injustiça social, imoralidade abominável e sua piedade superficial e sem sentido. Miquéias prediz o dia em que as nações baterão as espadas em arados e as lanças em ganchos de poda. Ele fala da paz reinando sobre todos os que fazem justiça, que amam a bondade e que andam humildemente com Deus. Joel é o profeta que prediz o derramamento do Espírito Santo sobre toda a carne. Obadias profetiza o retorno dos exilados da Babilônia. Jonas, a contragosto, aceita o mandamento de Deus de pregar Sua misericórdia e perdão a uma nação estrangeira.
Naum profetiza a derrota do poderoso inimigo assírio. Habacuque lida com a pergunta perene: "Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?" (Habacuque 1: 2). Sofonias profetiza os dias sombrios da destruição de Judá, mas promete conforto e conciliação para aqueles que esperam pacientemente pelo Senhor e O servem. Ageu, após o retorno dos exilados, exorta-os a reconstruir o templo destruído, a fim de unificar sua vida religiosa perturbada e, mais importante, preparar-se para a vinda do tão esperado Messias.
Zacarias profetiza a imagem do príncipe messiânico da paz, o bom pastor que daria sua vida pelo rebanho. Malaquias exorta o povo de Deus à fidelidade e afirma a paternidade de Deus sobre todas as nações. Ele prediz que Deus nomeará um precursor, semelhante ao antigo profeta Elias que aparecerá antes do Messias e preparará o mundo para o Dia do Senhor vindouro.
Isaías exorta o povo de Deus a depositar sua confiança no Senhor e a levar vidas públicas e privadas que manifestam essa confiança. De Isaías, ouvimos as profecias de um Filho nascer de uma virgem e sobre um Servo Sofredor - o Messias - que seria levado como ovelha inocente ao matadouro e por cujas faixas seríamos curados. Jeremias critica severamente o povo de Deus por abandonar o único Deus verdadeiro e se voltar para a adoração de ídolos. Baruc foi designado para ser lido nos dias de festa como uma confissão de pecados. Em Lamentações, o autor Jeremias lamenta a destruição da cidade santa de Jerusalém pelos babilônios. A Epístola de Jeremias é dirigida àqueles que serão levados para o exílio na Babilônia.
Ezequiel, o profeta dos exilados, assegura a seus ouvintes a presença permanente de Deus entre eles, mesmo no exílio e na servidão. Por fim, Daniel escreve uma profecia apocalíptica ou mística do fim dos tempos, cheia de sinais e símbolos difíceis e muitas vezes obscuros. Na LXX grega, Daniel começa com a história heróica de Susana e termina com o fascinante relato de Bel e o Dragão.
Esses quarenta e nove livros do Antigo Testamento inspirados por Deus divididos em quatro seções - livros da Lei, da História, de Sabedoria e de Profecia - que servem de introdução à preparação do mundo por João Batista para a vinda do Messias, que é o servo sofredor de Isaías, o príncipe da paz de Zacarias e o bom pastor que dá Sua vida pelo rebanho.
Antigo Testamento Ortodoxo
Gênese
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
Rute
1 Reinos (1 Samuel)
2 Reinos (2 Samuel)
3 Reinos (1 Reis)
4 Reinos (2 Reis)
1 Crônicas (1 Paraleipomenon)
2 Crônicas (2 Paraleipomenon) *
1 Esdras
2 Esdras
Neemias
Tobias
Judite
Ester
1 Macabeus
2 Macabeus
3 Macabeus
Salmos (151 em número)
Jó
Provérbios de Salomão
Eclesiastes
Cântico dos Cânticos
Sabedoria de Salomão
Sabedoria de Sirach [Eclesiástico]
Oséias
Amos
Miquéias
Joel
Obadias
Jonas
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
Isaías
Jeremias
Baruc
Lamentação de Jeremias
Epístola de Jeremias
Ezequiel
Daniel **
* Inclui a oração de Manassés
** "Susana" está no começo de Daniel, "Bel e o Dragão" no final. Também inclui o "Hino dos Três Jovens".
O Novo Testamento
Os Quatro Evangelhos
Mateus, Marcos, Lucas e João relembram os eventos da vida de Jesus Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem. Os três primeiros são chamados de Evangelhos Sinópticos, na medida em que estabelecem um "visão comum" da cronologia dos eventos e da mensagem de Cristo em Sua vida e ministério. Mateus dirige seu evangelho principalmente a outros judeus. Marcos é provavelmente o primeiro evangelho a ser escrito e fala de Cristo como servo de todos (Mc 10:45). Lucas, ele próprio médico, revela o Cristo Encarnado e Sua ascendência terrena. Este Filho do Homem salva e cura a raça caída.
João, o último dos quatro evangelhos a ser escrito, enfatiza a divindade de Cristo, o eterno Filho e Verbo de Deus, que se tornou homem. O evangelho de João revela ainda sete milagres de Cristo, nem todos em ordem cronológica.
Atos
Escrito por São Lucas, esses são os Atos (ou realizações) dos Apóstolos, mas principalmente de Pedro (capítulos 1 a 12) e Paulo (capítulos 13 a 28). Atos narra a história inicial da Igreja desde o Pentecostes até aproximadamente 65 dC.
As Cartas (ou Epístolas) de São Paulo
As nove primeiras cartas de Paulo são escritas para as igrejas. Romanos, que começa esta seção, foi a única carta que Paulo escreveu a uma comunidade que ele não havia visitado anteriormente. Assim, entende-se que muito do que ele escreveu para a igreja em Roma, ele pregou em outros lugares.
