O poeta inglês
Kipling começou seu poema com as palavras: "Oh, o Ocidente é o Ocidente
e o Oriente é o Oriente, e eles nunca se moverão de seus lugares, até que
o céu e a terra apareçam no Juízo Final de Deus". Aqui
por Oriente e Ocidente não devemos entender as partes do mundo, que
são divididas geograficamente pelas Montanhas dos Urais e do Cáucaso. Em
vez disso, pelo Oriente deve-se entender a extensa região, que foi
ocupada pela parte oriental do Império Romano, e depois por Bizâncio e
os países do Oriente Próximo (aqui é possível incluir o Egito e a
Etiópia), e pelo Ocidente entende-se as potências da Europa Ocidental e, em geral, todos os países de cultura da Europa Ocidental.
Os Santos Padres disseram metaforicamente: "A luz começou a brilhar do Oriente"; o Oriente representava simbolicamente o Paraíso, o Éden, um país de eterna Luz Divina. O Ocidente é jovem em um sentido cultural-histórico. O Ocidente é jovem. O Oriente é velho. O Ocidente é ativo. O Oriente é contemplativo. O Ocidente estão as emoções, tudo em movimento, tudo muito dinâmico.
No entanto, o Oriente é profundo em si mesmo; parece que não quer remover de sua vista os tesouros que possui. O Ocidente é impulsivo, está em busca, é ousado. O Oriente mantém o que tem. O Ocidente devaneia e fantasia. O Oriente procura por toda parte as idéias eternas sob o que está visivelmente coberto. O Ocidente veste seus santos com roupas brancas, coroam suas cabeças com grinaldas de rosas, mas o Oriente vê a santidade igualmente tanto debaixo de trapos quanto debaixo de ouro. Não santifica os trapos dos pobres, nem a simples vestes do monge, nem as vestes ricas dos czares - é como se não vissem o que é externo.
O Ocidente envia regimentos de cruzados para libertar o túmulo de Cristo. O Oriente envia monges aos desertos do Egito e para as moradias do Monte Athos. O Ocidente põe à mostra a espada contra os inimigos da fé. O Oriente fornece guerreiros espirituais para o combate invisível com os demônios. O Ocidente, para suprimir o mal, cria instituições como a Inquisição, e o Oriente - grandes sistemas filosóficos.
O pico da teologia ocidental é o abençoado Agostinho, um poeta e pensador brilhante; mas ele é completamente orientado para o psicológico. Os teólogos Orientais: Santo Gregório, o Teólogo, Basílio, o Grande, Gregório de Nissa - são místicos. Agostinho, em sua escola mostrou brilhantemente o homem em sua queda e agonia em sua busca, e os teólogos orientais mostraram o homem em sua transfiguração. O Ocidente, pela boca de seus santos, cantaram um hino majestoso a Deus; o Oriente, num silêncio místico, contemplava Deus. O Ocidente buscava nos céus azuis, e o Oriente procurava encontrar Deus nas profundezas do coração.
Os ascetas ocidentais tentaram imitar Cristo externamente; os
orientais consideraram que há apenas uma maneira de imitar Cristo -
adquirindo a graça do Espírito Santo: o homem, tendo adquirido o
Espírito Santo, apenas pela graça, invisivelmente, torna-se comparável a
Cristo. Os ascetas ocidentais com canções em seus lábios foram para o Gólgota; Os orientais fizeram da vida um Gólgota, invisível para o mundo.
Alguns dos ascetas ocidentais imaginaram Cristo de forma tão vívida que eles identificaram-se com Ele; em suas mãos e solas de seus pés apareceram feridas, das quais corriam sangue. Os estigmas eram reverenciados pelos católicos como um sinal de santidade. Mas os santos ascetas do Oriente tentavam enxergar apenas uma coisa - o mar de seus pecados e consideravam um orgulho terrível comparar-se a Cristo.
Alguns dos ascetas ocidentais imaginaram Cristo de forma tão vívida que eles identificaram-se com Ele; em suas mãos e solas de seus pés apareceram feridas, das quais corriam sangue. Os estigmas eram reverenciados pelos católicos como um sinal de santidade. Mas os santos ascetas do Oriente tentavam enxergar apenas uma coisa - o mar de seus pecados e consideravam um orgulho terrível comparar-se a Cristo.
O
Ocidente se assemelhava ao jovem soldado que mostrava sua espada, o
Oriente - o velho, esbranquiçados como seus cabelos grisalhos de sabedoria. O Ocidente queria trazer o Reino do Céu para a terra, para construir um paraíso na terra por meios terrestres. O
Oriente sempre pagou tributo - a César o que é de César - e preparou o
caminho para o Reino dos Céus no coração do homem, não a passagem para o
Reino terrestre, mas para o Reino eterno.
Para o Ocidente a
batalha com o mal estava a terra, esta vida temporária com todos os seus
eventos e problemas, enquanto que para o Oriente estava no coração humano,
que via como sendo mais profundo do que todo o mundo visível.
O Ocidente é ativo, mas toda sua atividade está voltada ao exterior. O Oriente voltou-se a dinâmica do espírito em si mesmo. A civilização ocidental é como uma onda larga de luz, mas luz dispersa, luz que é refratada através de prismas terrestres de cores diferentes. Mas o Oriente é a concentração de luz em um ponto, e isso porque esta luz tem uma qualidade especial (energia, força) para ser convertida em uma chama. O Ocidente amou a terra, e no céu ele via o terreno (terra). O Oriente amou o céu e no terreno (terra) ele viu os símbolos do céu; no temporal ele buscou os sinais do eterno.
