Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.Ε em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado unigênito do Pai, isto é, da substância do Pai; Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai; por quem foram feitas todas as coisas que estão no céu ou na terra. O qual por nós homens e para nossa salvação, desceu, se encarnou e se fez homem. Padeceu e ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus. Ele virá para julgar os vivos e os mortos. E no Espírito Santo. E quem quer que diga que houve um tempo em que o Filho de Deus não existia, ou que antes que fosse gerado ele não existia, ou que ele foi criado daquilo que não existia, ou que ele é de uma substância [ou essência] diferente [do Pai], ou está sujeito à mudança ou transformação, todos os que falem assim, são anatematizados pela Igreja Católica Apostólica.
E no Espírito Santo, Senhor e Doador da Vida, que procede do Pai; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele falou pelos profetas. E na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos; e a vida do mundo vindouro. Amém.
E no Espírito Santo, o Senhor e o Doador da Vida, que procede do Pai; quem com o Pai e o Filho juntos é adorado e glorificado.
E no Espírito Santo, o Senhor e o Doador da Vida, que procede do Pai e do Filho; quem com o Pai e o Filho juntos é adorado e glorificado.
O Catolicismo Romano admite que ἐκπορεύεται refere-se apenas à origem eterna do Espírito Santo. Ele reconheceu isso nesta publicação:
o termo <ekporeusis> (εκορευσις), distinto do termo "proceder" (<proienai>) (προιναι), pode caracterizar apenas uma relação de origem com o princípio sem princípio da Trindade: o Pai.
A diferença entre a "origem eterna" e a origem do "envio no tempo (temporal)" é importante. A maioria das tentativas de defender o filioque confunde as duas ou falha em reconhecer a diferença. Elas não significam o mesmo.
Quando o Paracleto vier, que eu enviarei a você do Pai, o Espírito da verdade que sai do* Pai, ele será minha testemunha.
Nota [da Bíblia]: * O envio do Espírito ao mundo, e não a processão "eterna" a partir do Pai na Trindade.
Quando o Paracleto vier, o Espírito da verdade que vem do Pai - e quem eu mesmo enviarei do Pai - ele dará testemunho em meu nome.
Nota [da Bíblia]: Vem do Pai: refere-se à missão do Espírito aos homens, não à processão eterna do Espírito. Compare 14:26, onde é dito que o Pai, não Jesus, envia o Espírito.
A bíblia New American (deliberadamente?) distorce a passagem usando o verbo 'vem' no lugar de 'procede' muito mais preciso. Essa tradução incorreta obscurece o claro significado do texto grego. Sua nota é essencialmente a mesma da tradução da New Jerusalem: uma negação do claro significado em favor do erro católico romano. A referência a João 14:26 serve apenas para nos desviar do essencial. Ninguém nega que o Espírito Santo seja enviado pelo Pai e pelo Filho ao mundo. Essas traduções católicas romanas querem fazer com que acredite-se que não há nada nas Escrituras que revele explicitamente a processão eterna do Espírito Santo.
A abordagem Ortodoxa à Santíssima Trindade enfatiza mais o que não pode ser dito do que o que pode ser dito. Isso se baseia no reconhecimento de que, em última análise, Deus está além da compreensão humana; além da linguagem e das definições humanas. As citações a seguir são características:
Você pergunta o que é a processão do Espírito Santo? Diga-me primeiro o que é o caráter não-gerado do Pai, e depois eu explicarei a fisiologia da geração do Filho e a processão do Espírito, e nós dois seremos atingidos por loucura por nos intrometermos no mistério de Deus. - São Gregório, o Teólogo
Aprendemos que há uma diferença entre geração e processão, mas a natureza da diferença de modo algum entendemos. - São João de Damasco
Como o Pai tem vida em Si mesmo, assim Ele deu ao Filho para que tenha vida em Si mesmo.Agostinho viu o Pai, Filho e Espírito Santo como existindo em uma Unidade de ser, vontade, atividade, pensamento, etc., conhecida como a "divindade", que era praticamente uma quarta pessoa. Ele chegou ao ponto de se referir à "Pessoa da Santíssima Trindade" [A Trindade, 2.10.8]! No entanto, o princípio da "simplicidade divina" permaneceu.
