Parte 1 - Parte 2
Kevin: Bem-vindo e obrigado por estar comigo nesta edição do Ancient Faith Today. Você sabe que há muita coisa vindo da mídia recentemente sobre o Islã. Nesta série de duas partes - esta é a primeira parte - discutirei sobre o Islã e as experiências pessoais de um recém convertido a Igreja Ortodoxa. Meu convidado se converteu ao Islã aos 14 anos e mais ou menos 20 anos depois deixou o Islã para se tornar cristão ortodoxo, e eu tenho me comunicado com seu padre por sinal, que confirmou sua história . Meu convidado (que por razões de segurança chamaremos "George" e não revelaremos sua localização ou paróquia) é um americano caucasiano que estudou teologia, história e jurisprudência islâmica em um seminário para se tornar um Imam. Aprendeu a língua árabe e memorizou boa parte do Alcorão em árabe. Assim, nesta primeira parte da entrevista discutiremos a conversão do meu convidado ao Islã, alguns fatos teológicos e históricos sobre o Islã através da mente e do coração de um convertido do Islã para o Cristianismo Ortodoxo. George é muito bom dar-lhe boas-vindas ao Ancient Faith Today.
George: Muito obrigado Kevin. É uma grande bênção estar aqui.
Kevin: Então, como discutimos antes da entrevista, você disse que
começou a estudar várias religiões e filosofias já em seus primeiros anos da adolescência.
George: Sim, eu estudei. Eu pesquisei algumas das tradições espirituais orientais, como o budismo e o hinduísmo. Eu também li um pouco da filosofia grega, em particular a escola do estoicismo. Eu rapidamente perdi o interesse tanto no hinduísmo e budismo. Mesmo para um garoto de 12 ou 13 anos, que era bastante mente aberta, esses dois sistemas de crenças eram distantes demais para mim. As crenças politeístas do hinduísmo e as crenças não-teístas do budismo simplesmente não batiam bem para mim. Eu ainda acreditava e sentia que havia apenas um Deus.
Kevin: Então por que o Cristianismo não foi nem mesmo uma opção ou interesse para você?
George: Eu não vi nenhum valor nos tipos de cristianismo que estavam disponíveis para mim. Ou se tratava das imagens dos evangelistas de TV pulando e gritando, dizendo às
pessoas que podiam comprar seu caminho para o Reino ou então a constante
hipocrisia e auto-retidão das pessoas que eu encontrava todos os dias. Eu não vi no Cristianismo algo para mim ou em qualquer outra pessoa. Depois, havia os problemas que eu tinha com a teologia cristã, como entendia nesse tempo. A
Santíssima Trindade era muito confusa, a crucificação e a compreensão
ocidental da expiação, parecia nada mais do que um bode expiatório para
fazer as pessoas se sentirem melhor sobre suas próprias deficiências e
apenas deixá-las de lado, evitando que fizessem qualquer esforço para mudar suas vidas de forma profunda.
Kevin: O que atraiu você ao Islã?
George: Bem, pareceu oferecer alguns absolutos que eu estava procurando, a disciplina. A teologia que eu podia mais facilmente preencher minha mente. Historicamente, não parecia ter a bagagem que o cristianismo carrega como a escravidão, o racismo, o fanatismo, as cruzadas, a
inquisição e a intolerância geral que os cristãos têm sido acusados ter através dos séculos. Espiritualmente,
parece oferecer uma verdadeira adoração usando a voz, mente e corpo, não apenas agitando seus braços no ar, gritando e
cantando. Também há a prática no Islã conhecida como "Dhikr", que literalmente significa lembrar, trazer à mente. Nesta prática, se tenta limpar a mente de tudo, exceto Deus. Através desta prática, recita-se orações repetidamente para auxiliar trazer mais a presença de Deus. Mas é claro que o centro do culto no Islã são as cinco orações diárias que são obrigatórias.
Kevin: Então, George, você entrou numa mesquita aos 14 anos. Muito incomum, muito cedo. Qual era a composição demográfica da mesquita à qual você se juntou?
George: Era principalmente de afro-americanos, algumas pessoas do Oriente Médio e alguns descendentes de asiáticos.