Já o terceiro bispo de Roma - São Clemente, sucessor do santo apóstolo Pedro, comparou a Igreja com o exército e chamou os cristãos a uma disciplina rigorosa, para que este exército fosse vitorioso. Mas no Oriente, os Padres disseram: "Conquiste a si mesmo - esta é a mais elevada de todas as vitórias". O ensinamento ascético dos Padres Orientais é uma estratégia dessa luta espiritual - luta com os demônios, com as próprias paixões. Para que o exército seja vitorioso, é necessário ter um controle centralizado, é necessário uma autoridade forte e uma subordinação incondicional, por isso o Ocidente criou a estrutura da Igreja, semelhante a uma monarquia. Para a luta com o velho inimigo da humanidade, o Oriente procurou outra força - a força da humildade, na qual o verdadeiro poder do espírito se manifesta.
O Ocidente está orientado ao poder externo: por meios externos criou várias organizações, afetou a influência na cultura, em todos os lugares procurou aliados - no mundo das artes, na literatura, na política, na sociedade. Mas o Oriente disse: "O verdadeiro bem só pode ser criado com a graça de Deus" e, portanto, sempre rejeitou aliados questionáveis; exteriormente parecia mais pobre, mais impotente, mais fraco do que o Ocidente; Contudo, não procurou força nem o poder do mundo, mas buscou por Cristo, que conquistou este mundo.
O ascetismo do Ocidente enche as almas dos ascetas com entusiasmo e com admiração, o ascetismo do Oriente - com arrependimento. O Ocidente, na beleza do mundo, deseja contemplar a beleza de Deus. Para o Oriente, Deus é Indizível, Incognoscível e Inexpressível. Deus, para o Oriente, não é como qualquer um ou qualquer coisa de Sua criação - Ele é um segredo eterno. O asceta ocidental quer abraçar a Deus, e o Oriente pede apenas por uma coisa - o perdão dos pecados; procurando em oração por qualquer tipo de estados exaltados - isso para ele já é um esforço pecaminoso.
O asceta ocidental vê a luz, que desce sobre ele do exterior (esta é a visão de Francisco de Assis e de outros), e o Oriente vê a Luz, que ilumina o seu coração a partir do interior; e como tal, ele treme, perante a benevolência de Deus, sentindo-se indigno Dele.
Os ascetas ocidentais, demonstrando (!) arrependimento, andavam em cidades em grupos, sociedades inteiras, chamadas de "arrependidos (penitentes)"; em ruas e praças, eles tiravam a roupa e, na presença de uma enorme multidão, açoitavam-se com cordas e cintos até sangrarem, e a multidão extática os glorificava como grandes santos de Deus, heróis da fé. O Oriente - no silêncio dos desertos oferecia arrependimento, invisível para o mundo; certa vez, um dos grandes Padres egípcios suspirou alto na igreja durante as orações, mas imediatamente ele se repreendeu e, depois de se virar para os monges vizinhos, disse: "Perdoe-me, irmãos, ainda não sou um monge" - porque o arrependimento, como todas as virtudes, deve ser secreto.
Para o Ocidente a coisa principal são as obras (ações). As obras, para ele, são de valor: assim, a boa ação e também o pecado possuem uma estrutura clara especifica e um valor. Para o Oriente a coisa principal é o estado espiritual, e as obras são apenas sua manifestação. Portanto, para o Oriente, até mesmo uma pequena ação pode ser grandiosa, se procede de um coração puro; e um grande podvig (esforço espiritual) é insignificante, se não é dedicado a Deus ou feito por meios indignos. A moral dos ascetas ocidentais baseia-se no "princípio da quantidade": naquele que, externamente, fez mais boas ações; a moral do Oriente se baseia na pureza do coração, conhecida apenas pelo Deus Único.
O Ocidente tentou realizar a ideia do Reino de Deus na terra, mas com os métodos de governo: incentivos, sanções, intrigas e similares, transferidos para a Igreja, profanando a sua própria finalidade. "O fim justifica os meios" - este lema não-escrito jesuíta com grande clareza e certeza expressa a disposição daqueles que estão verdadeiramente prontos para construir um "paraíso terrestre" por qualquer meio, a qualquer preço. No entanto, a Igreja Oriental ensinou: um propósito puro, métodos puros, uma exposição pura, assim foi formulado por São Dionísio.
O Ocidente diz: "Ame e faça obras de auto-sacrifício" e o Oriente, em primeiro lugar, purifica o coração com o temor de Deus na luta contra as paixões, para a aquisição da graça do Espírito Santo. No Oriente há apenas uma regra monástica, uma ideia: o monge renuncia o mundo e torna-se uma pessoa que reza por ele; o monge é como uma estrela que eleva-se da terra aos céus - ele está longe de todos e brilha por todos.
Os monges ocidentais servem as pessoas e a sociedade. Durante muitos anos, os hospitalários cuidaram dos viajantes e os monges da ordem de Francisco, "franciscanos", educaram as crianças. Os jesuítas estavam envolvidos na política, na instrução de jovens e em obras semelhantes.
Uma vez, alguns monges católicos foram perguntados se eles liam literatura ascética. Eles ficaram surpresos e responderam que tais livros eram usados apenas por professores de história e que seu dever era obedecer ao padre superior. O estudo da Oração de Jesus e da contemplação espiritual, no Ocidente, é quase inexistente. A Cultura, a ciência, a sociedade em si estão em constante mudança; é por isso que a face do cristianismo ocidental está em constante mudança: onde os princípios do modernismo, onde os ensinamentos eclesiásticos sobre a evolução são aceitos, novos dogmas nascem e novas revelações são esperadas.
Fantástico, isso deveria ser mais divulgado....
ResponderExcluirBelo texto!
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