do Livro "Empirical Dogmatics of the Orthodox Catholic Church" - Metropolita Hierotheos de Nafpaktos
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Paraíso e Inferno segundo a Tradição Ortodoxa – uma leitura através da obra do Pe. John Romanides
Cristo nos revelou que Ele virá em Sua segunda vinda para julgar os vivos e os mortos. Há uma passagem bem conhecida na Sagrada Escritura sobre o Julgamento futuro, em que Ele separará os seres humanos, como um pastor separa as ovelhas dos bodes, e depois de uma troca de palavras, os justos irão "para a vida eterna" e os pecadores "para punição eterna" (São Mateus 25:46). No Credo (Símbolo de Fé), confessamos: "E ele voltará com glória para julgar os vivos e os mortos".
Antes do Segundo Julgamento, os corpos dos seres humanos serão ressuscitados. A primeira e a segunda ressurreição foram mencionadas anteriormente. A primeira ressurreição é experimentada através do Batismo e da Sagrada Comunhão, e a segunda ressurreição é posterior a Segunda Vinda de Cristo, para que todo o ser humano possa viver o “bem-estar eterno” ou a “eterna angústia”.
A iconografia da Segunda Vinda de Cristo mostra o que é o Paraíso e o que é o Inferno.
"Por favor, vá e encontre o ícone da Segunda Vinda, e você verá que ao redor de Cristo estão aqueles que estão no Paraíso. Eles estão em uma luz dourada; a luz ao redor deles é dourada. Essa mesma luz dourada, à medida que se distancia de Cristo, começa a mudar de cor e, gradualmente, quanto mais se distancia, passa de dourada para vermelho; na luz vermelha estão os condenados. Os salvos vêem Cristo em uma cor dourada, e os condenados também vêem Cristo à distância, mas eles vêem a Luz de Cristo em vermelho, porque para os primeiros é a glória de Deus e para os últimos é o fogo eterno, as trevas exteriores e 'o fogo consumidor.'"
Deste ponto de vista, portanto, nós, Cristãos Ortodoxos, concordamos com as pessoas mais liberais do mundo. Nenhuma mensagem pode ser mais liberal do que a dos Santos Padres da Igreja, que não apenas enfatizam que "Filho, todos nós vamos para o mesmo lugar", como uma velha senhora me disse, mas também enfatizam que Deus ama a todos igualmente: os condenados e os salvos, os glorificados e os santos, Anjos e demônios, bons e maus, prostitutas e castos ... Deus ama todos os seres humanos igualmente, ama a todos sem distinção. Do ponto de vista de Deus, Deus salva a todos. Ele quer a salvação de todos os seres humanos e preordenou a salvação para todos.
Como nós sabemos disso? Porque até o Inferno é a salvação (o ser humano é preservado) e o Inferno é uma forma de tornar perfeito, mas é o Inferno e não o Paraíso. Porque aquele que é condenado é incapaz de progredir, ele é incapaz de aceitar o progresso em direção à perfeição. Por quê? Porque sua consciência foi endurecida, seu coração ficou duro. Ele permanece tão egoísta e egocêntrico, que sua personalidade não pode se desenvolver do egoísmo ao altruísmo. Como ele não pode mais se desenvolver, ele é aperfeiçoado em seu egoísmo. Até o inferno é mau para ele. Embora não seja uma punição do ponto de vista de Deus, é uma punição do ponto de vista humano.
Em outras palavras, o homem permaneceu sem cura. Por quê? Porque seu coração precisava ser curado, seu coração ou sua alma estavam doentes e não recebiam tratamento. Mas onde esse tratamento começa, como ocorre e como um ser humano o assegura? Na experiência Cristã Ortodoxa, o tratamento começa aqui neste mundo.
Na tradição ocidental (católica romana e protestante) sobre o Paraíso e o Inferno, vemos uma visão diferente do ensino cristão Ortodoxo.
"Os ensinamentos de Agostinho sobre a predestinação absoluta, Inferno e Paraíso, baseavam-se nas percepções que ele tinha, suas visões legalistas sobre a queda do homem e do pecado, combinadas com sua percepção neoplatônica do Paraíso. Ele introduziu no cristianismo a idéia de que Inferno é a região subterrânea abaixo a terra, onde as pessoas serão punidas. O paraíso é o espaço exterior.
Naqueles dias, eles acreditavam que as coisas que eram imutáveis estavam além dos corpos celestes, onde não há movimento nem desenvolvimento, e que aqui na terra é o lugar do teste. Então, se somos bons meninos e meninas, iremos para o Paraíso acima das estrelas e do céu; e se formos maus, iremos para debaixo da terra, para sermos castigados nas regiões subterrâneas."
O Paraíso na tradição ocidental (latina ou católica romana) estava ligado à felicidade da alma e à satisfação de seus desejos.
"Na Tradição Cristã Ortodoxa não há nada como isto. Por quê? Porque o destino do homem não é felicidade; não é satisfação de seus desejos. Os Santos Padres não ensinam que Deus se tornará uma possessão do homem, ou que o homem pode usar Deus - muito menos seu semelhante - para sua própria felicidade.
Os fundamentos capitalistas que existem dentro da filosofia do feudalismo medieval, originam-se de Agostinho, mas, principalmente dos antigos gregos. O ensino sobre a busca da felicidade (eudemonismo) começou nos gregos antigos, em Platão e Aristóteles, com alguma oposição dos estóicos e dos epicuristas. Na tradição cristã do Ocidente, porém, Aristóteles e Platão prevaleceram. Esses elementos não existem na teologia patrística."