[A Trindade, 5.27.47]
A divindade é a essência absolutamente simples e, portanto, ser é a mesma coisa que ser sábio. [A Trindade — A Trindade 7.1.2]Mas essa "simplicidade divina" fez Agostinho subordinar pessoas aos atributos e os atributos à essência. Ele não hesita em confundir explicitamente as pessoas com atributos:
Os termos [Pai, Filho e Espírito Santo] são usados reciprocamente e em relação um ao outro. [A Trindade, 6.5.6]
Porque tanto o Pai é um espírito como o Filho é um espírito, e porque o Pai é santo e o Filho é santo, portanto ... uma vez que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um Deus, e certamente Deus é santo, e Deus é um espírito, a Trindade também pode ser chamada de Espírito Santo. [A Trindade, 5.11.12]
Não podemos dizer, com efeito, que o Espírito Santo não seja vida, pois o Pai é vida e o Filho é vida. Conseqüentemente, assim como o Pai tem a vida em si mesmo e concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo, assim concedeu-lhe que a vida dele proceda, como do Pai procede. [A Trindade, 15.27.48]
Esse conceito de "simplicidade divina" cria um problema para Agostinho. Os nomes "Pai" e "Filho" expressam uma relação clara: o Pai é não-gerado e o Filho é gerado. Mas onde o Espírito Santo se encaixa? Não pode haver mais de um meio de geração de Pessoas divinas na divindade, pois isso seria uma distinção contrária à "simplicidade divina". Ou seja, devido a essa ênfase na essência simples, Agostinho concluiu que não poderia haver diferença entre 'gerar' [modo de origem do Filho a partir do Pai] e 'espirar' [modo de origem do Espírito a partir do Pai]. Mas se o Filho e o Espírito Santo forem ambos gerados pelo Pai pelos mesmos meios de geração, ambos serão filhos. A "solução" de Agostinho, concebida dentro da estrutura neoplatônica, foi brilhante - mas era a sabedoria da filosofia.
Usando o modelo neoplatônico, Agostinho enfatizou a igualdade do Filho com o Pai, tornando o Filho a causa de uma Pessoa divina, compartilhando assim o atributo de causalidade com o Pai e resolvendo o "problema" de distinguir entre o Filho e o Espírito Santo! O Espírito Santo foi tornando ontologicamente diferente do Filho: o filioque.
Assim se diz do Espírito Santo: não é somente do Pai e do Filho, mas também é nosso, posto que o recebemos. ... E se o que é dado tem como princípio aquele por quem é dado, pois não recebeu de outro o que dele procede, deve-se admitir que o Pai e o Filho são um só Princípio do Espírito Santo, e não dois princípios. Mas assim como o Pai e o Filho são um só Deus e em relação à criação um só Criador e um só Senhor, assim também de modo relativo quanto ao Espírito Santo são um só Princípio. E em relação à criação o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Princípio, como são um só Criador e um só Deus. [A Trindade, 5.14.15]
Pela mesma razão, o Espírito Santo subsiste na mesma unidade e na mesma igualdade de substância. Com efeito, quer Ele seja a unidade, quer seja santidade, quer seja amor de ambos (do Pai e do Filho), ou que haja unidade porque há amor, e amor porque há santidade... O Espírito Santo é pois alguma coisa comum ao Pai e ao Filho, seja o que for. Mas essa comunhão é consubstancial e coeterna. Se for mais exato dar-lhe o nome de amizade, que se dê. Mas seria mais adequado chamá-lo de amor. [A Trindade 6.5.7]
Quando confrontados com isso:
A capacidade de "espirar" o Espírito Santo vem da divindade ou de uma Pessoa específica? Se vem de uma Pessoa específica então, qual?
Todo o ensino é baseado em uma tentativa tola de empregar a sabedoria humana para explicar o que é inexplicável. É algo confuso e enraizado em um deus concebido pelo homem (como dos neoplatonistas), e não no Deus de Abraão, Isaac, Jacó e Moisés, o Deus de Jesus Cristo.
Objeção 3: O filioque distorce o significado da pessoalidade dentro da Santíssima Trindade
A ontologia grega pagã ensinou que Deus é, primariamente, sua substância ou natureza. Hereges como os arianos e os nestorianos, trabalhando com esse pensamento grego pagão, ensinavam que a substância ou a natureza precedia a existência de Deus como Trindade, ou seja, como Três Pessoas. Essa é a mesma interpretação que prevaleceu no pensamento cristão ocidental, como pode ser visto pelo arranjo típico dos livros de teologia dogmática e sistemática. (Primeiro lida-se com a existência de Deus, depois com a natureza de Deus, depois com os atributos ou qualidades de Deus; tudo isso antes de abordar a existência da Trindade.)
