A Theotokos
Na verdade, se nos limitássemos a dados dogmáticos no sentido estrito da palavra e só tratássemos de dogmas afirmados pelos Concílios, não encontraríamos nada exceto o termo Theotokos, pelo qual a Igreja confirmou solenemente a maternidade divina da Santíssima Virgem. [1]
A ênfase dogmática do termo Theotokos, afirmado contra os nestorianos, é acima de tudo cristológico: o que é defendido contra os adversários da maternidade divina é a unidade hipostática do Filho de Deus se tornar o Filho do Homem. É a cristologia que é diretamente confrontada aqui; mas, ao mesmo tempo, indiretamente, há uma confirmação dogmática da devoção da Igreja a ela que deu à luz a Deus, de acordo com a carne. Dizem que todos aqueles que se erguem contra o título Theotokos - todos os que se recusam a admitir que Maria tem essa qualidade que a piedade atribui a ela - não são verdadeiramente cristãos, pois se opõem à verdadeira doutrina da Encarnação do Verbo. Isso deve demonstrar a conexão estreita entre dogma e devoção, que são inseparáveis na consciência da Igreja.
No entanto, conhecemos casos de cristãos que, embora reconheçam a maternidade divina da Virgem por razões puramente cristológicas, abstêm-se de toda devoção especial à Mãe de Deus pelas mesmas razões, desejando não conhecer nenhum outro mediador entre Deus e o homem além do Deus-Homem, Jesus Cristo. Esta constatação é suficiente para demonstrar que o dogma cristológico da Theotokos tomado in abstracto, fora do vínculo vivo com a devoção que a Igreja consagrou à Mãe de Deus, não seria suficiente para justificar o lugar único - além de todo ser criado - reservado à Rainha dos Céus, a que a liturgia Ortodoxa atribui "a glória que é apropriada a Deus" (he Theoprepes doxa). Por conseguinte, é impossível separar as bases dogmáticas, em sentido estrito, das bases de devoção, numa exposição teológica da doutrina sobre a Mãe de Deus. Aqui, o dogma deve lançar luz sobre a devoção, colocando-a em contato com as verdades fundamentais de nossa fé; desde que a devoção deve enriquecer o dogma com a experiência viva da Igreja.
Estamos todos na mesma posição em relação aos dados das escrituras. Se desejássemos considerar a evidência das escrituras à parte da devoção da Igreja à Mãe de Deus, seríamos obrigados a limitar-nos às poucas passagens do Novo Testamento relativas a Maria, a Mãe de Jesus, e a uma única referência direta no Antigo Testamento: a profecia do nascimento do Messias de uma Virgem, em Isaías. Mas se olharmos a Bíblia através dos olhos da devoção da Igreja, ou - para usar um termo mais exato - na Tradição da Igreja, então os livros sagrados do Antigo e do Novo Testamento nos fornecerão inúmeros textos utilizados pela Igreja para glorificar a Mãe de Deus.
A ênfase dogmática do termo Theotokos, afirmado contra os nestorianos, é acima de tudo cristológico: o que é defendido contra os adversários da maternidade divina é a unidade hipostática do Filho de Deus se tornar o Filho do Homem. É a cristologia que é diretamente confrontada aqui; mas, ao mesmo tempo, indiretamente, há uma confirmação dogmática da devoção da Igreja a ela que deu à luz a Deus, de acordo com a carne. Dizem que todos aqueles que se erguem contra o título Theotokos - todos os que se recusam a admitir que Maria tem essa qualidade que a piedade atribui a ela - não são verdadeiramente cristãos, pois se opõem à verdadeira doutrina da Encarnação do Verbo. Isso deve demonstrar a conexão estreita entre dogma e devoção, que são inseparáveis na consciência da Igreja.
No entanto, conhecemos casos de cristãos que, embora reconheçam a maternidade divina da Virgem por razões puramente cristológicas, abstêm-se de toda devoção especial à Mãe de Deus pelas mesmas razões, desejando não conhecer nenhum outro mediador entre Deus e o homem além do Deus-Homem, Jesus Cristo. Esta constatação é suficiente para demonstrar que o dogma cristológico da Theotokos tomado in abstracto, fora do vínculo vivo com a devoção que a Igreja consagrou à Mãe de Deus, não seria suficiente para justificar o lugar único - além de todo ser criado - reservado à Rainha dos Céus, a que a liturgia Ortodoxa atribui "a glória que é apropriada a Deus" (he Theoprepes doxa). Por conseguinte, é impossível separar as bases dogmáticas, em sentido estrito, das bases de devoção, numa exposição teológica da doutrina sobre a Mãe de Deus. Aqui, o dogma deve lançar luz sobre a devoção, colocando-a em contato com as verdades fundamentais de nossa fé; desde que a devoção deve enriquecer o dogma com a experiência viva da Igreja.
