Em março de 2016, o Metropolita Hierotheos de Nafpaktos propôs, em uma carta, a alteração e a retirada de certos termos e expressões que seriam utilizados nas discussões do Santo Sínodo, ocorrido em junho do mesmo ano. As justificativas teológicas para tal pedido estão expressas no pequeno texto abaixo:
A fim de justificar a proposta de que a expressão "valor da pessoa humana" seja substituída pela expressão "valor do ser humano", e que a frase "comunhão de pessoas que refletem a comunhão das Pessoas Divinas" seja suprimida, as seguintes posições teológicas serão apontadas:
1. Os Padres do século IV determinaram que o Deus Triúno são Três Pessoas, tendo a mesma essência-natureza-energia e propriedades hipostáticas particulares (não gerado, gerado, procedente). A pessoa é definida como essência com propriedades hipostáticas.
2. No Deus Triúno existe uma distinção de Pessoas Divinas, não uma comunhão de pessoas. Em outras palavras, o Pai comunica Sua essência ao Filho através da geração, e ao Espírito Santo através da processão. O Pai assim comunica Sua essência às outras Pessoas, mas não a Sua Pessoa ou Sua propriedade hipostática. Existe, portanto, uma comunhão de natureza-essência, uma habitação e interpenetração de pessoas, e não uma comunhão de pessoas.
3. "Os santos Padres usaram hipóstase, pessoa e indivíduo para se referir ao mesmo" (São João de Damasco). Cristo é uma pessoa que tem duas naturezas unidas em Sua Pessoa sem confusão, sem alteração, sem divisão, sem separação. Assim, a pessoa é uma e o indivíduo é um. A palavra indivíduo (atomo) consiste no negativo "a", e tomo, e significa "não dividido ou partilhado" (São João de Damasco). Isso significa que, embora Cristo tenha duas naturezas, elas não se interceptam na única Pessoa de Cristo, o Verbo. A distinção entre pessoa e indivíduo vem da filosofia ocidental.
4. Para o homem, os Padres usaram principalmente o termo "homem". E há uma diferença abismal entre o criado e o Incriado. O que quer que aconteça com o Deus Triuno, não acontece com o homem. O conceito teológico do homem é expresso pelo termo "na imagem" e "segundo a semelhança", o que significa que ele é levado à deificação.
Em certos textos patrísticos, o homem é falado como hipóstase, mas sempre com o significado teológico da imagem e de acordo com a semelhança de Deus, com o princípio da hipóstase (Hb 3:14). E é por esse entendimento que o Ancião Sofrônio também escreve, não da perspectiva da filosofia moderna.
5. Vladimir Lossky, que introduz no vocabulário Ortodoxo o termo "pessoa" em relação ao homem, com respeito a isso, observa: "Quanto a mim, tenho que confessar que até agora não encontrei na teologia patrística nenhum tratamento teórico completo da pessoa humana, para acompanhar os ensinamentos muito claros sobre as divinas Pessoas ou Hipóstases".
6. O problema, no entanto, não é apenas o termo "pessoa" usado em relação ao homem, mas que as teorias modernas relativas à "pessoa humana" e até a "santidade" e "dignidade da pessoa humana" associam natureza à necessidade e pecado, e a pessoa com liberdade, desejo-vontade e amor. Tais ideias são remanescentes do arianismo e do monotelismo, que foram condenados pelos Concílios Ecumênicos.
7. A vontade e o autogoverno não pertencem à pessoa, mas à natureza. A pessoa é quem deseja, enquanto o desejo é um apetite da natureza e a vontade é resultado do desejo daquele que deseja. Quando o desejo-vontade é visto como hipostático, isto é, pertencendo à pessoa, então cada Pessoa divina tem seu próprio desejo, vontade, liberdade, algo que resulta em tri-teísmo. O 6º Concílio Ecumênico ordena a deposição de bispos e clérigos, e a excomunhão de monges e leigos, que aceitam a noção de vontade hipostática.
8. Assim, enquanto a teologia escolástica identifica energia com essência, as teorias personalistas modernas associam a energia-vontade à pessoa e introduzem um personalismo voluntarista.
Uma vez que existem todos esses problemas no texto, a frase "valor da pessoa humana" deve ser substituída pela frase "valor do ser humano" e todas as expressões relacionadas precisam ser corrigidas. Se isso não acontecer, todo o texto será afetado e, mais importante ainda, a provável decisão do Santo e Grande Concílio será divergente e oposta aos Sínodos Ecumênicos a partir do Quarto.
fonte: http://parembasis.gr/
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