O Décimo Primeiro Concílio de Toledo (Espanha) é a primeira tentativa organizada de fazer uma adição ao Símbolo da Fé. A linguagem vem diretamente de Agostinho, que havia repousado dois séculos e meio antes.
Cremos também que o Espírito Santo, que é a terceira pessoa na Trindade, é Deus um e igual com Deus Pai e Filho, da mesma substância e também da mesma natureza; todavia, não é gerado nem criado, mas procede de ambos e é o Espírito de ambos. Este Espírito Santo não é, conforme a fé, nem gerado nem não gerado, para que não apareça que, chamando-o não gerado, estejamos falando de dois Pais e, chamando-o gerado, estejamos pregando dois Filhos; todavia ele não é chamado Espírito só do Pai, nem só do Filho, mas ao mesmo tempo do Pai e do Filho. Não procede, de fato, do Pai no Filho, nem procede do Filho para santificar a criação, mas mostra-se que ele procedeu de ambos, já que é reconhecido como amor ou santidade de ambos.Outras tentativas foram feitas, mas nenhuma jamais recebeu apoio do papa. O Libri Carolini, de Carlos Magno, emitido em resposta ao Sétimo Sínodo Ecumênico em 787, insistiu no uso do filioque (e se opôs aos ensinamentos do Sétimo Sínodo Ecumênico sobre os ícones). Os concílios locais realizados sob Carlos Magno defenderam o uso do filioque (Frankfurt, 794), decretaram que o filioque era necessário para a salvação (Aachen, 809) e solicitaram ao papa que autorizasse a adição do filioque ao Credo (Aachen, 810) embora eles já estivessem usando. (O papa Leão III recusou o pedido.)
Somente depois que o filioque foi aceito em Roma (1014), depois que o cardeal Humbert de cabeça quente excedeu sua autoridade ao excomungar o Patriarca de Constantinopla (1054) e depois da Revolução Papal (1075-1122) que o Catolicismo Romano tornou o filioque oficial. Isso ocorreu pela primeira vez no Quarto Concílio de Latrão em 1215, considerado pelo Catolicismo Romano como um concílio ecumênico.
O Pai não <provém> de ninguém, o Filho só do Pai, o Espírito Santo de modo igual de um e de outro.
...declaramos que o Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho, não, porém, como de dois princípios, mas como de um só; não por duas espirações, mas por uma só.
O Pai não é gerado; o Filho é gerado do Pai; o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.
Com relação às palavras “que procede do Pai e do Filho”, como explicação, cumpre, pois ensinar os fiéis que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho como de um princípio único, numa eterna processão. Assim no-lo propõe a crer o cânon de fé da Igreja, do qual não pode o cristão apartar-se.
Pois, desde toda a eternidade, o Pai gera o Filho, não produzindo por emanação outra essência igual à sua, mas comunicando sua própria essência simples. E de igual modo, o Espírito Santo procede, não por uma multiplicação da essência, mas ele procede por uma comunicação da mesma essência singular por uma espiração eterna do Pai e do Filho como de um princípio.Nos últimos anos, o Catolicismo Romano 'suavizou' o filioque. Essa mudança de tom se reflete no Catecismo de 1994.
A tradição latina do Credo confessa que o Espírito «procede do Pai e do Filho (filioque). O Concílio de Florença, em 1438, explicita: «O Espírito Santo [...] recebe a sua essência e o seu ser ao mesmo tempo do Pai e do Filho, e procede eternamente de um e do outro como dum só Princípio e por uma só espiração [...] E porque tudo o que é do Pai, o próprio Pai o deu ao seu Filho Unigénito, gerando-O, com excepção do seu ser Pai, esta mesma procedência do Espírito Santo, a partir do Filho, Ele a tem eternamente do seu Pai, que eternamente O gerou».
A tradição oriental exprime, antes de mais, o carácter de origem primeira do Pai em relação ao Espírito. Ao confessar o Espírito como «aquele que procede do Pai» (Jo 15, 26), afirma-se que Ele procede do Pai através do Filho. A tradição ocidental exprime, sobretudo, a comunhão consubstancial entre o Pai e o Filho, ao dizer que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (filioque).
De fato, o documento do Vaticano afirma que a tradução em latim do Símbolo da Fé é realmente o equivalente a:
Cremos no Espírito Santo, o Senhor e Doador da Vida, que é enviado do Pai e do Filho ...