Kevin:
Sabe, eu acabei de ler uma pesquisa Pew de alguns anos atrás que dizia
que 59% de todos os convertidos ao islamismo nos EUA são
afro-americanos. Então gostaria de lhe perguntar sobre isso. Por que você acha que tantos afro-americanos nos EUA se convertem ao islã?
George:
Algumas das razões dos conversos afro-americanos são as
mesmas razões que me fizeram converter, que eu mencionei anteriormente, e também dos muitos
outros que não são afro-americanos. No entanto, acredito que existem razões únicas para as comunidades afro-americanas. Pela experiência que tive, com as pessoas que encontrei e com as quais
falei, e apenas das leituras que eu fiz, acho que o Islã tem sido
visto como um meio para muitos afro-americanos para re-conectarem com um
pedaço de sua cultura de seus antepassados que sentem ter perdido quando foram capturados, escravizados e trazidos para o hemisfério
ocidental, sendo sistematicamente despojados de suas tradições e
identidade. Tem sido uma forma de se despojar do eurocentrismo que lhes fora imposto. O cristianismo tornou-se sinônimo de opressão e perseguição que os americanos de descendência africana enfrentaram no Ocidente.
Kevin:
Mas não foram os mercadores de escravos muçulmanos que foram para
África e depois escravizaram os africanos para vender aos europeus e
assim por diante?
George:
Sim, o que é conhecido como o comércio escravo árabe começou no século
VII, com a ascensão do império Islamico e durou até o século XX em
alguns lugares tais como Arábia Saudita, Somália e o Sudão, onde há
ainda relatos de tráfico de escravos até hoje. O comércio de escravos mulçumano-árabe abrangeu uma vasta área,
incluindo o África subsaariana e ocidental, que era o principal
fornecedor e então havia a Ásia Central, a região do Mediterrâneo, a
Europa Oriental, incluindo as terras dos eslavos. Há relatos de tráfico de escravos que se estendem até ao norte das Ilhas Britânicas e da Islândia. O EUA em seu início foi vítima dos comerciantes
muçulmanos - dos conhecidos "Estados Barbary" - estados islâmicos independentes ao longo da costa do norte da
África. Algo que gostaria de observar é que na lei islâmica não é permitido escravizar os muçulmanos livres. Portanto, somente os nascidos na escravidão e prisioneiros não-muçulmanos podem serem tomados como escravos. Isso pode explicar o fato de que a grande maioria das pessoas
escravizadas eram aquelas que habitavam as regiões que faziam fronteira
com o território dos impérios islâmicos e, em particular, os cristãos.
Kevin: Mas vemos grupos islâmicos radicais como ISIS regularmente sequestrando, escravizando e vendendo mulheres e outras coisas. Esta prática de escravização é aprovada no Alcorão e nos Hadith?
George: Sim, é. Não é uma noção muito popular, mas é definitivamente sancionada pelo Alcorão e os Hadiths. Grupos
como o ISIS enxergam as atrocidades que estão cometendo como uma Guerra
Santa e, como tal, todas as mulheres não-muçulmanas capturadas
tornam-se sua propriedade, mesmo que essas mulheres sejam casadas. No
Alcorão, tais cativos são freqüentemente referidos como "ma malakat
aymanukum" ou "o que sua mão direita possui". Uma dessas referências pode
ser encontrada no Alcorão na surata ou capítulo 4 versículo 24, que diz: "E também são proibidas todas as mulheres casadas, exceto aquelas que sua mão direita possui. Esta é a ordenança da lei para você."
O que eu acabei de citar é parte de uma seção mais longa que fala sobre as mulheres que são legais para o homem ter relações sexuais. Em relação com estes versículos o Hadith, a tradição da vida de Maomé, que dá a razão ou as circunstâncias em que este versículo foi revelado, diz,
"O apóstolo de Allah enviou uma expedição militar para Awtas devido a batalha de Hunain. Eles encontraram seu inimigo e lutaram com eles. Eles os derrotaram e os levaram cativos. Alguns
dos Companheiros do apóstolo de Allah estavam relutantes em ter relações
sexuais com as mulheres cativas na presença de seus maridos que eram
descrentes. Então
Deus, o Exaltado, enviou o verso Alcorânico: "E também são proibidas todas as mulheres casadas, exceto aquelas que sua mão direita possui. Esta é a ordenança da lei para você."
