Resumo: Os cristãos discordam sobre essa questão. Alguns cristãos (evangélicos) acreditam que sim, Maria teve outros filhos depois que Jesus nasceu. Outros (Católicos Romanos e Ortodoxos) acreditam que Maria teve apenas um filho (Jesus) e não teve de fato relações conjugais com José. Os primeiros protestantes (Lutero, Calvino) também acreditavam que Maria nunca teve outros filhos depois que Jesus nasceu. Este artigo discute por que os cristãos discordam sobre o que parece ser uma pergunta simples.
Parece uma pergunta simples e básica: "Maria teve outros filhos?" É quase a mesma pergunta que "Jesus teve irmãos e irmãs uterinos?"
Para muitos cristãos, a resposta é óbvia, porque há várias referências a pessoas chamadas "irmão(s)" e "irmãs" de Jesus, por exemplo em Marcos 6:3:
Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
Este versículo parece resolver as coisas para muitos leitores da Bíblia: Jesus tinha irmãos e irmãs, o que significa que Maria teve outros filhos depois que Jesus nasceu. Alguns também apontam para Mateus 1:25:
E [José] não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.
Isto parece tão claro, pelo menos na tradução inglesa, que muitos cristãos (principalmente evangélicos) se perguntam quem em seu perfeito juízo quereria contestar isto.
No entanto, os cristãos Ortodoxos e Católicos Romanos discordam fortemente. Eles apontam para muitos versículos que sustentam o ponto de vista oposto, e insistem que a palavra grega "adelphos / adelphhoi / adelphe" não pode significar "meio-irmão uterino", como alguns cristãos insistem. De fato, eles podem apontar (com razão) que a palavra grega "adelphos / adelphoi / adelphe" nunca significa "meio-irmão uterino" no Antigo Testamento, e que é preciso olhar para todos os dados bíblicos (sobre José, Tiago, etc), bem como o testemunho da Igreja Primitiva para identificar corretamente quem realmente eram essas pessoas.
No final, há 3 pontos de vista sobre a questão:
- A visão helvidiana (de que Maria teve outros filhos depois de Jesus, com José) é defendida pela maioria dos protestantes e evangélicos
- A visão hieronimiana (que recebe o nome de São Jerônimo), de que os "adelfois" eram primos de Jesus, é defendida pela maioria dos Católicos Romanos.
- A visão epifaniana (que recebeu o nome de São Epifânio), de que estes "adelfois" eram meio-irmãos (adotivos) de Jesus (nascidos de José antes de ser noivo de Maria) é a visão da Igreja Ortodoxa.
Nota: Para um estudo detalhado, veja a discussão recente sobre a questão no livro "Aiparthenos | Ever-Virgin? Understanding the Orthodox Catholic Doctrine of the Perpetual Virginity of Mary, the Mother of Jesus, and the Identity of James and the Brothers and Sisters of the Lord"
Neste livro, 15 argumentos pouco conhecidos são apresentados a favor da visão tradicional (mais antiga) de que Maria tinha apenas um filho: Jesus (e também que José era um homem mais velho e viúvo) [1]. Aqui está a lista de argumentos a favor da visão epifaniana tradicional de forma resumida:
1. Somente Jesus é chamado filho de Maria (de fato, o filho de Maria); ninguém mais.
2. A primeira vez que o Novo Testamento usa a palavra adelphoi ("irmãos") significa na verdade tios e parentes próximos, não irmãos no sentido pleno da palavra inglês [e português] irmãos.
3. A visão Ortodoxa é a visão ensinada por todos os escritores cristãos dos primeiros 4 séculos que escreveram sobre (exceto por Tertuliano que deixou a Igreja).
4. Não há casos de adelphoi significando meio-irmãos do lado da mãe em todo o Antigo Testamento (Septuaginta), apenas como irmãos plenos ou meio-irmãos com o mesmo pai.
5. A entrega de Maria a João por Jesus na cruz implica que não havia outros filhos para cuidar da mãe.
5. A entrega de Maria a João por Jesus na cruz implica que não havia outros filhos para cuidar da mãe.
6. A perfuração da alma de Maria indica a maior tristeza expressa no Antigo Testamento, que é a perda de um filho único.
7. A diferença de idade entre Jesus e o seu adelphos Tiago vai no sentido de Tiago ser mais velho do que mais jovem do que Jesus.
8. O "primogênito" aplicado a Jesus é uma referência ao seu status como aquele que abre a madre na Lei de Moisés [Êxodo 13:2], não à existência de outros irmãos futuros.
9. "Até que ela deu à luz" em Mateus 1:25 tem a ver com a aplicação cuidadosa da profecia de Isaías 7:14 por Mateus, não com a possível futura mudança (pelo menos 40 dias depois) do relacionamento casto entre Maria e José.
10. O fato de que José estava obviamente morto no momento em que Jesus foi batizado sustenta a antiga tradição de que ele era um homem mais velho (pelo menos na casa dos 50 anos) no momento em que ele tomou Maria como esposa.