Estamos todos na mesma posição em relação aos dados das escrituras. Se desejássemos considerar a evidência das escrituras à parte da devoção da Igreja à Mãe de Deus, seríamos obrigados a limitar-nos às poucas passagens do Novo Testamento relativas a Maria, a Mãe de Jesus, e a uma única referência direta no Antigo Testamento: a profecia do nascimento do Messias de uma Virgem, em Isaías. Mas se olharmos a Bíblia através dos olhos da devoção da Igreja, ou - para usar um termo mais exato - na Tradição da Igreja, então os livros sagrados do Antigo e do Novo Testamento nos fornecerão inúmeros textos utilizados pela Igreja para glorificar a Mãe de Deus.
Algumas passagens nos evangelhos, se vistas externamente, de um ponto de vista fora da Tradição da Igreja, parecem contradizer de forma flagrante essa glorificação extrema e veneração ilimitada. Tomemos dois exemplos: Cristo, ao dar testemunho de São João Batista, chama-o de o maior dos que nasceram das mulheres (Mateus 11:11; Lucas 7:28). É, portanto, para ele, e não para Maria, que a posição mais elevada entre os seres humanos deveria pertencer. De fato, na prática da Igreja, encontramos João Batista com a Mãe de Deus ao lado do Senhor nos ícones da deisis. Mas a Igreja nunca exaltou São João, o Precursor, acima dos Serafins, nem colocou seu ícone em pé de igualdade com o ícone de Cristo, em um dos lados da entrada do santuário, como é o caso do ícone da Mãe de Deus.
Outra passagem no evangelho nos mostra que Cristo se opõe publicamente à glorificação de sua Mãe. Ele responde a exclamação da mulher na multidão que clama: "Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste", dizendo: "Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam" (Lucas 11 : 27-28). Mas é precisamente esta passagem em São Lucas, que parece depreciar o fato da maternidade divina em comparação com a qualidade daqueles que recebem e mantêm a revelação divina, que é o texto do evangelho lido solenemente nas festas da Mãe de Deus, como se sob sua aparente forma negativa escondesse um ato de louvor ainda maior.
A Mãe de Deus e a Tradição
Mais uma vez enfrentamos a impossibilidade de separar o dogma e vida da Igreja, Escritura e a Tradição. O dogma cristológico nos obriga a reconhecer a maternidade divina da Virgem. A evidência bíblica nos ensina que a glória da Mãe de Deus não reside apenas na sua maternidade corporal, no fato de ela ter dado à luz e alimentado o Verbo Encarnado. Na verdade, a Tradição da Igreja - a santa memória daqueles que "ouvem e guardam" as palavras da revelação - dá à Igreja a garantia com a qual ela exalta a Mãe de Deus, atribuindo-lhe uma glória ilimitada.
À parte da Tradição da Igreja, a teologia permanecerá em silêncio sobre assunto e não conseguiria justificar essa surpreendente glorificação. É por isso que as comunidades cristãs que rejeitam qualquer idéia de Tradição também são estranhas à veneração da Mãe de Deus.
À parte da Tradição da Igreja, a teologia permanecerá em silêncio sobre assunto e não conseguiria justificar essa surpreendente glorificação. É por isso que as comunidades cristãs que rejeitam qualquer idéia de Tradição também são estranhas à veneração da Mãe de Deus.
A estreita conexão entre a Tradição e tudo o que diz respeito à Mãe de Deus não é simplesmente devido ao fato de que eventos da sua vida terrena - como sua Natividade, sua Apresentação no Templo e sua Assunção - são celebrados pela Igreja sem serem mencionados na Bíblia. Se o Evangelho é silencioso sobre esses fatos, e se sua elaboração poética se deve a livros apócrifos de data tardia, ainda assim o tema fundamental que significam pertence ao mistério de nossa fé e não deve ser afastado da consciência da Igreja. Na verdade, a noção de Tradição é mais rica do que pensamos habitualmente. A Tradição não consiste apenas em uma transmissão oral de fatos capazes de complementar a narrativa bíblica. É o complemento da Bíblia e, acima de tudo, é o cumprimento do Antigo Testamento no Novo, visto que a Igreja se faz consciente. É a Tradição que confere compreensão do significado da verdade revelada (Lucas 24). A Tradição nos diz não só o que devemos ouvir, mas ainda mais importante, como devemos manter o que ouvimos. Neste sentido geral, a Tradição implica uma operação incessante do Espírito Santo, que pôde ter seu derramamento pleno e seus frutos apenas na Igreja, depois do Dia de Pentecostes. É somente na Igreja que nos encontramos capazes de traçar as conexões internas entre os textos sagrados que fazem do Antigo Testamento e do Novo Testamento um único corpo vivo da Verdade, onde Cristo está presente em cada palavra. É somente na Igreja que a semente semeada pela palavra não permanece estéril, mas produz fruto; e esta fruição da Verdade, bem como o poder de produzir frutos, é chamada de Tradição. A devoção ilimitada da Igreja à Mãe de Deus, que, vista externamente, parece contrariar os dados bíblicos, desenvolveu-se na Tradição da Igreja. É o fruto mais precioso da Tradição.
Mas não é apenas o fruto da Tradição; é também o embrião e o tronco da Tradição. Com efeito, podemos encontrar uma relação definitiva entre a pessoa da Mãe de Deus e o que chamamos de Tradição da Igreja. Tentaremos, ao estabelecer essa relação, vislumbrar a glória da Mãe de Deus sob o véu do silêncio das Escrituras. Um exame dos textos, em sua conexão interna, nos guiará neste sentido.