A adição do filioque foi uma violação do antigo princípio estabelecido por São Vicente de Lerins (?- 450 d.C.):
Na própria Igreja Católica, todo cuidado deve ser tomado para que possamos manter o que tem sido crido em todos os lugares, sempre e por todos. Isto é o verdadeira e propriamente católico. [Os Escritos, ca. 434 d.C.]
Até mesmo historiadores e teólogos católicos romanos agora admitem que a adição do filioque foi feita arbitrariamente, sem consultar o Oriente. O filioque expressou uma nova crença que não fazia parte daquilo que era crido 'em todos os lugares, sempre e por todos'. Como Alexei Khomiakov escreveu em A Igreja é Una:
Portanto, o orgulho da razão e da sua autoridade ilegal, em oposição ao decretado pela totalidade da Igreja (pronunciado no Concílio de Efeso), destinado a considerar como certo o direito a adicionar as suas próprias explicações e hipóteses humanas ao Símbolo de Nicéia-Constantinopla, é em si próprio uma infração à santidade e inviolabilidade da igreja. Assim como o próprio orgulho das igrejas separadas que ousaram alterar o Símbolo da Igreja sem o consentimento dos seus irmãos foi inspirado pela falta de amor, e foi um crime contra Deus e a Igreja, assim também as suas cegas sabedorias que não compreenderam os mistérios de Deus, constituíram uma distorção da Fé, porque a Fé não é preservada onde o amor decaiu.
Nesta seção, examinaremos os argumentos usuais apresentados pelos apoiadores do filioque. A primeira parte da seção será um exame dos argumentos "lógicos". A segunda parte analisará trechos retirados dos escritos patrísticos que os apologistas do filioque apresentam como textos de prova (NT: textos de prova "proof-texts" é a prática de usar citações isoladas para provar algum argumento). Não surpreendentemente, Agostinho e outros escritores ocidentais são as fontes patrísticas mais citadas. Mas como já demonstramos que Agostinho é duvidoso como fonte ortodoxa de teologia da Santíssima Trindade, não examinaremos seus textos nesta seção. Nem examinaremos os textos daqueles escritores que seguiram os passos de Agostinho. Em vez disso, limitaremos nosso exame a escritores orientais, já que os apologistas do filioque acham que esses deveriam ter maior peso para os Cristãos Ortodoxos.
... a processão no mundo temporal deve ser através do Filho (e, como tal, de ambos simultaneamente) porque toda a criação temporal é através do Filho, ou Logos.
Toda criação temporal é através do Logos, e toda processão no mundo temporal é através do Logos, "como de um princípio". Mesmo assim, (a partir) do Pai, em última instância, que cria tudo, inclusive o Filho gerado.
"do Pai e do Filho, como de um princípio", implica a necessidade do Filho, do qual toda a criação depende, para a processão ao mundo temporal. Em última análise, a questão é: existe ou pode o Espírito existir ou surgir no mundo temporal sem a participação do Logos? Dizemos que não, porque a totalidade da criação temporal, é revelado, é através da Palavra.
Aprendemos que há uma diferença entre geração e processão, mas a natureza da diferença de modo algum entendemos. - São João de Damasco
Creio que o Espírito não procede de outra maneira senão do Pai através do Filho.
Cremos, no entanto, que existem três pessoas: o Pai e o Filho e o Espírito Santo; e cremos que ninguém é não-gerado, exceto o Pai. Nós admitimos, como mais piedoso e verdadeiro, que todas as coisas foram produzidas através da Palavra, e que o Espírito Santo é o mais excelente e o primeiro na ordem de tudo o que foi produzido pelo Pai através de Cristo.
Por natureza, o Espírito Santo em seu ser toma substancialmente sua origem do Pai através do Filho que é gerado.
Um Deus, o Pai da Palavra viva, da Sabedoria e Poder subsistentes, e da Imagem Eterna. Gerador Perfeito do Perfeito, Pai do Filho unigênito. Um Senhor, Único, Deus de Deus, Imagem e Semelhança da Divindade, Palavra Eficiente, Sabedoria compreendendo a constituição do universo, e Poder moldando toda a criação.Filho genuíno do Pai genuíno, invisível de invisível e incorruptível de incorruptível, imortal de imortal e eterno de eterno. E um Espírito Santo, tendo substância de Deus, e que se manifesta [aos homens]* através do Filho; Imagem do Filho, Perfeito do Perfeito; Vida, a causa da vida; Fonte Santa; Santidade, o distribuidor da santificação; em quem se manifesta Deus Pai, que está acima de tudo e em todos, e Deus Filho, que está em todos. Trindade perfeita, em glória, eternidade e soberania, nem dividida nem separada.
