terça-feira, 12 de janeiro de 2021

A Impecabilidade da Santíssima Theotokos (Hegúmeno Gregório Zaiens)

Nos últimos anos, entre alguns professores de nossa Santa Igreja Ortodoxa, uma questão foi aberta em referência à Theotokos: Será que a Theotokos pecou? Como surgiu a pergunta? Qual tem sido a opinião aceita da consciência da Igreja sobre este tópico? Através das orações da Santíssima Theotokos tentaremos agora formular uma resposta a estas perguntas.

Uma monja Ortodoxa uma vez deu uma palestra na qual ela falou da Impecabilidade [ausência de pecado] da Mãe de Deus. Aconteceu que um sacerdote presente observou que isso era falso e que, de fato, São João Crisóstomo e outros dos primeiros Padres da Igreja disseram que ela pecou. Ao ser questionado sobre isto depois, este clérigo ofereceu-se para enviar ao inquiridor um documento que ele escreveu enquanto estava no seminário que tratava deste assunto. Basicamente, todas as fontes foram mencionadas por estudiosos Católicos Romanos modernos, fazendo referência aos primeiros Padres da Igreja. É aqui que eu acredito que descobrimos uma fonte do problema.  Devemos, portanto, considerar as diferenças entre a concepção Ortodoxa e a Católica Romana da Theotokos, e para isso, devemos primeiro discutir suas visões conflitantes sobre o pecado "original" ou "ancestral". 

O conceito de ausência de pecado da Theotokos é uma crença antiga da Igreja que data desde antes do "Grande Cisma" de 1054. No Catolicismo Romano existe um dogma que foi formulado muito mais tarde (em 1854) chamado de "Imaculada Conceição". Embora os Católicos Romanos afirmem que esta é uma crença antiga que foi formalmente declarada dogma no século XIX, ela é desconhecida na história da Ortodoxia. Sabemos que a Mãe de Deus nasceu de uma mulher que tinha sido estéril e, portanto, a mão de Deus estava presente na concepção e nascimento da Theotokos, que foi de acordo com a natureza humana. Mas a isso, o Catolicismo Romano acrescenta que ela foi concebida de uma forma tão sobrenatural e "imaculada" que ela não sofreu os efeitos da queda de Adão. É uma incompreensão da consequência da queda de Adão aos seus descendentes que está na raiz deste erro. 

O pecado de nossos antepassados ou primeiros pais -  "ancestral" é literalmente traduzido do grego - obviamente, teve um efeito sobre toda a humanidade. O Bem-aventurado Agostinho, que marcou o rumo da doutrina Católica Romana sobre este tópico, seguiu a opinião errônea de que a culpa pessoal de Adão é herdada por todos os seus descendentes e, portanto, também a responsabilidade e a punição pelo pecado dele. Foi em reação a um erro no outro extremo, que veio a ser chamado de pelagianismo, que ele expressou esta opinião em sua pregação e escritos. Pélágio foi um teólogo britânico que ensinou em Roma no final do século IV e início do V. O pelagianismo reduziu o efeito da queda ao dizer que o pecado de Adão não teve efeito sobre seus descendentes, e os pelagianos mais extremos negaram qualquer transmissão do pecado ancestral. 

Em ambos esses erros há uma confusão entre pessoa e natureza no ser humano. Se ao examinarmos o pecado ancestral, construirmos os fundamentos de nossa teologia somente sobre a natureza humana, teremos a conclusão agostiniana. Isto torna a natureza humana, que é comum a toda a humanidade, a portadora da culpa de Adão e co-participante da responsabilidade pelo pecado dele. Os pelagianos ensinam com razão que somente a pessoa efetua o pecado e que cada pessoa em particular deve ser responsável pela culpa de seus próprios pecados. Entretanto, negligenciando a natureza humana e concentrando-se unicamente na pessoa, eles concluem incorretamente que o pecado de Adão não teve nenhum efeito sobre a natureza humana na qual todos os seus descendentes compartilham. 