E
também há outro exemplo que pode ser encontrado no Alcorão, surata 33
versículo 50, onde se está falando através do próprio Maomé
pessoalmente. Diz,"Ó Profeta, em verdade, tornamos lícitas, para ti as esposas que
tenhas dotado, assim como as que a tua mão direita possui, que Deus
tenha feito cair em tuas mãos..."
Eu posso dar muitos mais exemplos, mas acho que você pode ter uma
idéia de como o Hadith sancionam as ações dos vícios. É claro que um
muçulmano pode argumentar que esses versos e hadith que citei foram
eventos históricos específicos para o tempo de Maomé, mas o problema com
esse raciocínio é que o Islã compreende o Alcorão como sendo a palavra
interna imutável de Deus. Portanto, se todo o Alcorão é o mundo
absoluto, perfeito e infalível de Allah, diretamente ditado a Maomé,
como ele pode ser específico a um evento ou tempo particular?
Kevin: É interessante o fato de que os afro-americanos compreendam uma porcentagem muito grande daqueles que se convertem ao Islã neste país. Há também uma história afro-cêntrica muito profunda da cristandade bem antes do Islã , não?
Kevin: É interessante o fato de que os afro-americanos compreendam uma porcentagem muito grande daqueles que se convertem ao Islã neste país. Há também uma história afro-cêntrica muito profunda da cristandade bem antes do Islã , não?
George: Sim, existe. Cristianismo teve uma presença muito forte na África desde os primórdios da Igreja. Até mesmo encontra-se no Evangelho de Mateus que o próprio Senhor com a sua Mãe Santíssima e São José fugiram para o Egito. Também tem o etíope que São Filipe encontra no livro de Atos. Alexandria é um dos antigos Patriarcados. Também tem grandes santos como Santo Atanásio, Santo Antônio do Egito, São Moisés Negro, Santa Maria do Egito e Santo Agostinho de Hipona, só para citar alguns.
Eu sinto como se fosse um crime o fato de que tanto dessa rica história do cristianismo na África tenha sido esquecida e até ousaria dizer que intencionalmente descartada pelos cristãos, particularmente nas igrejas ocidentais.
Kevin: Quais são as diferenças significativas, por exemplo, entre a "Nação do Islã" e os ensinamentos de pessoas como Louis Farrakhan daquilo que se consideraria o islamismo "ortodoxo"?
George: Bem, há muitas coisas para discutir no tempo que temos, mas a diferença mais notável que diria é a crença da Nação do Islã de que o homem negro é Deus, enquanto o homem branco foi geneticamente criado por um cientista louco chamado Yakub, que é o nome árabe de Jacó que é dito ter nascido em Meca e criado uma raça de demônios pálidos "através de experimentos científicos na ilha grega de Patmos", daquilo que sabemos do Novo Testamento. Diz-se que Yakub fez isso depois que ele teve uma briga com Deus. Somente essa crença, sinto que é suficiente para qualquer um entender que a Nação do Islã não é bem-vinda no islamismo ortodoxo.
Kevin: Então os seguidores da Nação do Islã não são realmente considerados muçulmanos ortodoxos?
George: Não, eles não são.
Kevin: Ok. Então, George, voltando à sua história. O que foi necessário para você se tornar oficialmente muçulmano aos 14 anos?
George: Oh, foi muito simples. A recitação do que é conhecido como Shahada ou a declaração de que não há Deus senão Alá e Maomé é o seu mensageiro.
Kevin: E isso é tudo o que é repetido na presença dos Imãs e outras testemunhas?
George: Bem, o mínimo seria duas testemunhas (homens adultos) e, claro, teriam que ser muçulmanos.
Kevin: Havia lá outros caucasianos não-afro-americanos convertidos na Mesquita você frequentava?
George: Havia alguns, um dos quais era um dos co-fundadores de uma organização islâmica nacional que ganhou grande cobertura na imprensa nos últimos anos. No entanto, eu era apenas um novato na época, especialmente devido à minha idade e da forma como entrei no Islã, sem qualquer forma de evangelização por parte de um muçulmano.
Parecia haver mais mulheres caucasianas se convertendo ao Islã. Pelo o que observava isso se devia, em grande parte, ao casamento com homens muçulmanos que imigraram pra cá vindo de outros países.