* (A frase entre colchetes acima é considerada uma adição editorial posterior.)
Como entendemos as discussões. . . sobre as naturezas incorpóreas, também agora deve ser reconhecido que o Espírito Santo recebe do Filho aquilo que ele era de sua própria natureza. . . Diz-se também que o Filho recebe do Pai as próprias coisas pelas quais ele subsiste. Pois nem o Filho tem outra coisa senão as coisas que lhe foram dadas pelo Pai, nem o Espírito Santo tem outra substância além daquela que lhe foi dada pelo Filho.
Na medida em que entendemos o relacionamento especial do Filho com o Pai, também entendemos que o Espírito tem esse mesmo relacionamento com o Filho. E como o Filho diz: "Tudo quanto o Pai tem é meu" [João 16:15], descobriremos todas essas coisas também no Espírito através do Filho. E assim como o Filho foi anunciado pelo Pai, que disse: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" [Mt 3:17], assim também é o Espírito do Filho; pois, como diz o apóstolo, "Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai." [Gl 4: 6]
Pois o próprio Unigênito o chama de 'Espírito do Pai' e diz Dele que 'Ele procede do Pai' e 'há de receber do que é meu', de modo que Ele é considerado como não sendo estranho nem ao Pai nem ao Filho, mas é da mesma substância, da mesma divindade; Ele é Espírito divino ... de Deus, e Ele é Deus. Pois ele é Espírito de Deus, Espírito do Pai e Espírito do Filho, não por algum tipo de síntese, como alma e corpo em nós, mas no meio do Pai e Filho, do Pai e do Filho, um terceiro por denominação. ... O Pai sempre existiu e o Filho sempre existiu, e o Espírito sopra do Pai e do Filho; e nem o Filho é criado nem o Espírito é criado.Epifânio de Salamis é considerado um santo ortodoxo principalmente por seu trabalho como pastor de seu rebanho. Ele não é um "Padre" da Igreja. A maior parte da passagem acima aborda a consubstancialidade do Pai, Filho e Espírito Santo. A única frase que pode suportar o filioque é 'o Espírito sopra do Pai e do Filho'. Seria útil estudar no idioma original. No entanto, como εκορευσις é convencionalmente traduzido como 'procede', ao passo que essa passagem emprega 'soprar', parece improvável que εκορευσις seja usado. O fato de o Espírito Santo ser 'soprado' do Filho (veja João 20:22) refere-se à missão temporal do Espírito Santo no mundo, não à Sua origem eterna.
O Espírito está sempre com o Pai e o Filho, ... procedendo do Pai e recebendo do Filho, não estranho ao Pai e ao Filho, mas da mesma substância, da mesma Divindade, do Pai e do Filho, Ele está com o Pai e o Filho, Espírito Santo sempre subsistente, Espírito divino, Espírito de glória, Espírito de Cristo, Espírito do Pai. ... Ele é o terceiro em denominação, igual em divindade, não diferente em comparação com Pai e Filho, conectando Vínculo da Trindade, Selo Ratificante do Credo.
Através do Filho, que é um, ele [o Espírito Santo] se une ao Pai, um é um, e por Si mesmo completa a Santíssima Trindade.
A bondade da natureza [divina], a santidade [dessa] natureza e a dignidade real chegam do Pai através do [Filho] unigênito ao Espírito Santo. Visto que confessamos as pessoas dessa maneira, não há violação do santo dogma da monarquia.
O Pai transmite a noção de sem origem, não-gerado, e Pai sempre; o Filho unigênito é entendido junto com o Pai, vindo Dele, mas inseparavelmente unido a Ele. Através do Filho e com o Pai, imediatamente e antes que qualquer conceito vago e infundado se interponha entre eles, o Espírito Santo também é percebido conjuntamente.
Embora confessemos a invariabilidade da natureza [divina], não negamos a distinção da causa e do causado, pela qual [apenas] percebemos que uma pessoa se distingue de outra, em nossa crença de que uma coisa é a causa e outra vem da causa; e naquilo que vem da causa, reconhecemos ainda outra distinção. Uma coisa é ser diretamente da Primeira Causa, e outra é ser através dAquele que é diretamente da Primeira; assim, a distinção de ser unigênito permanece indubitavelmente no Filho, nem é duvidoso que o Espírito seja do Pai; pois a posição intermediária do Filho protege sua distinção como unigênito, mas não exclui o Espírito de sua relação natural com o Pai.