Então o que é o ensino Ortodoxo sobre estes assuntos? A saber, que herdamos o efeito do pecado pessoal de Adão sobre sua natureza humana, uma natureza que é comum a todos nós. Isto resulta em uma distorção do ser humano, uma vez que existe uma certa hierarquia no homem, na qual a faculdade [poder] racional da alma deve governar  as demais faculdades, a (faculdade) desiderativa e a irascível. Entretanto, com a queda, esta hierarquia é virada de cabeça para baixo, e a faculdade racional é escravizada pelas outras duas faculdades da alma, assim, a alma se torna escrava das paixões.  Este estado é um estado de separação em relação a Deus e, portanto, um estado de pecado, uma condição na qual todos nós nascemos. Portanto, é isto, juntamente com a morte do corpo, que herdamos de Adão. 

No entanto, o conceito Católico Romano de pecado original não é compatível com este ensino. Assim, ao considerar a Theotokos sem pecado, a doutrina da Imaculada Conceição é uma necessidade. Reitero que no ensino deles, a Theotokos foi concebida e nasceu de uma forma "imaculada", com o resultado de que ela foi isenta do efeito do pecado de Adão sobre a natureza humana como encontrado em todos os seus descendentes. Portanto, eles concluíram que ela nasceu no estado de Adão antes da queda, e assim foi colocada sobre um pedestal acima do pecado. Não é assim na perspectiva Ortodoxa. Embora acreditemos que a Theotokos não tivesse pecado real [atual], ela nasceu, assim como todos os descendentes de Adão, com o efeito do pecado sobre sua natureza humana. No entanto, ela foi trazida ao templo aos três anos de idade, e ali levou uma vida de oração, jejum e estudo das Escrituras. Ela lutou com o efeito do pecado sobre sua natureza humana e o venceu. Neste aspecto, ela foi vitoriosa e não pecou, apesar de ter tido a natureza de homem caído.

Nas citações do documento acima mencionado do clérigo, em que a ausência de pecado da Theotokos estava em questão, os primeiros Padres da Igreja estavam basicamente falando de lutas dela na Cruz. Eles expressam as opiniões de que ela estava confusa, em dor, e sofreu emocionalmente. Contemplando seu Filho na Cruz, pode-se concluir que ela foi atacada com dúvidas quanto a quem era seu Filho. Para os Ortodoxos tudo isso não é pecado, mas sim a luta de nossa natureza humana contra o pecado. Neste caso, é especialmente verdade quando consideramos o fato de que o conhecimento completo não foi dado até a Ressurreição e Pentecostes. Entretanto, quando você tem o conceito Católico Romano da "Imaculada Conceição", que a coloca acima da luta humana natural, e depois lê tais coisas dos Padres, pode-se concluir que estas coisas são pecado. Isto é o que se vê em alguns estudiosos ocidentais mais recentes. Na América, temos livros limitados disponíveis em inglês por autores Ortodoxos; muitas vezes os estudantes de nossas escolas teológicas precisam recorrer a fontes não-Ortodoxas para obter informações, e assim, muitas vezes encontram tais opiniões não-Ortodoxas.

Como respondemos à afirmação errônea de que alguns dos primeiros Padres da Igreja ensinam que a Theotokos tinha pecado, devemos também abordar a observação do clérigo acima mencionado a respeito de São João Crisóstomo. A passagem de São João em questão é encontrada em sua 45ª homilia sobre o Evangelho de São Mateus. A passagem em que ele pregou foi o capítulo 12, versículos 46 a 49; lê-se: "E, falando ele ainda à multidão, eis que estavam fora sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe. E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te. Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos."

Em sua homilia, Crisóstomo faz o seguinte comentário: "aquilo que ela [a Theotokos] tentou fazer, foi de vaidade supérflua; na medida em que ela queria mostrar ao povo que tinha poder e autoridade sobre seu Filho". [1] Mais adiante, ao falar da Mãe de Cristo e Seus irmãos São João diz que "eles eram vangloriosos". [2] Este comentário de Crisóstomo foi uma vez discutido por um renomado estudioso Athonita, o Padre Theocletos do Mosteiro de Dionysiou. O Padre Theocletos comentou: "Crisóstomo era um grande homem asceta e espiritual, profundo no Espírito Santo. Ele era um pensador contemplativo que procurava penetrar no sentido das coisas. Então, ele estava considerando esta passagem e procurando penetrar em seu significado. E ele refletia: É possível que a Mãe de nosso Senhor tenha sido movida pela paixão da vanglória?" -- Aqui o Padre Theocletos estava falando como que na pessoa de São João, e ele parou aqui por um momento, fazendo um gesto como se estivesse pensando profundamente em algo, e então continuou -- "Bem, talvez". Então ele continuou abruptamente: "Mas por que discutimos essas coisas? Nós sabemos o que a Igreja ensina!"  [3]