Mas não é apenas o fruto da Tradição; é também o embrião e o tronco da Tradição. Com efeito, podemos encontrar uma relação definitiva entre a pessoa da Mãe de Deus e o que chamamos de Tradição da Igreja. Tentaremos, ao estabelecer essa relação, vislumbrar a glória da Mãe de Deus sob o véu do silêncio das Escrituras. Um exame dos textos, em sua conexão interna, nos guiará neste sentido.
A Mãe de Deus nas Escrituras
São Lucas, em uma passagem paralela à que já citamos, nos mostra que Cristo se recusa a ver Sua mãe e seus irmãos, declarando que "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam" (Lucas 8: 19-21). O contexto é significativo: em São Lucas, no momento em que a Mãe de Deus deseja ver seu Filho, ele acaba de terminar a parábola do Semeador. [2] "E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança.... quem tem ouvidos para ouvir, ouça... Vede, pois, como ouvis; porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado" (Lucas 8: 8, 15, 18). É precisamente essa faculdade de manter as palavras ouvidas a respeito de Cristo em um coração honesto e bom, a faculdade que em outro lugar Cristo exalta acima do fato da maternidade corpórea (Lucas 11:28) - que o Evangelho atribui a nenhum indivíduo, exceto a Mãe do Senhor. São Lucas insiste nisso, pois menciona duas vezes em sua narrativa da infância: "Mas Maria manteve todas estas coisas ponderando-as em seu coração" (Lucas 2:19, 51). Ela, que deu à luz a Deus na carne manteve em sua memória todos os testemunhos da divindade de seu Filho. Poderíamos dizer que temos aqui uma personificação da Tradição da Igreja antes da Igreja, caso São Lucas não tivesse o cuidado de nos dizer que Maria e José não entenderam a fala da Criança, que ele devia tratar dos negócios de meu Pai (Lucas 2: 49-50). Portanto, o significado das palavras que a Mãe de Deus guardava fielmente em seu coração não havido sido plenamente realizado em sua consciência.
Antes da consumação da obra de Cristo, antes do Dia de Pentecostes, antes da Igreja, mesmo ela a quem o Espírito Santo desceu para torná-la apta para servir a Encarnação do Verbo ainda não havia alcançado a plenitude que sua pessoa foi chamada para realizar. No entanto, já é possível ver a conexão entre a Mãe de Deus, enquanto ela mantém e recolhe os ditos proféticos, e a Igreja, a Guardiã da Tradição. Uma é a semente do outra. Somente a Igreja, o complemento da humanidade de Cristo, poderá manter a plenitude da revelação que, se fosse inteiramente cometida a escrita, não poderia ser contida no espaço do mundo inteiro. (cf. João 21:25)
Somente a Mãe de Deus, aquela que foi escolhida para carregar Deus em seu ventre, poderia compreender plenamente em sua consciência tudo o que estava envolvido no fato da Encarnação do Verbo, incluindo o fato de sua própria maternidade divina. As palavras de Cristo que parecem tão duras para sua Mãe são palavras que exaltam a qualidade que ela tem em comum com os filhos da Igreja. Mas, enquanto eles, como guardiões da Tradição, só podem tornar-se conscientes da Verdade e torná-la frutífera em maior ou menor grau, a Mãe de Deus, em virtude da relação única entre ela e Deus, a quem ela pode chamar Seu Filho - apenas ela - pode elevar-se deste mundo até a consciência completa de tudo o que o Espírito Santo comunica à Igreja, realizando essa plenitude em sua própria pessoa. Mas esta consciência completa de Deus, essa aquisição da plenitude da graça apropriada para a era futura, só poderia ocorrer em um ser deificado. Isso coloca diante de nós uma nova questão, que devemos tentar responder para que o caráter especial da devoção da Igreja Ortodoxa à Soberana Rainha do Céu possa ser melhor compreendido.
Cristo, ao dar testemunho de São João Batista, chamou-o de "o maior dos nascidos de mulher" (Mateus 11: 11; Lucas 7:28), mas acrescentou: "mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele." Aqui a santidade do Antigo Testamento é comparada com a santidade que poderá ser realizada quando a obra redentora de Cristo fosse cumprida e quando "a promessa do Pai "(Atos 1: 4), a descida do Espírito Santo, preenchesse a Igreja com a plenitude da graça deificadora. São João, embora "mais do que um profeta" porque ele batizou o Senhor e viu os céus abertos e o Espírito como uma pomba descendo sobre o Filho do Homem, morreu sem ter recebido a promessa, como todos aqueles que deram "um bom testemunho na fé," "dos quais o mundo não era digno" que, de acordo com o plano divino, "sem nós não poderiam ser aperfeiçoados" (Hebreus 11: 38-40), isto é, à parte da Igreja de Cristo. É somente através da Igreja que a santidade do Antigo Testamento pode receber seu cumprimento no século por vir, na perfeição que era inacessível à humanidade antes de Cristo.