11. A exclamação de Maria "como acontecerá isso" [Lucas 1:34] só faz sentido no contexto de uma jovem mulher que fez um voto (Números 30-31) de virgindade.
12. A profecia de Zacarias 12 anuncia um pranto [luto] por um filho único ["E prantearão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele" Zacarias 12:10].
13. O milagre singular da ressurreição do filho único da viúva de Naim faz mais sentido se Maria fosse também uma viúva com um filho único (Jesus).
14. A tipologia [simbolismo] de Maria como Arca da Nova Aliança em Lucas 1 também implica que nenhum homem jamais seria autorizado a tocá-la.
15. A tipologia de Maria como a Nova Eva tão fortemente ensinada pelos escritores do segundo século Justino e Irineu também implica que Maria (ao contrário de Eva) manteve sua virgindade.
16. A discussão de São Paulo sobre os noivos que permanecem castos faz sentido se Maria e José fossem o modelo deste tipo de relacionamento, tendo em mente que a Bíblia só a chamou de noiva, mesmo depois do seu casamento com José.
17. O grande estudioso Richard Bauchkham (protestante), especialista na identidade do "irmão do Senhor", sustenta a visão epifaniana tradicional e observa que Jesus ser chamado "filho de Maria" em Marcos é o que se chama de nome metronímico, que na bíblia distingue um filho nascido de uma mulher particular, em contraste com outras crianças nascidas (ou adotadas) pelo mesmo pai, mas de uma mulher diferente.
17. O grande estudioso Richard Bauchkham (protestante), especialista na identidade do "irmão do Senhor", sustenta a visão epifaniana tradicional e observa que Jesus ser chamado "filho de Maria" em Marcos é o que se chama de nome metronímico, que na bíblia distingue um filho nascido de uma mulher particular, em contraste com outras crianças nascidas (ou adotadas) pelo mesmo pai, mas de uma mulher diferente.
Fonte: https://www.eurekafirstchurch.com/did-mary-have-other-children/
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[1] O título de “Noivo” é dado pela relação que [São José] tinha com a Virgem Maria, que era expressão da relação que tinha com Deus. Para compreender a relação que ele tinha com a Virgem, devemos estudar quem era José pouco antes de conhece-la e onde ela estava quando foi entregue a ele.
Maria vivia de alguma forma dedicada ao Templo, provavelmente prestando serviços de tecelagem como outras jovens faziam. Tornando-se moça por volta dos 14 anos, pelos costumes da época, tinha que ser entregue em casamento para alguém.
Dizem os primeiros historiadores da Igreja que Maria fizera um voto de permanecer virgem a vida toda, o que gerava um problema pois, tendo atingido a adolescência, tinha que ser desposada. Ao mesmo tempo, os sacerdotes do Templo se admiravam com a devoção sincera da mocinha e não queriam passar por cima do seu voto, o que seria inevitável se ela se casasse. Naquele tempo ainda não existia a instituição das freiras, que era a clara inclinação da jovem Maria.
A solução encontrada pela sua santa família foi precisamente entregá-la em noivado sem consumação do matrimônio a um viúvo idoso, igualmente religioso e que compreendesse a situação, que se comprometeria a cuidar dela pelo pouco que restasse de sua vida, de modo que ela pudesse ser fiel a seu voto e ao mesmo tempo atendesse às prerrogativas sociais de uma época sem mosteiros e que exigiam que ela se casasse.
Segundo os registros, José era um homem de idade extremamente avançada, ao contrário do jovem que filmes e certas imagens sugerem. De fato, a tradição de mostrar José como um idoso nas imagens era comum ao Ocidente e o Oriente até o século 17, quando na Espanha começam a aparecer imagens de um José mais jovem. Até ali, em toda a Cristandade, a Sagrada Família era a família de Nossa Senhora, constituída por Santa Ana, São Joaquim e sua santa filha, a Virgem Maria. Eles eram o exemplo de família devota e piedosa, cuja educação correta conduz os filhos à santidade. Já Santa Maria era vista à luz de sua condição especial de Virgindade Devota e Miraculosa Mãe, e São José como devotado a Maria e a Deus.[...] [São José] era viúvo de um casamento de aproximadamente 40 anos, com uma mulher chamada Salomé, que era prima de João Batista apesar da diferença de idades, e que dera a José sete filhos: Tiago, Judá, Simão e José eram os filhos e Salomé, Ester e uma terceira cujo nome é incerto, eram as filhas. Tiago é o que seria mais tarde chamado Irmão do Senhor e seria o primeiro bispo de Jerusalém e autor da Liturgia de S. Tiago. Esta Salomé, filha de José, seria mais tarde a mãe de um outro Tiago, nomeado provavelmente em homenagem ao tio, e que era irmão de São João Teólogo, autor do quarto evangelho e portanto sobrinho de Jesus.