As cidades mais proeminentes da Grécia do primeiro século eram Corinto, um centro de comércio, imoralidade e religião falsa. Previsivelmente, esta igreja incipiente teria que lidar com essas mesmas questões. O Primeiro Coríntios é, portanto, uma epístola corretiva que exige unidade, virtude, paciência, ordem eucarística e uso adequado dos dons do Espírito Santo. Em contraste, o Segundo Coríntios reconhece o arrependimento dentro da igreja por parte de muitos, e São Paulo defende sua autoridade apostólica.
Em Gálatas, Paulo se dirige a várias igrejas na Ásia Menor, defendendo seu apostolado e chamando os fiéis a viverem suas vidas na força do Espírito Santo, em vez de em submissão às leis da antiga aliança. Efésios é um discurso maravilhoso sobre como a Igreja deve se conduzir. Esta comunidade é rica em dedicação a Cristo. No entanto, poucas décadas depois, o Senhor lhes diz: “deixaste o teu primeiro amor.” (Ap 2: 4).
Filipenses é a epístola de alegria. Paulo escreve de uma prisão romana: “Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se!”(Filipenses 4: 4). Colossenses apresenta Cristo como “a cabeça do corpo, a igreja. . . ”(Col 1:18), preeminente em todas as coisas.
Primeiro Tessalonicenses, a primeira epístola escrita por São Paulo, foi escrita aos crentes em Tessalônica, uma bela cidade costeira da Grécia por volta de 51 dC, logo após Paulo fundar aquela Igreja. Esta é uma epístola de encorajamento. Segundo Tessalonicenses reconhece a perseguição e alerta sobre a desordem, exortando os cristãos: "estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas... ”(2Ts 2:15).
Em seguida, Paulo dirige as seguintes epístolas a indivíduos. Em Primeiro Timóteo, o apóstolo idoso fala com o jovem sobre a supervisão eficaz da igreja. Em Segundo Timóteo, a última epístola que São Paulo escreveu (veja 2Ti 4: 6–8), ele encoraja Timóteo: “fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus” (2Ti 2: 1). Paulo já está na prisão em Roma (1: 8) aguardando o martírio.
Tito é enviado por Paulo a Creta para por a igreja "em ordem" e "nomear presbíteros em todas as cidades" (Tt 1: 5). Isso soa como obra de um bispo, e é (Tt 1: 7, 8), e Tito é constantemente nomeado nos primeiros registros da Igreja como o primeiro bispo de Creta. Filemon é um cristão dono de escravos, e Paulo escreve-o para que receba de volta Onésimo (Filemon 10-16), o escravo fugitivo de Filemon, que se tornou cristão com Paulo em Roma.
Hebreus é a última das epístolas atribuídas a São Paulo, mas com poucas evidências de que foi realmente escrita por Paulo. É uma epístola geral aos crentes judeus em Cristo para continuarem na Fé. Assegura-lhes que Cristo, o grande Sumo Sacerdote nos céus (Hb 8: 1), é o sacrifício de uma vez por todas pelo pecado (Hb 10:10) e Aquele que venceu a morte (Hb 12: 1, 2).
As Epístolas Gerais
Tiago, irmão do Senhor e primeiro bispo de Jerusalém, escreve a outros judeus, “às doze tribos que andam dispersas” (Tiago 1: 1). A mensagem dele? "A fé sem obras é morta" (Tiago 2:26). O cristianismo é uma crença que se comporta.
Primeiro Pedro, escrito pelo primeiro entre os apóstolos, pede obediência a Deus e ao homem, disposição para sofrer em nome de Cristo e pastoreamento eficaz do rebanho. Em Segundo Pedro, o apóstolo discute o poder divino para os fiéis (deificação), o julgamento divino para os falsos mestres e o Dia do Senhor.
Em seguida, João, o Teólogo, oferece três epístolas gerais. Primeiro João é um emocionante testemunho pessoal do perdão de Deus, Seu amor por Seus filhos e Seu dom da vida eterna. Em Segundo João, ele se dirige a uma “senhora eleita e seus filhos” (v. 1), exortando-os a obedecer aos mandamentos do Senhor e ter cuidado com os enganadores. Terceiro João elogia Gaius e Demétrio, e adverte contra Diotrephes.
Por fim, Judas, irmão do Senhor, escreve uma pequena epístola exortando os fiéis a lutar pela verdade e a ter cuidado com os servos do diabo. Ele termina com uma bênção belíssima.
Revelação
Escrito por São João Teólogo, ele intitula seu livro “A Revelação de Jesus Cristo” (1: 1). O que o livro de Daniel é para o Antigo Testamento, Revelação é para o Novo Testamento. Outro título é Apocalipse, que é uma transliteração da palavra grega para "revelação" ou "desvendamento". O livro fala profeticamente tanto dos eventos atuais quanto dos futuros, do julgamento e da salvação, e termina com a gloriosa Nova Jerusalém descendo de o céu “como uma noiva adornada para o seu marido” (21: 2).
Em Tobias 5:6 a distância entre Ecbatana e Rages está como sendo de dois dias.Parece que são mais dias. Como explicar esse suposto erro?
ResponderExcluirerros geográficos no geral, distancias, nome de plantas, espécies em geral não influem na inspiração ou confiabilidade dos textos Revelados. Deus usa os homens tal qual eles são em suas respectivas épocas e conhecimentos.
ExcluirVai ser burro no inferno claro que influi uma letra número ou ponto alterado do texto mexe com a transmissão da mensagem.
ExcluirA Bíblia Ortodoxa não tem IV Macabeus?
ResponderExcluirE a Tradução Ecumênica da Bíblia (Bíblia TEB - Nova Edição)? Ela contém todos os livros do cânon ortodoxo. https://www.dcl.org.br/noticias/mundo/1062-traducao-ecumenica-da-biblia
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