Kevin: E você se esforçou para viver uma vida piedosa muçulmana, começando aos 14 anos. Quão rigoroso você era e quais práticas você seguia?
George:
Sim, eu tinha 14 anos. Eu nunca me vi como sendo alguém piedoso. Como
você disse, me esforcei para ser piedoso. Eu queria estar mais perto de
Deus. Eu diria que eu era muito mais rigoroso do que o
muçulmano-de-berço médio. Isto não é incomum, muitos daqueles que se
convertem a uma fé que não foram criados desde cedo, são geralmente mais
zelosos, pelo menos por algum tempo.
Eu queria
mergulhar no Islã. Aprender tudo que podia. É por isso que eu deixei a
minha cidade natal aos 18 anos e me mudei para outro estado, para
estudar numa Madra Islâmica, ou seja, num seminário islâmico.
Eu
fiquei lá por cerca de três anos. Estudei a gramática árabe, o Alcorão,
os Hadith, a jurisprudência islâmica e a história. Além disso, claro,
eu orava cinco vezes por dia. Eu também fazia orações extras que eram
incentivadas, mas não obrigatórias. Eu jejuava durante o mês de Ramadã e
também jejuava em alguns períodos fora do Ramadã. Eu segui todas as
leis dietéticas, as leis da purificação, abstendo-me de relações sexuais
fora do casamento, até ao ponto de onde eu nem sequer apertar a mão de
uma mulher ou olhar diretamente para ela, caso ela não não estivesse em
relação comigo.
Grande parte da vida de um
muçulmano se dá seguindo o que é conhecido como a Sunnah. A Sunnah são
as práticas de Maomé que abrangem todos e cada aspecto da vida da
pessoa. Como comer, como dormir, beber, vestir, falar, usar o banheiro,
até mesmo como um homem casado deve punir sua esposa. Praticava de todo o
coração o quanto pude.
Kevin: George, o Alcorão e o Islã em geral têm muitas - eu diria e a maioria dos cristãos concordaria - interpretações erradas sobre o Cristianismo Ortodoxo. Que tipo de cristianismo herético ou cristianismo heterodoxo Maomé esteve exposto, de onde ele tirou essas idéias?
George: Bem, no Islã, muitos, se não a maioria dos muçulmanos, tende a agrupar todos os que eles percebem como cristãos, mesmo aqueles grupos como os Mórmons e as Testemunhas de Jeová, num só grupo homogêneo.
A Arábia pré-islâmica, particularmente a área que Maomé nasceu, conhecida como Hijash, era predominantemente pagã. Havia, no entanto, algumas minorias cristãs nesta região. Há alguns relatos registrados na vida de Maomé em que ele encontrou cristãos. É difícil saber quão ortodoxa eram as crenças deles, mas através de um exame do Alcorão, dos Hadith e os equívocos sobre o cristianismo contidos nestas fontes, podemos deduzir que pelo menos algumas dessas pessoas eram heréticas em suas doutrinas.
Quando
Maomé, por exemplo, era um jovem, ele acompanhava seu tio, de nome Abu
Talib, até Bosra, que fica na Síria. Lá Maomé encontrou um monge cristão
chamado Bahira. Este Bahira notou que onde quer que Maomé se movia uma
nuvem o cobriria. Então, ele chamou Maomé e lhe deu a notícia de que ele
tinha sido escolhido por Deus para ser o último e derradeiro profeta.
As
fontes islâmicas afirmam que Bahira possuía cópias dos "Evangelhos
originais", livres de quaisquer erros ou adulterações, e nesses
Evangelhos haviam profecias prevendo a vinda de Maomé. Este nome Bahira
esteve ligado em alguns escritos a um monge chamado Sergius que alguns
dizem que era um Nestoriano, outros dizem que era um Ariano. Pelo que
sei do Nestorianismo e Arianismo, eu me inclino mais a pensar que Maomé
foi influenciado por alguma forma de arianismo devido à visão do
arianismo sobre Cristo e suas semelhanças de como os muçulmanos o
percebem - como não sendo divino.