"Nós sabemos o que a Igreja ensina!" A pergunta em questão não deveria ser: "A Theotokos pecou?" mas sim: "Por que a Igreja não fez algum julgamento sobre estas palavras de São João Crisóstomo?" A resposta é porque foi somente durante as controvérsias cristológicas, que começaram em escala real após a morte de São João, que a posição da Theotokos foi definida. Portanto, não seria justo ou razoável fazer julgamentos em tal situação. Além disso, deveríamos considerar mais exatamente a situação em que esta homilia foi proferida. As homilias de Crisóstomo sobre o Evangelho de São Mateus foram feitas em Antioquia, e provavelmente na última parte do período em que ele pregou como um presbítero. [4] Naquela época " Crisóstomo pregava domingo após domingo e durante a Quaresma, às vezes duas vezes ou com mais frequência durante a semana, até mesmo cinco dias seguidos".  [5] Ele "pregava frequentemente sem um texto escrito para os fiéis na Igreja ... Portanto, enquanto João pregava escribas habilidosos escreviam o que ele dizia". [6] Então foi sob estas condições, e com o propósito de um tema moral e não teológico, que São João fez este comentário. Devemos julgar Crisóstomo por este comentário, ou devemos responsabilizá-lo por ele? A Igreja definiu sua posição sobre isso durante sua vida? Ele teve oportunidade de mudar sua opinião? 

Talvez alguns de nós possam levantar outra questão, relativa à tradição onde Crisóstomo é visto escrevendo em sua mesa ao lado do Santo Apóstolo Paulo olhando sobre ele, testemunhando assim a verdade de suas interpretações? Isto, entretanto, só aconteceu depois que Crisóstomo foi consagrado Patriarca de Constantinopla, enquanto ele escrevia seus comentários sobre as epístolas de São Paulo, ao passo que a homilia em questão foi pregada anteriormente em Antioquia "sem um texto escrito".

Tendo falado até agora a partir de uma perspectiva defensiva, é apropriado neste momento alterar nossa abordagem para uma visão positiva do assunto em questão. Nos escritos de São Silouan, o Athonita, lemos: "Na igreja eu estava ouvindo uma leitura do profeta Isaías, e nas palavras: 'Lavai-vos, purificai-vos', refleti: 'Talvez a Mãe de Deus tenha pecado em um momento ou outro, nem que seja só em pensamento'.  E, é maravilhoso relatar, em uníssono com minha oração, uma voz soou em meu coração, dizendo claramente: 'A Mãe de Deus nunca pecou nem mesmo em pensamento'. Assim o Espírito Santo deu testemunho em meu coração sobre a pureza dela" [7].

Mas como é possível para qualquer ser humano não pecar, nem mesmo em pensamento? Para responder a isto, vamos rever algumas das informações que temos sobre a vida da Mãe de Deus. Com a tenra idade de três anos, a Theotokos foi dedicada a Deus, tendo sido trazida ao templo por seus pais. E como era a vida dela lá? No Evangelho apócrifo de São Mateus, lemos:
Maria era admirada por todo o povo de Israel; e quando tinha três anos de idade, ela andava com um passo tão maduro, falava tão perfeitamente e passava seu tempo tão assiduamente nos louvores de Deus que todos ficavam espantados com ela e se maravilhavam... Ela era tão constante na oração e sua aparência era tão bela e gloriosa, que quase ninguém conseguia olhar em sua face... E esta era a regra que ela havia estabelecido para si mesma: Da manhã até a terceira hora ela continuava em oração; da terceira até a nona hora ela se ocupava com a tecelagem; e a partir da nona hora ela se dedicava novamente à oração. Ela não abandonava a oração até que lhe aparecesse o anjo do Senhor de cuja mão ela poderia receber alimento; e assim ela se tornava cada vez mais perfeita na obra de Deus. Então, quando as virgens mais velhas descansavam dos louvores de Deus, ela não descansava; de modo que nos louvores e vigílias de Deus não se encontrava ninguém antes dela, ninguém mais instruído na sabedoria da lei de Deus, mais modesta e humilde, mais elegante no canto, mais perfeito em toda virtude. Ela era de fato firme, imóvel, imutável e avançando diariamente à perfeição... Ela estava sempre empenhada na oração e buscando a lei.... (8)
Entrada da Santíssima Theotokos no Templo