Uma vez que o Espírito Santo, quando Ele está em nós, efetua nossa conformidade com Deus, e Ele realmente procede do Pai e do Filho, é abundantemente claro que Ele é da Essência Divina, nela em essência e procedendo dela.
Assim como o Filho diz 'Tudo quanto o Pai tem é meu' [João 16:15], também descobriremos que através do Filho tudo também está no Espírito.
Do mesmo modo cremos também num único Espírito Santo, Senhor vivificante... proclamado Deus juntamente com o Pai e o Filho, incriado, perfeito, criador, dominador, ativo, todo-poderoso, de um poder sem limites, governante e mestre de toda criação, nunca governado, que preenche tudo e que nada pode conter, participado, mas nunca participante, santificante e não santificado, consolador por acolher as preces de todos, em tudo semelhante ao Pai e ao Filho, procedente do Pai, comunicado através do Filho.
E o Espírito Santo é o poder do Pai, revelando os mistérios ocultos de Sua Divindade, procedendo do Pai através do Filho, de uma maneira conhecida por Ele mesmo, mas diferente da geração.Novamente, essa é a fórmula oriental típica, 'através do Filho'.
Eu digo que Deus é sempre Pai, pois ele sempre tem sua Palavra [o Filho] vindo dEle e, através da sua Palavra, o Espírito emanando Dele.Novamente, essa é a fórmula oriental típica, 'através do Filho'.
Para concluir esta seção e o ensaio, vejamos esta explicação de São Gregório Palamas (de sua Confissão). É uma das expressões mais sucintas e precisas da relação do Espírito Santo com o Pai e o Filho em todos os escritos patrísticos.
Por um lado, o Espírito Santo é, juntamente com o Pai e o Filho, sem começo, já que Ele é eterno; todavia, por outro lado, Ele não é sem começo, já que Ele também - por meio da processão, não por meio da geração - tem o Pai como fundamento, fonte e causa. Ele também [como o Filho] saiu do Pai antes de todas as eras, sem mudança, impassivelmente, não por geração, mas por processão; Ele é inseparável do Pai e do Filho, pois procede do Pai e repousa no Filho; Ele possui união sem perder Sua identidade e divisão sem envolver separação. Ele também é Deus de Deus; Ele não é diferente, pois Ele é Deus, mas Ele é diferente, pois Ele é o Consolador; como Espírito, Ele possui existência hipostática, procede do Pai e é enviado - isto é, manifestado - através do Filho; Ele também é a causa de todas as coisas criadas, uma vez que é no Espírito que elas são aperfeiçoadas. Ele é idêntico e igual ao Pai e ao Filho, com exceção da não-geração [do Pai] e da geração [do Filho]. Ele foi enviado - isto é, se fez conhecido - do Filho para Seus próprios discípulos. Por quais outros meios Ele - o Espírito que é inseparável do Filho - poderia ter sido enviado? Por quais outros meios Ele poderia - Ele que está em toda parte - vir até mim? Portanto, Ele é enviado não apenas do Filho, mas do Pai e através do Filho, e se manifesta através de Si mesmo.Por Thomas Ross Valentine (original)
[1] Nota do tradutor: Tornou-se comum entre os teólogos e historiadores afirmar que a adição do filioque ao Credo ocorreu pela primeira vez em Toledo (Espanha) para combater a heresia ariana. No entanto, há um bom artigo (em inglês) que questiona essa narrativa e diz que os Atos do Concílio foram adulterados posteriormente e o filioque adicionado. Hieromonge Enoch: Tampering with the AD 589 Acts of Toledo and the Filioque: A Centuries Old Slander (aqui)
[2] Nota do tradutor: Sobre o Oitavo Concílio Ecumênico (que condenou o filioque e que foi aceito por alguns séculos pela Igreja de Roma) veja os seguintes artigos:
Dr. David Ford: São Fócio o Grande, o Concílio Fociano e as relações com a Igreja Católica Romana (aqui)
Pe. George Dion. Dragas: Oitavo Concílio Ecumênico: Constantinopla IV (879/880) e a Condenação da Adição e Doutrina do Filioque (aqui)
[3] Nota do tradutor: afirmar que Santo Agostinho é o "criador do filioque" é justo e injusto. Há trechos em seus livros que Santo Agostinho claramente nega o filioque hipostático (o Filho como fonte ontológica do Espírito) mas também há passagens do De Trinitate que são no melhor caso ambíguas. Na verdade, a teologia trinitária de Santo Agostinho não é o seu forte, é mesmo precária - vaga e imprecisa - se comparada aos Padres Capadócios. Sendo assim, ele será a pai do filioque na medida em que as gerações seguintes fizeram isto dele, porque o Ocidente era um deserto de Padres e Agostinho a única referência em tudo.