Não há dúvida de que ela, que foi escolhida para ser a Mãe de Deus, representa o ápice da santidade do Antigo Testamento. Se São João Batista é chamado de "o maior" daqueles antes de Cristo, é porque a grandeza da Santíssima Mãe de Deus pertence não apenas ao Antigo Testamento, onde ela estava escondida e não aparece, mas também à Igreja, na qual realizou sua plenitude e se manifestou, para ser glorificada por todas as gerações (Lucas 1:48). A pessoa de São João permanece na dispensação do Antigo Testamento; a Santíssima Virgem passa do Antigo para o Novo; e esta transição, na pessoa da Mãe de Deus, nos mostra como a Nova Aliança é o cumprimento da Antiga.
O Antigo Testamento não é apenas uma série de prefigurações de Cristo, que se tornam decifráveis depois que a Boa Nova chegou. É sobretudo a história da preparação da humanidade para a vinda de Cristo, uma história em que a liberdade humana é constantemente posta à prova pela vontade de Deus.
A obediência de Noé, o sacrifício de Abraão, o Êxodo do povo de Deus pelo deserto sob a liderança de Moisés, a Lei e os Profetas, é uma série de eleições divinas, nas quais os seres humanos às vezes permanecem fiéis à promessa feita a eles e outras vezes falham e sofrem punições (o cativeiro e a destruição do primeiro templo). Toda a tradição sagrada dos judeus é uma história da jornada lenta e laboriosa da humanidade caída em direção à "plenitude do tempo", quando o anjo deveria ser enviado para anunciar à Virgem escolhida a encarnação de Deus e ouvir seus lábios o consentimento humano, para que o plano divino da salvação possa ser realizado. Assim, de acordo com São João de Damasco, "O nome da Mãe de Deus contém toda a história da economia divina neste mundo". [3]
Podemos ver algo análogo no caso, por outro lado único, exclusivo da Mãe de Deus: a função objetiva de sua maternidade divina, na qual foi estabelecida no dia da Anunciação, também será o caminho subjetivo de sua santificação. Ela realizará em sua consciência, e em toda a sua vida pessoal, o significado do fato de ter levado seu ventre e ter nutrido em seu seio o Filho de Deus. É assim que as palavras de Cristo, que parecem rebaixar sua Mãe em comparação com a Igreja, recebem o significado de louvor supremo: abençoada é ela que não só foi a Mãe de Deus, mas também realizou em sua pessoa o grau de santidade correspondente a essa função única. A pessoa da Mãe de Deus é exaltada mais do que a sua função, e a consumação da sua santidade recebe mais do que seus começo.
A função da maternidade divina está cumprida no passado; mas a Santíssima Virgem, ainda na Terra após a Ascensão de seu Filho, permanece sempre como a Mãe dAquele que, em Sua gloriosa humanidade, tomada da Virgem, está sentado à direita do Pai, "acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro." (Efésios 1:21). Que grau de santidade alcançável neste mundo pode corresponder a essa relação única da Mãe de Deus com seu Filho, Cabeça da Igreja, residente nos céus? Somente a santidade total da Igreja, o complemento da gloriosa humanidade de Cristo, contendo a plenitude da graça deificadora comunicada incessantemente à Igreja desde Pentecostes pelo Espírito Santo. Os membros da Igreja podem se tornar familiares de Cristo; sua "mãe, irmãos e irmãs" (Mateus 12:50) na medida em que realizam suas vocações. Mas somente a Mãe de Deus, através da qual o Verbo se fez carne, poderá receber a plenitude da graça e alcançar uma glória ilimitada, ao realizar em sua pessoa toda a santidade de que a Igreja pode ter.
O Filho de Deus desceu dos céus e tornou-se homem através da Santíssima Virgem, para que os homens possam elevar-se à deificação pela graça do Espírito Santo. "Possuir pela graça o que Deus tem por natureza": essa é a vocação suprema dos seres criados, o objetivo final que os filhos da Igreja aspiram neste mundo, no desenvolvimento histórico da Igreja. Este desenvolvimento já está consumado na divina Pessoa de Cristo, a Cabeça da Igreja, ressuscitado e ascendido. Se a Mãe de Deus pudesse verdadeiramente realizar em sua pessoa humana e criada a santidade que correspondia a seu papel único, ela não poderia deixar de alcançar aqui neste mundo, pela graça, tudo o que seu Filho possuía em virtude de sua natureza divina. Mas se assim for, o desenvolvimento histórico da Igreja e do mundo já foi cumprido, não apenas na pessoa incriada do Filho de Deus, mas também na pessoa criada de sua Mãe. É por isso que São Gregório Palamas chama a Mãe de Deus "a fronteira entre o criado e o incriado". Ao lado da hipóstase divina encarnada existe uma hipóstase humana deificada.