Segundo São Gregório Palamas, foi nesta época que ela adquiriu um estado de incessante oração interior. Em uma homilia Sobre a Entrada da Theotokos no Templo, São Gregório, enquanto descreve sua permanência ali, faz de Maria o modelo para a vida daquele que percorre o caminho da oração interior. Louvando a Puríssima, ele nos diz que ela 

escolheu viver em solitude, fora da vista de todos, dentro do santuário. Ali, tendo se libertado de todos os laços com as coisas materiais, rompido cada vínculo e até mesmo ascendido acima dessa simpatia em relação a seu próprio corpo, ela uniu sua mente com a inclinação desta para voltar-se para dentro de si mesma, com atenção e oração incessante e santa. Tendo-se tornado sua própria mestra por este meio, e estando estabelecida acima da confusão de pensamentos em todas as suas diferentes facetas, e acima de absolutamente toda forma de ser, ela construiu um novo e indescritível caminho para o céu, que poderia ser chamado de silêncio da mente. Com este silêncio, ela voou alto acima de todas as coisas criadas, viu a glória de Deus mais claramente do que Moisés (cf. Êxodo 33:18-23), e contemplou a graça divina. Tais experiências estão completamente fora do alcance dos sentidos dos homens, mas são uma visão graciosa e santa para almas e mentes imaculadas. (9)

Então, de acordo com São Gregório Palamas, nossa Puríssima Senhora enquanto habitava no Templo, através da "oração incessante e santa" ascendeu a uma grande altura espiritual antes desconhecida. Ao falar da experiência de esforçar-se em tal oração e dos frutos que a mesma transmite, ele escreve:

É através da contemplação que uma pessoa é feita divina [deificada], não por analogias especulativas com base em raciocínios e observações habilidosas - pois isto é terreno e humano - mas sob a orientação da quietude [hesíquia]. Continuando no quarto de cima de nossa vida (cf. Atos 1:13-14), como se fosse em orações e súplicas noite e dia, de alguma forma tocamos aquela natureza bem-aventurada que não pode ser tocada.

Assim, a luz que está além de nossa percepção e compreensão é difundida inefavelmente dentro daqueles cujos corações foram purificados pela santa quietude, e eles vêem Deus dentro de si mesmos como em um espelho (cf. 2Cor. 3:18). (10) 

Assim, Maria adquiriu uma intimidade única com Deus que a preparou para se tornar Sua morada. Não é de se admirar que, tendo alcançado tal estado, quando foi obrigada a deixar o Templo e se casar, ela tenha feito um voto de virgindade. Pois como poderia alguém que estava assim unida a Deus, unir-se a um homem! E tal é o poder da oração interior que a Mãe de Deus alcançou, que foi esta ação divina que a manteve livre do pecado durante toda a sua vida. 

Embora isto possa parecer difícil de acreditar, ainda assim através da "oração incessante e santa" - utilizando a terminologia de São Gregório - Maria, a Mãe de Deus, realizou isto. Mas por que esta oração é denominada "santa" e por que São Gregório diz "é através da contemplação que uma pessoa é feita divina"? Para responder a isto e concluir nossa discussão, vamos definir tanto a oração como seus estágios. Isto ilustrará adequadamente o poder da oração cheia de graça, o mesmo poder que manteve a Theotokos livre do pecado.

