segunda-feira, 23 de maio de 2016

A Sabedoria dos Pequeninos (Dionysios Farasiotis)


No Mosteiro de Stavronikita estava lendo o Evangelho segundo São Lucas:

Os setenta e dois voltaram alegres e disseram:
"Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome". Ele respondeu: "Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago. Eu lhes dei autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada lhes fará dano. Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus".
Eu ainda não tinha certeza sobre se isso tudo era realmente verdade. Seria possível que todos aqueles grandes e renomados filósofos cujas obras eu tinha lido e admirado não tivessem conhecimento desta realidade espiritual? Existe uma razão para que tivessem esses nomes para si mesmos - eles mudaram a face da humanidade. Meus pensamentos se voltaram para Marx, Mao, Johann Bachofen, Freud, Jung, Adler, Erich Fromm, Khalil Gibran, Kazantzakis, Wilhelm Reich, Nietzsche e tantos outros. Lembrei-me do pensamento de Buda, dos sutras de Patanjali, os ensinamentos de Gurdjieff, a filosofia Zen de D.T. Suzuki e o Tao de Lao Tzu. Seria possível que todos esses homens instruídos e sábios, com tal conhecimento do mundo e da sociedade, tivessem caído em tamanho erro, e que eu tivesse descoberto uma verdade da qual eles ignoraram?  Hesitei num estado de incerteza. Afinal, havia estudado esses pensadores - eu apreciei seus pensamentos e achava atraente. Parecia improvável que alguém tão jovem e com minha maturidade intelectual pudesse alcançar a verdade, sucedendo onde eles falharam.
Na minha incerteza, continuei lendo o Evangelho, quando senti uma luz noética gentil e suave vir até minha alma. Esta luz sutil era pura como um diamante e entrou na minha alma com facilidade e pacificamente. Ela abriu minha mente numa profundidade tão insondável que eu teria me assustado se essa luz não tivesse antes unido-se com minha alma, concedendo-me um estado de profunda paz. Isto foi quando eu li o próximo verso,
Naquela hora, Jesus, exultando no Espírito Santo, disse: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado".- e então percebi que eu era um desses pequeninos. 


Num piscar de olhos, vi como esta lei espiritual funciona no mundo. Os ricos e poderosos, entendi, podem obter bens materiais com esquemas ou diplomacias. Aqueles cuja educação é meramente científica, embora possam ganhar algum conhecimento sobre a camada externa da realidade, nunca serão capazes de forçar a abertura da tampa do materialismo e existencialmente entrar nas águas puras da verdadeira vida. Outros passam seus dias afastados da verdade sobre a vida, movendo-se em mundos imaginários de sua própria criação, acreditando que, em seu orgulho e egocentrismo, as criações de suas mentes são os mais elevados de todos os bens. Eles adoram suas ideias e organizam suas vidas ao redor delas, transformando suas mentes em seu deus, e assim vivem dentro de uma mentira, na escuridão de suas hipóteses, suas teorias e sua ignorância. Uma vez que todos estes acreditam egoisticamente em si mesmos, eles são incapazes de fazer progresso espiritual. Uma vez que se consideram superiores a todos os outros, eles não podem humilhar-se para receber a verdade de Cristo. Estas almas infelizes podem de forma tola tentar preencher seu vazio com bens materiais, tirando daqueles que necessitam para que possam parecer superiores. Eles podem tentar se confortar por meio de prazeres sensuais.

Aqueles que experimentam e vivem dentro do mais profundo mistério deste mundo são os de coração puro e simples, que se assemelham a criancinhas em sua humildade, ingenuidade e bondade. Eles são os únicos que entrarão em contato com a verdadeira vida e a fonte de vida. Eles são como árvores verdes portando o fruto da vida, da luz e da verdade - e este fruto, ao invés de bens materiais, é sua riqueza.

Vi então que a justiça é, em última análise, triunfante e a injustiça - autodestrutiva. Quando o injusto causa danos materiais nas pessoas que exploram, eles prejudicam a si mesmos espiritualmente, muito mais do que prejudicaram os outros materialmente. Estes, então, são os que mais necessitam da ajuda de Deus. A justiça divina preencheu a minha alma até o limite. Com uma alegria profunda e calma, eu beijei o Evangelho de novo, e de novo. Eu amei todos, e me alegrei especialmente pelos pequeninos deste mundo.


Trecho do livro The Gurus, the Young Man, and Elder Paisios
Book por Dionysios Farasiotis

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