O Reino de Deus não é um Talmud, nem é uma coleção mecânica de citações bíblicas e patrísticas
fora do nosso ser e da nossa vida. O Reino de Deus está dentro de nós, como fermento dinâmico que
muda fundamentalmente toda a vida do homem, seu espírito e seu corpo. O que é necessário para o
estudo patrístico, para ser fiel ao espírito de liberdade e digno de sua nobreza espiritual e do frescor
dos Padres, é abordar os textos sagrados com o temor com o qual nos aproximamos e veneramos
suas relíquias e os ícones sagrados. Essa reverência litúrgica nos revelará que aqui há outra graça
inexprimível. Toda a atmosfera é diferente. Existem certas passagens vitais em textos patrísticos
que, acreditamos, nos convidam, nos desafiam e trabalham dentro de nós, uma mudança incomum.
Estes devem fazer parte do nosso ser e da nossa vida, como verdades e como pontos de vista, ao
fermentar todo o nosso ser. E, ao mesmo tempo, devemos colocar todo o nosso ser no estudo dos
Padres, e esperar, dar um tempo.
Compreender a palavra dos Santos Padres, não é uma questão de aplicar o dito de um, ou outro, a
um determinado assunto, contando com alguma concordância. É um processo pelo qual o alimento
é absorvido por organismos vivos, assimilados por eles, tornando-se sangue, vida e força. E, mais
tarde, significa transmitir a alegria e proclamar esse milagre, pelo fato dele ter trazido à vida uma
experiência e um aprendizado, de uma maneira que supera toda dúvida ou discussão. Assim, a
palavra patrística viva não é transmitida mecanicamente, nem preservada arqueologicamente, nem
se aproxima através de excursões na história. É transmitida por inteiro, plena, cheia de vida, à
medida que passa de geração em geração, através de organismos vivos, mudando-os, criando "pais"
que fazem das palavras dos Santos Padres algo pessoal, uma nova posse, um milagre, uma riqueza
que aumenta à medida que é entregue. Esta é a mudança imutável, forjada pelo poder que
transforma a corrupção em incorrupção. É o movimento perpétuo sem mover-se, que é a palavra de
Deus e sua imutabilidade sempre viva. Todos os dias, a palavra parece diferente e nova, mas é a
mesma. Este é o mistério da vida que entrou profundamente em nossa natureza morta e ergueu-a
de dentro, quebrando as barras do inferno. Compartilhar as palavras dos Santos Padres com os
demais, significa que eu mesmo vivo, que fui transformado por eles. E assim, meu metabolismo tem
o poder de mudar, para que possa ser comido e bebido pela pessoa a quem estou oferecendo. Esta
mudança da palavra no próprio homem e a mudança em si mesmo, preserva inalterável o mistério
da vida pessoal e irrepetível, que é "patristicamente" ensinada e dada. É como a comida de que se
alimenta uma mãe: ela a alimenta e a mantém viva e, ao mesmo tempo, se torna no leite
materno e dá vida ao seu bebê. Que lindo para um homem se tornar teologia! Então, o que quer que
ele faça, e especialmente o que ele faz espontaneamente, uma vez que apenas o que é espontâneo
é verdadeiro, testemunha e fala do fato de que o Filho, o Verbo de Deus, encarnou, que se tornou
homem pela obra do Espírito Santo e da sempre Virgem Maria. Ele fala em silêncio sobre os
inefáveis mistérios que foram revelados nos últimos tempos. Esta vida teológica e testemunhal, é
uma benção que adoça a vida do homem. É um alimento que é cortado e dado a outros, uma bebida
derramada e oferecida abundantemente para o homem consumir e saciar sua sede.
Neste estado não se fala da vida, se dá. Alimenta-se o faminto e dá de beber ao sedento.
Por outro lado, a teologia escolástica e as construções intelectuais não se assemelham ao Corpo
do Senhor, a comida verdadeira, nem ao seu sangue, a bebida verdadeira. São como uma pedra
encontrada entre os alimentos. Não comestível e inumanamente dura é a massa da escolástica para
o gosto e a boca de quem está acostumado a Liturgia da Igreja, e é rechaçada como algo estranho e
inaceitável. Nossas palavras são muitas vezes flácidas e fracas. Porque a palavra que Ele (Deus)
entregou e deu vida, teve de encarnar.
Quando, junto com a sua palavra, você dá aos outros a sua carne e sangue, então suas palavras
terão significado. Palavras sem carne, que não surgem da vida e não compartilham de nossa carne
que se rende e do sangue que derrama, não significam nada. Por esta razão, na Última Ceia, o
Senhor resume o mistério de sua pregação dizendo: "Tomai e comei, isto é o meu corpo", "Bebei,
este é o meu sangue". Afortunado é o homem que se rompe em pedaços e se oferece entre os
demais, que foi esvaziado e dado aos outros para beber.
Quando seu tempo de prova chegar, não
terá medo. Ele não terá nada o que temer. Ele já terá compreendido que, na celebração do amor,
pela graça, o homem está quebrado, mas não dividido, comido e nunca consumido.
Pela Graça se converteu em Cristo e assim sua vida dá o que comer e beber ao irmão. Ou seja,
alimenta a outra existência e a faz crescer.
Tradução: Isaque Diaz
Tradução: Isaque Diaz
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