O Arquimandrita Sofrônio nos apresenta um esquema dos estágios da oração quando, em referência à Oração de Jesus, ele escreve:

É possível estabelecer uma certa sequência no desenvolvimento desta oração. Primeiro, é algo verbal: dizemos a oração com nossos lábios enquanto tentamos concentrar nossa atenção no Nome e nas palavras. Em seguida, não movemos mais nossos lábios, mas pronunciamos o Nome de Jesus Cristo, e o que se segue, em nossa mente, mentalmente. No terceiro estágio, a mente e o coração se combinam para agir juntos: a atenção da mente é centrada no coração e a oração é dita ali. No quarto estágio, a oração se torna auto-propulsante. Isto acontece quando a oração é confirmada no coração e, sem nenhum esforço especial de nossa parte, continua lá, onde a mente está concentrada. Por fim, a oração, repleta de bênçãos, começa a agir como uma chama suave dentro de nós, como uma inspiração do Alto, alegrando o coração com uma sensação de amor divino e deleitando a mente na contemplação espiritual. Este último estágio às vezes é acompanhado por uma visão de Luz. (11)

O Bispo Kallistos Ware nos apresenta uma série de definições sobre orações que têm certa relação com os estágios explicados acima. Ele primeiro se refere a uma definição em um dicionário de inglês que descreve a oração como "um pedido solene a Deus". (12) Isto pode corresponder às duas primeiras etapas de que fala o Arquimandrita Sofrônio. A oração descrita como um ato de petição do homem a Deus pode ser verbalizada ou pronunciada na mente de alguém. Em uma segunda definição ele cita São Teófano o Recluso, que diz a respeito da oração que "a coisa mais importante é estar diante de Deus com a mente no coração, e continuar permanecendo diante dEle incessantemente dia e noite até o fim da vida". (13) O Bispo Kallistos assinala que orar "não é mais pedir coisas", mas é "estar diante de Deus, entrar em um relacionamento imediato e pessoal com Ele". (14) Isto pode corresponder ao terceiro estágio mencionado acima, mas esta ainda é predominantemente uma ação iniciada pelo homem. Como continua o Bispo Kallistos, "a ênfase é colocada principalmente no que é feito pelo homem, e não por Deus". (15) A terceira definição dada pelo Bispo Kallistos refere-se ao quarto e quinto estágios de que fala o Arquimandrita Sofrônio. Ele cita São Gregório do Sinai que diz: "A oração é Deus, que opera todas as coisas em todos os homens" (16) - não é algo que eu inicio, mas no qual eu participo; não é primariamente algo que eu faço, mas que Deus está fazendo em mim - é deixar de fazer as coisas por nós mesmos e entrar na ação de Deus". (17) É este estágio da oração que é uma participação na ação ou energia ou vida de Deus que muitos de nossos Santos Pais alcançaram e levaram a um grau de perfeição através de sua ascese. O fim deste estágio é uma "manifestação do batismo", (18) é um nascimento a partir de Deus; portanto, é um novo começo, um novo modo de vida no qual a graça do Espírito Santo é perceptível e operativa. Este é o nascimento e estágio da graça que João o Teólogo escreve quando diz: "Todo o que é nascido de Deus não peca, porque a semente divina reside nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus." (19) É por isso que a oração incessante pode ser chamada de "santa" e pode ser dito que a contemplação torna uma pessoa "divina".

O que então podemos dizer sobre a estatura espiritual da Theotokos? Que estatura espiritual Maria, a Theotokos, adquiriu enquanto vivia no Templo? Ela foi levada para lá aos três anos de idade, providencialmente protegida das tentações deste mundo, viveu em estrita ascese e foi alimentada com as Escrituras e com a oração a Deus. E no momento da Anunciação, quando o "Espírito Santo desceu sobre ela e o poder do Altíssimo a cobriu com a sua sombra" (20), a qual estado de pureza e graça ela foi elevada? Isso está além de nossa compreensão. Só podemos nos maravilhar com o estado de graça do Espírito Santo que ela adquiriu e com o qual foi abençoada. Foi o poder desta graça do Espírito Santo que a preparou para ser a morada puríssima e santíssima de Deus e que a manteve livre do pecado durante todos os seus dias.