Fonte: http://vidaortodoxa.blogspot.com/2015/12/a-vida-do-justo-sao-jose-o-noivo.html
Ícone da Natividade: O Justo José é retratado longe de Jesus e da Theotokos, no canto inferior esquerdo. Isto porque ele não estava envolvido no milagre da Encarnação do Filho de Deus, mas era o protetor de Maria e de Jesus. O velho homem que lhe fala representa o diabo trazendo novas dúvidas a José. [...] Na pessoa de José, o ícone revela não só o seu drama pessoal, mas o drama de toda a humanidade, a dificuldade de aceitar aquilo que está para além da razão, a Encarnação de Deus. Fonte: https://orthodoxwiki.org/Nativity_icon
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Cristo Menino é corretamente retratado, não sozinho com São José, mas sozinho com a sua Mãe, sublinhando assim o dogma de que Ele é "um Filho sem um pai, que foi gerado do Pai sem uma mãe antes dos tempos". [3] Em última análise, se fossemos associar São José à paternidade, seria tecnicamente com pais que são viúvos celibatários!
De fato, para proteger o fiel de uma compreensão imprópria do seu papel paternal e da sua relação com a Theotokos, a iconografia tradicional Ortodoxa minimiza a figura de São José (sem, evidentemente, denegrir a sua pessoa). Por exemplo, no Ícone da Natividade de Cristo, como comenta o Professor Constantino Cavarnos, "ele não é mostrado na parte central da composição, como a Theotokos e o Menino, mas longe, num canto, para enfatizar o relato bíblico e o ensinamento da Igreja de que Cristo nasceu de uma Virgem". [4] Leonid Ouspensky e Vladimir Lossky, em seu trabalho fundamental sobre teoria iconográfica, fazem uma observação semelhante: "Outro detalhe enfatiza que na Natividade de Cristo 'a ordem da natureza é vencida' - este é José. Ele não faz parte do grupo central do Menino e Sua Mãe; ele não é o pai e está explicitamente separado deste grupo". De igual modo, em ícones com temas semelhantes, como a Apresentação do Senhor ou a Fuga para o Egito, a iconologia Ortodoxa não entende São José como a cabeça de uma espécie de "Sagrada Família"; pelo contrário, ele é visto como o guardião da Theotokos e do seu Divino Filho ordenado pela Providência. A sua humilde aceitação e o cumprimento virtuoso deste papel são precisamente os pontos centrais da sua veneração pela Igreja ortodoxa.
Esta simples e Ortodoxa caracterização de São José reflete o espírito dos Padres Orientais, que são lacônicos em suas referências a ele. E embora os Padres Ocidentais, em contraste, evidenciam uma maior preocupação com a sua pessoa, a principal preocupação deles é, no entanto, a mesma que a dos Padres Orientais: isto é, a defesa da Virgindade Perpétua da Mãe de Deus. Assim, Santo Agostinho de Hipona, por exemplo, embora observando que "José... poderia ser chamado pai de Cristo, por ser, em certo sentido, o esposo da mãe de Cristo...", [6] qualifica esta admissão insistindo que, em sua relação conjugal, "não havia conexão corporal". [7] Em outro lugar, ele desenvolve sobre este ponto: "E por causa desta fidelidade conjugal [isto é, o celibato mútuo deles] ambos são merecidamente chamados 'pais' de Cristo (não só ela como Sua mãe, mas ele como Seu pai, como sendo esposo dela), ambos tendo sido tais em mente e propósito, embora não na carne. Mas enquanto um era Seu pai apenas em propósito, e o outro Sua mãe também na carne, ambos foram, apesar de tudo, apenas os pais de Sua humildade, não de Sua sublimidade; de Sua fraqueza [II Coríntios 13: 4], não de Sua divindade. " [8] É nesse sentido, então, que devemos entender a afirmação bíblica: "E [Ele] era-lhes sujeito", [9] a respeito do relacionamento de Cristo com São José e Sua mãe.[...]
3. Dogmatikon, Tone 3.
4. Constantine Cavarnos, Guide to Byzantine Iconography, Vol. I (Boston: Holy Transfiguration Monastery, 1993), p. 134.
5. Leonid Ouspensky and Vladimir Lossky, The Meaning of Icons, trans. G.E.H. Palmer and E. Kadloubovsky (Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press, 1982), p. 160.
6. St. Augustin, "Reply to Faustus the Manichaean," trans. the Rev. Richard Stothert, rev. Albert H. Newman, in The Writings Against the Manichaeans and Against the Donatists,Vol. IV of A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers, 1st Ser., ed. Philip Schaff (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1979), p. 159.
7. Ibid., p. 315.
8. Idem, "On Marriage and Concupiscence," trad. Peter Holmes and the Rev. Robert Ernest Wallis, rev. Benjamin B. Warfield, in Anti-Pelagian Writings, Vol. V of A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers, 1st Ser., ed. Philip Schaff (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1978), p. 268.
9. São Lucas 2:51.
Fonte: http://orthodoxinfo.com/phronema/icon_innovate.aspx
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