Encontramos
em outros relatos do tempo de Maomé que quando recebeu sua primeira
revelação em uma caverna dada a ele pelo arcanjo Gabriel, ele ficou
confuso e assustado, então sua esposa Khadija o levou para seu primo. O
nome de seu primo era Waraka que era um cristão, que alguns dizem que
era realmente um padre Nestoriano. A alegação é que quando ele disse
para Waraka sobre sua experiência, foi dito a Maomé que ele era o
profeta final predito nas escrituras. Há outros relatos de encontros
entre Maomé com cristãos, mas todos parecem ter o mesmo tema, isto é, os
cristãos confirmam que ele era o último e maior profeta, que foi
supostamente predito, mas devido ao fato de que os cristãos e judeus
mudaram suas escrituras, essas profecias falando sobre Maomé foram
removidas ou alteradas.
Kevin: De acordo com os muçulmanos, obviamente...
George:
Sim, de acordo com os muçulmanos, é claro. Um outro relato longo tem
até mesmo o imperador bizantino Heraclius afirmando que Maomé era
verdadeiramente o profeta tão esperado e que todos os cristãos deveriam
aceitar o Islam. Eu acho que seria interessante mencionar que existem
versos no Alcorão que se percebe que foram tirados diretamente dos
Apócrifos. Um exemplo muito óbvio seria uma passagem do que é conhecido
como o "Evangelho da Infância" de São Tomás, onde diz que quando Cristo
era um menino, ele juntou um pouco de barro, modelou alguns pássaros,
soprou vida neles e começaram a fazer barulho e voar. Se você compara
isto com uma parte do capítulo 5 versículo 110 do Alcorão, lá diz:
"Lembre-se Ó Jesus, quando você criou a partir do barro, a forma de um
pássaro e com a minha permissão, você soprou e tornou-se um pássaro com
minha permissão. "
Kevin: O que é muito semelhante à citação do cânon apócrifo ou não-deuterocanônico de São Tomás. Bem lembrado.
Eu
li, ao fazer algumas pesquisas para esta entrevista, que entre os
hereges do século IV, havia uma particular seita árabe conhecida como
Collyridianos, conhecidos por sua adoração de Maria como uma deusa e
alguns muçulmanos acham que esta é, de fato, a seita que o Alcorão
aborda pois o Alcorão fala da Santíssima Trindade como sendo Pai, Filho e
Maria.
George:
Sim, há uma tradição interessante que poderia muito bem ter uma conexão
com os Collyridianos. Nos últimos anos da vida de Maomé, quando ele
retornou triunfalmente a Meca, no que é conhecido como a "Conquista de
Meca", um dos primeiros atos que realizou foi limpar a Kaaba de suas
centenas de ídolos que se encontravam dentro e fora dela. É relatado que
quando Maomé entrou na Kaaba ele imediatamente jogou fora todos os
ídolos e todas as imagens foram apagadas. Todas, exceto uma imagem de
Cristo com a Theotokos cercada por anjos. Diz-se que ele chegou até
mesmo a estender os braços sobre a imagem, de modo a enfatizar sua ordem
de não apagá-la. É relatado ainda que ele finalmente removeu esta
imagem com alguma relutância, de modo que a presença de um ícone de
Cristo e a Theotokos em um templo de pagão pode definitivamente sugerir a
presença de um grupo como os Collyridianos.
Kevin:
É verdade que Maomé erroneamente pensava que os cristãos adoravam três
deuses - conhecido como Triteísmo - o Pai, a mãe Maria e o filho Jesus -
em vez de um Deus e três pessoas? Triteísmo, algo que naturalmente o
Cristianismo Ortodoxo rejeita.
George: Sim, eu
diria que é verdade. Em uma das biografias de Maomé, menciona-se a
chegada de uma delegação de cristãos árabes que vieram falar com Maomé. O
relato fala sobre como os cristãos estavam debatendo sobre a natureza
de Cristo e, em seguida, se diz: "eles argumentam que Ele é o terceiro
dos Três, naquele Deus que diz: 'Nós fizemos, ordenamos, criamos e
decretamos,' e eles dizem,"se Ele fosse um, ele teria dito: Eu fiz,
criei e assim por diante," mas Ele é Ele, que é Deus e Jesus e Maria".
Em
relação a todas essas afirmações, o verso do Alcorão que está conectado
a essa tradição pode ser encontrado na surata 5 versículo 73. "Certamente
não acreditam aqueles que dizem: 'Alá é o terceiro de três'".