Já dissemos acima que, na pessoa da Mãe de Deus, é possível ver a transição da maior santidade do Antigo Testamento para a santidade da Igreja. Mas se a Santíssima Mãe de Deus consumou a santidade da Igreja e toda a santidade que é possível para um ser criado, estamos agora a lidar com outra transição - a transição do mundo do devir para a eternidade do Oitavo Dia, a passagem da Igreja para o Reino dos Céus. Esta glória última da Mãe de Deus, o eschaton realizado em uma pessoa criada antes do fim do mundo, deve estabelecê-la desde agora além da morte, além da ressurreição e além do Juízo Final. Ela participa na glória de seu Filho, reina com Ele, preside ao Seu lado sobre os destinos da Igreja e do mundo que se desdobram no tempo e intercede em nome de todos diante dEle, que virá novamente para julgar os vivos e os mortos.
A transição suprema, pela qual a Mãe de Deus junta-se à glória celestial de seu Filho, é celebrada pela Igreja no dia da Assunção: uma morte que, segundo a convicção íntima da Igreja, não poderia deixar de ser seguida pela ressurreição e ascensão corporal da Toda-Santa. É difícil falar e não menos difícil pensar nos mistérios que a Igreja guarda nas profundezas de sua consciência interior. Aqui toda palavra proferida pode parecer grosseira, toda tentativa de formulação pode parecer um sacrilégio. Os autores dos escritos apócrifos muitas vezes aludiram imprudentemente os mistérios sobre os quais a Igreja manteve um silencio prudente pela economia para com os que estavam no exterior. A Mãe de Deus nunca foi um tema de pregação pública dos apóstolos. Enquanto Cristo foi proclamado nos telhados, proclamando ao conhecimento de todos numa catequese dirigida a todo o universo, o mistério da Mãe de Deus foi revelado apenas aos que estão dentro da Igreja, aos fiéis que receberam a palavra e tendem para "a vocação suprema de Deus em Cristo Jesus" (Filipenses 2:14). Mais do que um objeto de fé, esse mistério é um fundamento da nossa esperança, um fruto da fé, amadurecido na Tradição.
Cristo, ao dar testemunho de São João Batista, chamou-o de "o maior dos nascidos de mulher" (Mateus 11: 11; Lucas 7:28), mas acrescentou: "mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele." Aqui a santidade do Antigo Testamento é comparada com a santidade que poderá ser realizada quando a obra redentora de Cristo fosse cumprida e quando "a promessa do Pai "(Atos 1: 4), a descida do Espírito Santo, preenchesse a Igreja com a plenitude da graça deificadora. São João, embora "mais do que um profeta" porque ele batizou o Senhor e viu os céus abertos e o Espírito como uma pomba descendo sobre o Filho do Homem, morreu sem ter recebido a promessa, como todos aqueles que deram "um bom testemunho na fé," "dos quais o mundo não era digno" que, de acordo com o plano divino, "sem nós não poderiam ser aperfeiçoados" (Hebreus 11: 38-40), isto é, à parte da Igreja de Cristo. É somente através da Igreja que a santidade do Antigo Testamento pode receber seu cumprimento no século por vir, na perfeição que era inacessível à humanidade antes de Cristo.
Não há dúvida de que ela, que foi escolhida para ser a Mãe de Deus, representa o ápice da santidade do Antigo Testamento. Se São João Batista é chamado de "o maior" daqueles antes de Cristo, é porque a grandeza da Santíssima Mãe de Deus pertence não apenas ao Antigo Testamento, onde ela estava escondida e não aparece, mas também à Igreja, na qual realizou sua plenitude e se manifestou, para ser glorificada por todas as gerações (Lucas 1:48). A pessoa de São João permanece na dispensação do Antigo Testamento; a Santíssima Virgem passa do Antigo para o Novo; e esta transição, na pessoa da Mãe de Deus, nos mostra como a Nova Aliança é o cumprimento da Antiga.
O Antigo Testamento não é apenas uma série de prefigurações de Cristo, que se tornam decifráveis depois que a Boa Nova chegou. É sobretudo a história da preparação da humanidade para a vinda de Cristo, uma história em que a liberdade humana é constantemente posta à prova pela vontade de Deus.