Como então, como Ortodoxos, podemos aceitar ou entreter especulações de pessoas de fora da Igreja? Devemos viver dentro da Santa Tradição de nossa Igreja. Esta vivência dentro da tradição foi magnificamente descrita por Vladimir Lossky quando disse que "estar dentro da Tradição, é manter a verdade viva na Luz do Espírito Santo" (21) A Mãe de Deus é nossa "Líder Vitoriosa" (22), que compartilhou de nossa natureza humana caída, mas não sucumbiu ao pecado através da fraqueza humana. Ela lutou contra o pecado e o venceu. Ela é o protótipo da vida de um monástico, sendo a mãe e fundadora do caminho da oração interior e da quietude. Ao cultivar estas práticas ascéticas, ela atingiu tal estado de pureza que Deus a escolheu para ser Sua mãe de acordo com a carne. Ela se tornou assim a mediadora entre o céu e a terra, e nossa "Líder Vitoriosa". Como mãe ela compartilhou do sofrimento e da Cruz de seu Filho e de nosso Deus, e ao carregar esta cruz, ela foi levada a um estado superior de perfeição. Assim ela é nosso modelo de luta, e mais uma vez, nossa "Líder Vitoriosa". Ó Theotokos, "como Tu possuis o poder invencível, liberta-nos de toda calamidade, para que possamos clamar a Ti: rejubila, ó Noiva Inesposada"(23).

O texto acima é um capítulo do livro "O Full of Grace Glory to Thee" escrito pelo Hegúmeno Gregório Zaiens.

Notas

(1) The Nicene and Post-Nicene Fathers, First Series, WM. B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Michigan, 1956, Vol. X, pg. 279.

(2) Ibid.

(3) Esta é uma citação de uma conversa entre Pe. Theocletos e o autor, em 1992, no Santo Mosteiro de Dionysiou, na Montanha Santa.

(4) The Nicene and Post-Nicene Fathers, First Series, WM. B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids Michigan. 1956, Vol. X pg ix.

(5) The Nicene and Post-Nicene Fathers, First Series, WM. B. Eerdmans, Publishing Company, Grand Rapids Michigan, 1956, Vol. IX pg. 11. 

(6) The Great Collection of the Live of Saints. Chrysostom Press House Springs, Missouri, 1997 Vol. III: November, pg. 262. 

(7) Saint Silouan the Athonite, Archimandrite Sophrony (Sakharov), trans. Rosemary Edmons, Stavropegic Monastery of St. John the Baptist, Essex, England pg. 392. 

(8) The Ante-Nicene Fathers. VIII, WM. B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids Michigan, 1956, p. 371. 

(9) Mary the Mother of God, Sermons by Saint Gregory Palamas, editado por Christopher Veniamin, Mount Thabor Publishing, South Canaan, PA, 2005, pg, 47 (veja também, Little Russian Philokalia, Vol. IV: St. Paisius Velichkovsky, St. Herman Press * St. Paisius Abbey Press, 1994, pgs. 33-34).

(10) Ibid. pgs, 43-44, (veja também, Litlle Russian Philokalia IV; St. Paisius Velichkovsky, St. Herman Press * St. Paisius Abbey Press, 1994, pg. 33).

(11) His Life Is Mine, Archmandrite Sophrony (Sakharov), trad. Rosemary Edmonds, St. Vladimir's Seminary Press, Crestwood, New York, 1977, pg. 113.

(12) The Power of the Name, Bishop Kallistos of Diokleia, (Oxford: SGL Press, 1986), p. 1. 

(13) Ibid, pg. 1.

(14) Ibid. pg. 1.

(15) Ibid. pg. 1.

(16) Ibid. pg. 2.

(17) Ibid. pg. 2.

(18) Ibid. pg. 2.

(19) 1 João 3:9.

(20) Lucas 1:35.

(21) The Meaning of Icons, Leonid Ouspensky & Vladimir Lossky, trans. G. E. H. Palmer & E. Kadloubovsky, St. Vladimir's Seminary Press, Edição Revisada, Crestwood, New York, 1982, pg. 19.

(22) Kontakion of the Annunciation, trad., Book of Canons, St. Tikhon's Seminary Press, Very Rev, Theodore Heckman, pg 89.

(23) Ibid. pgs. 89-90.

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