Em nossa própria Sagrada Tradição, o ser humano está eternamente avançando para estágios mais elevados de perfeição. Para nós, a história nunca pára. Há a história dos santos e também a história eterna do homem. O fato de que Cristo ressuscitou com seu corpo e que Cristo é totalmente humano, até agora e para sempre, significa que Cristo, seu corpo e sua natureza humana, é parte da história. Seu corpo não agiu continuamente até hoje? Houve uma sucessão de ações; as energias do Corpo de Cristo não cessaram. Assim, o Corpo de Cristo é uma parte inseparável da história, que é uma garantia de que a história é eterna. A história não vai parar; embora vários teólogos que acreditam em Platão digam, hoje em dia, que a história cessará. Não, a história não vai parar. Por que a história não cessará? Porque o Corpo com o qual Cristo ressuscitou existirá para sempre, e nós seremos ressuscitados em corpos. Nós não seremos meramente almas no paraíso. Nós seremos seres humanos completos.
Então, os ocidentais falam sobre o Paraíso e o Inferno do ponto de vista da justiça. Esta é a interpretação sociológica da vida eterna ...
"... A Sagrada Escritura usa as palavras 'luz' e 'nuvem escura' para descrever o estado dos justos, e as palavras 'fogo' e 'trevas' para descrever o estado dos pecadores. Sabemos, no entanto, que a luz é diferente da nuvem escura que cobre a luz. E o fogo é o oposto da escuridão, porque o fogo afugenta a escuridão e ilumina o ambiente.
Isso mostra que não há palavras criadas para expressar absolutamente a realidade incriada. A Luz Divina Eterna e a Vida Eterna são incriadas. Elas são a energia de Deus, que é experienciada pelos seres humanos como energia iluminadora ou ardente, dependendo de seu estado espiritual.
"Todos os seres humanos verão a glória de Deus, e deste ponto de vista eles terão o mesmo fim. Todos certamente verão a glória de Deus, a diferença sendo que, enquanto os salvos verão a glória de Deus como a mais doce luz sem anoitecer, os condenados verão a mesma glória de Deus como fogo consumidor, como o fogo que os queimará. É um fato verdadeiro e previsível que todos nós veremos a glória de Deus. Vendo Deus, isto é, Sua glória e Sua Luz é algo que acontecerá, quer queiramos ou não, mas a experiência dessa Luz será diferente para as duas categorias.
O trabalho da Igreja e dos sacerdotes não é para nos ajudar a ver essa glória, porque isso acontecerá em qualquer caso. O trabalho da Igreja se concentra em como cada um verá a Deus. Não sobre se ele verá a Deus. Em outras palavras, a tarefa da Igreja é pregar para as pessoas que o verdadeiro Deus existe, que Deus é revelado como luz ou como fogo consumidor, e que na segunda vinda de Cristo todos nós veremos a Deus. E deve preparar seus membros para que eles não vejam Deus como fogo, mas como luz".
A Igreja não envia ninguém ao Paraíso ou ao Inferno, mas prepara os fiéis para a visão de Cristo em glória, que todos terão. Deus ama tanto os condenados quanto os santos. Ele quer que todos sejam curados, mas nem todos aceitam a cura que Ele oferece.
Paraíso e Inferno não existem do ponto de vista de Deus, mas do ponto de vista dos seres humanos. Deus vai amar a todos igualmente. Ele enviará a Sua graça a todos, da mesma forma que enviará a Sua graça a todos, da mesma forma que "faz o seu sol nascer sobre os maus e os bons, e faz chover sobre os justos e os injustos". "(São Mateus 5:45). Mas não são todos que aceitarão a graça de Deus da mesma maneira. Alguns verão Deus como Luz e outros como fogo. O mesmo acontecerá com a Sagrada Comunhão. Para aqueles que se preparam adequadamente, a Santa Comunhão é "para a vida eterna", mas para aqueles que "não foram purificados, a Santa Comunhão é para julgamento e condenação ..."
"... Quando alguém chega ao ponto de ver a glória de Deus depois de passar pela purificação do coração e alcançar a iluminação, esse ser humano iluminado vê a glória de Deus como luz. Mas quando é alguém que não alcançou essa Luz, ele a vê como fogo consumidor. Em vez de ver Deus como Luz, ele vê Deus como fogo consumidor ".
"Sabemos que, se um Cristão Ortodoxo não se preparar corretamente e atingir o ponto de que seu coração se torna endurecido, ele verá Deus como um fogo consumidor".
"Ao contrário das ideias de Agostinho sobre o Paraíso e o Inferno, de acordo com os outros Padres da Igreja no Oriente e no Ocidente, Inferno e Paraíso são a mesma coisa. Não há diferença alguma. Quando alguém vê a glória de Deus com amor altruísta, ele vê Deus como paraíso e este é o paraíso ... "
"A glória incriada, que Cristo tem por natureza do Pai, é o paraíso para aqueles cujo amor egocêntrico e egoísta foi curado e transformado em amor altruísta. No entanto, a mesma glória incriada é fogo eterno e inferno para aqueles que escolheram permanecer não curados em seu egoísmo "
fonte: http://saintandrewgoc.org/home/2015/4/17/paradise-and-hell-according-to-the-orthodox-church
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