Kevin:
Da mesma forma (corrija-me se estiver errado) o Alcorão rejeita a
paternidade de Deus e a filiação de Deus Filho que, na compreensão
islâmica - eles acreditam que os cristãos assim compreendem - Deus tinha
relações físicas com Maria para dar à luz a Jesus (naturalmente não é
de forma alguma a doutrina cristã.)
George: Sim, diz no Alcorão, em referência a isso, "O mais gracioso teve um filho!" Isso está na surata 19 versículo 88.
Este
equívoco pode ter vindo do fato de que os politeístas na Arábia
realmente acreditavam que os anjos e até mesmo alguns de seus falsos
ídolos eram filhos de Deus por meio de alguma relação física, e assim
Maomé - eu penso - só pôde entender o termo "Filho de Deus" através do
conceito humano de reprodução sexual, o que também levou muitos
muçulmanos a pensar que os cristãos acreditavam que Deus gerou um filho
da mesma maneira como um pai humano gera um filho.
Isto, é claro, é completamente ridículo e blasfemo, não só da perspectiva islâmica, mas também cristã.
Kevin:
Certo. Os muçulmanos também negam que Jesus morreu na cruz. Eu vi isso
na surata, ou capítulo, 4 verso 157, em linha com a ausência do conceito
de sacrifício. Assim, o Alcorão nunca fala da expiação ou da obra
salvífica de Jesus. Isso é verdade?
George: Sim, isso é
bem verdade. Na surata 4 versículo 157 que você mencionou fala da
crença islâmica de que Cristo nunca foi crucificado e que só
aparentemente ele esteve na cruz. Gostaria de observar que alguns
comentaristas muçulmanos afirmam que Deus realmente mudou a aparência de
Judas Iscariotes para se assemelhar a Cristo e que Judas era o único
que esteve na cruz.
O Alcorão nunca fala da expiação ou
salvação de Cristo porque eles negam que Cristo é o Filho de Deus. Eles
negam sua divindade e, uma vez que o Islã rejeita a divindade
de Cristo, também nega todo o propósito de sua encarnação e, por sua
vez, nossa salvação através dela. A fórmula islâmica para a salvação
consiste em proclamar o Sahadda e fazer as obras e só.
Kevin:
Como você sabe George, o amor está no coração do cristianismo, e você
me mencionou que não há um verdadeiro ensinamento no Islã sobre o amor divino
e da misericórdia de Deus para com a humanidade, ou um verdadeiro
ensinamento da verdadeira comunhão ou união com Deus no Islã, e que é
sobretudo, como você diz, "uma relação de mestre e escravo", citando a
si mesmo. Por favor, explique o que você quer dizer.
George:
Bem, para ter alguma compreensão de como um muçulmano provavelmente
verá o seu próprio relacionamento com Deus, primeiro acho que é
importante ter uma idéia do motivo pelo qual o homem foi criado de acordo com o
Islã.
Na surata 51 do Alcorão, verso 56, diz: "Eu não
criei os gênios" - que são espíritos, espíritos invisíveis, "e os
humanos, exceto para me adorar." Novamente na surata 11 versículo 7 diz:
"Ele foi Quem criou o céus e a terra em seis dias - quando, antes,
abaixo de seu Trono só havia água - para provar quem de vós melhor se
comporta."
Eu
acho que esses dois versículos demonstram a razão geral pela qual o
homem foi criado. Primeiro para satisfazer alguma necessidade que Deus
tinha, para ser adorado de acordo com o Islã e, segundo, para participar
de uma espécie de disputa, a fim de ver quem executa as mais boas
ações. Estes dois conceitos são temas muito comuns em todo o Alcorão e
Hadith. Assim, em suma, esse é o propósito da criação do homem, de
acordo com o Islã. Primeiro, para cumprir a necessidade de Deus de
adoração e para satisfaze-lo; segundo, para o homem para provar que ele é
digno da misericórdia de Deus e se ele faz isso ele será recompensado.
Tudo isso contrasta profundamente com a visão do cristão ortodoxo sobre o
propósito da criação do homem e sobre o propósito da vida do homem,
isto é, a comunhão com Deus e compartilhar seu amor e tornar-se por
graça o que Deus é por natureza.