A obediência de Noé, o sacrifício de Abraão, o Êxodo do povo de Deus pelo deserto sob a liderança de Moisés, a Lei e os Profetas, é uma série de eleições divinas, nas quais os seres humanos às vezes permanecem fiéis à promessa feita a eles e outras vezes falham e sofrem punições (o cativeiro e a destruição do primeiro templo). Toda a tradição sagrada dos judeus é uma história da jornada lenta e laboriosa da humanidade caída em direção à "plenitude do tempo", quando o anjo deveria ser enviado para anunciar à Virgem escolhida a encarnação de Deus e ouvir seus lábios o consentimento humano, para que o plano divino da salvação possa ser realizado. Assim, de acordo com São João de Damasco, "O nome da Mãe de Deus contém toda a história da economia divina neste mundo". [3]
Esta economia divina, preparando condições humanas para a Encarnação do Filho de Deus, não é unilateral: não é uma questão de vontade divina fazendo uma tabula rasa da história da humanidade. Nesta economia salvadora, a Sabedoria de Deus é adaptada às flutuações das vontades humanas, às diferentes respostas dos homens ao chamado divino. É assim que, através das gerações dos justos do Antigo Testamento, a Sabedoria "construiu a sua casa": a toda-pura natureza da Santíssima Virgem, pela qual a Palavra de Deus se tornará co-natural conosco. A resposta de Maria à anunciação do arcanjo: "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra" (Lucas 1:38), resolve a tragédia da humanidade caída. Tudo o que Deus exigia da liberdade humana desde a queda é cumprido. E agora a obra de redenção, que somente o Verbo Encarnado pode executar, pode acontecer. Nicolau Cabasilas afirma, em sua homilia sobre a Anunciação: "A Encarnação não foi apenas a obra do Pai e da Virtude e do Seu Espírito; foi também a obra da vontade e da fé da Virgem. Sem o consentimento da Toda-Pura e a cooperação de sua fé, esse propósito teria sido tão irrealizável como teria sido sem a intervenção das três Pessoas Divinas. Somente depois de ensiná-la e persuadi-la, Deus a toma por Sua Mãe e recebe dela a carne que deseja oferecer. Assim como Ele voluntariamente se encarnou, assim Ele quis que Sua mãe O carregasse livremente, com seu consentimento pleno e livre." [4]
De São Justino e São Ireneu em diante, os Padres muitas vezes chamaram a atenção para o contraste entre as "duas virgens", Eva e Maria. Pela desobediência da primeira, a morte entrou na humanidade. Pela obediência da "segunda Eva", o autor da vida tornou-se homem e entrou na família de Adão. Mas entre as duas Evas está toda a história do Antigo Testamento, o passado do qual a pessoa que se tornou Mãe de Deus não pode ser separada. Se ela foi escolhida para assumir uma parte única na obra da Encarnação, essa escolha seguiu e concluiu toda uma série de outros escolhidos que prepararam o caminho para tal. Não é à toa que a Igreja Ortodoxa, em seus textos litúrgicos, chama David “o ancestral de Deus” e dá o mesmo nome de “ancestrais santos e justos de Deus” para Joaquim e Anna. O dogma católico romano da Imaculada Conceição parece romper esta sucessão ininterrupta de santidade do Antigo Testamento, que atinge seu cumprimento no momento da Anunciação, quando o Espírito Santo desceu sobre a Virgem para fazê-la apta a receber a Palavra do Pai em seu ventre. A Igreja Ortodoxa não admite a exclusão da Santíssima Virgem do resto da humanidade caída - a ideia de um "privilégio" que a torna um ser resgatado antes da obra redentora, em virtude dos futuros méritos de seu Filho. Não é em virtude de um privilégio recebido no momento de sua concepção por seus pais que veneramos a Mãe de Deus mais do que qualquer outro ser criado. Ela era santa e pura de todo pecado desde o ventre de sua mãe, mas ainda assim essa santidade não a exclui do resto da humanidade antes de Cristo. Ela não estava, no momento da Anunciação, em um estado análogo ao de Eva antes da Queda. A primeira Eva, "a mãe de todos os viventes", deu ouvido às palavras do sedutor no estado paradisíaco da humanidade inocente. A segunda Eva - ela que foi escolhida para se tornar a Mãe de Deus - ouviu e entendeu a palavra angélica no estado da humanidade caída. É por isso que esta eleição única não a separa do resto da humanidade, de todos os seus pais, mães, irmãos e irmãs, sejam santos ou pecadores, cuja melhor parte ela representa.
Como outros seres humanos, tais como São João Batista, cuja concepção e nascimento também são festas da Igreja, a Santíssima Virgem nasceu sob a lei do pecado original, compartilhando com todos a mesma responsabilidade comum pela Queda. Mas o pecado nunca poderia ser realizado em sua pessoa; a herança pecaminosa da Queda não tinha domínio sobre sua vontade reta. Aqui estava o ponto mais elevado de santidade que poderia ser alcançado antes de Cristo, nas condições da Antiga Aliança, por uma das sementes de Adão. Ela estava sem pecado sob a soberania universal do pecado, pura de toda sedução no meio de uma humanidade escravizada pelo príncipe deste mundo. Ela não foi colocada acima da história para servir um decreto divino especial, mas realizou sua vocação única enquanto estava nas cadeias da história, compartilhando o destino comum de todos os homens que aguardavam a salvação.
E, no entanto, se na pessoa da Mãe de Deus vemos o ápice da santidade do Antigo Testamento, sua própria santidade não é limitada por isso, pois ela também ultrapassou os ápices mais altos da Nova Aliança, realizando a maior santidade que a Igreja pode alcançar.
A primeira Eva foi tirada de Adão: ela era uma pessoa que, no momento de sua criação por Deus, tomou a si mesma a natureza de Adão, para ser seu complemento. Encontramos uma relação inversa no caso da Nova Eva: através dela, o Filho de Deus tornou-se o "Último Adão", tomando a Si mesmo a natureza humana. Adão foi antes de Eva; o último Adão foi depois da Nova Eva. No entanto, não podemos dizer que a humanidade assumida por Cristo no ventre da Santíssima Virgem era um complemento da humanidade de sua Mãe. Era, na verdade, a humanidade de uma Pessoa divina, a do "homem celestial" (I Coríntios 15:47, 48). A natureza humana da Mãe de Deus pertence a uma pessoa criada, que é descendente do "homem terreno". Não é a Mãe de Deus, mas seu Filho, que é a cabeça da nova humanidade, "a cabeça de todas as coisas para a Igreja, que é o seu corpo" (Efésios 1: 22-23). Assim, a Igreja é o complemento de sua humanidade. Portanto, é através do seu Filho e em Sua Igreja que a Mãe de Deus pode alcançar a perfeição reservada para aqueles que têm a imagem do "homem celestial" (1 Coríntios 15:49).