[5] O Patriarca Gregório II de Constantinopla, também conhecido por Gregório II de Chipre, presidiu um concílio (de Blachernae), onde foi explicado o entendimento ortodoxo da expressão "o Espírito Santo procede do Pai através do Filho". Sobre isso Pe. John W. Morris escreveu:
O Concílio de Blachernae de 1285 aprovou um Tomos escrito por Gregório que declarou heresia ensinar que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, o filioque. No Tomos aprovados pelo concílio, Gregório escreveu: “o Pai é o fundamento e a fonte do Filho e do Espírito, a única fonte da divindade e a única causa”. O documento expulsou da Igreja aqueles que ensinavam que o Filho tem parte “na causalidade do Espírito”. Gregório argumentou que aqueles que entendem o ensinamento de alguns Padres que o Espírito Santo procede “do Pai através do Filho" como significando o mesmo que aqueles que ensinam que o Espírito Santo procede “do Pai e do Filho" falham em entender a distinção entre as palavras "do" e "através do". A expressão "através do Filho" significa a “manifestação e iluminação [do Espírito pelo Filho]" e não a emanação do Espírito ao ser [NT: isto é, "através do Filho" não significa a origem ontológica do Espírito, a origem do Seu ser por emanação]. Portanto, Gregório raciocina que a expressão “do Pai através do Filho” deve ser entendida como significando que o Filho manifesta eternamente o Espírito Santo.
Nota do tradutor: ainda sobre o Concílio de Blachernae e Patriarca Gregório II de Chipre, A. Papadakis escreve em seu artigo "Beyond the Filioque Divide: The Late Thirteenth Century Revisited":
Certamente, nas deliberações de 1285 o assunto se tornou mais complicado quando a questão se voltou para o esclarecimento da ideia patrística de processão "do Pai através do Filho". Desde o início, a questão foi ofuscada pela posição do campo ultra-conservador com sua abordagem Fociana, que insistia em situar a misteriosa relação entre o Filho e o Espírito dentro da economia divina. Como foi enfatizado anteriormente, a formulação patrística neste contexto foi entendida primariamente, soteriologicamente, como uma referência à missão do Espírito no tempo, à sua atividade no mundo. A possibilidade de que ela pudesse implicar uma relação eterna, em vez de um envio temporal do Espírito pelo Filho encarnado, foi ignorada. A evidência em questão, simplesmente, nada tinha a ver com a eterna emanação do Espírito à existência: ela era uma referência apenas à sua atividade econômica dentro da história.
Ainda assim, Gregório não se sentiu à vontade com esta exegese tradicional e insistiu, para repetir, que ela era inadequada. Ela não conseguiu esclarecer o que os Padres da Igreja realmente queriam dizer quando usaram a fórmula, bem como outras frases paralelas. Uma resposta mais articulada era necessária para que a oposição pudesse ser convencida. Em outras palavras, Gregório estava determinado a encontrar uma solução, e em resumo o fez em parte através de sua leitura atenciosa das evidências patrísticas e Blemmydes. Em pouco tempo ele chegaria à conclusão de que, além da óbvia relação econômica conhecida pelas Escrituras, existe também uma permanente relação eterna de facto entre o Espírito e o Filho enquanto hipóstases. Esse é basicamente o ponto consagrado nas fontes patrísticas aparentemente equivocadas. A processão através do Filho não se tratava, em última instância, da eterna vinda à existência do Espírito, que é [a partir] do Pai somente, mas da maneira como o Espírito existe eternamente em relação ao Filho. O objetivo [meta] da processão a partir do Pai é crucialmente o Filho, sobre quem o Espírito vem para repousar, descansar e habitar, e através de quem Ele é manifestado, revelado e tornado conhecido antes de todas as eras.