Kevin: E George, você também disse que descreveria o Deus ou Alá do Islã como um tirano.
George: Sim, é difícil explicar completamente em pouco tempo, mas vou fazer o meu melhor para ilustrar o que quero dizer.
De acordo com o Alcorão, Allah guia quem ele quer e ele desnorteia quem ele quer, que é uma citação do Alcorão. Esta frase é repetida inúmeras vezes. Em seguida, gostaria de citar um ditado bem conhecido de Maomé que diz o seguinte: "Foi dito ao mensageiro de Alá, 'há uma distinção entre o povo do paraíso e os habitantes do inferno?' Ele disse sim, foi dito novamente: 'Se é assim, então pra quê fazer boas ações?' Então Maomé disse, "Todo mundo é facilitado naquilo que foi criado para ele".
Kevin: E George, você também disse que descreveria o Deus ou Alá do Islã como um tirano.
George: Sim, é difícil explicar completamente em pouco tempo, mas vou fazer o meu melhor para ilustrar o que quero dizer.
De acordo com o Alcorão, Allah guia quem ele quer e ele desnorteia quem ele quer, que é uma citação do Alcorão. Esta frase é repetida inúmeras vezes. Em seguida, gostaria de citar um ditado bem conhecido de Maomé que diz o seguinte: "Foi dito ao mensageiro de Alá, 'há uma distinção entre o povo do paraíso e os habitantes do inferno?' Ele disse sim, foi dito novamente: 'Se é assim, então pra quê fazer boas ações?' Então Maomé disse, "Todo mundo é facilitado naquilo que foi criado para ele".
Um
outro longo relato fala sobre quando uma criança é formada no ventre de
sua mãe e um anjo é enviado para gravar em um pergaminho cada aspecto da vida
desta pessoa, incluindo se ela será boa ou má, feliz ou infeliz, e se
estará entre os habitantes do paraíso ou inferno. O dito termina com as
palavras: "... então seu documento do destino é enrolado e não há adição
ou subtração nele". E esse é o fim do relato de Maomé.
Acho
que estas duas últimas citações falam sobre os aspectos fatalistas do
Islã. Então nós podemos ir a surata 7 versículo 179, que diz, "Temos
criado para o inferno numerosos gênios e humanos" Assim, a partir deste
versículo podemos ver que existem aqueles entre a humanidade que são,
especificamente, criados para inferno. É por isso que é mencionado no
Alcorão em múltiplos lugares, que o combustível do inferno é "homens em
pedras". De tudo o que eu citei, cheguei à conclusão de que no Islã não
estamos lidando com um Deus justo. Em vez disso, se ensina que o criador
formou tudo quase como uma máquina, fixada em certas formas chegando ao
ponto em que o próprio Deus não poderia divergir das formas do sistema
que estabeleceu.
Tudo está travado em
uma espécie de destino, até mesmo ao ponto de que ações que percebemos
como sendo o produto de nossa própria vontade, em realidade, já haviam
sido escritas para nós. Assim, de acordo com o Islã, basicamente é dado a
humanidade a ilusão de possuir livre arbítrio, quando na realidade não
há qualquer liberdade. Assim, quaisquer noções de amor e misericórdia de
tal Deus podem ser percebidas como superficiais na melhor das hipóteses e
podem ser rapidamente anuladas e abolidas.
Kevin: Sem entrar em uma longa discussão sobre aspectos da teologia cristã, mas alguns aspectos que você acabou de dizer soam um pouco como o ensino de João Calvino, sobre a dupla predestinação e assim por diante.
E George, você também me disse que havia idéias muito diferentes de amor e misericórdia no Islã comparado aquelas que você aprendeu no Cristianismo Ortodoxo. Talvez você possa explicar um pouco sobre isso.
Kevin: Sem entrar em uma longa discussão sobre aspectos da teologia cristã, mas alguns aspectos que você acabou de dizer soam um pouco como o ensino de João Calvino, sobre a dupla predestinação e assim por diante.
E George, você também me disse que havia idéias muito diferentes de amor e misericórdia no Islã comparado aquelas que você aprendeu no Cristianismo Ortodoxo. Talvez você possa explicar um pouco sobre isso.