As Duas Virgens
Como outros seres humanos, tais como São João Batista, cuja concepção e nascimento também são festas da Igreja, a Santíssima Virgem nasceu sob a lei do pecado original, compartilhando com todos a mesma responsabilidade comum pela Queda. Mas o pecado nunca poderia ser realizado em sua pessoa; a herança pecaminosa da Queda não tinha domínio sobre sua vontade reta. Aqui estava o ponto mais elevado de santidade que poderia ser alcançado antes de Cristo, nas condições da Antiga Aliança, por uma das sementes de Adão. Ela estava sem pecado sob a soberania universal do pecado, pura de toda sedução no meio de uma humanidade escravizada pelo príncipe deste mundo. Ela não foi colocada acima da história para servir um decreto divino especial, mas realizou sua vocação única enquanto estava nas cadeias da história, compartilhando o destino comum de todos os homens que aguardavam a salvação.
E, no entanto, se na pessoa da Mãe de Deus vemos o ápice da santidade do Antigo Testamento, sua própria santidade não é limitada por isso, pois ela também ultrapassou os ápices mais altos da Nova Aliança, realizando a maior santidade que a Igreja pode alcançar.
A primeira Eva foi tirada de Adão: ela era uma pessoa que, no momento de sua criação por Deus, tomou a si mesma a natureza de Adão, para ser seu complemento. Encontramos uma relação inversa no caso da Nova Eva: através dela, o Filho de Deus tornou-se o "Último Adão", tomando a Si mesmo a natureza humana. Adão foi antes de Eva; o último Adão foi depois da Nova Eva. No entanto, não podemos dizer que a humanidade assumida por Cristo no ventre da Santíssima Virgem era um complemento da humanidade de sua Mãe. Era, na verdade, a humanidade de uma Pessoa divina, a do "homem celestial" (I Coríntios 15:47, 48). A natureza humana da Mãe de Deus pertence a uma pessoa criada, que é descendente do "homem terreno". Não é a Mãe de Deus, mas seu Filho, que é a cabeça da nova humanidade, "a cabeça de todas as coisas para a Igreja, que é o seu corpo" (Efésios 1: 22-23). Assim, a Igreja é o complemento de sua humanidade. Portanto, é através do seu Filho e em Sua Igreja que a Mãe de Deus pode alcançar a perfeição reservada para aqueles que têm a imagem do "homem celestial" (1 Coríntios 15:49).
A Mãe de Deus e a Igreja
Já indicamos uma estreita ligação entre a pessoa da Mãe de Deus e a Igreja, ao falar da Tradição que ela personificou, por assim dizer, antes da Igreja existir. Ela, que deu à luz a Deus segundo a carne também manteve no seu coração todas as palavras que revelaram a divindade de seu Filho. Este é um testemunho sobre a vida espiritual da Mãe de Deus. São Lucas nos mostra que ela não era simplesmente um instrumento, que voluntariamente deixou-se ser usada na Encarnação, mas sim uma pessoa que procurava concluir, em sua própria consciência, o significado do fato de sua maternidade divina. Depois de ter oferecido sua natureza humana ao Filho de Deus, ela procurou receber por meio dEle o que ela ainda não tinha em comum com Ele: a participação na natureza divina. É no seu Filho que a plenitude da Divindade habita corporalmente (Colossenses 2: 9). A conexão natural que a ligou ao Deus-Homem não havia ainda conferido à pessoa da Mãe de Deus o estado de uma criatura deificada, embora a descida do Espírito Santo no dia da Anunciação tenha lhe tornado apta para realizar sua tarefa única. Nesse sentido, a Mãe de Deus, antes do dia de Pentecostes, antes da Igreja, ainda pertencia à humanidade do Antigo Testamento, aqueles que esperam a promessa do Pai, o batismo do Espírito Santo (Atos 1: 4-5).
A Tradição nos mostra a Mãe de Deus no meio dos discípulos no dia de Pentecostes, recebendo com eles o Espírito Santo, que foi comunicado a cada um deles como uma língua de fogo distinta. Isso concorda com o testemunho de Atos: após a Ascensão, os apóstolos "perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos". (1:14). "E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar" (2:1). Com a Igreja, a Mãe de Deus recebeu a última e única coisa que lhe faltava para poder crescer "no homem perfeito, à medida da plena maturidade de Cristo" (Efésios 4:13). Ela que, pelo poder do Espírito Santo recebeu a Pessoa divina do Filho de Deus em seu ventre, agora recebe o Espírito Santo, enviado pelo Filho.