Para tomar emprestada a frase preferida de Gregório, este ato de "manifestação eterna" (ekphansis aidios) é o conteúdo revelador da processão. Diz respeito à revelação do Espírito - como se dá a conhecer - e não envolve sua origem causal, ou a processão eterna propriamente dita. O Espírito pode de fato existir (hyparche) através do Filho, mas isso não significa que Ele também tenha sua existência (echein ten hyparxin) através do Filho. Em resumo, o que os Padres da Igreja quiseram dizer com suas formulações era muito diferente do que a adição do credo ocidental implicava. Como sugere o tomos de 1285, o eterno ato divino de manifestação e iluminação não era nem uma aprovação nem uma justificativa da teologia latina - apesar da insistência obstinada da Bekkos [NT: oponente de Gregório] em contrário. A análise hábil de Gregório sobre os Padres da Igreja foi, de fato e em todos os aspectos essenciais, uma rejeição vigorosa da interpretação de Bekkos.
[...] A conquista de Gregório foi, de certa forma, uma importante mudança na longa história do filioque e da teologia bizantina em geral. Foi por causa de sua persistência que o debate da maratona barulhenta, que Lyons havia famosamente posto em movimento uma década antes, foi encerrado. Mas nada, talvez, seja mais ilustrativo de seu sucesso do que a aprovação de seu tomos pelo Concílio de Blachernae. Com esta aprovação conciliar, "a Igreja Bizantina deu sua resposta final definitiva ao Filioque".
[6] Nota do tradutor: É comum os Católicos Romanos utilizarem uma carta de São Máximo a Marinus como "prova" que São Máximo, um grande santo oriental, apoiou o filioque. De fato, São Máximo, mostrou nesta carta que o filioque pode sim ser lido de maneira "ortodoxa". Entretanto, São Máximo deixa claro que a única maneira em que o filioque pode ser aceito pelos Ortodoxos é se o proceder do Espírito Santo a partir do Filho é entendido como um envio/missão temporal (na economia). Mas, como fica claro no artigo acima, o entendimento da Igreja de Roma (posição dogmatizada pelos concílios) não deixa espaço para o entendimento "ortodoxo" do filioque como exposto por São Máximo. Ademais, a solução de São Máximo para o problema foi rejeitada por Roma no Concílio de Florença. Como Steven Todd Kaster escreveu:
Curiosamente, a solução para esse problema teológico, que pode ser encontrada na Carta de São Máximo a Marinus, foi apresentada no Concílio de Florença, mas infelizmente foi rejeitada pelo Ocidente na época. No entanto, se o Ocidente pudesse aceitar o que São Máximo ensinou, ou seja, que "... o Pai é a única causa (aition) do Filho e do Espírito, um por geração (gennesina) e outra por processão. (ekporeusin) ", segue-se que os dois lados poderiam então fazer uma profissão comum de fé no Deus Triúno. Essa solução exigiria simplesmente que o Ocidente aceitasse a diferença entre a origem hipostática do Espírito Santo, que vem apenas do Pai como causa única na divindade e que salvaguarda a doutrina da monarquia do Pai, e a manifestação da unidade divina, que é revelada na progressão (proienai) das energias do Espírito do Pai através do Filho.
Padre Venance Grumel, no artigo que dedica a Máximo no Dictionnaire de Theologie Catholique declara que Máximo, em sua carta a Marinus, justifica a fórmula [católica] romana! Ora, Máximo mostra que [o filioque] é apenas uma questão de economia [NT: missão temporal]. No século IX, na época em que certos ocidentais já professavam visões inaceitáveis, Anastácio, o Bibliotecário, um alto dignitário da Cúria Romana e um grande estudioso helenista em uma carta endereçada em latim a João, o Diácono, fala dessa carta de Máximo a Marinus: "Traduzimos uma passagem da carta de São Máximo para Marinus, na qual ele diz que os gregos estavam errados ao nos acusar, pois não pensamos que o Filho seja a causa do Espírito, mas queremos apenas mostrar a unidade da substância: assim como o Espírito procede do Pai, da mesma forma se pode dizer que Ele procede do Filho, mas entendendo assim o envio (missionem) do Espírito Santo". "E assim", concluiu Anastácio, "Máximo mostrou em que sentido o Espírito procede e em que sentido ele não procede do Filho, e ele evitou a dificuldade devido a uma ignorância recíproca das línguas". O resultado é que, para Anastácio, os ataques dos teólogos gregos não faziam sentido. Para ele, o Pai é a única causa; o filioque define uma missão. Na Patrologia de Migne, o editor da carta de Anastácio (que precede a carta de Máximo para Marinus) introduz uma pequena nota em que ele sinaliza que se deve ler "emissionem" onde o texto indica "missionem"- se não fizer isso, o leitor estaria de acordo com o gregos cismáticos!
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