George:
Sim, uma dessas diferenças pode ser expressa perguntando a você ou
qualquer outro cristão, pelo menos alguém que conhece as escrituras, se
Deus ama os pecadores ou não-cristãos. A resposta provavelmente seria
sim, é claro. Então, o cristão poderia citar inúmeros versículos, como
Romanos 5: 8, onde é dito: "Mas Deus prova o seu amor para conosco, em
que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores." E então o
Evangelho de João capítulo 13 versículo 34-35 que diz: "Um novo
mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a
vós, que também vós uns aos outros vos ameis."
Eu sei que o conceito de amor cristão nem sempre foi posto em prática através das eras, incluindo o nosso tempo, e isso é algo que teremos que explicar, no entanto estou falando sobre as diferenças bíblicas entre o cristianismo e o Islã.
Então, deixe-me citar a surata 2 versículo 276 do Alcorão onde diz: "e Allah não ama nenhum pecador incrédulo". E então você tem a surata 3 versículo 32 onde diz: "obedecei a Allah e ao seu mensageiro Maomé mas se eles se afastarem, então, de fato, Allah não ama os incrédulos ", então tem a surata 3 versículo 31, onde diz:" Oh, Maomé, se você ama a Allah, então siga-me. Assim Allah amará você e perdoará seus pecados". Então podemos ver que o amor no cristianismo, de acordo com as escrituras, é um amor verdadeiro, um amor incondicional, um amor verdadeiramente divino, que qualquer muçulmano médio zombaria, assim como eu fiz o mesmo tempo. O Islam só vê o amor como sendo condicional. No Islã, Allah tem 99 nomes ou atributos, um dos quais é "aquele que está amando", mas na Bíblia, através do Espírito Santo, somos informados de que Deus é amor e é de seu amor infinito [que] Ele nos criou e ele nos redimiu através de seu Filho e nos deu a habilidade, através de Sua Graça, de ser seus filhos através pela adoção e chamá-lo de Pai.
Kevin: Sim, então há, claramente, uma espiritualidade e um ethos muito diferente no Islã e no Cristianismo e isso terminará a nossa primeira parte. Obrigado George por esta fascinante primeira parte de sua jornada do Islã ao Cristianismo Ortodoxo e por favor junte-se a nós para a parte dois da história de George que será postada também no Ancient Faith Today. Obrigado George.
George: Obrigado, Kevin.
Eu sei que o conceito de amor cristão nem sempre foi posto em prática através das eras, incluindo o nosso tempo, e isso é algo que teremos que explicar, no entanto estou falando sobre as diferenças bíblicas entre o cristianismo e o Islã.
Então, deixe-me citar a surata 2 versículo 276 do Alcorão onde diz: "e Allah não ama nenhum pecador incrédulo". E então você tem a surata 3 versículo 32 onde diz: "obedecei a Allah e ao seu mensageiro Maomé mas se eles se afastarem, então, de fato, Allah não ama os incrédulos ", então tem a surata 3 versículo 31, onde diz:" Oh, Maomé, se você ama a Allah, então siga-me. Assim Allah amará você e perdoará seus pecados". Então podemos ver que o amor no cristianismo, de acordo com as escrituras, é um amor verdadeiro, um amor incondicional, um amor verdadeiramente divino, que qualquer muçulmano médio zombaria, assim como eu fiz o mesmo tempo. O Islam só vê o amor como sendo condicional. No Islã, Allah tem 99 nomes ou atributos, um dos quais é "aquele que está amando", mas na Bíblia, através do Espírito Santo, somos informados de que Deus é amor e é de seu amor infinito [que] Ele nos criou e ele nos redimiu através de seu Filho e nos deu a habilidade, através de Sua Graça, de ser seus filhos através pela adoção e chamá-lo de Pai.
Kevin: Sim, então há, claramente, uma espiritualidade e um ethos muito diferente no Islã e no Cristianismo e isso terminará a nossa primeira parte. Obrigado George por esta fascinante primeira parte de sua jornada do Islã ao Cristianismo Ortodoxo e por favor junte-se a nós para a parte dois da história de George que será postada também no Ancient Faith Today. Obrigado George.
George: Obrigado, Kevin.
Parte 1 - Parte 2
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