Vocação e Santificação
As duas descidas do Espírito Santo sobre a Santíssima Virgem podem ser comparadas, em certo sentido, com as duas comunicações do Espírito aos apóstolos, uma na noite do dia da ressurreição e outra no dia de Pentecostes. A primeira conferiu aos apóstolos o poder de ligar e desligar. Esta é uma função independente de suas qualidades subjetivas, devido unicamente a um decreto divino que os seleciona para desempenhar esse papel particular na Igreja. A segunda comunicação do Espírito, no Pentecostes, deu a cada um deles a possibilidade de realizar sua santidade pessoal - algo que sempre dependerá de fatores subjetivos. Mas as duas comunicações do Espírito, a funcional e a pessoal, são mutuamente complementares. Pode-se ver isso nos apóstolos e em seus sucessores: ninguém pode cumprir sua função na Igreja, a menos que se esforce para adquirir a santidade; por outro lado, é difícil alguém alcançar a santidade se for negligenciado a função em que Deus o colocou. As duas devem coincidir cada vez mais durante a vida; a vocação normalmente se torna uma maneira pela qual adquire-se a santidade pessoal, esquecendo-se de si mesmo.
Podemos ver algo análogo no caso, por outro lado único, exclusivo da Mãe de Deus: a função objetiva de sua maternidade divina, na qual foi estabelecida no dia da Anunciação, também será o caminho subjetivo de sua santificação. Ela realizará em sua consciência, e em toda a sua vida pessoal, o significado do fato de ter levado seu ventre e ter nutrido em seu seio o Filho de Deus. É assim que as palavras de Cristo, que parecem rebaixar sua Mãe em comparação com a Igreja, recebem o significado de louvor supremo: abençoada é ela que não só foi a Mãe de Deus, mas também realizou em sua pessoa o grau de santidade correspondente a essa função única. A pessoa da Mãe de Deus é exaltada mais do que a sua função, e a consumação da sua santidade recebe mais do que seus começo.
A Mãe de Deus e o Eschaton
Portanto, guardemos o silêncio, e não tentemos dogmatizar sobre a glória suprema da Mãe de Deus. Não sejamos muito loquazes como os gnósticos que, querendo dizer mais do que o necessário e, de fato, mais do que eram capazes, misturaram o joio de suas heresias com o trigo puro da Tradição Cristã.
Prefiramos ouvir São Basílio, que descreveu o que pertence à Tradição como "um ensinamento impublicável e inefável, preservado por nossos pais em silêncio, de modo a ser inacessível a toda curiosidade e indiscrição, uma vez que eles foram zelosamente instruídos a proteger a santidade do mistério pelo silêncio. Não seria oportuno, de fato, publicar por escrito o ensinamento sobre os objetos que não devem ser apresentados aos olhos daqueles que não foram iniciados nos mistérios. Além disso, o motivo de uma tradição não escrita é este: ao examinar o conteúdo desses ensinamentos muitas vezes, alguns correm o risco de perder sua veneração pelas coisas envolvidas ao se acostumarem com elas. Pois ensinar é uma coisa e pregar é outra. Os ensinamentos devem ser mantidos em silêncio; a pregação deve ser manifestada. Uma certa obscuridade na linguagem que as Escrituras costumam usar é outra maneira de manter o silêncio; assim, o significado dos ensinamentos é mais difícil de compreender, para o maior benefício daqueles que os leem". [5]
Se o ensinamento sobre a Mãe de Deus pertence à Tradição, é somente através da experiência da nossa vida na Igreja que podemos aderir à devoção ilimitada que a Igreja oferece à Mãe de Deus; e o grau de nossa adesão a essa devoção será a medida em que pertencemos ao Corpo de Cristo.
Vladimir Lossky, "Panaghia: La Toute-Sainte" no livro À l’Image et à la ressemblance de Dieu.
Notas
[1] O termo "Sempre-Virgem" (aeiparthenos), encontrado nos atos conciliares do Quinto Concílio em diante, nunca foi particularmente explícito pelos concílios que o empregaram.
[2] Em São Mateus (13:23) e São Marcos (4:1-20), a parábola do semeador segue imediatamente o episódio com a Mãe e os Irmãos do Senhor. Aqui também a conexão é evidente.
[3] De fide orthodoxa 111, 12; P.G. 94, cols. 1029-32.
[4] Ed. M. Jugie, Patrologia orientalis 19.2.
[5] De spiritu sancto 27; P.G. 32, col. 189.
[1] O termo "Sempre-Virgem" (aeiparthenos), encontrado nos atos conciliares do Quinto Concílio em diante, nunca foi particularmente explícito pelos concílios que o empregaram.
[2] Em São Mateus (13:23) e São Marcos (4:1-20), a parábola do semeador segue imediatamente o episódio com a Mãe e os Irmãos do Senhor. Aqui também a conexão é evidente.
[3] De fide orthodoxa 111, 12; P.G. 94, cols. 1029-32.
[4] Ed. M. Jugie, Patrologia orientalis 19.2.
[5] De spiritu sancto 27; P.G. 32, col. 189.
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